sábado, 27 de abril de 2013

Cruzes... porto alegre virô a cidade dos buracos e dos empresários...


O renascimento das ruas de Porto Alegre

Apr 26th, 2013 by Marco Aurélio Weissheimer RS Urgente





Desde o final do ano passado, as ruas de Porto Alegre voltaram a pulsar. Elas não estavam mortas, exatamente, mas digamos que estavam abandonadas aos carros, ônibus, caminhões, à correria desenfreada do dia-a-dia e a diferentes formas de ausência. Virou um lugar-comum falar na tal da sensação de insegurança que nos afetaria a todos e nos recomendaria evitar as ruas sempre que possível. Pois parece que uma das maneiras de enfrentar essa sensação de insegurança não é sair das ruas, mas exatamente o contrário, ou seja, ocupá-las. E isso vem ocorrendo por uma série de motivos.

Um dos pioneiros desse processo de retomada das ruas foi o movimento Massa Crítica, que popularizou na cidade um evento que ocorre tradicionalmente na última sexta-feira do mês em muitas cidades pelo mundo. Neste dia, ciclistas, skatistas e patinadores pedem licença aos veículos motorizados para compartilhar as ruas. Há quem não goste chegando ao cúmulo de lançar o carro sobre os ciclistas, como ocorreu recentemente em Porto Alegre. Mas o movimento tem apoio massivo da população e vem reunindo diferentes tribos. Nesta sexta (26), aliás, é dia de Massa Crítica em Porto Alegre. A concentração inicia às 18h15min, no Largo Zumbi dos Palmares. Como atração extra, o Maracatu Truvão animará um “adesivaço” do evento Conexões Globais com os artistas Trampo, Xadalu, Lídia Bruncher e Tridente. A segunda edição do Conexões Globais – uma promoção das secretarias estaduais da Cultura e da Comunicação e Inclusão Digital – ocorrerá de 23 a 25 de maio, na Casa de Cultura Mário Quintana.

Em outubro de 2012, eclodiu outro movimento formado basicamente de jovens protestando contra a privatização de espaços públicos e culturais da cidade e também contra o cerceamento de espaços e tempos de lazer. O movimentoDefesa Pública da Alegria devolveu um colorido e uma energia que as ruas da cidade tinham perdido. E começou a fazer, de modo mais visível e organizado, um contraponto a uma série de iniciativas de entrega de espaços públicos para o setor privado. Iniciativas como a decisão da prefeitura de Porto Alegre de repassar para a Coca-Cola a tarefa de cuidar do Largo Glênio Peres, uma das áreas mais tradicionais do centro da capital e espaço histórico de manifestações sociais, culturais e políticos. Em troca de algumas “obras” no Largo, como um insólito conjunto de chafarizes, a Coca Cola está explorando publicitariamente o Largo.

Em fevereiro deste ano, centenas de pessoas saíram às ruas em defesa das árvores do Gasômetro, outro ponto tradicional da cidade. O prefeito José Fortunati ajudou a levar as pessoas para a rua quando, ao defender o corte de árvores, disse que as pessoas “não estão utilizam estas árvores do Gasômetro”. O corte promovido pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente provocou um protesto quase imediato. Na tarde do próprio dia 6, algumas das árvores ainda não cortadas foram “ocupadas” por jovens que subiram em seus galhos para evitar a destruição. Conseguiram temporariamente.

Mais recentemente, o movimento pela redução do preço das passagens de ônibus levou milhares de pessoas às ruas obrigando a prefeitura
a voltar atrás e provocando outro recuo, pouco comum, no tratamento que a maior parte da mídia da capital vinha dando ao movimento. Diante do caráter massivo do mesmo, os “baderneiros” passaram a receber outro tratamento.

Outro movimento, aliás, que vem ganhando força que é a dos frequentadores das “pracinhas dos cachorros”, um espaço de encontro dos bichos e das gentes. O pessoal que adotou a “pracinha do DMAE” está se mobilizando pela internet, preocupado com a notícia de que a prefeitura estaria planejando repetir ali o que fez no Largo Glenio Peres, ou seja, entregar a “gestão da pracinha” para uma grande construtora. O povo está atento e esse assunto deve ganhar mais força nas próximas semanas.

Protestos e caminhadas nas ruas de Porto Alegre são comuns. A novidade é que eles não se limitam mais às manifestações promovidas por sindicatos, partidos políticos e movimentos sociais como o MST. A Massa Crítica, a Defesa Pública da Alegria, os defensores das árvores e de um transporte público barato e de qualidade são movimentos que se cruzam de diferentes maneiras. Pode ser um fenômeno passageiro, mas está fazendo um bem enorme à cidade. Lembra, por exemplo, que as ruas não são um espaço reservado exclusivamente para automóveis e demais veículos. Lembra que a existência das árvores não depende do seu “uso” por nós, humanos. E lembra também que ideias como espaços públicos, serviços públicos e bens comuns são indispensáveis para qualquer democracia saudável.

Espaços públicos da cidade estão sendo privatizados. Os espaços de lazer são progressivamente enterrados dentro de shoppings e centros comerciais gigantescos. A especulação imobiliária avança sobre áreas públicas e de preservação ambiental. As “obras da Copa” estão empurrando comunidades mais pobres cada vez mais para a periferia. A capital que inspirou o Fórum Social Mundial está precisando mesmo de um sopro de vida nas ruas.


(*) Coluna publicada hoje no Sul21.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

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