E por quê?
blog do baitasar
Uma humanidade solidária, amorosa... construída com todos incluídos num mundo menos elitista, preconceituoso, autoritário e desigual, por la vida... siempre!
sexta-feira, 27 de setembro de 2024
butekudus baitasar : Histórias da Meia-Noite: Ponto de vista (IV)
butekudus baitasar : Histórias da Meia-Noite: Ponto de vista (IV): Ponto de vista Machado de Assis Conto PONTO DE VISTA Capítulo IV À MESMA Corte, 30 de outubro Muito velhaca é você. Então porque lhe... Anda agora aqui em casa um sujeito que nos foi apresentado há pouco tempo; qualquer outra moça ficava presa pelas maneiras dele; a mim não me faz a menor impressão.
terça-feira, 24 de setembro de 2024
butekudus baitasar : Gabriel G Márquez - O Amor nos Tempos de Cólera: O...
butekudus baitasar : Gabriel G Márquez - O Amor nos Tempos de Cólera: O...: O Amor nos Tempos de Cólera Gabriel García Márquez O DOUTOR JUVENAL URBINO tinha sido aos vinte e oito anos o mais cobiçado dos solte... Lutou em vão para que o lixo não fosse atirado aos manguezais, convertidos há séculos em tanques de putrefação, e para que fosse recolhido pelo menos duas vezes por dia e incinerado em algum lugar despovoado.
Tinha consciência da ameaça mortal que era a água de beber.
sexta-feira, 20 de setembro de 2024
butekudus baitasar : Gabriel G Márquez - O Amor nos Tempos de Cólera: F...
butekudus baitasar : Gabriel G Márquez - O Amor nos Tempos de Cólera: F...: O Amor nos Tempos de Cólera Gabriel García Márquez continuando... Florentino Ariza tinha conhecido a rota dos galeões nas cartas de ... — Entrego a você as chaves da sua própria vida — disse.
butekudus baitasar : Histórias da Meia-Noite: Aurora Sem Dia (III)
butekudus baitasar : Histórias da Meia-Noite: Aurora Sem Dia (III): Aurora Sem Dia Machado de Assis Conto AURORA SEM DIA Não foi preciso dizer-lho duas vezes. Dois dias depois, levou o ex-poeta ao seu p...
— Ia este ano à corte e esperava surpreendê-lo... Que duas criancinhas as minhas... lindas como dois anjos. Saem à mãe, que é a flor da província. Oxalá se pareçam também com ela nas qualidades de dona de casa; que atividade! que economia!...
Feita a apresentação, beijadas as crianças, examinado tudo, Luís Tinoco declarou ao Dr. Lemos que definitivamente deixara a política.
domingo, 15 de setembro de 2024
butekudus baitasar : Conto: Uma Esperança
butekudus baitasar : Conto: Uma Esperança: Clarice Lispector têm dias que só queremos sentar e ouvir as palavras da Clarice enquanto pensamos na vida com esperança... acariciando a a...
Mas como é bonito o inseto: mais pousa que vive, é um esqueletinho verde, e tem uma forma tão delicada que isso explica por que eu, que gosto de pegar nas coisas, nunca tentei pegá-la.
quinta-feira, 12 de setembro de 2024
butekudus baitasar : Gabriel G Márquez - O Amor nos Tempos de Cólera: E...
butekudus baitasar : Gabriel G Márquez - O Amor nos Tempos de Cólera: E...: O Amor nos Tempos de Cólera Gabriel García Márquez continuando... Essa era sua vida, quatro meses antes da data prevista para formaliz...
Sua prima Hildebranda Sánchez, dois anos mais velha do que ela e com sua mesma altivez imperial, foi a única que compreendeu seu estado logo que a viu pela primeira vez, por que também ela se consumia nas brasas de um amor temerário. Ao cair a noite conduziu-a ao quarto que havia preparado para ambas, e não entendeu como estava ainda viva com as úlceras de fogo que tinha no traseiro.
butekudus baitasar : Histórias da Meia-Noite: Aurora Sem Dia (II)
butekudus baitasar : Histórias da Meia-Noite: Aurora Sem Dia (II): Aurora Sem Dia Machado de Assis Conto AURORA SEM DIA Os cinco fregueses jantantes voltaram a cabeça, quando Luís Tinoco começou a reci...
A política chama-me ao seu campo; não posso, não devo, não quero cerrar-lhe os ouvidos. Não! as opressões do poder, as baionetas dos governos imorais e corrompidos, não podem desviar uma grande convicção do caminho que ela mesma escolheu. Sinto que sou chamado pela voz da verdade. Quem foge à voz da verdade? Os covardes e os ineptos. Não sou inepto nem covarde.
quarta-feira, 11 de setembro de 2024
butekudus baitasar : Os Bruzundangas - Capítulo I : Um grande financeiro
butekudus baitasar : Os Bruzundangas - Capítulo I : Um grande financeiro: Os Bruzundangas Lima Barreto Hais tous maux où qu’ils soient, très doux Fils. Joinville. São Luís. Capítulo I Um grande financeiro ...
Houve uma crise no ministério e logo ele foi nomeado ministro da Fazenda, com o orçamento que fizera votar. Foram tais os processos de contrabando que teve de estudar, tanto meditou sobre eles, que, um dia, telegrafou a um seu subalterno que apreendera um grande, um imenso contrabando e prendera os infratores, desta forma: “Fuzile todos”.
terça-feira, 10 de setembro de 2024
butekudus baitasar : Histórias da Meia-Noite: Aurora Sem Dia (I)
butekudus baitasar : Histórias da Meia-Noite: Aurora Sem Dia (I): Aurora Sem Dia Machado de Assis Conto AURORA SEM DIA Naquele tempo contava Luís Tinoco vinte e um anos. Era um rapaz de estatura meã, ...
Ah! meu amigo, dizia ele em caminho, não imagina quantos invejosos andam a denegrir o meu nome. O meu talento tem sido o alvo de mil ataques; mas eu já estava disposto a isto.
segunda-feira, 9 de setembro de 2024
butekudus baitasar : Cruz e Sousa - Poesias Completas: Dispersas LXXXI ...
butekudus baitasar : Cruz e Sousa - Poesias Completas: Dispersas LXXXI ...: Cruz e Sousa Obra Completa Volume 1 POESIA O Livro Derradeiro Primeiros Escritos Cambiantes Outros Sonetos Campesinas Dispersas Julieta dos ...
Na alma do artista, alma que trina e arrulha
Que adora e anseia, que deseja e que ama
Gera-se muita vez uma fagulha
Que se transforma numa grande chama.
Faz estrofes assim! E após na chama
Faz estrofes assim! E após na chama
Do amor, de fecundá-las e acendê-las,
Derrama em cima lágrimas, derrama,
Como as eflorescências das Estrelas...
sexta-feira, 6 de setembro de 2024
butekudus baitasar : Gabriel G Márquez - O Amor nos Tempos de Cólera: F...
butekudus baitasar : Gabriel G Márquez - O Amor nos Tempos de Cólera: F...: O Amor nos Tempos de Cólera Gabriel García Márquez continuando... Fermina Daza estava na cozinha provando a sopa para o jantar, quando...
"As pessoas que a gente ama deviam morrer com todas as suas coisas." ... Dormiu sem saber, mas sabendo que continuava viva no sono, que lhe sobrava metade da cama, que jazia de costas na margem esquerda, como sempre, mas que lhe fazia falta o contrapeso do outro corpo na outra margem. Pensando adormecida pensou que nunca mais poderia dormir assim, e começou a soluçar adormecida, e dormiu soluçando sem mudar de posição na sua margem... e a despertou o sol indesejável da manhã sem ele. Só então descobriu que havia dormido muito sem morrer, soluçando no sono, e que enquanto dormia soluçando pensava mais em Florentino Ariza do que no marido morto.
butekudus baitasar : Victor Hugo - Os Miseráveis: Fantine, Livro Oitavo...
butekudus baitasar : Victor Hugo - Os Miseráveis: Fantine, Livro Oitavo...: Victor Hugo - Os Miseráveis Primeira Parte - Fantine Livro Oitavo — Desforra I — Em que espelho Madelaine contempla os cabelos O dia co...
O arbusto, quando a mão se lhe aproxima para lhe tirar a flor, estremece, e parece ao mesmo tempo esquivar-se e oferecer-se. O corpo humano participa um tanto desse estremecimento quando chega o instante em que os dedos misteriosos da morte lhe vão colher a alma.
quinta-feira, 5 de setembro de 2024
butekudus baitasar : Las poetisas del amor... Adela Zamudio (Bolivia)
butekudus baitasar : Las poetisas del amor... Adela Zamudio (Bolivia): Las Poetisas del Amor (36) Poetisa feminista e educadora Quanto trabalho ela passa Para corrigir a falta de jeito Do marido e em casa, (deix...
Quando você está com uma mulher.
Faça amor com ela, não apenas faça sexo.
Diga a ela que você a ama, que é louco por ela.
Não basta beijá-la e entrar imediatamente.
Beije seu corpo inteiro,
explorando seus cantos.
