Alunos e pais seguem mobilizados na escola La Salle Pão dos Pobres em Porto Alegre
Samir Oliveira no SUL 21
A rotina do colégio La Salle Pão dos Pobres, em Porto Alegre, continua sendo afetada por debates e posturas que envolveram a demissão do professor de História Giovanni Biazzetto. Ele trabalhava há quatro anos na instituição e foi afastado no dia 17 de maio por decisão do diretor da escola, irmão Olir Facchinello.
A demissão do educador provocou revolta por parte dos alunos, que se manifestaram contra a medida. Desde então, são sucessivos os relatos de que os estudantes mobilizados estariam sendo ameaçados por funcionários da escola.
Integrantes da equipe educacional, diretiva e pedagógica estariam advertindo as crianças e jovens de que poderiam perder bolsas de estudo ou não ter direito a rematrícula caso continuem criticando publicamente a instituição. Além disso, os alunos comentam que estão sendo vigiados nas redes sociais e dentro da sala de aula, já que funcionários teriam orientado alguns estudantes a monitorar atitudes e pronunciamentos críticos ao colégio. Há relatos, inclusive, de que o jornal interno da escola, produzido por estudantes, estaria sendo censurado.
A mobilização dos alunos chegou aos pais, que já formalizaram denúncias ao Conselho Tutelar e ao Ministério Público, além de terem editado um abaixo assinado pela internet. “Crianças foram ameaçadas pelo diretor e pela equipe pedagógica de perder vagas na escola. Cerca de 80% dos alunos são de baixa renda e dependem de bolsas. Qualquer ameaça nesse sentido, além de ser um crime, foge à regra escolar”, indigna-se Rosilara Cunha, mãe de um estudante do 7º ano.
Ela afirma que o clima de permanente tensão no colégio pode prejudicar o rendimento escolar dos alunos. “Eles sentem que podem ser punidos por qualquer coisa que falarem. O medo e as represálias não é algo da cabeça deles, vem da direção e da coordenação pedagógica. Chamaram alguns alunos para vigiar os colegas mais mobilizados. Estão ensinando uma criança a ser dedo-duro”, critica.
Os pais também recorreram à 1ª Coordenadoria Regional de Educação, vinculada à Secretaria Estadual de Educação. O órgão informou às famílias que não verificou irregularidades no programa educacional da escola. A reclamação de alunos, pais e professores é de que o irmão Olir Facchinello – que assumiu o comando do colégio em janeiro deste ano – estaria influenciando outras disciplinas a tratarem de temas religiosos.
Rosilara diz, ainda, que o colégio tem barrado a participação dos pais no acompanhamento da vida escolar. “Outras escolas da rede La Salle têm associação de pais e mestres e grupos de ex-alunos. No Pão dos Pobres o diretor simplesmente proibiu a entrada de ex-alunos e não dá acesso nenhum aos pais. Na última entrega de notas, apenas retirávamos os boletins e íamos embora. Não havia conversa ou discussões como antigamente”, relata.
Desde a demissão do professor Giovanni, os pais e alunos já realizaram pelo menos duas reuniões com o presidente da rede La Salle Brasil-Chile, irmão Jardelino Menegat. De acordo com os pais, no último encontro, ele disse ao grupo que iria providenciar acompanhamento psicológico para a equipe diretiva da escola Pão dos Pobres e que tomaria alguma decisão a respeito destes profissionais. “Apenas queremos que nossos filhos possam estudar tranquilamente”, resume Rosilara.
Procurada pelo Sul21, a rede La Salle informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o irmão Jardelino Menegat não poderia conversar com a reportagem nesta quinta-feira (6) e que o diretor Olir Facchinello não havia sido localizado para dar entrevista.
Professor quer aproveitar episódio para debater gestão escolar
Passado quase um mês de sua demissão, o professor Giovanni Biazzetto segue preocupado com a situação dos alunos e educadores que estão na escola La Salle Pão dos Pobres. Para ele, o episódio deve servir como oportunidade para que se discuta o papel da equipe diretiva e pedagógica na gestão escolar.
“Não existe uma coordenação pedagógica que construa propostas educacionais junto com professores, pais e alunos. Estão preocupados apenas com burocracias, faltas e xerox. A escolha de uma proposta educacional envolve desde o funcionário da limpeza ao diretor. Atualmente, a gestão escolar está cada vez mais afastada disso, pensam a escola como uma empresa”, condena.
No caso do colégio La Salle Pão dos Pobres, o professor lamenta, ainda, a retirada de programas que envolviam os alunos em atividades extracurriculares. “No final do ano passado eu e um grupo de educadores montamos três projetos. Mas no início deste ano a equipe diretiva aprovou apenas metade de um deles e mandou parar um outro que já fazíamos”, revela.
Conselho Tutelar acompanha situação na escola
A denúncia envolvendo o colégio La Salle Pão dos Pobres está sob responsabilidade do conselheiro tutelar Cristiano Aristimunha, que opera na região central de Porto Alegre. Ele afirma que já conversou por duas vezes com a equipe diretiva da escola – na semana passada e nesta quinta-feira (6) –, mas reforça que precisa de comprovação dos relatos para que possa levar o caso adiante.
“Estamos monitorando a situação. Em caso de comprovação das denúncias, noticiaremos o Ministério Público e as secretarias de educação do Estado e do município para que tomem medidas administrativas contra a escola. Também estamos à disposição para realizar encaminhamentos psicológicos e jurídicos às famílias”, avisa.
O conselheiro reitera que o colégio não pode cercear o direito de livre expressão dos alunos. “Isso não é possível. A Constituição permite a livre manifestação”, afirma.
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