quarta-feira, 30 de março de 2016

Quatrocentos não é pouco. Um é muito


Aos que defendem a volta da ditadura

Eles eram 400 nas ruas de São Paulo, no primeiro sábado de dezembro, pedindo intervenção militar. Quatrocentos não é pouco. Um é muito


Quando escuto brasileiros fazendo manifestação pela volta da ditadura, penso que eles não podem saber o que estão dizendo. Quem sabe, não diz. Mas esse primeiro pensamento é uma mistura de arrogância e de ingenuidade. O mais provável é que uma parte significativa desses homens e mulheres que têm se manifestado nas ruas desde o final das eleições, orgulhosos de sua falta de pudor, peçam a volta dos militares ao poder exatamente porque sabem o que dizem. Mas talvez seja preciso manter não a arrogância, mas a ingenuidade de acreditar que não sabem, porque quem sabe não diria, não poderia dizer. Não seria capaz, não ousaria. É para estes, os que desconhecem o seu dizer, estes, que talvez nem existam, que amplio aqui a voz das crianças torturadas, de várias maneiras, pela ditadura.
Crianças. Torturadas. De várias maneiras.

Botavam meu pai no pau de arara e, para o fazerem falar, simulavam me torturar com uma corda. Eu tinha dois anos

Como Ernesto Carlos Dias do Nascimento. Ele tinha dois anos e três meses. Foi considerado terrorista, “Elemento Menor Subversivo”, banido do país por decreto presidencial. Foi preso em 18 de maio de 1970, em São Paulo, com sua mãe, Jovelina Tonello do Nascimento. O pai, Manoel Dias do Nascimento, militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), organização comandada por Carlos Lamarca, havia sido preso horas antes. Ernesto é quem conta:
“Me levaram diversas vezes às sessões de tortura para ver meu pai preso no pau de arara. Para o fazerem falar, simulavam me torturar, com uma corda, na sala ao lado, separados apenas por um biombo”.
O menino de dois anos dizia: “Não pode bater no papai. Não pode”.
E batiam.
Libertado quase um mês depois, passou os primeiros anos com pavor de policiais de farda e grupos com mais de quatro pessoas. Entrava em pânico, escondia-se debaixo da cama ou dentro do armário, mordia quem se aproximava e urinava nas calças. Ernesto foi uma criança com pesadelos recorrentes. O mais comum era com um asno, uma corda e uma agulha. “O asno usava um boné militar, a agulha tinha olhos arregalados e uma risada aguda sarcástica e corria atrás de mim, eu apavorado tentava fugir. O asno me cercava, me dava coices ou chutava coisas sobre mim. A corda parecia boazinha, disfarçada de linha se estendia até mim, mas quando eu a segurava ela  machucava minhas mãos e me deixava cair em um abismo.”

Perto do parto, o líquido amniótico descia pelas minhas pernas e as baratas me atacavam em bandos. Eu gritava na cela”

Ernesto é um dos 44 adultos torturados na infância – física e psicologicamente, mas também de outras maneiras – que contam sua história em um livro lançado em novembro pela Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”. Infância roubada – crianças atingidas pela Ditadura Militar no Brasilé a memória do inominável que precisa ser nomeado para que cada um deles possa viver, para que o crime de Estado não se repita. A maioria dos depoimentos foi registrada em audiências na Comissão da Verdade de São Paulo. Algumas pessoas, que não puderam comparecer ou não conseguiam falar sobre o assunto, foram entrevistadas depois.
O que dizer sobre crianças torturadas pelo Estado? E torturadas ontem, em parâmetros históricos, bem aqui? Os relatos desse livro são alheios aos adjetivos. São silêncios que falam. E soluçam. Como João Carlos Schmidt de Almeida Grabois, o Joca, antes mesmo de nascer. Ele estava na barriga da mãe, Crimeia, quando ela levou choques elétricos, foi espancada em diversas partes do corpo e agredida a socos no rosto. Enquanto ela era assim brutalizada, os agentes da repressão ameaçavam sequestrar seu bebê tão logo nascesse. Quando os carcereiros pegavam as chaves para abrir a porta da cela e levar Crimeia à sala de tortura, o bebê começou a soluçar dentro da barriga. Joca nasceu na prisão e, anos depois, já crescido, quando ouvia o barulho de chaves, voltava a soluçar. A marca da ditadura nele é um soluço.

Torturado por agentes da repressão ainda bebê, ele nunca se libertou do pavor. Suicidou-se aos 40 anos

Perto da hora do parto, em vez de levarem Crimeia para a enfermaria, a colocaram numa cela cheia de baratas. Como o líquido amniótico escorria pelas pernas, elas a atacavam em bandos. Isso durou quase um dia inteiro. Só no fim da tarde, com outros presos gritando junto com ela, a levaram para o hospital. O obstetra disse que, como não estava de plantão, só faria a cesariana no dia seguinte. Crimeia alertou que seu filho poderia morrer. O médico respondeu: “É melhor! Um comunista a menos”. O pai de Joca foi assassinado pelo regime militar meses depois de o menino nascer. A primeira vez que ele viu o rosto do pai foi aos 18 anos, numa foto nos arquivos do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) de São Paulo.
Carlos Alexandre Azevedo, o Cacá, não suportou a lembrança. Talvez porque ele nunca pôde transformá-la em memória. Era nele algo vivo e sem palavras, um silêncio que não conseguia se dizer. E um silêncio que não consegue se dizer é um pavor. Ele tinha um ano e oito meses quando sua casa foi invadida por policiais do DOPS/SP, em janeiro de 1974. Como começou a chorar, os policiais deram-lhe um soco na boca que de imediato sangrou. Passou mais de 15 horas em poder da repressão, nas mãos de funcionários do Estado, enquanto lá fora gente demais vivia suas vidas fingindo que nada acontecia. Seus pais ouviram relatos de que nesse período o menino, pouco mais que um bebê, teria levado choques elétricos. Cacá se matou aos 40 anos, em 2013. Seu pai diria: “Ele ficou apavorado. E esse pavor tomou conta dele. Entendo que a morte dele foi o limite da angústia”.