Reconheça com seus lábios o que as roupas
não deixam você ver.
butekudus baitasar : Histórias da Meia-Noite: Ernesto de Tal (III)
butekudus baitasar : Histórias da Meia-Noite: Ernesto de Tal (III): Ernesto de Tal Machado de Assis Conto ERNESTO DE TAL (Capítulo III) — Um palerma — é o que Rosina queria dizer quando defendeu a fidelidade...
Quem não tem cão, caça com gato, diz o provérbio. Ernesto era pois, moral e conjugalmente falando, o gato possível de Rosina, uma espécie de pis-aller, — como dizem os franceses, — que convinha ter à mão.
butekudus baitasar : Gabriel G Márquez - O Amor nos Tempos de Cólera: O...
butekudus baitasar : Gabriel G Márquez - O Amor nos Tempos de Cólera: O...: O Amor nos Tempos de Cólera Gabriel García Márquez continuando... O grupo da Escola de Belas-Artes iniciou o concerto, em meio a um si...
Por pura experiência, sem fundamento científico, o doutor Juvenal Urbino sabia que a maioria das doenças mortais tinha um cheiro próprio, e nenhum tão específico quanto o da velhice. Ele o sentia nos cadáveres abertos em canal na mesa de dissecção, reconhecia-o mesmo nos pacientes que melhor disfarçavam a idade, e no suor da sua própria roupa e na respiração inerme de sua mulher adormecida.
quarta-feira, 4 de setembro de 2024
butekudus baitasar : Love me tender
butekudus baitasar : Love me tender: Houston Person Album - The Party Houston Person - tenor saxophone Randy Johnston - guitar Joey DeFrancesco - organ Bertell Knox - drums ...
O triângulo amoroso, complicado pelos atos agressivos de alguns ex-confederados inescrupulosos, finalmente coloca irmão contra irmão.
butekudus baitasar : Conto: A Legião Estrangeira
butekudus baitasar : Conto: A Legião Estrangeira: Clarice Lispector "autora da terceira geração modernista (ou pós-modernismo), cujas obras apresentam uma estrutura não convencional, a...
"autora da terceira geração modernista (ou pós-modernismo), cujas obras apresentam uma estrutura não convencional, a qual inclui reflexões existências, monólogo interior; metalinguagem e outros elementos que tornam a leitura bastante desafiadora para leitores menos experientes. neste vídeo, a narração artística inclui a interpretação das personagens e efeitos sonoros que facilitam a compreensão, ampliando o alcance da obra - a coragem de ser o outro que se é"
butekudus baitasar : Los Poetas del Amor... Mario Benedetti (Uruguay)
butekudus baitasar : Los Poetas del Amor... Mario Benedetti (Uruguay): Los Poetas del Amor (105) Porque eu tenho você e não porque eu penso em você porque a noite está de olhos abertos porque a noite passa e e...
você é linda dos pés até a alma
É uma lástima que você não esteja comigo
quando olho para o relógio e são quatro
Porque eu tenho você e não
porque eu penso em você
porque a noite está de olhos abertos
porque a noite passa e eu digo amor
porque você é minha
porque você não é minha
porque olho para você e morro
e pior do que morrer
se não olhar para você amor
se não olhar para você
você é linda dos pés até a alma
É uma lástima que você não esteja comigo
quando olho para o relógio e são quatro
butekudus baitasar : Histórias da Meia-Noite: Ernesto de Tal (II)
butekudus baitasar : Histórias da Meia-Noite: Ernesto de Tal (II): As bodas de Luís Duarte Machado de Assis Conto ERNESTO DE TAL (Capítulo II) Veja o leitor aquela moça que ali está, sentada num sofá, e...
Uma moça que professasse ideias filosóficas a respeito do amor e do casamento diria que os impulsos do coração estavam antes de tudo. Rosina não era inteiramente avessa aos impulsos do coração e à filosofia do amor; mas tinha ambição de figurar alguma coisa, morria por vestidos novos e espetáculos frequentes, gostava enfim de viver à luz pública.
butekudus baitasar : Gabriel G Márquez - O Amor nos Tempos de Cólera: N...
butekudus baitasar : Gabriel G Márquez - O Amor nos Tempos de Cólera: N...: O Amor nos Tempos de Cólera Gabriel García Márquez continuando... No domingo de Pentecostes, quando levantou a manta para ver o cadáv...
Contudo, Fermina Daza não se deixou contagiar por seu humor sombrio. Ele bem que tentou, enquanto ela o ajudava a enfiar as pernas nas calças e lhe abotoava a camisa. Mas não conseguiu, porque Fermina Daza não era fácil de impressionar, menos ainda com a morte de um homem de quem não gostava.
quinta-feira, 25 de abril de 2024
governo de leis ou governo de vontades?
Os planos explícitos de tomar o poder à força
Por WILSON GOMES*
Bolsonarismo acredita num governo de vontades, não num governo de leis.
Os bolsonaristas lapidaram a convicção de que estão vivendo sob uma ditadura do Judiciário. Já estavam convencidos disso quando Sara Winter guiou seus exércitos num cerco de intimidação à sede do STF, para mostrar com foguetes e o rugir da multidão que maiores são os poderes do povo.
Ou quando Sérgio Reis, Zé Trovão, Roberto Jefferson e tantos outros propagavam uma peculiar teoria democrática segundo a qual o povo bolsonarista havia adquirido o direito moral de coagir, intimidar e punir os membros do Poder Judiciário pelo crime de impedir que o governo usasse o Estado como bem lhe aprouvesse. Uma crença alimentada pelo ex-presidente quando a cada contrariedade desferia impropérios contra juízes, explicava aos seus seguidores que era decente desrespeitar a Corte e prometia que cedo ou tarde iria medir forças com o tribunal e mostrar quem é que realmente mandava neste país.
Toda vez que o Judiciário impediu Bolsonaro de violar direitos, abusar do poder ou desrespeitar a lei, isso foi interpretado como prova de uma atitude ditatorial. Segundo o bolsonarismo, quem vence uma eleição presidencial ganha o direito de moldar o Estado, a Constituição e a sociedade conforme seus projetos e caprichos. Como uns juízes que não foram eleitos se atrevem a contrariar um presidente eleito democraticamente sem violar a democracia?
Inúmeras vozes radicais de direita na esfera pública digital aprontaram o diabo durante a hegemonia do bolsonarismo. Colocaram em risco a população com mentiras e meias verdades durante a pandemia, espalharam o pânico moral para destruir a oposição às suas pretensões eleitorais, ameaçaram juízes do STF e suas famílias, atuaram deliberadamente para destruir a credibilidade do processo eleitoral brasileiro, mobilizaram pessoas para uma tentativa de abolição violenta do Estado de Direito. Mas cada vez que algum juiz do STF tomava providências para impedir aquele estado de coisas, compartilhava-se mais uma rodada de comprovação empírica de que uma ditadura togada varria a esfera pública para violar a liberdade de expressão dos bolsonaristas.
Nada há que possa ser feito contra golpistas ou sediciosos antidemocráticos que na leitura bolsonarista não sirva como comprovação do que já se sabe: estamos sob uma ditadura. Prender e processar os extremistas que foram incendiar os Três Poderes no 8 de Janeiro, naturalmente, não poderia ser compreendido de outra forma.
Não é à toa que foi exatamente nesses termos que Elon Musk se referiu a Alexandre de Moraes na semana passada: um ditador que tem Lula na coleira, aos seus pés. Moraes sintetiza para os extremistas de direita o Poder Judiciário que diz “não” aos seus apetites e vontades.
Muita gente andou dizendo que o ataque de Musk teria sido uma reposta a eventuais abusos do ministro. Não tenho recursos para julgar o mérito da alegação de que Moraes tenha cometido abusos e estou pronto a concordar que essa discussão mereça ser feita. Faço notar, entretanto, que a fórmula ideológica segundo a qual “qualquer ação que freie, controle ou puna Bolsonaro e o bolsonarismo é um ato indevido e antidemocrático” precede de muito os inquéritos do 8 de Janeiro ou a prisão de pessoas que usaram o espaço público para atacar o STF.
O bolsonarismo acredita num governo de vontades, não num governo de leis, é do seu DNA; embora só o segundo seja compatível com um regime democrático. Essa briga, desculpem, não é com Moraes, é com o que ele representa.
Bolsonaristas sempre alternaram, como em um game, entre o modo vitalista e o modo vitimista, conforme suas conveniências. Como todo extremismo de direita, gosta de exibir um “ethos” viril, afirmativo, arrogante, que despreza fracos e perdedores e passa por cima de qualquer força. Por outro lado, como um identitarismo de direita, adora mostrar-se perseguido, cercado de malignos e poderosos inimigos por todos os lados, uma minoria moral contra a qual se levantam as forças do mal em uma conspiração em que estão todos envolvidos.
