Obama versus Dilma nos tributos a Mandela
Paulo Nogueira
O papo divertido de Obama com a premiê dinamarquesa
Uma polêmica em torno dos discursos em homenagem a Mandela se travou nas redes sociais ontem.
A questão estava centrada, basicamente, em Obama e Dilma.
Obama teria sido brilhante em sua fala, e Dilma teria sido opaca.
É verdade e não é ao mesmo tempo.
Obama é um profissional da fala, um orador que para muitos é comparável a mestres da retórica como Kennedy.
Primeiro na faculdade de direito de Harvard, e depois no Congresso, viveu de falar.
Pode-se dizer, hoje, que Obama é muito melhor na retórica que na ação. Sua presidência acabou sendo uma enorme decepção para quem esperava alguma mudança efetiva nos Estados Unidos.
Externamente, a beligerância de Bush foi mantida ou até ampliada, com o uso intensivo dos drones, os aviões de guerra teleguiados responsáveis pela morte de tantas crianças, mulheres, velhos e civis em países como o Paquistão e o Afeganistão.
Internamente, a gestão Obama não fez nada para diminuir a desigualdade social, e além do mais foi incapaz de resolver uma crise econômica tenebrosa.
Obama só não foi removido da Casa Branca porque seu concorrente foi flagrado dizendo que não ligava para metade do eleitorado, a metade mais pobre, naturalmente.
Dilma é de outra natureza. Não é uma oradora. Não foi treinada para isso. A vida a conduziu para outras coisas.
Mas tem conteúdo, e é honesta ao falar e ao agir. Quem não se lembra do olhar que ela dirigiu a Joaquim Barbosa no velório de Niemeyer?
Obama, traquejado na política, teria provavelmente dado um abraço sorridente em Joaquim Barbosa para depois falar horrores pelas costas.
O discurso de Dilma ontem foi correto. Ela não é Cícero, não é Demóstenes, não é sequer Obama.
Disse o que era preciso dizer: que Mandela fez muita diferença no mundo em que viveu, e que os brasileiros nos orgulhamos do sangue africano que corre em nossas veias.
Foi respeitosa.
A emoção de Obama se restringiu essencialmente ao discurso. Fotos captaram a animada conversa que ele travou, fora dos holofotes, com a premiê dinamarquesa.
Pareciam estar num bar, contando piadas e fofocas. Me lembrou um conto de Gogol em que amigos do defunto se preocupam com em não perder o jogo de baralho que costumava ocorrer no dia do enterro.
A postura de escasso respeito ao morto se contrastava com a seriedade – nascida em parte do ciúme, talvez – de Michelle Obama.
Presumo que Obama tenha levado uma bronca conjugal a caminho dos Estados Unidos.
Ficou claro que a emoção do discurso de Obama era de araque.
Dilma foi genuína, e sem fazer um discurso para entrar na história honrou mais a memória de Mandela que seu grandiloquente colega americano.
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
O tempo passa voa, mas as imagens parecem congelar o instante
A foto de Dilma e Barbosa no velório de Niemeyer
Do Diário do Centro do Mundo
Sobre a foto de Dilma e Joaquim Barbosa no velório de Niemeyer
Paulo Nogueira
Uma coisa é certa: a foto não vai para o álbum de nenhum dos dois.
De uma coisa não se pode acusar Dilma: de hipocrisia. É flagrante, é torrencial, é irreprimível o mal estar que a figura de Joaquim Barbosa provoca nela, como mostra a foto que o fotógrafo Gustavo Miranda, da Agência Globo, captou no velório de Oscar Niemeyer.
É o olhar de alguém que está oscilando entre o desprezo e o ódio, e que provavelmente se tenha visto na contingência de calar o que sente.
Que detalhes conhecerá Dilma das andanças de Barbosa por apoio político para ser nomeado para o STF? Ou será que ela não perdoa o que julga ser deslealdade e ingratidão de JB perante o homem a quem ambos devem o cargo, Lula?
Interessante examinar o rosto de JB no encontro. Ali está um sorriso de quem espera aprovação, compreensão, atenção – ou pelo menos um sorriso de volta, ainda que protocolar e falso.
Mas não.
O que ele recebe de volta é um olhar glacial, uma mensagem clara da baixa opinião de Dilma sobre ele. Parece estar acima das forças de Dilma fingir que não sente o que sente, ainda que por frações de segundo. A fotografia não vai para o álbum de lembranças de nenhum dos dois.
A franqueza por vezes desconcertante é uma característica de quem, como ela, não fez carreira na política. Fosse uma política, esta foto não existiria, não pelo menos deste jeito singular, e seria uma pena porque esta é uma das imagens que decerto marcarão a República sob Dilma, de um lado, e Barbosa, de outro".
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