Testemunhei o assassinato do meu pai. Não posso nem quero esquecer, porque
a única lembrança que tenho dele é a da sua morte

Ângela Telma de Oliveira Lucena escolheu lembrar. Tinha três anos e meio quando executaram o pai diante dela. Ângela diz:
“Eu lembro como ele estava vestido. Eu lembro exatamente como tudo se desenrolou naquele dia. Eu estava no colo da minha mãe, e quando fui crescendo, durante muitos anos ficava pensando se tinha sonhado aquilo ou se era realmente um fato que tinha ocorrido. Eu vivia um conflito entre apagar, riscar aquilo da minha vida, mas, ao mesmo tempo, sabia que, se fizesse isso, estaria riscando a história da minha família. (...) As pessoas sempre colocam em dúvida se eu realmente consigo lembrar da morte do meu pai. (...) Eu gostaria muito de poder apagar esse momento do assassinato do meu pai da minha vida. Mas eu não posso, eu não quero e eu não consigo. Porque a única memória que tenho do meu pai é exatamente o momento da sua morte”.
Houve Paulo Fonteles Filho, cujo parto da mãe foi uma tortura iniciada por policiais, completada pelo médico. Aos cinco meses de gestação, Hecilda era espancada com socos e pontapés, aos gritos de: “Filho dessa raça não deve nascer”. Era mantida acordada a noite inteira com uma luz forte no rosto, no que se chamava de “tortura dos refletores”. Depois, sentada numa cadeira, os fios subiam pelas pernas e eram amarrados nos seios, causando calor, frio, asfixia. Mais tarde, foi colocada numa cela cheia de baratas. Ela já não conseguia ficar nem em pé nem sentada. Como não tinha colchão, deitou-se no chão. As baratas começaram a roê-la. Ela só conseguiu tirar o sutiã e tapar a boca e os ouvidos. Levaram-na então para o Hospital da Guarnição do Exército, em Brasília. Ela lembra da irritação extrema do médico, que induziu o parto e fez o corte sem anestesia. Hecilda não chorou. Ela conta no livro Luta, Substantivo Feminino: Mulheres Torturadas, desaparecidas e mortas na resistência à ditadura, publicado pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos: “Depois disso ficavam dizendo que eu era fria, sem emoção, sem sentimentos. Todos queriam ver quem era a ‘fera’ que estava ali”. Assim é contado o nascimento de Paulo, assim é como ele começa a se contar. Nascido entre feras – nenhuma delas a sua mãe. Nascido entre humanos, os mais brutais entre as feras.

E houve as crianças que não nasceram, porque suas mães abortaram durante a tortura

E há aqueles que não nasceram. Como o filho de Isabel Fávero que, aos dois meses de gravidez foi colocada numa sala e torturada com choques, pau de arara, ameaça de estupro e insultos verbais. No quinto dia, abortou. Isabel foi trancada num quarto fechado, onde ficou incomunicável. Ou Nádia Lucia do Nascimento, grávida de seis meses, colocada na temida “cadeira do dragão”. Depois de ter a roupa arrancada, levou choques elétricos por todo o corpo. Abortou. Teve hemorragias e dores, nenhum atendimento médico.
Essa é a memória das crianças da ditadura. É a lembrança de parto de suas mães. Nós, que não fomos torturados, não temos como alcançar como é viver com essa marca – ou tentar fazer marca do que ainda é horror – num momento histórico em que – depois de tudo – alguns brasileiros perderam a vergonha de pedir a volta da ditadura. Podemos tentar nos colocar no lugar desses homens e mulheres, hoje adultos com seus próprios filhos, alguns já avós, nascidos ou presos nos porões em que seus pais foram torturados e alguns deles assassinados. É fundamental tentar vestir o outro, mas não alcançamos. Não há como alcançar. Como é passar pela Avenida Paulista, como aconteceu algumas vezes nas últimas semanas, ouvindo os gritos de gente – gente, certamente gente – gritando por intervenção militar e volta da ditadura militar no Brasil. Como é?

De Grenaldo Mesut a ditadura subtraiu sua própria história

Entre as dezenas de relatos desse livro, há um que destoa. Este eu conheci de perto. Testemunhei. Ao contrário da maioria, Grenaldo Erdmundo da Silva Mesut não tinha lembrança da repressão. Sequer sabia o que era ditadura para além de um nome vago, uma história que não lhe dizia respeito. Alguns poderiam supor que talvez fosse melhor assim, mas isso é desconhecer o quanto a ausência da memória é brutal, um buraco que se pressente, mas não se sabe como apalpar.
Sobre ele, a jornalista Tatiana Merlino, que o escutou e assina a edição e a organização primorosa desse livro, diz: “A ditadura deixou inúmeras marcas nos filhos das vítimas; dos desaparecidos, assassinados, presos: desde nascimento na prisão, serem levados aos órgãos de repressão, clandestinidade, exílio, banimento, etc. Há histórias de horror, de crianças que viram os pais torturados, que foram sequestradas... Mas a história do Grenaldo me toca por uma brutalidade especial a qual ele foi submetido, que é o desaparecimento, o apagamento, promovido pela ditadura, da sua própria história. A ele foi negado até o direito de vivenciar a dor da verdade de ser filho de um assassinado pelo regime. Para além da subtração da vida, do corpo, a mentira, a subtração da verdade. Quais são os impactos desse crime na construção da identidade do Grenaldo? É essa lacuna, que são se pode mensurar, que me toca profundamente”.