A ideia da “ditadura do Judiciário” faz parte do modo vitimista que passou a ser predominante a partir de 2022. A figura do Malvado Alexandre, devorador de direitos e liberdades, implacável e sem coração, coaduna perfeitamente com o imaginário paranoico de uma facção que sente agora que está por baixo, mas que não faz muito tempo rugia e mostrava os dentes, ameaçava soltar as Forças Armadas contra os inimigos e fez planos explícitos de tomar o poder à força e colocar em correntes o próprio Alexandre de Moraes.
* Professor Titular da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e autor de "Crônica de uma tragédia Anunciada"
Por WILSON GOMES*
Bolsonarismo acredita num governo de vontades, não num governo de leis.
Os bolsonaristas lapidaram a convicção de que estão vivendo sob uma ditadura do Judiciário. Já estavam convencidos disso quando Sara Winter guiou seus exércitos num cerco de intimidação à sede do STF, para mostrar com foguetes e o rugir da multidão que maiores são os poderes do povo.
Ou quando Sérgio Reis, Zé Trovão, Roberto Jefferson e tantos outros propagavam uma peculiar teoria democrática segundo a qual o povo bolsonarista havia adquirido o direito moral de coagir, intimidar e punir os membros do Poder Judiciário pelo crime de impedir que o governo usasse o Estado como bem lhe aprouvesse. Uma crença alimentada pelo ex-presidente quando a cada contrariedade desferia impropérios contra juízes, explicava aos seus seguidores que era decente desrespeitar a Corte e prometia que cedo ou tarde iria medir forças com o tribunal e mostrar quem é que realmente mandava neste país.
Toda vez que o Judiciário impediu Bolsonaro de violar direitos, abusar do poder ou desrespeitar a lei, isso foi interpretado como prova de uma atitude ditatorial. Segundo o bolsonarismo, quem vence uma eleição presidencial ganha o direito de moldar o Estado, a Constituição e a sociedade conforme seus projetos e caprichos. Como uns juízes que não foram eleitos se atrevem a contrariar um presidente eleito democraticamente sem violar a democracia?
Inúmeras vozes radicais de direita na esfera pública digital aprontaram o diabo durante a hegemonia do bolsonarismo. Colocaram em risco a população com mentiras e meias verdades durante a pandemia, espalharam o pânico moral para destruir a oposição às suas pretensões eleitorais, ameaçaram juízes do STF e suas famílias, atuaram deliberadamente para destruir a credibilidade do processo eleitoral brasileiro, mobilizaram pessoas para uma tentativa de abolição violenta do Estado de Direito. Mas cada vez que algum juiz do STF tomava providências para impedir aquele estado de coisas, compartilhava-se mais uma rodada de comprovação empírica de que uma ditadura togada varria a esfera pública para violar a liberdade de expressão dos bolsonaristas.
Nada há que possa ser feito contra golpistas ou sediciosos antidemocráticos que na leitura bolsonarista não sirva como comprovação do que já se sabe: estamos sob uma ditadura. Prender e processar os extremistas que foram incendiar os Três Poderes no 8 de Janeiro, naturalmente, não poderia ser compreendido de outra forma.
Não é à toa que foi exatamente nesses termos que Elon Musk se referiu a Alexandre de Moraes na semana passada: um ditador que tem Lula na coleira, aos seus pés. Moraes sintetiza para os extremistas de direita o Poder Judiciário que diz “não” aos seus apetites e vontades.
Muita gente andou dizendo que o ataque de Musk teria sido uma reposta a eventuais abusos do ministro. Não tenho recursos para julgar o mérito da alegação de que Moraes tenha cometido abusos e estou pronto a concordar que essa discussão mereça ser feita. Faço notar, entretanto, que a fórmula ideológica segundo a qual “qualquer ação que freie, controle ou puna Bolsonaro e o bolsonarismo é um ato indevido e antidemocrático” precede de muito os inquéritos do 8 de Janeiro ou a prisão de pessoas que usaram o espaço público para atacar o STF.
O bolsonarismo acredita num governo de vontades, não num governo de leis, é do seu DNA; embora só o segundo seja compatível com um regime democrático. Essa briga, desculpem, não é com Moraes, é com o que ele representa.
Bolsonaristas sempre alternaram, como em um game, entre o modo vitalista e o modo vitimista, conforme suas conveniências. Como todo extremismo de direita, gosta de exibir um “ethos” viril, afirmativo, arrogante, que despreza fracos e perdedores e passa por cima de qualquer força. Por outro lado, como um identitarismo de direita, adora mostrar-se perseguido, cercado de malignos e poderosos inimigos por todos os lados, uma minoria moral contra a qual se levantam as forças do mal em uma conspiração em que estão todos envolvidos.
A ideia da “ditadura do Judiciário” faz parte do modo vitimista que passou a ser predominante a partir de 2022. A figura do Malvado Alexandre, devorador de direitos e liberdades, implacável e sem coração, coaduna perfeitamente com o imaginário paranoico de uma facção que sente agora que está por baixo, mas que não faz muito tempo rugia e mostrava os dentes, ameaçava soltar as Forças Armadas contra os inimigos e fez planos explícitos de tomar o poder à força e colocar em correntes o próprio Alexandre de Moraes.
* Professor Titular da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e autor de "Crônica de uma tragédia Anunciada"
segunda-feira, 1 de janeiro de 2024
butekudus baitasar : Sarau... O perseguidor (b) - (Julio Cortázar)
butekudus baitasar : Sarau... O perseguidor (b) - (Julio Cortázar): El perseguidor Julio Cortázar (1914-1984) In memorian Ch. Seja fiel até a morte Apocalipse , 2,10 Ó, faça-me uma máscara Dylan Thomas co...
sexta-feira, 8 de novembro de 2019
Lula Livre!
LulaLá
"Submergido nessas lembranças, não demoro, no entanto, o despertar. É o ruído do oceano."
"Submergido nessas lembranças, não demoro, no entanto, o despertar. É o ruído do oceano."
Pablo Neruda
Cultivo una Rosa Blanca
José Martí
Cultivo una rosa blanca
En Junio como en Enero,
Para el amigo sincero,
Que me da su mano franca.
En Junio como en Enero,
Para el amigo sincero,
Que me da su mano franca.
Y para el cruel que me arranca
El corazón con que vivo,
Cardo ni ortiga cultivo
cultivo una rosa blanca.
El corazón con que vivo,
Cardo ni ortiga cultivo
cultivo una rosa blanca.
segunda-feira, 16 de setembro de 2019
acreditou quem quis acreditar
Tantã Dinheirol e o contexto. Gilmar Mendes e o descontexto, por Armando Coelho Neto
Não há contexto em que as mensagens divulgadas sobre os bastidores do golpe de 2014 permitam leituras benevolentes. Mas, Tantã Dinheirol nega, desqualifica, e para rebater a existência de conluio,
Tantã Dinheirol e o contexto. Gilmar Mendes e o descontexto
por Armando Rodrigues Coelho Neto
Quem usa, cuida! Sempre disse e repito: acusaram o ex-Presidente Lula daquilo que fariam se estivessem no lugar dele. Até por que, operadores da Farsa Jato são culturalmente alinhados a tudo o quanto fingem combater. Uma cultura, entre outras, fundamentada na acumulação de capital, busca de prestígio e estrelato – de pai pra filho. Do nome da família no banquinho da praça no interior ao culto de títulos e medalhas de “ordens” disso e daquilo, da ostentação material à identificação com uma cultura superior além-mar, eis referenciais mínimos de um modo de vida permeado pela ganância. Coisas muito ao gosto das ironias de Ariano Suassuna, de um mundo dividido entre quem foi ou não à Disney.
Tantã Dinheirol. Não sei quem cunhou o apelido, mas gostei muito, pois resume bem a estranha personalidade de um certo procurador de dinheiro, digo, procurador da República, que, além de trapaças processuais fazia política, vendia palestra enquanto militante do entreguismo nacional. Leia-se, tentava tirar proveito pessoal do seu trabalho com práticas nada republicanas.
As denúncias feitas pelo The Intercept e colaboradores vêm mostrando a verdadeira personalidade pequeno burguês daquele barnabé falso moralista, cristão de meia tigela (Ops! Cuidados com os adjetivos!). Tantã cometeu crime sob a desculpa de combater crime e não se arrepende de nada. Li a entrevista dele no jornal Correio Brasiliense e, como observou um amigo – “Nenhuma contrição, arrependimento zero, cinismo infinito. Realmente, confiança absoluta na impunidade e na ignorância. Ultraje à inteligência alheia”.
Tantã insiste na balela da descontextualização de mensagens. Ele próprio poderia contextualizar, mas não o faz nem fez. Como disse um conhecido e controvertido jornalista, em que contexto as falas divulgadas ficariam melhor? Alguém poderia dizer em que situação as baixarias da Farsa Jato cairiam bem, sobretudo se vêm a calhar com tudo o quanto já se sabia antes? A trama para impedir entrevista de Lula antes das eleições, por medo de que pudesse ajudar a “eleger o Haddad” cairia bem em que contexto? Da política ou da filigrana jurídica?
