Considerações antiplatinadas
Enviado por Miguel do Rosário on 24/09/2013
Porventura algum leitor deve achar que sou obcecado pela Globo. Bem, a culpa d’eu falar tanto da Vênus é dela mesma. Ela tanto fez para obter um monopólio que conseguiu. Uma enorme vaca plantada sozinha no meio da sala. Por mais que eu admire as pinturas nas paredes e a vista da janela, é difícil desviar a atenção daquele bicho estranho ali postado, até porque ele não fica parado. Ele produz toneladas diárias de bosta.
O meu trabalho inclui o de reciclagem. O Cafezinho é um blog, neste sentido, altamente sustentável. Eu leio o jornal O Globo todos os dias como quem espalha estrume regularmente sobre um pomar. É um trabalho duro e estafante, mas necessário à minha própria sobrevivência enquanto cidadão politicamente ativo. Mesmo quando não leio O Globo, o cheiro da bosta chega a meus sentidos, e não me deixa respirar, obrigando-me a me livrar dela, de preferência de uma maneira construtiva ou, para usar a palavra da moda, sustentável. Ou seja, usando o conteúdo do Globo contra ele mesmo, mediante a produção de uma análise crítica da mídia.
Além do mais, enquanto a Globo, ou o Globo (o feminino é para designar o monstro inteiro, o masculino, só o jornal impresso), receber bilhões em verbas públicas, e seu principal ativo ser uma concessão pública, eu o tratarei como se eu também fosse o seu patrocinador. O povo brasileiro é o verdadeiro dono da Rede Globo, visto que ela é uma concessão pública que depende da aprovação do Congresso e da Presidência da República para existir, além dos bilhões que a emissora recebe via publicidade oficial de todos os entes da federação.
Governo federal, governos estaduais, prefeituras, judiciário, legislativo, estatais em todos os níveis. Todas as forças públicas patrocinam a Globo, beneficiada por sua vez por um poder consolidado durante o regime militar. Beneficiada não só por este poder, mas também pela consolidação de um esqueleto legal que a favoreceu.
As grandes empresas privadas, não podemos esquecer, tem forte participação acionária do Estado e/ou recebem pesado financiamento do Estado, e portanto a sua publicidade também é relativamente pública. Quando o governo FHC criou o PROER para salvar os bancos privados, fazendo o Tesouro Nacional injetar nos bancos privados o equivalente a quase 100 bilhões de reais em valores atualizados, o que isso significa? Que até os bancos têm seu lado público, e quando o Itaú patrocina o Jornal Nacional, portanto, podemos considerar que também se trata de nosso dinheiro.
A máxima maior da nossa Constituição, “todo o poder emana do povo”, pode ser convertida facilmente num incontestável slogan de inspiração marxista: “todo capital emana do povo”. Toda a fortuna dos Marinho e toda a infra-estrutura da TV Globo podem ser consideradas, nesta acepção filosófica, como pertencentes ao povo brasileiro.
O Globo é o único jornal da minha cidade que trata de política, de maneira que não há como fugir. No futuro, quando a blogosfera se desenvolver e ampliar a produção de conteúdo próprio, aí sim, poderemos, não exatamente ignorar a grande mídia, mas lhe conferir um desprezo calculado. Isso vai demorar um pouco, talvez, porque a sociedade ainda é atrasada, e o governo, que deveria propor avanços nesta área, reflete o mesmo pensamento conservador, com algumas pitadas próprias de covardia.
Com o fim da ditadura, a democracia renasce frágil. Os partidos de esquerda, a começar pelo PT, eram débeis financeiramente. As duas primeiras pessoas com quem Tancredo Neves se encontra, após sua vitória no colégio eleitoral, são Roberto Marinho e Antônio Carlos Magalhães. Em jantar a três, Tancredo aceita a sugestão de Marinho de nomear ACM ministro das Comunicações. E morre logo em seguida, em circunstâncias até hoje mal explicadas. Aquele jantar com Roberto Marinho provocou-lhe uma indigestão ideológica fatal. O que será que foi servido ali?
Sarney faz um governo altamente comprometido com a Rede Globo, até porque ele passou a controlar a retransmissora local da Globo. A era Sarney é o período por excelência do totalitarismo platinado. O Jornal Nacional tinha mais de 80% de audiência nacional (hoje tem menos de 15%). Um governo frágil, numa democracia bebê, não tinha como medir forças com a Globo. A emissora se aproveitava disso para ampliar seu poder. Sonegação de impostos, ocupação irregular de terrenos, concorrência predatória, bloqueio de qualquer avanço legislativo em favor de pequenas empresas de comunicação, além da montagem de um sistema gigantesco, capilarizado, de chantagem política, atingindo todas as instâncias do Estado.
A chantagem da Globo contra o STF, o seu ridículo endeusamento de Barbosa, e a perseguição mesquinha contra o ministro Ricardo Lewandowski, são a coroação de um longo histórico de mau caratismo antidemocrático.
Em novembro, irei lançar dois livros. Um sobre o mensalão, reunindo os artigos que tenho escrito por aqui, revisados, ampliados, além de alguns textos inéditos; outro sobre a sonegação da Globo, juntando os fatos que descobrimos até o momento e igualmente contendo material exclusivo.
Ambos os livros têm pontos de intersecção, e o principal deles é a participação da Globo. O mensalão foi a cortina de fumaça perfeita para a Globo esconder suas mutretas fiscais. Enquanto satanizava o pobre do Pizzolato, uma homem pacato e honesto, que nunca roubou um pirulito e jamais sonegou impostos, transformando-o numa espécie de vampiro, impedindo-o de dar uma volta tranquila na rua, a Globo praticava fraudes fiscais bilionárias, como aquela flagrada por órgãos de inteligência internacionais, que ela praticou nas Ilhas Virgens Britânicas.
Depois de torturar medievalmente cidadãos brasileiros, praticando a infâmia indescritível que é sujar a honra de pessoas inocentes, os colunistas da Globo, como faz Luiz Garcia, ainda hoje brandem o discurso da “impunidade”.
“Falta aquela indispensável consequência, dos atos criminosos: o castigo. Ou seja, a cadeia”, afirma graciosamente Garcia em sua coluna de hoje.
É como um bispo da inquisição que depois de esquecer um pobre diabo preso por dez anos numa masmorra infecta diz a seus colegas que eles deveriam aplicar, finalmente, um castigo decente, alguma coisa como esquartejamento vivo, por exemplo.
Como lutar contra isso?
Usando a cabeça. Lendo.
O nosso trunfo é a verdade. Isso é uma coisa que nem a espionagem americana pode nos roubar, porque não queremos escondê-la, e sim divulgá-la aos quatro ventos. O ponto fraco das forças conservadoras, por sua vez, é sua necessidade de continuar vivendo à sombra, controlando e manipulando as informações.
Se quiser ajudar o Cafezinho nessa empreitada, reserve desde já seus exemplares.
Ficha Técnica:
Título: O Supremo Mentirão
Crônicas investigativas
275 páginas
Tamanho: 15,8 cm X 22,5 cm
(Observação sobre a capa. Tenho admiração pelo ministro Teori Zavascki. Não queria exibir uma foto negativa do STF, porque a culpa pelos erros não é da instituição, mas de alguns ministros, e sobretudo do ambiente carregado em que trabalharam. )
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