Meu caminho se cruzou com o de Grenaldo de uma forma que só acontece na vida real. Se fosse ficção, a história seria considerada tão fantasiosa que soaria de má qualidade. Na campanha eleitoral de 2002, eu trabalhava na revista Época e minha atribuição era contar o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva pela sua trajetória pessoal e familiar. Fiz várias reportagens e, no início do seu mandato como presidente, escrevi sobre a morte de sua primeira mulher, Maria de Lourdes, num parto em que ela e o bebê perderam a vida. Era mais uma das dores de Lula, dono de uma biografia que continha o DNA do Brasil, país que naquele momento ele começava a governar com a promessa de mudar o destino dos mais pobres e estatísticas como as da mortalidade materna.
Durante a investigação jornalística, descobri uma curiosa coincidência. O médico que assinou o atestado de óbito de Maria de Lourdes era um dos legistas acusados de ter forjado laudos para a ditadura. Sérgio Belmiro Acquesta, absolvido pelo Conselho Regional de Medicina um ano antes de morrer, era então gerente do departamento médico da Villares, metalúrgica em que Lula trabalhava como operário, e também funcionário do Instituto Médico Legal de São Paulo. Numa das páginas da reportagem havia a foto de dois casos em que ele teria atuado para apagar a responsabilidade do regime militar. Um dos retratos, em tamanho 3X4, era de um marinheiro, Grenaldo de Jesus Silva, que em 1972 sequestrou sozinho um avião da Varig. Depois de ter liberado todos os passageiros e a maior parte da tripulação, ele foi detido, imobilizado e morto no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, aos 31 anos. No dia seguinte, jornais estamparam a versão do regime: “Encurralado, terrorista suicidou-se”.
Três décadas depois, minha reportagem de capa foi publicada e essa pequena foto, mais do que toda a história de Lula e Lourdes, moveu lembranças insepultas. Dias depois, um homem que se apresentou como ex-sargento especialista da Aeronáutica, José Barazal Alvarez, então com 63 anos, procurou a revista. Quando o sequestro acabou, ele tinha sido o encarregado de fazer o relatório e recolher os pertences do morto. Ao examinar o corpo de Grenaldo, contou ter encontrado no peito uma carta ensanguentada e um segundo tiro. Nessa espécie de carta testamento, Grenaldo contava as razões do sequestro para o filho e prometia buscar a família tão logo chegasse ao Uruguai. José manteve segredo do que viu por 30 anos, não mencionou nada nem mesmo à própria mulher. Mas era assombrado pela carta, porque sabia que em algum lugar havia um filho que nunca recebera a palavra do pai, um gesto que, por não ter se completado, teria de ter causado estrago. Era desse pesadelo que José queria se libertar quando conversamos pela primeira vez. Ao ver a foto do marinheiro “suicidado” na reportagem, ele decidiu buscar o filho sem pai – e a libertação.

Em um reportagem sobre a primeira mulher de Lula, o ex-militar reencontrou o rosto que o assombrava havia 30 anos, o filho a face desconhecida do próprio pai

Eu procurei o filho. Mas mesmo entre as organizações de mortos e desaparecidos políticos da ditadura, a trajetória, as circunstâncias e a intenção do marinheiro que sequestrou um avião tinha muitas lacunas. Grenaldo foi um dos 1.509 marinheiros expulsos em 1964 por se alinhar com o presidente João Goulart. Destes, 414 foram condenados à prisão. Grenaldo recebeu a pena mais alta: cinco anos e dois meses. Fugiu e iniciou uma vida na clandestinidade. Dele era tudo o que se sabia até ressurgir num avião da Varig.
Tentei vários caminhos para encontrar seu filho, não consegui. Quando o telefone da minha mesa na redação tocou, eu ainda o procurava, mas já tinha escassas esperanças. No outro lado, uma mulher me disse que o filho do marinheiro queria conversar comigo. As linhas finalmente se cruzavam e, por um breve instante, esqueci de respirar. O que tinha se passado era algo tão prosaico, um clichê. Uma mulher folheava distraída uma revista velha no consultório do dentista, quando se deparou com o nome bastante raro. De imediato ligou para a irmã: “Leila, tem um homem aqui com o mesmo nome do seu marido. Será que não é o pai dele?”.
O marido de Leila não falava do pai. Ele era sobrevivente de uma infância arruinada, na qual o legado do pai era um “sangue ruim”. Sua mãe nunca soube das ações políticas do marido e, quando ele sumiu e reapareceu na capa dos jornais como “terrorista”, ela não pôde entender. Mônica Mesut já conhecera o marido na clandestinidade, na cidade paulista de Guarulhos, sem jamais ter sido informada de que ele tivera outra vida. Enquanto esteve com ela, Grenaldo foi vigia da construtora Camargo Corrêa e teve pelo menos dois negócios fracassados. Em 1971, começou a receber cartas que o deixavam muito nervoso. Um dia saiu de casa prometendo voltar para dar a família uma vida melhor e só voltou a aparecer num avião da Varig. O filho tinha quatro anos.
Até a vida adulta, do pai ele só sabia que era “ladrão” e “terrorista”. A família era muito pobre, sem nenhuma formação política e precária educação. Grenaldo, o filho, cresceu num cenário em que tudo faltava, entre uma mãe alcoólatra, um tio violento e uma avó devastada. Christina, a avó, e Mônica, a mãe, já eram elas mesmas sobreviventes de uma outra guerra. Ao fugir da Alemanha depois da Segunda Guerra Mundial, Christina encontrou um bebê nos braços de uma mulher morta. Sem leite ou comida, rasgou o pulso e alimentou-o com sangue. Era Mônica, a mãe de Grenaldo, que em 1972 não suportou ver o marido e pai do seu filho como terrorista e suicida nas capas dos jornais. Acreditou na ditadura e na imprensa. Em uma família na qual o passado já era trevas, mais um apagamento fazia todo o sentido.
Quando Grenaldo ainda era criança, Mônica literalizou a destruição da memória ao sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) que a reduziu a quase nada. Morreria só anos depois. Enquanto viveu, Grenaldo e a mãe eram espancados primeiro pelo padrasto, depois pelo tio. O nome do pai só emergia pelo ódio, na boca de todos, por qualquer motivo e antes de cada surra: “Seu filho de ladrão!”. E então, quando ele tinha 35 anos, já professor de educação física e pai de família, apareceu aquele nome numa reportagem, com uma história diferente. Na mesma página de revista, José reencontrou o rosto que o assombrava, Grenaldo deparou-se com a face desconhecida do próprio pai.
O filho do marinheiro marcou um encontro comigo numa pizzaria de São Paulo. Eu carregava vários livros sobre a ditadura para dar a ele e um enorme temor. Como contar a um filho quem era seu pai? Como dar a um filho notícias do pai? Como se faz algo assim tão enorme, com que palavras? Me senti tão insuficiente. Cheguei mais cedo, como sempre faço, e esperei. Vi aquele homem enorme chegar, com o rosto transtornado por algo que era medo e era expectativa e era, me parecia, um pedido de compaixão. Era como se ele suplicasse com aqueles olhos arregalados, quase infantis, que eu tivesse cuidado, que eu possuía ali o poder de acabar com o delicado equilíbrio que ele havia alcançado com um esforço impossível de mensurar. Percebi que ele não tinha a menor ideia do que ia ouvir. Naquele momento, Grenaldo começou uma travessia em busca de um pai e de um país. Os dois, ao mesmo tempo. E eu era a ponte imperfeita e aquém diante dele. Quando voltei desse encontro, lembro de ter deitado na cama de roupa e ficado ali de olhos estalados até o dia amanhecer, porque era tão grande aquilo, grande demais.