Tantã… Que tanto facilitou vazamentos e quebra de sigilo, sob o argumento de não violar sigilo, perdeu a oportunidade de revelar-desvelar ao Correio Brasiliense coisas importantíssimas. Por exemplo: fingir investigar FHC para passar impressão de imparcialidade, soaria bem em que contexto? Quando o marreco de Maringá discorda desse fingimento, dizendo que “Melindra alguém cujo apoio é importante”, em que contexto perderia o sentido de farsa judicial?
Difícil imaginar em que situação, coagir testemunhas e parentes de investigados ficaria bem. Não se vislumbra contexto no qual ganharia bom sentido os insultos à Marisa Letícia. Chamar Lula de “9”, numa alusão a um dedo a menos, afastaria a ideia de que policiais, procuradores e juízes ressentidos nutririam desprezo pessoal contra o réu Lula? Esse desprezo infectou – tal qual influenciou – as leituras distorcidas que fizeram contra o réu, restritivas ou extensivas, conforme suas maldades, convicções religiosas, ufanismo, falso moralistas, nacionalismo zumbaia (Alô, Forças Armadas!)?
Não! Não é plausível um contexto no qual possa ficar, bem transformar, a “conge” em laranjas de palestras; usar deputado-limão para impedir um ministro do supremo de julgar. Proceder 22 gravações e divulgar apenas aquela que poderia prejudicar Lula é que soa como contextualização estranha, dirigida e seletiva. Como dito lá em cima: “Quem usa, cuida”. Não?
Conforme o The Intercept, a Farsa Jato usava chats para pedir dados fiscais sigilosos sem autorização judicial ao chefe do Coaf (Quebra ilegal de sigilo).
Não há contexto em que as mensagens divulgadas sobre os bastidores do golpe de 2014 permitam leituras benevolentes. Mas, Tantã Dinheirol nega, desqualifica, e para rebater a existência de conluio, afirma que os atos da força tarefa foram legitimados “por todas as instâncias do Judiciário, inclusive pelo STF”.
Justamente é aqui que entra o ministro Gilmar Mendes, um dos “legitimantes” da Farsa Jato, inclusive impedindo a nomeação de Lula como ministro. Mendes, hoje, trata a turma do Tantã Dinheirol Como quadrilha, e, numa entrevista para a TV Folha, critica o poder soberano criado na “longinqua província de Curitiba” (https://youtu.be/LwdJeckkOps). Segundo ele: gente deslumbrada que cometia ilegalidades com a cumplicidade das corregedorias.
Nada novo, claro! Mas é um membro do STF quem está dizendo, e não mais um “esquerdalha” qualquer.
Segundo Mendes, a santificação da Farsa Jato transformou o Superior Tribunal de Justiça num tribunal acuado, “medrado”. Um juiz contrariar Curitiba correria o risco de responder um inquérito.
Mesmo fazendo mea-culpa, Mendes diz que a mídia teve papel fundamental e cita que só Rodrigo Janot tinha no gabinete dele onze repórteres para vazar sistematicamente informações, e era santificado pela imprensa. Notícias chegavam ao STF depois de vazadas para o Jornal Nacional, afirma. Aproveita para criticar o conluio entre juiz, procuradores, delegados da PF e fiscais da Receita Federal. Sem meias palavras, diz ele, “a Receita estava roubando galinha com eles”, se referindo ao conchavo. No mais, declara que as prisões eram usadas como tortura para delatar “pessoas que queremos que eles delatem”, leia-se, pessoas que Tantã e o marreco queriam que fossem delatadas.
Num contexto em que cita o marreco de Maringá, Tantã Dinheirol e outros, Mendes diz que o Brasil deveriam reconhecer publicamente seus crimes e saírem de cena, dizendo: “nós somos crápulas”.
A boa notícia para a Democracia e o Estado de Direito é que Mendes diz que seus colegas juízes estão abrindo o olho. No mais, golpista ou não, não tem como discordar de suas assertivas. São falas que realinham o contexto de tudo o quanto Tantã Dinheirol tenta descontextualizar.
Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-integrante da Interpol em São Paulo.
sexta-feira, 22 de março de 2019
L
Lula Livre
Um grande Amigo
Amigo...
... me lembro de todas as lutas, meu bom companheiro
você tantas vezes provou que é um grande guerreiro
o seu coração é uma casa de portas abertas
amigo você é o mais certo das horas incertas
Amigo
Erasmo Carlos
Você meu amigo de fé meu irmão camarada,
Um grande Amigo
Amigo...
... me lembro de todas as lutas, meu bom companheiro
você tantas vezes provou que é um grande guerreiro
o seu coração é uma casa de portas abertas
amigo você é o mais certo das horas incertas
Amigo
Erasmo Carlos
Você meu amigo de fé meu irmão camarada,
amigo de tantos caminhos de tantas jornadas
Cabeça de homem mas o coração de menino,
Cabeça de homem mas o coração de menino,
aquele que está do meu lado em qualquer caminhada
Me lembro de todas as lutas meu bom companheiro,
Me lembro de todas as lutas meu bom companheiro,
você tantas vezes provou que é um grande guerreiro
O seu coração é uma casa de portas abertas,
O seu coração é uma casa de portas abertas,
amigo você é o mais certo das horas incertas
As vezes em certos momentos difíceis da vida,
As vezes em certos momentos difíceis da vida,
em que precisamos de alguém para ajudar na saída
A sua palavra de força de fé e de carinho,
A sua palavra de força de fé e de carinho,
me dá a certeza de que eu nunca estive sozinho
Você meu amigo de fé meu irmão camarada,
Você meu amigo de fé meu irmão camarada,
sorriso e abraço festivo da minha chegada
Você que me diz as verdades com frases abertas,
amigo você é o mais certo das horas incertas
Não preciso nem dizer, tudo isso que eu lhe digo,
Não preciso nem dizer, tudo isso que eu lhe digo,
mas é muito bom saber, que você é meu amigo
Não preciso nem dizer, tudo isso que eu lhe digo,
Não preciso nem dizer, tudo isso que eu lhe digo,
mas é muito bom saber que eu tenho um grande amigo
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019
rock e a nossa vida
Roger Waters: só prenderam o Lula para ele não ganhar a Eleição!
"E ainda me ameaçaram jogar na prisão no Brasil"
Conversa Afiada
publicado 20/02/2019
Protesto contra Bolsonaro durante show de Roger Waters em São Paulo, em outubro de 2018 (Reprodução)
Do site do Presidente Lula:
O ativista e músico Roger Waters, vocalista da banda britânica Pink Floyd, saiu em defesa da liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista à revista Brooklyn Vegan, Waters relembrou sua passagem pelo Brasil em 2018 e classificou a prisão de Lula como política. “Obviamente, a única razão pela qual Lula está na prisão é porque ele teria vencido a eleição com as duas mãos amarradas nas costas. Se ele pudesse concorrer, o que ele não pôde, porque eles o colocaram na prisão sob acusações falsas de corrupção”, afirmou o músico.
Waters lembrou que chegou a tentar visitar o ex-presidente Lula na prisão, pedido que foi negado pela Justiça brasileira. “Eu queria ir visitar Lula quando chegamos ao Sul, onde ele estava na prisão e o juiz local me negou essa oportunidade. Porque era um momento muito sensível, estava chegando a eleição”, relembrou. “As pessoas simplesmente dizem: ‘Ah, sim, outro político corrupto’. Não, ele não é. Ele não é um político corrupto; ele está na prisão por acusações forjadas colocadas pelos poderes que estão no Brasil”.
Repressão
O líder do Pink Floyd ressaltou ainda as ameaças que sofreu durante sua tour pelo Brasil. Em uma série de shows, Waters denunciou as tendências de ultra direita materializadas na candidatura de Jair Bolsonaro. Um dia antes da eleição, na apresentação em Curitiba, cidade onde Lula está preso, o músico chegou a receber uma notificação judicial. “Eles ameaçaram me jogar na prisão no Brasil porque eu estava colocando meu remo na eleição, juntando-me ao movimento #EleNão.
(...)
quinta-feira, 19 de outubro de 2017
quando a coerência e a dignidade são dispensáveis
Aécio, o grande escândalo
Postado em 19 de outubro de 2017
Eu acreditei piamente que as pessoas batiam panelas e se vestiam de verde-amarelo, enchendo parques e avenidas, contra a corrupção. Acreditei ingenuamente que estavam acima de partidos e ideologias em luta pela justiça, pela transparência e pela punição aos saqueadores da nação.
Eu acreditei francamente que seriam coerentes e fariam o mesmo cada vez que uma situação equivalente se apresentasse. As decepções não tardaram.
Apareceram denúncias pesadas contra o presidente Michel Temer. Nenhuma panela bateu. Surgiu a mais impressionante série de provas gravada contra um senador, Aécio Neves. Silêncio absoluto. Nenhuma camiseta da CBF nas ruas. Tudo vazio.
