Quadrilhas com ficha limpa?
A lista dos “ficha suja” não inclui, por exemplo, os acusados de integrar uma quadrilha que desviou milhões no Detran, nem aqueles acusados de superfaturar obras como barragens e estradas. Só nestes dois escândalos (revelados pelas operações Rodin e Solidária), os cofres públicos sangraram algo em torno de R$ 444 milhões. É dinheiro que devia estar sendo usado para construir postos de saúde, hospitais, comprar remédios, qualificar a segurança, pagar com dignidade professores e brigadianos. É dinheiro que devia estar a serviço do povo gaúcho mas que, por uma dessas ironias trágicas da realidade, pode estar sendo usado para comprar votos de parte deste mesmo povo gaúcho. Sim, porque nestes grupos acusados de formar quadrilhas que roubaram o dinheiro dos gaúchos, há políticos que não foram banidos por seus partidos e, ao menos até agora, nem pela Justiça.
Sobre a tal lista dos chamados “ficha suja”, cabe dizer ainda que, além de não mencionar aqueles acusados pelas autoridades de serem os maiores assaltantes da política, mistura gente que contratou médicos para garantir saúde ao povo e gente que, bem ao contrário, se utilizou da doença dos pobres para, posando de benfeitor, trocar votos por assistência, como é o caso dos albergueiros.
Assim, vamos caminhando em direção a mais uma eleição no Rio Grande do Sul sem que se tenha conseguido separar o joio do trigo na política gaúcha. Não que nos falte informação, afinal com a montanha de gravações e evidências colhidas pela Polícia Federal e o Ministério Público Federal, só tem dúvida quem tem ouvidos moucos e olhos vendados.
O que nos obriga, ainda, a conviver com a presença dissimulada de acusados de graves crimes nas listas de candidatos proporcionais e majoritários, é o tratamento diferenciado que a Justiça dispensa a ricos e pobres; é a velha desigualdade entre os que podem contratar advogados caríssimos e conhecem as brechas da lei e os que tem de se contentar com os sobrecarregados defensores públicos que, muitas vezes, mal conseguem cumprir os prazos judiciais; é o cinismo de alguns espaços de mídia que continuam tratando com distinção e solenidade criaturas que já poderiam estar cumprindo pena em regime fechado; é a cumplicidade daqueles (ou daquelas) que dão poder e garantem cargos de primeiro escalão a estas pessoas; é, por fim, a omissão de uma maioria política comprometida que desonra os mandatos conferidos pelo povo gaúcho quando se nega a investigar e sequer apontam as responsabilidade política destes elementos que se alimentam de corrupção enquanto roubam a merenda das crianças e não estão em nenhuma lista. (Maneco)
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