Grenaldo iniciou, aos 35 anos, uma travessia em busca do pai – e do país

Dias depois, marquei um encontro entre Grenaldo, o filho, e José, o ex-militar. A cena era impressionante. Grenaldo caiu de joelhos diante de José. E José libertou-se de um pesadelo de 30 anos. Todos naquela sala choravam. Naquele momento, a vida não cabia em nós.
José encerrava ali três décadas de um pesadelo recorrente, o de um homem assassinado, amontoado como um saco de lixo, num Opala preto da repressão. E Grenaldo iniciava uma série de noites agitadas, em que sonhava ser um detetive em busca de pistas.
Com a ajuda de um advogado, Grenaldo e eu passamos semanas, meses, buscando a carta que era sua. Numa noite, lembro de outra cena: as fotos do inquérito militar espalhadas pelo chão da sala da casa de Grenaldo. As imagens do pai morto, sangue, e nós dois tentando desvendar aquele quebra-cabeça macabro. Eu pensava: como ele vai suportar esse destino transtornado de um dia para o outro?
Grenaldo tinha – tem – algo que poderia ser definido como uma pureza resistente, algo que ele manteve intacto mesmo no inferno que foi sua infância, algo que eu já vi em outros sobreviventes, e algo que naquele momento o salvava de novo. Consegui localizar a última pessoa a encontrar seu pai com vida no avião e provar que ele foi assassinado. Testemunhas lembravam do estranho caso do homem “suicidado com um tiro na nuca”. A granada que supostamente o marinheiro portava durante o sequestro era, segundo José, um carretel de pescaria enrolado com fita crepe.
Grenaldo, o pai, foi reconhecido como um dos executados pela ditadura, e o filho pôde receber uma indenização do Estado. Meses depois, ele reencontrou a avó paterna no Maranhão e resgatou os laços perdidos com uma família que não sabia que tinha. Ele soube então que, depois de deixar a casa de Guarulhos e antes de sequestrar o avião, o marinheiro perseguido pela repressão tinha visitado a mãe, para dar a notícia de que ela tinha um neto e lhe deixar uma foto do menino. Atrás do retrato estava escrito: “São três anos que completo, sou um meninão. Um dia vou crescer, visitar o Maranhão. Naldinho. 9/6/71”. Passaram-se mais de três décadas até ele desembarcar no aeroporto de São Luís, onde a avó o esperava. Viveram uma relação de afeto pungente até a morte dela.
Nunca conseguimos encontrar a carta, e o gesto do pai jamais será completado. É enorme a tragédia de uma carta que não encontra seu destinatário. Essa letra perdida será sempre um buraco que Grenaldo terá de sustentar, mas um buraco que ele vai preenchendo com a construção da memória. Hoje ele tem um pai – e tem um país. E é com os pedaços faltantes de ambos que precisa lidar. Grenaldo se prepara agora para contar para sua filha mais velha a história do avô. E às vezes, quando um dos dois filhos diz que não consegue fazer alguma coisa, ele diz: “Não fale que você não consegue, essa palavra não pode existir. Você é neto do Grenaldo!”.
Não sei quem são os brasileiros que gritam nas ruas pedindo a volta da ditadura. Desconheço as pessoas que clamam por intervenção militar como se isso não fosse uma vergonha, uma indignidade, e sim a prerrogativa de “cidadãos de bem”. Acho que nunca tive tanto medo desse deformado discurso “do bem” quanto hoje, essa época em que todo o pudor foi perdido e a ignorância da História é ostentada como um troféu. Sei que são pessoas, porque só humanos são capazes de algo tão brutal.
Dizem que eram “apenas” 400 no primeiro sábado de dezembro, em São Paulo. Alegam que 400 pedindo intervenção militar é pouco. Eu digo que um é muito. Respeito o direito que têm de se expressar, porque ao fazê-lo reforçam a expressão máxima da democracia, na grandeza de acolher a voz até mesmo de quem exige o seu fim. Mas me reservo o direito de, por um momento, escolher a ingenuidade. Prefiro acreditar que vocês não sabem do que falam nem o que pedem. Não podem saber. Se soubessem, não ousariam.
Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficção Coluna Prestes - o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos e do romance Uma Duas. Site: elianebrum.com Email: elianebrum.coluna@gmail.com Twitter: @brumelianebrum





sábado, 26 de março de 2016

Estão escondendo as planilhas da ODEBRECHT de você. Entendeu?


O cruzamento da planilha da Odebrecht com dados do TSE



Miguel do Rosário





A cidadã Thais Moya, doutora, cruzou os números da planilha da Odebrecht com os dados do TSE.

O resultado, segundo ela, explica porque a mídia e a Lava Jato resolveram abafar a planilha.

Como as autoridades investigativas e própria mídia não parecem interessadas em apurar nenhuma verdade, mas apenas corroborar condenações já determinadas antecipadamente pela mídia, e como ainda não temos equipes grandes de análise de dados, temos que apelar para a generosidade e curiosidade dos internautas.

Confira a imagem abaixo para ampliar.

Para saber sobre os métodos usados, clique na página da doutora.






Satélite Geoestácionário de Defesa e Comunicações Estratégicas

Enquanto os cães ladram, Dilma prepara lançamento de satélite brasileiro








Reproduzo abaixo email que recebi há pouco do Ministério das Comunicações. A grande imprensa recebe também, mas não publica. Só publica os comunicados de grandes bancos, Fiesp, Lava Jato...

Nada que pode ampliar a soberania brasileira face ao imperalismo recebe atenção da nossa imprensa.

O satélite, a ser inaugurado ao final deste ano, ampliará a capacidade da internet brasileira, o que ajudará - evidentemente - a democratizar o debate político no país.

Além disso, será inteiramente controlado pelo governo brasileiro.

Entendem agora por que eles estão desesperados por um golpe?