Dilma Rousseff foi derrubada pelos eleitores de Aécio Neves. Por que panelas não bateram e não batem agora que a máscara do tucano caiu? Por que panelas não ecoam agora que Michel Temer será julgado, e salvo, pela segunda na Câmara dos Deputados sob graves acusações de corrupção? Vale lembrar que Dilma não foi derrubada sob acusação direta de qualquer ato de corrupção, mas pelas pedaladas fiscais. O que é mais grave: pagar compromissos governamentais com adiantamentos de bancos públicos sempre reembolsados ou receber propina de empresários? Os senadores que salvaram Aécio são os mesmos que afundaram Dilma em nome da moral. Por que as panelas não batem agora? Onde andam os jovens líderes de movimentos ditos apartidários em defesa de um Brasil limpo, novo, livre do cancro de políticos ladrões?
Eu acreditei realmente que a classe média brasileira não se deixaria novamente manipular, como acontecera em 1964, e que trataria todos da mesma maneira, com o mesmo rigor e a mesma convicção. O que tem feito Temer para merecer leniência? Tentou liberar uma reserva na Amazônia para a exploração total de minérios. Resolveu proteger o trabalho escravo. Não cobra uma dívida de 29 bilhões de ITR de ruralistas. Aprovou uma reforma trabalhista que precariza a vida da plebe. Vai insistir numa reforma da Previdência que levará muitos a morrer sem se aposentar. Corta verbas da pesquisa e da educação. Temer é o presidente dos sonhos do mercado. Que interessa a corrupção?
O STF prendeu Delcídio Amaral e afastou Eduardo Cunha sem consultar o parlamento. Primeiro deixou Cunha derrubar Dilma. Era útil. Quando chegou no queridinho Aécio, devolveu a decisão para o Senado, que tratou de salvar o parceiro tornando-se definitivamente a instituição mais desmoralizada do país e talvez do mundo. O STF provou que nossa justiça tem lado, classe e ideologia. Quando interessa, respeita a Constituição. Quando convém, atropela a Carta Magna sem o menor constrangimento em nome de algum entendimento alternativo. O caso Aécio é o maior escândalo da história da justiça e do parlamento brasileiros. O caso Temer vem a seguir. Sem contar o impeachment de Dilma, uma armação que levou ao poder um grupo crivado de comprometimentos judiciais. Vários do ministério inicial já estão na cadeia. A farra continua.
As panelas cozinham. A fúria moral passou.
Postado em 19 de outubro de 2017
por Juremir Machado da Silva
Eu acreditei piamente que as pessoas batiam panelas e se vestiam de verde-amarelo, enchendo parques e avenidas, contra a corrupção. Acreditei ingenuamente que estavam acima de partidos e ideologias em luta pela justiça, pela transparência e pela punição aos saqueadores da nação.
Eu acreditei francamente que seriam coerentes e fariam o mesmo cada vez que uma situação equivalente se apresentasse. As decepções não tardaram.
Apareceram denúncias pesadas contra o presidente Michel Temer. Nenhuma panela bateu. Surgiu a mais impressionante série de provas gravada contra um senador, Aécio Neves. Silêncio absoluto. Nenhuma camiseta da CBF nas ruas. Tudo vazio.
Dilma Rousseff foi derrubada pelos eleitores de Aécio Neves. Por que panelas não bateram e não batem agora que a máscara do tucano caiu? Por que panelas não ecoam agora que Michel Temer será julgado, e salvo, pela segunda na Câmara dos Deputados sob graves acusações de corrupção? Vale lembrar que Dilma não foi derrubada sob acusação direta de qualquer ato de corrupção, mas pelas pedaladas fiscais. O que é mais grave: pagar compromissos governamentais com adiantamentos de bancos públicos sempre reembolsados ou receber propina de empresários? Os senadores que salvaram Aécio são os mesmos que afundaram Dilma em nome da moral. Por que as panelas não batem agora? Onde andam os jovens líderes de movimentos ditos apartidários em defesa de um Brasil limpo, novo, livre do cancro de políticos ladrões?
Eu acreditei realmente que a classe média brasileira não se deixaria novamente manipular, como acontecera em 1964, e que trataria todos da mesma maneira, com o mesmo rigor e a mesma convicção. O que tem feito Temer para merecer leniência? Tentou liberar uma reserva na Amazônia para a exploração total de minérios. Resolveu proteger o trabalho escravo. Não cobra uma dívida de 29 bilhões de ITR de ruralistas. Aprovou uma reforma trabalhista que precariza a vida da plebe. Vai insistir numa reforma da Previdência que levará muitos a morrer sem se aposentar. Corta verbas da pesquisa e da educação. Temer é o presidente dos sonhos do mercado. Que interessa a corrupção?
O STF prendeu Delcídio Amaral e afastou Eduardo Cunha sem consultar o parlamento. Primeiro deixou Cunha derrubar Dilma. Era útil. Quando chegou no queridinho Aécio, devolveu a decisão para o Senado, que tratou de salvar o parceiro tornando-se definitivamente a instituição mais desmoralizada do país e talvez do mundo. O STF provou que nossa justiça tem lado, classe e ideologia. Quando interessa, respeita a Constituição. Quando convém, atropela a Carta Magna sem o menor constrangimento em nome de algum entendimento alternativo. O caso Aécio é o maior escândalo da história da justiça e do parlamento brasileiros. O caso Temer vem a seguir. Sem contar o impeachment de Dilma, uma armação que levou ao poder um grupo crivado de comprometimentos judiciais. Vários do ministério inicial já estão na cadeia. A farra continua.
As panelas cozinham. A fúria moral passou.
Sinto pelos resignados...
Quando a resignação é covardia
Prof. Marcos Vinícius*
O poeta Pasolini acreditava que antes de lutar por um mundo melhor, devemos lutar para evitar que piore. Apesar do salário congelado há quatro anos, a atual greve dos professores eclodiu devido ao parcelamento, cujo último mês iniciou com a mísera parcela de 350 reais. Ainda assim, há professores que seguem trabalhando. Como Italo Calvino escreveu que toda leitura de um clássico é na verdade uma releitura, lanço mão da Literatura buscando retratar o mundo por analogia. A atitude de alguns professores que não entraram em greve ou que deixaram de fazê-la tão somente receberam os salários me faz lembrar um conto de Tchékhov.
O conto faz uma crítica à resignação covarde. Durante um acerto de contas, a governanta Iúlia Vassílievna escuta passivamente seu chefe construir uma narrativa mentirosa na qual ela ganharia muito menos do que foi combinado. “Então, a senhora ficou dois meses”. “Dois meses e cinco dias”. “Dois meses, tenho anotado aqui”. O chefe descontaria dias em que sua filha adoeceu, uma xícara que ela supostamente havia quebrado, e até um sapato que uma costureira roubou de sua filha sob o argumento de que ela era responsável. Enfim, o chefe pagaria onze rublos quando ela deveria receber oitenta.
Apesar do rubor, dos olhos cheios d'água, Iúlia jamais reagiu. Após receber o mísero pagamento, a governanta murmura um "merci". Neste momento, o chefe se levanta indignado e pergunta a razão do agradecimento e se ela não havia percebido que ele a estava roubando. Iúlia disse que agradecia pelo dinheiro, pois houve locais em que trabalhou e nem sequer recebeu. (Recordo o governador afirmando que o servidor deveria agradecer a Deus pela estabilidade.) Então, o chefe se desculpa e diz que lhe pagará os oitenta rublos, mas pergunta se alguém pode ser tão pateta. Se é possível não protestar. Nesse mundo é possível ser tão palerma? Iúlia dá um sorriso amarelo que o patrão lê como um "Sim, é possível". O sorriso de Iúlia e a resignação de alguns professores provam que sim. Em suma, a dignidade não é um valor indispensável a todos."
*Prof. Marcos Vinicius de Oliveira Teixeira
rede estadual de educação / rs
professor de literatura
O poeta Pasolini acreditava que antes de lutar por um mundo melhor, devemos lutar para evitar que piore. Apesar do salário congelado há quatro anos, a atual greve dos professores eclodiu devido ao parcelamento, cujo último mês iniciou com a mísera parcela de 350 reais. Ainda assim, há professores que seguem trabalhando. Como Italo Calvino escreveu que toda leitura de um clássico é na verdade uma releitura, lanço mão da Literatura buscando retratar o mundo por analogia. A atitude de alguns professores que não entraram em greve ou que deixaram de fazê-la tão somente receberam os salários me faz lembrar um conto de Tchékhov.
O conto faz uma crítica à resignação covarde. Durante um acerto de contas, a governanta Iúlia Vassílievna escuta passivamente seu chefe construir uma narrativa mentirosa na qual ela ganharia muito menos do que foi combinado. “Então, a senhora ficou dois meses”. “Dois meses e cinco dias”. “Dois meses, tenho anotado aqui”. O chefe descontaria dias em que sua filha adoeceu, uma xícara que ela supostamente havia quebrado, e até um sapato que uma costureira roubou de sua filha sob o argumento de que ela era responsável. Enfim, o chefe pagaria onze rublos quando ela deveria receber oitenta.
Apesar do rubor, dos olhos cheios d'água, Iúlia jamais reagiu. Após receber o mísero pagamento, a governanta murmura um "merci". Neste momento, o chefe se levanta indignado e pergunta a razão do agradecimento e se ela não havia percebido que ele a estava roubando. Iúlia disse que agradecia pelo dinheiro, pois houve locais em que trabalhou e nem sequer recebeu. (Recordo o governador afirmando que o servidor deveria agradecer a Deus pela estabilidade.) Então, o chefe se desculpa e diz que lhe pagará os oitenta rublos, mas pergunta se alguém pode ser tão pateta. Se é possível não protestar. Nesse mundo é possível ser tão palerma? Iúlia dá um sorriso amarelo que o patrão lê como um "Sim, é possível". O sorriso de Iúlia e a resignação de alguns professores provam que sim. Em suma, a dignidade não é um valor indispensável a todos."
*Prof. Marcos Vinicius de Oliveira Teixeira
rede estadual de educação / rs
professor de literatura
quinta-feira, 14 de setembro de 2017
O Massacre de Porongos
Povo Que Não Tem Virtudes... Escraviza
TVE - Nação
O Massacre de Porongos
O Nação volta a 20 de setembro de 1835 quando começou, no Rio Grande do Sul, o confronto armado mais importante da história do Estado. Comemorada até hoje, a Guerra dos Farrapos, também conhecida por Revolução Farroupilha, colocou de um lado os grandes e poderosos estancieiros gaúchos e do outro o império. Mas, a guerra que adquiriu até um caráter separatista, teve um capítulo que ainda hoje é polêmico e, porque não dizer, ignorado: A batalha de Porongos.
Em novembro de 1844 a guerra estava perto do fim, mas uma questão permanecia sem solução: o que fazer com aqueles negros que por dez anos lutaram ao lado dos farroupilhas? O império não aceitava a libertação destes negros.
É neste contexto que acontece o massacre dos negros em Porongos. No acampamento da curva do arroio Porongos, atual município de Pinheiro Machado, o coronel Teixeira Nunes e seu corpo de Lanceiros Negros descansavam. Sob as ordens do líder farroupilha David Canabarro, todo o cartuchame foi retirado dos soldados. E assim sem armas de fogo para se defender,estes negros foram atacados pelas tropas do império comandadas por Francisco Pedro de Abreu, o Moringue. Muitos foram mortos e os sobreviventes foram novamente escravizados e enviados para o Rio de Janeiro.
Entrevista com Juremir Machado da Silva
O passado não pode ser mudado, mas a história que se conta sobre este passado vai ganhando ao longo do tempo novas revelações. Graças ao trabalho de historiadores como Moacyr Flores, Juremir Machado da Silva, Euzébio Assumpção e tantos outros, as verdades sonegadas pela história oficial são trazidas à tona.
O programa Nação sobre o Massacre de Porongos, exibido pela TVE e TV Brasil em outubro deste ano, dá voz a estes historiadores. Nesta página você vai poder ver na íntegra as entrevistas com Euzébio Assumpção e Juremir Machado da Silva. Todo este material foi divido em 6 vídeos e em cada um destacamos alguns trechos que podem ser úteis para a localização dos temas abordados. E logo abaixo você encontra um breve resumo sobre os principais personagens citados pelos historiadores.
1. O Massacre de Porongos no contexto da Guerra dos Farrapos
“Os farroupilhas se dividiram. Uma parte aceitou entregá-los, como de fato acabaram fazendo. Outra parte resistia um pouco,(…) inclusive pelo medo de uma rebelião. Por que era uma traição ter prometido liberdade e depois devolvê-los a seus proprietários.”
2. A traição aos lanceiros e aos infantes negros
“A gente precisa dizer isso: há uma traição aos lanceiros, mas há uma traição aos infantes [que também eram negros] que é menos citada. Os próprios defensores dos farroupilhas de hoje preferem falar só dos lanceiros. Por que? Porque os lanceiros ao menos tinham as suas lanças. Então, isto diminuiria o potencial da traição, pelo menos eles estavam armados. A traição que eles querem esconder é em relação aos infantes[negros], que estes ficaram desarmados e aí foram exterminados.”
3. As denúncias sobre a traição em Porongos
“O próprio Bento Gonçalves diz o seguinte: os caminhos que levavam a Porongos eram tão visíveis que só não veria a aproximação de uma tropa adversária quem não quisesse.”
“E aí surge um sujeito chamado Caldeira, que foi um lanceiro negro. E ele vai dizer: eu conheço isso, eu fui lanceiro. Os sinais da traição são evidentes.”
4. O comandante farroupilha Davi Canabarro e a traição em Porongos
“O Canabarro tinha fama de traidor” [Juremir cita as traições de Canabarro]
“Por que ele teria traído em Porongos? Porque o mais fácil era se livrar de todos aqueles negros. A morte daqueles negros resolvia o problema com o império. Resolvia o problema com os chefes insatisfeitos que hesitavam em aceitar a entrega dos negros[ao império]. E resolvia também o problema de uma possível insatisfação e a revolta destes negros, caso fossem entregues e permanecessem no Rio Grande do Sul.”
5. O destino dos negros que sobreviveram ao Massacre de Porongos
“O império os alugava para as famílias abastadas [do Rio de Janeiro].(…)Especialmente para a atividade mais infamante da época, que era o transporte diário, em barris, dos excrementos das pessoas. Era terrível.(…) E como os excrementos têm um tipo de substância que afeta a pele, isso ia esbranquiçando a pele daqueles negros.(…) Daí o termo “tigrada”. É um termo de origem absolutamente racista.”
“Então, essa revolução (…) que muitos hoje dizem que era abolicionista, ela se financiou vendendo negros no Uruguai. Depois ela usou negros imperiais como mão de obra militar. Depois ela os traiu em Porongos.”
Sobre Juremir Machado da Silva
Formado em História e Jornalismo, obteve o Diploma de Estudos Aprofundados e o Doutorado em Sociologia na Universidade Paris V, Sorbonne, onde também fez pós-doutorado. Atualmente é professor titular da PUCRS onde coordenou, de 2003 a 2014, o Programa de Pós-Graduação em Comunicação. É tradutor, romancista e cronista. Atua como colunista do Correio do Povo desde o ano 2000 e apresenta diariamente, ao lado de Taline Oppitz, o programa Esfera Pública, na Rádio Guaíba. Até o final de 2013, publicou 30 livros individuais, entre eles: História regional da infâmia – o destino dos negros farrapos e outras iniquidades brasileiras” (L&PM, 2010).
Entrevista com Euzébio Assumpção
“Porongos é a maior traição na história do Rio Grande do Sul. É a maior vergonha dos farrapos (…) o que existe é uma sonegação histórica. Aonde líderes, principalmente de CTGs, eles tentam burlar, eles tentam esconder estes fatos. Por que como explicar que Davi Canabarro, sendo um ícone do tradicionalismo gaúcho, possa ter feito esta vil traição?”
“… aqui é o único lugar onde a perda de uma guerra é comemorada. E este fato serve como um símbolo político de um passado gaúcho que nunca existiu. Isso aí é uma mitologia que foi criada em nome dos farrapos. Os farrapos eles não “existiam”, digamos assim, até o final do século XIX. Depois com o movimento do PRR de Júlio de Castilhos eles vão ser reinventados (…) E hoje em dia nas escolas infelizmente se festeja algo que não se conhece.”
Sobre Jorge Euzébio Assumpção
Formado em História pela PUCRS (1985), pós-graduado pela FAPA e mestre em História pela PUCRS (1995). Atualmente é professor e pesquisador na Unisinos, além de professor titular da SEC-RS. Seu principal foco de pesquisa é a Escravidão e temas relacionados como: resistência, África, charqueada, negro e Rio Grande do Sul. Escreveu o livro Pelotas: “Escravidão e Charqueadas: 1780-1888” (FCM Editora, 2013). E foi organizador dos livros: “O negro no Rio Grande do Sul” (Ministério da Cultura, 2005) e “Nós, os afro-gaúchos” (Ed. Universidade/UFRGS, 1996) entre outros.
Conheça os personagens citados pelos historiadores
Guerra dos Farrapos: a Guerra dos Farrapos, ou Revolução Farroupilha (1835-1845), foi o maior dos conflitos internos enfrentados pelo governo imperial. Durante dez anos, uma parcela da elite pecuarista rio-grandense, motivada por fatores políticos e econômicos, sustentou uma revolta contra o poder imperial, chegando a proclamar a República Rio-Grandense em 1836.
Lanceiros e infantes negros: eram trabalhadores escravizados que foram capturados nas fazendas de inimigos.Para lutarem ao lado dos farrapos, este negros receberam da República Riograndense a promessa de liberdade.
Teixeira Nunes (1802 - 1844): conhecido, durante a Revolução Farroupilha, como o Gavião. O coronel Teixeira Nunes comandou o Corpo de Lanceiros Negros.
Porongos: localidade de Pinheiro Machado(RS), onde ocorreu na madrugada de 14 de novembro de 1844 o massacre dos lanceiros negros que lutaram ao lado do General Bento Gonçalves da Silva, sob o comando de David Canabarro, ficando conhecido tal episódio da história como “O Massacre do Cerro dos Porongos”. Em 2007 o Sítio de Porongos foi declarado em Patrimônio Histórico e Cultural do Rio Grande do Sul.