***

Com André Figueiredo, Dilma destaca que satélite brasileiro vai conectar áreas remotas do país

Presidenta visitou, em Brasília, centro de controle do equipamento, que vai ampliar segurança e internet rápida para todas as regiões

Brasília, 23/03/2016- “Esse satélite vai permitir que o Brasil, nas suas áreas mais remotas, esteja conectado por banda larga. É uma conquista para o país.” A declaração foi feita pela presidenta Dilma Rousseff nesta quarta-feira (23), durante visita ao centro de controle do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGCD), em Brasília. Dilma estava acompanhada pelos ministros das Comunicações e da Defesa, André Figueiredo e Aldo Rebelo, respectivamente.

O satélite geoestacionário, totalmente controlado pelo governo brasileiro, será lançado entre dezembro de 2016 e fevereiro de 2017. O projeto, uma parceria entre os Ministérios das Comunicações (MC) e da Defesa (MD), vai levar internet rápida para todas as regiões do Brasil e também será utilizado nas comunicações estratégicas de segurança nacional.

Para gerenciar remotamente o satélite, foi instalado no 6º Comando Aéreo Regional (VI COMAR) da Aeronáutica, em Brasília, uma antena de 18 metros de altura e 13m de diâmetro. A presidenta Dilma conheceu hoje como vai funcionar o centro de controle do satélite, onde a antena está instalada.

O ministro das Comunicações disse que o satélite vai beneficiar a população brasileira em dois aspectos: na área de defesa e na área de telecomunicações, que vai permitir levar banda larga aos lugares mais longínquos. “É um avanço tecnológico indispensável para que o Brasil possa ter a internet chegando de forma rápida e eficiente, propiciando integração da população brasileira e acesso ao conhecimento”, exaltou o gestor da pasta, ao lado do presidente da Telebras, Jorge Bittar.

André Figueiredo ressaltou ainda que o equipamento é uma das ações do governo federal que fazem parte da nova roupagem do programa Banda Larga para Todos, que deverá ser apresentada em abril. Paro o ministro, o equipamento é fundamental para atingir a meta de universalizar o acesso à banda larga até 2018, alcançando 95% da população e 70% dos municípios brasileiros. “Onde não for possível chegar com fibra óptica, o satélite fará a cobertura”, explicou.

Construção

O Satélite Geoestácionário de Defesa e Comunicações Estratégicas está sendo fabricado em Cannes, na França, e começou a ser construído em janeiro de 2014. O lançamento, até o início de 2017, ocorrerá na base de lançamento de Kourou, na Guiana Francesa. O artefato ficará posicionado a uma distância de 36 mil quilômetros da superfície da Terra, cobrindo o território brasileiro e o oceano Atlântico.

A construção do equipamento está sendo feita pela Thales Space, sob contrato com a Visiona, uma joint venture entre a Telebras – estatal federal do setor de telecomunicações – e a Embraer – empresa privada líder nos setores aeroespacial e de defesa. O projeto prevê a transferência de tecnologia e a capacitação de técnicos de diversos órgãos do governo brasileiro. O objetivo e que um segundo satélite, com previsão de lançamento até 2020, seja construído inteiramente no Brasil.

Capacidade

Com um investimento de, aproximadamente, R$ 1,7 bilhão, 5,8 toneladas e capacidade de transmitir 54 gigabits por segundos, o satélite geoestacionário vai operar na chamada banda X, faixa de frequência destinada exclusivamente ao uso militar, além de ser também utilizado para levar internet em alta velocidade, via banda KA, a regiões remotas do país, como a Amazônia. Hoje, as comunicações militares brasileiras são realizadas por meio do aluguel da banda X em dois satélites privados, ao custo anual de R$ 13 milhões. Quando o satélite SGDC já estiver operando, o Ministério da Defesa vai manter apenas um desses contratos com operadores privados, apenas como garantia em caso de possíveis falhas no SGDC.

Vídeo da inauguração:



quarta-feira, 23 de março de 2016

Não houve concorrência pública


Na Câmara, Moema Gramacho estranha: Ninguém vai dizer que herdeira da Globo pode ter caído na Lava Jato?




publicado em 23 de março de 2016 às 02:05

Da 


Redação

A deputada Maria Gramacho (PT-BA) foi nesta terça-feira à tribuna da Câmara Federal dizer que estranhava o silêncio de seus colegas sobre o fato de que a Polícia Federal vai investigar se o nome de uma das herdeiras da TV Globo, Paula Marinho Azevedo, filha de João Roberto Marinho, aparece numa anotação apreendida na sede da empresa Mossack & Fonseca, em São Paulo, pela Operação Lava Jato.

“Fico surpresa de ver a hipocrisia que reina aqui neste plenário. Eu não vi até agora nenhum deputado de oposição, que se diz defensor do combate à corrupção, falar que a Lava Jato chegou aos Marinho. Que a Lava Jato chegou a uma pessoa chamada Paula Marinho”, denunciou a deputada.

O Viomundo fez a denúncia exclusiva a partir de documentos tornados públicos pelo juiz Sérgio Moro.

A folha manuscrita em que aparece o nome Paula Marinho Azevedo é o controle de saldo de uma conta bancária, com entradas e saídas.

Ao lado do nome de Paula aparece o valor +3.741 e um número (576764-15). A Polícia Federal pretende checar se este número é de uma conta que pertence à própria Paula.

A Mossack cobra taxas para manter em funcionamento empresas de fachada. Em geral, elas são utilizadas para ocultar patrimônio ou fazer dinheiro transitar até refúgios fiscais, onde os impostos são mais baixos.

A data do que pode ter sido um pagamento de Paula à Mossack, 27 de julho de 2015, é compatível com a época em que ela ainda usava nome de casada. Ela oficializou divórcio do marido, Alexandre Chiappetta Azevedo, em 8 de outubro de 2015 e voltou a usar o nome de solteira.

Nos documentos aos quais o Viomundo teve acesso três empresas em paraísos fiscais aparecem associadas à empresa Glem, do marido de Paula e genro de João Roberto Marinho, Alexandre.

Juste, das ilhas Seychelles, A Plus Holdings, do Panamá, e Vaincre LLC, de Las Vegas, Nevada.