Canabarro (1796 – 1867): David Canabarro foi um dos líderes dos farroupilhas. Como chefe dos revoltosos, aceitou a anistia oferecida pelo governo em 18 de dezembro de 1845, através do Duque de Caxias.
Caxias (1803 – 1880): Luís Alves de Lima e Silva, Duque de Caxias. Militar, político e monarquista brasileiro. Comandou as forças do império brasileiro na supressão de revoltas como a Balaiada, as Revoltas Liberais e a Revolução Farroupilha. Além de liderar as forças brasileiras na Guerra do Paraguai.
Moringue (1811- 1891): Coronel Francisco Pedro de Abreu ,ou ainda “Chico Pedro” foi o comandante da tropa do império que atacou Porongos em 14 de novembro de 1844.
Bento Gonçalves (1788 - 1847): foi o maior líder da Revolução Farroupilha. Entre 1837 a 1843 foi Presidente da República Rio-Grandense , proclamada pelos farroupilhas.
Antônio de Sousa Netto (1803 – 1866): foi um importante líder farroupilha. Em 11 de setembro de 1836, após a Batalha do Seival, proclamou a República Rio-Grandense, no Campo dos Menezes. Lutou em diversas batalhas pelos republicanos, tendo comandado o cerco a Porto Alegre, durante vários meses, e a retomada de Rio Pardo, que estava nas mãos dos imperiais.
Júlio de Castilhos (1860- 1903): jornalista e político gaúcho. Foi presidente do Rio Grande do Sul por duas vezes de 15 de julho a novembro de 1891 e de 1893 a 1898. e principal autor da Constituição Estadual de 1891. Disseminou o ideário positivista no Brasil.
PRR: Partido Republicano Rio-grandense (PRR) foi um partido político de motivação republicana do estado do Rio Grande do Sul fundado em 23 de fevereiro de 1882, cujo grande líder intelectual era Júlio de Castilhos.
Domingos José de Almeida (1797-1859): No final da década de 1850, o político, charqueador e ex-líder farroupilha denunciou publicamente o conteúdo da correspondência que teria sido enviada pelo então barão de Caxias a Francisco Pedro de Abreu(Moringue). A Carta de Porongos conteria evidências de um acordo prévio entre Caxias (comandante do Exército imperial no conflito) e o líder farroupilha David Canabarro. O objetivo seria favorecer a vitória imperial no combate do Cerro de Porongos. Em determinado trecho, Caxias informaria a Francisco Pedro o local, o dia e o horário para o ataque, garantindo-lhe que a infantaria farroupilha estaria desarmada pelos seus líderes.
Coleção Varela: Já no século XIX, dois grandes historiadores da Revolução Farroupilha, Alfredo Varela e Ferreira Rodrigues trocam farpas publicamente nos jornais da época. Varela afirmando que o líder farroupilha David Canabarro traiu os negros em Porongos e Ferreira Viana negando. E antes deles, Domingos José de Almeida, outro líder farroupilha, denunciou correr risco de vida, mesmo assim, continuou a investigar o que teria havido naquela noite trágica de 14 de novembro de 1844 no acampamento dos negros em Porongos. Os documentos reunidos por ele foram para a guarda de Varela que continuou sua pesquisa. Todo este material de grande valor histórico faz parte hoje da “Coleção Varela” do Arquivo Histórico do RS.
Alfredo Varela (1864 – 1943): foi um dos mais importantes historiadores gaúchos e também um dos Fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Alfredo Varela, herdou a documentação recolhida por Domingos José de Almeida sobre a Revolução Farroupilha. Por iniciativa própria, transformou esse patrimônio privado em patrimônio público.Autor de uma vasta bibliografia,entre suas obras,estão os seis volumes da “História da Grande Revolução”, de 1933
Alfredo Ferreira Rodrigues (1865-1942): historiador e poeta .Suas pesquisas históricas se concentravam no Rio Grande do Sul, principalmente nos vultos e acontecimentos da Revolução Farroupilha. Entre suas obras estão “A Pacificação do Rio Grande”, “Daví Canabarro e a surprêsa dos Porongos”.
Carta de Porongos
Correspondência que teria sido enviada pelo então barão de Caxias a Chico Pedro (Francisco Pedro de Abreu, o Moringue). A Carta de Porongos conteria evidências de um acordo prévio entre Caxias (comandante do Exército imperial no conflito) e o líder farroupilha David Canabarro. O objetivo seria favorecer a vitória imperial no combate do Cerro de Porongos. Em determinado trecho, Caxias informaria a Chico Pedro o local, o dia e o horário para o ataque, garantindo-lhe que a infantaria farroupilha estaria desarmada pelos seus líderes.
Ilustração de Thiago Krenning para o programa Nação da TVE-RS, feita a partir do texto original dos Anais do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, volume 7, Porto Alegre: AHRGS,1983, Coleção Alfredo Varela, documento CV3730 pp. 30-31.
TVE - Nação
O Massacre de Porongos
O Nação volta a 20 de setembro de 1835 quando começou, no Rio Grande do Sul, o confronto armado mais importante da história do Estado. Comemorada até hoje, a Guerra dos Farrapos, também conhecida por Revolução Farroupilha, colocou de um lado os grandes e poderosos estancieiros gaúchos e do outro o império. Mas, a guerra que adquiriu até um caráter separatista, teve um capítulo que ainda hoje é polêmico e, porque não dizer, ignorado: A batalha de Porongos.
Em novembro de 1844 a guerra estava perto do fim, mas uma questão permanecia sem solução: o que fazer com aqueles negros que por dez anos lutaram ao lado dos farroupilhas? O império não aceitava a libertação destes negros.
É neste contexto que acontece o massacre dos negros em Porongos. No acampamento da curva do arroio Porongos, atual município de Pinheiro Machado, o coronel Teixeira Nunes e seu corpo de Lanceiros Negros descansavam. Sob as ordens do líder farroupilha David Canabarro, todo o cartuchame foi retirado dos soldados. E assim sem armas de fogo para se defender,estes negros foram atacados pelas tropas do império comandadas por Francisco Pedro de Abreu, o Moringue. Muitos foram mortos e os sobreviventes foram novamente escravizados e enviados para o Rio de Janeiro.
Entrevista com Juremir Machado da Silva
O passado não pode ser mudado, mas a história que se conta sobre este passado vai ganhando ao longo do tempo novas revelações. Graças ao trabalho de historiadores como Moacyr Flores, Juremir Machado da Silva, Euzébio Assumpção e tantos outros, as verdades sonegadas pela história oficial são trazidas à tona.
O programa Nação sobre o Massacre de Porongos, exibido pela TVE e TV Brasil em outubro deste ano, dá voz a estes historiadores. Nesta página você vai poder ver na íntegra as entrevistas com Euzébio Assumpção e Juremir Machado da Silva. Todo este material foi divido em 6 vídeos e em cada um destacamos alguns trechos que podem ser úteis para a localização dos temas abordados. E logo abaixo você encontra um breve resumo sobre os principais personagens citados pelos historiadores.
1. O Massacre de Porongos no contexto da Guerra dos Farrapos
“Os farroupilhas se dividiram. Uma parte aceitou entregá-los, como de fato acabaram fazendo. Outra parte resistia um pouco,(…) inclusive pelo medo de uma rebelião. Por que era uma traição ter prometido liberdade e depois devolvê-los a seus proprietários.”
2. A traição aos lanceiros e aos infantes negros
“A gente precisa dizer isso: há uma traição aos lanceiros, mas há uma traição aos infantes [que também eram negros] que é menos citada. Os próprios defensores dos farroupilhas de hoje preferem falar só dos lanceiros. Por que? Porque os lanceiros ao menos tinham as suas lanças. Então, isto diminuiria o potencial da traição, pelo menos eles estavam armados. A traição que eles querem esconder é em relação aos infantes[negros], que estes ficaram desarmados e aí foram exterminados.”
3. As denúncias sobre a traição em Porongos
“O próprio Bento Gonçalves diz o seguinte: os caminhos que levavam a Porongos eram tão visíveis que só não veria a aproximação de uma tropa adversária quem não quisesse.”
“E aí surge um sujeito chamado Caldeira, que foi um lanceiro negro. E ele vai dizer: eu conheço isso, eu fui lanceiro. Os sinais da traição são evidentes.”
4. O comandante farroupilha Davi Canabarro e a traição em Porongos
“O Canabarro tinha fama de traidor” [Juremir cita as traições de Canabarro]
“Por que ele teria traído em Porongos? Porque o mais fácil era se livrar de todos aqueles negros. A morte daqueles negros resolvia o problema com o império. Resolvia o problema com os chefes insatisfeitos que hesitavam em aceitar a entrega dos negros[ao império]. E resolvia também o problema de uma possível insatisfação e a revolta destes negros, caso fossem entregues e permanecessem no Rio Grande do Sul.”