A Mossack opera em um grande número de refúgios fiscais, o que facilita o trânsito de dinheiro e dificulta o rastreamento das atividades do laranjal por autoridades tributárias.

A Vaincre LLC é uma das donas da mansão de concreto construída irregularmente em uma praia de Paraty, no litoral do Rio de Janeiro. A outra sócia é a Agropecuária Veine.

“Eu não vi ninguém falar aqui dessa empresa que sustenta essa corja, que também está ligada à Brasif, aquela que sustentava a ex-namorada de Fernando Henrique Cardoso enquanto ele era ainda Presidente da República, com relações diretas”, denunciou a deputada Gramacho.

De fato, a Agropecuária Veine montou um consórcio com a Brasif, do empresário Jonas Barcellos, para importar um helicóptero.

A principal atividade do agora ex-marido de Paula Marinho é a permissionária Lagoon, que montou cinemas, restaurantes e uma casa noturna no estádio de remo da Lagoa Rodrigo de Freitas. Não houve concorrência pública e o contrato, assinado em 1997 “a título precário”, continua em vigência até hoje. O Ministério Público do Rio de Janeiro move ação para retomar o patrimônio público.








Várias empresas controladas pelo ex-marido de Paula, Alexandre, e pelo pai dele têm como endereço de correspondência um apartamento do edifício Quaruna, na rua Bulhões de Carvalho, 296. Um funcionário informou que o apartamento 601 fica vazio e rotineiramente alguém aparece para recolher as cartas.

Até recentemente, o mesmo apartamento era o endereço de correspondência de uma sociedade entre João Roberto Marinho, um dos donos do Grupo Globo, e a filha Paula: a FN5 Participações Ltda., com capital de R$ 33, 5 milhões. A denúncia foi do blog Tijolaço.

Em resposta ao blog carioca, a assessoria de imprensa do Grupo Globo disse que João Roberto era o sócio minoritário e que “a FN5 ocupou o endereço citado na matéria autorizada pelo ex-marido de Paula Marinho”. O dono da Globo também nega que Paula tenha tido relação societária com empresas do marido ou participação na mansão de Paraty.

Com a investigação da Polícia Federal, que está em andamento, será possível esclarecer o motivo do nome Paula Marinho Azevedo aparecer associado a um possível pagamento à empresa Mossack & Fonseca, além de determinar se o então marido dela usava empresas de papel para sonegar imposto ou esconder patrimônio.

“Seria muito importante que viessem aqui os defensores do combate à corrupção pedir que investigassem tudo. Eu quero uma resposta aqui desses falsos moralistas, que sobem a esta tribuna dizendo que querem combater a corrupção”, afirmou a deputada Moema Gramacho.

A busca e apreensão na sede paulistana da Mossack & Fonseca foi determinada por causa do envolvimento da empresa panamenha em outras denúncias apuradas pela Operação Lava Jato.

o saci de volta na garrafa


O dia em que Janot assumiu a postura de Procurador Geral




ATUALIZADO EM 23/03/2016 - 00:34
Luis Nassif





Tenho criticado insistentemente o Procurador Geral da República Rodrigo Janot, não devido a informações negativas sobre ele, mas às positivas. Jamais cobraria atitudes republicanas de Eduardo Cunha, José Serra ou Fernando Henrique Cardoso.

Sobre Janot sempre ouvi afirmações elogiosas quanto ao seu espírito público, de Procuradores ou de Ministros da Suprema Corte.

Mas, no turbilhão da Lava Jato, não consegui vislumbrar as virtudes mencionadas. Janot definiu a estratégia da Lava Jato e comandou as diversas etapas, sempre tendo em mente a luta contra o ogro, a aliança invencível das grandes corporações com o mundo político. Contra o ogro valia tudo, especialmente o uso incessante da mídia, a conclamação às massas, o uso abusivo das informações.

Gradativamente vimos outro monstro tomando forma, o sentimento de ódio que se disseminou pela sociedade, a onipotência salvacionista de procuradores se comportando como turba, indo a manifestações, brigando nas redes sociais como se não fossem autoridades investidas de prerrogativas constitucionais.

O jogo foi virando. O MPF deixou de ser o lado fraco da luta contra a corrupção, para se transformar no poder absoluto, arrogante, impiedoso, amparado no clamor das turbas, o espírito de linchamento contra o qual o Direito erigiu uma construção lenta, penosa, que permitiu gradativamente à civilização se impor sobre a barbárie. E o Janot do qual me falavam não aparecia.

Hoje, finalmente, Janot se fez presente.

Em um comunicado ao seu exército, com o título “União e Serenidade”, pela primeira vez viu-se de forma explícita o exercício da responsabilidade institucional sendo praticado por quem comanda um dos poderes de fato da República:

"Não podemos permitir que as paixões das ruas encontrem guarida entre as nossas hostes. Somos Ministério Público. A sociedade favoreceu-nos, na Constituição, com as prerrogativas necessárias para nos mantermos alheios aos interesses da política partidária e até para a defendermos de seus desatinos em certas ocasiões. Se não compreendermos isso, estaremos não só insuflando os sentimentos desordenados que fermentam as paixões do povo, como também traindo a nossa missão e a nossa própria essência".

Disse mais. Que os procuradores evitassem o personalismo e o messianismo e que a Lava Jato é importante e necessária, “mas não pode ser vista como solução dos problemas do Brasil”.

“Conclamo todos os membros do Ministério Público ao cumprimento dos seus deveres para com o país. Devemos dar combate incessante às corrupção, seja onde for e doa a quem doer, mas há de ser preservar sempre as instituições. A Lava Jato certamente não salvará o Brasil, até porque se tivéssemos essa pretensão, já teríamos falhado antes mesmo de começar”.

Finalmente, pede a paz geral, humildade e sabedoria, lembrando os grandes estadistas da história da humanidade, Abraham Lincoln, Nelson Mandela e Winston Churcill. Segundo ele, “os três enfrentaram divisões, radicalizações e combates sangrentos, mas apostaram na pacificação da sociedade e hoje servem de parâmetros no processo civilizatório”.

Diz Janot que Lincoln, “como grande estadista, sabia que, por mais justa que fosse a sua causa, vencer a guerra a qualquer custo não seria alternativa válida. O país, após o conflito, deveria sobreviver ou não haveria verdadeira vitória”.

Terminou lembrando Mandela, que mesmo “brutalmente injustiçado decidiu seguir por um caminho que não levasse seu país a se desintegrar em uma luta fratricida e de consequências imprevisíveis”.

E, finalmente, finalmente, finalmente, lembrou que a instituição fica e as pessoas passam. “Desejo que, unidos no cumprimento do próprio dever, tenhamos, nas nossas mentes e nossos corações, a ideia firme de que se o Ministério Público brasileiro durar mil anos, os homens possam dizer de nós: Este foi o seu melhor momento”.

Se conseguirá colocar o saci de volta na garrafa, o tempo dirá. Nos próximos dias se verá até onde se pode apostar no republicanismo de Janot.

Torço para que o Ministério Público Federal volte a ter a responsabilidade e a grandeza que permitiram legitimar as prerrogativas que receberam daqueles que conseguiram derrotar a ditadura.

E torcendo para que o Brasil se reencontre com o Brasil, nossa melhor sintese:






É um primeiro e essencial passo.


Teori Zavascki enquadra Moro e Gilmar



Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:





Ao dar um cala-boca em Moro e Gilmar Mendes a um só tempos, o ministro Teori Zavascki escreveu uma das mais belas e mais corajosas páginas da história do STF.

O STF e a Justiça em geral tinham sido sequestrados por Gilmar e Moro – mais a Globo – para impor ao país um golpe que representaria um retrocesso brutal das instituições nacionais.

Teori pediu satisfações a Moro por seu grampo indecente e fez letra morta da decisão abjeta de Gilmar de entregar a cabeça de Lula na bandeja de Moro.

Tempos desesperadores impõem medidas grandiosas, e foi isso que Teori fez.

Seu gesto épico foi precedido, durante o dia, por uma manifestação enérgica de Janot contra a partidarização do Ministério Público.

Partidarizar a Justiça é estuprá-la, e é isso que Gilmar e Moro vinham fazendo sem resistência nenhuma na corte suprema brasileira.

Mais uma vez, aí, foi um recado direto a Moro e a Gilmar. “A Lava Jato não vai salvar o país”, disse Janot. Vai, aliás, jogá-lo numa guerra civil fraticida se continuar desse jeito.

Ambos, Moro e Gilmar, perderam completamente o equilíbrio nas últimas semanas.

Moro imaginou que o apoio irrestrito da Globo lhe permitiria fazer tudo – incluído aí passar um grampo criminoso para os irmãos Marinhos e promover uma caçada assassina contra o maior líder político desde Getúlio Vargas.

Gilmar, ensandecido, conseguiu dizer que não havia nada de mais em se encontrar com Serra no mesmo dia em que passou Lula a Moro para que este pudesse prendê-lo.

Se um juiz do STF acha que política e Justiça podem se misturar é porque a Justiça está morta.

Por isso é preciso celebrar o gesto de Zavascki. Não por favorecer Lula, ou o governo, ou o que for – mas para preservar a civilização e a democracia no Brasil.

Na prática, Zavascki chamou o golpe de golpe, e nada poderia ser mais duro para os golpistas neste momento do que isso.

É um primeiro e essencial passo.

O serviço só estará completo quando aberrações como Moro e Gilmar, e tantos procuradores que mancharam a honra da Justiça ao atuar como políticos, forem erradicados da cena jurídica nacional.

De todos – repito – TODOS os partidos.


“Listão da Odebrecht” tem mais de 200 nomes de políticos. E nenhum deles é Lula


Tijolaço


POR FERNANDO BRITO · 23/03/2016







Não foi um vazamento; foi um rompimento de adutora.



A adutora que abastece, e todo mundo sabe disso, todas as campanhas política no Brasil que, contra a vontade da mídia, de Gilmar Mendes, de Eduardo Cunha, do PSDB e de tanta gente “boa”, adiou o quanto pôde o financiamento público das eleições.

Fernando Rodrigues divulgou o “listão” de supostas ajudas da Odebrecht a políticos.

De todos – repito – TODOS os partidos.

Aécio Neves, Eduardo Cunha, Sérgio Cabral, Jaques Wagner, Romero Jucá, Humberto Costa, Eduardo Paes, José Sarney e Eduardo Campos, morto em 2014, entre centenas de outros. Centenas mesmo, mais de 200.

Não está claro na matéria o que foi legal e o que foi “caixa dois”, que nenhuma campanha política de algum porte deixa de ter.

É m… no ventilador para ninguém botar defeito, mas uma coisa salta aos olhos.

O nome de Lula não aparece uma só vez no listão, que está em poder da Lava Jato desde 22 de fevereiro.

E o documento, em tese, teria sido divulgado ontem, quando não haveria restrição partida da decisão do STF, tomada já tarde da noite por Teori Zavascki.

Eu ainda mantenho um “pé atrás”. Não é lógico que uma planilha assim vá ver guardada durante oito meses de prisão do presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht, sem ter sido picado, incinerado e desaparecido.

Alguns arquivos publicados por Fernando Rodrigues estão indisponíveis, surgindo em seu lugar uma indicação de página em manutenção, como reproduzo abaixo. Outros são estranhos, contendo textos estranhos ao caso, como a reprodução da famosa avaliação do ex-secretário de comunicação do Planalto, Tomas Trauttman, sobre o cenário eleitoral, que foi amplamente publicada e não revela, por isso, absolutamente nada.

Coisas estranhas, muito estranhas.

Mesmo num país em que não se estranha mais nada.

Não tem o nome Dilma nem Lula, mas tem ... vai continuar usando luto?


Lista da Odebrecht tem Aécio, Cunha e mais 200 nomes


SUL 21




Eduardo Cunha | Foto: Wilson Dias/Agência Brasil




Do Brasil 247



Nas buscas que realizou na Odebrecht durante a 23ª fase da Operação Lava Jato, no dia 22 de fevereiro, a Polícia Federal apreendeu uma lista do que seriam repasses de propina da empreiteira a políticos. A relação traz mais de 200 nomes e os valores recebidos, atingindo governo e oposição.

Estão presentes, por exemplo, os nomes do senador Aécio Neves (PSDB-MG), do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), dos senadores José Sarney (PMDB-AP), Romero Jucá (PMDB-RR) e Humberto Costa (PT-PE), do chefe de Gabinete da presidente Dilma Rousseff, Jaques Wagner, do PT, do ex-governador Eduardo Campos (PSB), morto em 2014, entre vários outros.