5. O destino dos negros que sobreviveram ao Massacre de Porongos
“O império os alugava para as famílias abastadas [do Rio de Janeiro].(…)Especialmente para a atividade mais infamante da época, que era o transporte diário, em barris, dos excrementos das pessoas. Era terrível.(…) E como os excrementos têm um tipo de substância que afeta a pele, isso ia esbranquiçando a pele daqueles negros.(…) Daí o termo “tigrada”. É um termo de origem absolutamente racista.”
“Então, essa revolução (…) que muitos hoje dizem que era abolicionista, ela se financiou vendendo negros no Uruguai. Depois ela usou negros imperiais como mão de obra militar. Depois ela os traiu em Porongos.”
Sobre Juremir Machado da Silva
Formado em História e Jornalismo, obteve o Diploma de Estudos Aprofundados e o Doutorado em Sociologia na Universidade Paris V, Sorbonne, onde também fez pós-doutorado. Atualmente é professor titular da PUCRS onde coordenou, de 2003 a 2014, o Programa de Pós-Graduação em Comunicação. É tradutor, romancista e cronista. Atua como colunista do Correio do Povo desde o ano 2000 e apresenta diariamente, ao lado de Taline Oppitz, o programa Esfera Pública, na Rádio Guaíba. Até o final de 2013, publicou 30 livros individuais, entre eles: História regional da infâmia – o destino dos negros farrapos e outras iniquidades brasileiras” (L&PM, 2010).
Entrevista com Euzébio Assumpção
“Porongos é a maior traição na história do Rio Grande do Sul. É a maior vergonha dos farrapos (…) o que existe é uma sonegação histórica. Aonde líderes, principalmente de CTGs, eles tentam burlar, eles tentam esconder estes fatos. Por que como explicar que Davi Canabarro, sendo um ícone do tradicionalismo gaúcho, possa ter feito esta vil traição?”
“… aqui é o único lugar onde a perda de uma guerra é comemorada. E este fato serve como um símbolo político de um passado gaúcho que nunca existiu. Isso aí é uma mitologia que foi criada em nome dos farrapos. Os farrapos eles não “existiam”, digamos assim, até o final do século XIX. Depois com o movimento do PRR de Júlio de Castilhos eles vão ser reinventados (…) E hoje em dia nas escolas infelizmente se festeja algo que não se conhece.”
Sobre Jorge Euzébio Assumpção
Formado em História pela PUCRS (1985), pós-graduado pela FAPA e mestre em História pela PUCRS (1995). Atualmente é professor e pesquisador na Unisinos, além de professor titular da SEC-RS. Seu principal foco de pesquisa é a Escravidão e temas relacionados como: resistência, África, charqueada, negro e Rio Grande do Sul. Escreveu o livro Pelotas: “Escravidão e Charqueadas: 1780-1888” (FCM Editora, 2013). E foi organizador dos livros: “O negro no Rio Grande do Sul” (Ministério da Cultura, 2005) e “Nós, os afro-gaúchos” (Ed. Universidade/UFRGS, 1996) entre outros.
Conheça os personagens citados pelos historiadores
Guerra dos Farrapos: a Guerra dos Farrapos, ou Revolução Farroupilha (1835-1845), foi o maior dos conflitos internos enfrentados pelo governo imperial. Durante dez anos, uma parcela da elite pecuarista rio-grandense, motivada por fatores políticos e econômicos, sustentou uma revolta contra o poder imperial, chegando a proclamar a República Rio-Grandense em 1836.
Lanceiros e infantes negros: eram trabalhadores escravizados que foram capturados nas fazendas de inimigos.Para lutarem ao lado dos farrapos, este negros receberam da República Riograndense a promessa de liberdade.
Teixeira Nunes (1802 - 1844): conhecido, durante a Revolução Farroupilha, como o Gavião. O coronel Teixeira Nunes comandou o Corpo de Lanceiros Negros.
Porongos: localidade de Pinheiro Machado(RS), onde ocorreu na madrugada de 14 de novembro de 1844 o massacre dos lanceiros negros que lutaram ao lado do General Bento Gonçalves da Silva, sob o comando de David Canabarro, ficando conhecido tal episódio da história como “O Massacre do Cerro dos Porongos”. Em 2007 o Sítio de Porongos foi declarado em Patrimônio Histórico e Cultural do Rio Grande do Sul.
Canabarro (1796 – 1867): David Canabarro foi um dos líderes dos farroupilhas. Como chefe dos revoltosos, aceitou a anistia oferecida pelo governo em 18 de dezembro de 1845, através do Duque de Caxias.
Caxias (1803 – 1880): Luís Alves de Lima e Silva, Duque de Caxias. Militar, político e monarquista brasileiro. Comandou as forças do império brasileiro na supressão de revoltas como a Balaiada, as Revoltas Liberais e a Revolução Farroupilha. Além de liderar as forças brasileiras na Guerra do Paraguai.
Moringue (1811- 1891): Coronel Francisco Pedro de Abreu ,ou ainda “Chico Pedro” foi o comandante da tropa do império que atacou Porongos em 14 de novembro de 1844.
Bento Gonçalves (1788 - 1847): foi o maior líder da Revolução Farroupilha. Entre 1837 a 1843 foi Presidente da República Rio-Grandense , proclamada pelos farroupilhas.
Antônio de Sousa Netto (1803 – 1866): foi um importante líder farroupilha. Em 11 de setembro de 1836, após a Batalha do Seival, proclamou a República Rio-Grandense, no Campo dos Menezes. Lutou em diversas batalhas pelos republicanos, tendo comandado o cerco a Porto Alegre, durante vários meses, e a retomada de Rio Pardo, que estava nas mãos dos imperiais.
Júlio de Castilhos (1860- 1903): jornalista e político gaúcho. Foi presidente do Rio Grande do Sul por duas vezes de 15 de julho a novembro de 1891 e de 1893 a 1898. e principal autor da Constituição Estadual de 1891. Disseminou o ideário positivista no Brasil.
PRR: Partido Republicano Rio-grandense (PRR) foi um partido político de motivação republicana do estado do Rio Grande do Sul fundado em 23 de fevereiro de 1882, cujo grande líder intelectual era Júlio de Castilhos.
Domingos José de Almeida (1797-1859): No final da década de 1850, o político, charqueador e ex-líder farroupilha denunciou publicamente o conteúdo da correspondência que teria sido enviada pelo então barão de Caxias a Francisco Pedro de Abreu(Moringue). A Carta de Porongos conteria evidências de um acordo prévio entre Caxias (comandante do Exército imperial no conflito) e o líder farroupilha David Canabarro. O objetivo seria favorecer a vitória imperial no combate do Cerro de Porongos. Em determinado trecho, Caxias informaria a Francisco Pedro o local, o dia e o horário para o ataque, garantindo-lhe que a infantaria farroupilha estaria desarmada pelos seus líderes.
Coleção Varela: Já no século XIX, dois grandes historiadores da Revolução Farroupilha, Alfredo Varela e Ferreira Rodrigues trocam farpas publicamente nos jornais da época. Varela afirmando que o líder farroupilha David Canabarro traiu os negros em Porongos e Ferreira Viana negando. E antes deles, Domingos José de Almeida, outro líder farroupilha, denunciou correr risco de vida, mesmo assim, continuou a investigar o que teria havido naquela noite trágica de 14 de novembro de 1844 no acampamento dos negros em Porongos. Os documentos reunidos por ele foram para a guarda de Varela que continuou sua pesquisa. Todo este material de grande valor histórico faz parte hoje da “Coleção Varela” do Arquivo Histórico do RS.
Alfredo Varela (1864 – 1943): foi um dos mais importantes historiadores gaúchos e também um dos Fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Alfredo Varela, herdou a documentação recolhida por Domingos José de Almeida sobre a Revolução Farroupilha. Por iniciativa própria, transformou esse patrimônio privado em patrimônio público.Autor de uma vasta bibliografia,entre suas obras,estão os seis volumes da “História da Grande Revolução”, de 1933
Alfredo Ferreira Rodrigues (1865-1942): historiador e poeta .Suas pesquisas históricas se concentravam no Rio Grande do Sul, principalmente nos vultos e acontecimentos da Revolução Farroupilha. Entre suas obras estão “A Pacificação do Rio Grande”, “Daví Canabarro e a surprêsa dos Porongos”.
Carta de Porongos
Correspondência que teria sido enviada pelo então barão de Caxias a Chico Pedro (Francisco Pedro de Abreu, o Moringue). A Carta de Porongos conteria evidências de um acordo prévio entre Caxias (comandante do Exército imperial no conflito) e o líder farroupilha David Canabarro. O objetivo seria favorecer a vitória imperial no combate do Cerro de Porongos. Em determinado trecho, Caxias informaria a Chico Pedro o local, o dia e o horário para o ataque, garantindo-lhe que a infantaria farroupilha estaria desarmada pelos seus líderes.
Ilustração de Thiago Krenning para o programa Nação da TVE-RS, feita a partir do texto original dos Anais do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, volume 7, Porto Alegre: AHRGS,1983, Coleção Alfredo Varela, documento CV3730 pp. 30-31.
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