Conforme afirma o jornalista Fernando Rodrigues, que divulgou a lista, trata-se do mais completo acervo do que pode ser a contabilidade paralela da empresa descoberta e revelada ontem na investigação. Segundo a PF, o executivo Marcelo Odebrecht também estava envolvido no pagamento de propinas.




______________________


Documentos da Odebrecht listam mais de 200 políticos e valores recebidos


Blog do Fernando Rodrigues


Fernando Rodrigues23/03/2016 11:27


Papéis foram apreendidos na “Acarajé” e liberados ontem (22.mar)

Planilhas listam nomes, valores e apelidos de cada político

Material é de Benedicto Barbosa, alto executivo do grupo

Informações de tabela são incompatíveis com doações declaradas





Acesse todo o material apreendido no fim deste post

Agentes da PF na sede de São Paulo da Odebrecht, na fase Acarajé



Documentos apreendidos pela Polícia Federal listam possíveis repasses da Odebrecht para mais de 200 políticos de 18 partidos políticos. É o mais completo acervo do que pode ser a contabilidade paralela descoberta e revelada ontem (22.mar.2016) pela força-tarefa da Operação Lava Jato.

As planilhas estavam com Benedicto Barbosa Silva Júnior, presidente da Odebrecht Infraestrutura, e conhecido no mundo empresarial como “BJ''. Foram apreendidas na 23ª fase da operação Lava Jato, batizada de “Acarajé”, realizada no dia 22.fev.2016.

Como eram de uma operação de 1 mês atrás e só foram divulgados públicos ontem (22.mar) pelo juiz federal Sérgio Moro, os documentos acabaram não sendo mencionados no noticiário sobre a Lava Jato.

As planilhas são riquíssimas em detalhes –embora os nomes dos políticos e os valores relacionados não devam ser automaticamente ser considerados como prova de que houve dinheiro de caixa 2 da empreiteira para os citados. São indícios que serão esclarecidos no curso das investigações da Lava Jato.

Os documentos relacionam nomes da oposição e do governo: são mencionados, por exemplo, Aécio Neves (PSDB-MG), Romero Jucá (PMDB-RR), Humberto Costa (PT-PE) e Eduardo Campos (PSB), morto em 2014, entre vários outros.

A apuração é dos repórteres do UOL André Shalders e Mateus Netzel. Eis exemplos de planilhas apreendidas (clique nas imagens para ampliar):







Na planilha, Renan é “atleta''; Eduardo Paes, “nervosinho''; Sérgio Cabral, “próximus''.



A maior parte do material é formada por tabelas com menções a políticos e a partidos.

Várias dessas planilhas trazem nomes, cargos, partidos, valores recebidos e até apelidos atribuídos aos políticos.

Algumas tabelas parecem fazer menção a doações de campanha registradas no TSE. Há CNPJs e números de contas usadas pelos partidos em 2010, por exemplo.

Parte significativa da contabilidade se refere à campanha eleitoral de 2012, quando foram eleitos prefeitos e vereadores. As informações declaradas no SPCE (Sistema de Prestação de Contas Eleitorais, do TSE) desse ano não correspondem às dispostas nas tabelas. Na planilha acima, por exemplo, as siglas OTP e FOZ aparecem assinaladas ao lado de diversos candidatos, mas nem Odebrecht TransPort nem Odebrecht Ambiental (Foz do Brasil) realizaram doações registradas naquela eleição.

Em 2012, a Construtora Norberto Odebrecht doou R$ 25.490.000 para partidos e comitês de campanha e apenas R$50 mil para uma candidatura em particular –a de Luiz Marinho, candidato do PT à prefeitura de São Bernardo do Campo (SP).

Em 2014, a soma de doações da construtora foi de R$ 48.478.100, divididos entre candidaturas individuais e comitês dos partidos. Em 2010, o total foi de R$ 5,9 milhões, apenas para partidos e comitês de campanha.

APELIDOS
Eis alguns apelidos atribuídos aos políticos nos documentos da Odebrecht, vários com conteúdo derrogatório:
Jaques Wagner: Passivo
Eduardo Cunha: Carangueijo
Renan (Calheiros): Atleta
José Sarney: Escritor
Eduardo Paes: Nervosinho
Humberto Costa: Drácula
Lindbergh Farias: Lindinho
Manuela D’Ávila: Avião



O material da Odebrecht é farto em nomes da oposição

COPA E LEBLON
A papelada que serve de base para este post foi apreendida por 4 equipes da PF em 2 endereços ligados a Benedicto Barbosa Jr. no Rio de Janeiro nos bairros do Leblon e de Copacabana.

Além das tabelas, há dezenas de bilhetes manuscritos, comprovantes bancários e textos impressos. Alguns dos bilhetes fazem menção a obras públicas, como a Linha 3 do Metrô do Rio.

Um dos textos refere-se, de forma cifrada, às regras internas de funcionamento do cartel de empreiteiras da Lava Jato. O grupo é chamado de “Sport Club Unidos Venceremos”.

O juiz federal Sérgio Moro liberou ontem (22.mar.2016) o acesso ao material apreendido com outros alvos da Acarajé. São públicos os documentos apreendidos com Mônica Moura, mulher do publicitário João Santana, e com o doleiro Zwi Skornicki, entre outros.

ÍNTEGRA DOS DOCUMENTOS
Clique aqui para saber em qual documento e página cada político é mencionado. Depois, escolha o arquivo correspondente na lista abaixo:



Arquivo 1

Arquivo 2

Arquivo 3

Arquivo 4

Arquivo 5

Arquivo 6

Arquivo 7

Arquivo 8

Arquivo 9

Arquivo 10

Arquivo 11

Arquivo 12




OUTRO LADO
A Odebrecht foi procurada pelo Blog. Nesta 4ª (23.mar.2016), a assessoria da empreiteira enviou esta nota: “A empresa e seus integrantes têm prestado todo o auxílio às autoridades nas investigações em curso, colaborando com os esclarecimentos necessários''.

Todos os políticos citados, já procurados por causa de outras reportagens, negam ter recebido doações ilegais em suas campanhas.


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