quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Não temos obstetra aqui...


Diretor de hospital elogia médicos estrangeiros e reclama de falta de especialistas



SUL 21


Foto: Agência Brasil

Da Agência Brasil

O município de Rio Preto da Eva fica a 80 quilômetros de Manaus (AM). A estrada é cheia de curvas e em diversos trechos é totalmente ladeada pela mata verde e densa, mas apresenta boas condições de tráfego, com asfalto conservado. Em situações normais, a viagem pode ser agradável e não tão demorada. Mas quando chega a hora de se ter um bebê, o trecho parece interminável e cada curva tortura quem nada pode fazer para amenizar a ansiedade e até a dor de um trabalho de parto iniciado.

A cada mês, dezenas de mulheres moradoras do município vivem histórias parecidas, segundo o diretor-geral do Hospital Thomé de Medeiros Raposo, Ricardo Honorato, porque faltam médicos especialistas. A unidade de saúde, única desse porte no município, com cerca de 28 mil habitantes, conta com apenas um clínico geral por plantão de 24 horas. Na avaliação do diretor, que tem formação em administração hospitalar, para dar conta da demanda estimada em 100 atendimentos diários seria necessário que a equipe médica também incluísse ao menos cinco especialistas – cirurgião-geral, ortopedista, anestesista, obstetra e pediatra.

“Não temos obstetra aqui, mas se tivéssemos, pelo menos, um cirurgião-geral evitaríamos encaminhar as grávidas com algum risco no parto. Não podemos assumir uma situação que não sabemos se vai ter complicação e comprometer a vida da mãe e do bebê por falta de profissional”, disse Honorato à Agência Brasil.

Com isso, destacou, muitas crianças que moram na cidade, acabam sendo registradas em Manaus, porque “foram lá só para nascer”. É o caso dos três filhos da conselheira tutelar Rosinei Torres de Souza, 33 anos, que se programou com antecedência para fazer o parto dos meninos na capital.

“Aqui não tem médico e eu também não confio muito na estrutura então, para evitar problemas, me proteger e proteger meus filhos, preferi nas três gestações ir para Manaus uns dez dias antes da previsão da chegada deles e esperá-los nascer na capital”, disse Rosinei. “Muita gente aqui faz isso. Foi assim com as minhas cunhadas, minhas amigas. Só nasce aqui se for de emergência ou se a pessoa não tiver condições de ir para Manaus”, acrescentou.

Ricardo Honorato acredita que a dificuldade de atrair médicos para os municípios do interior do Amazonas pode ser explicada pelo mercado aquecido nas capitais, onde eles encontram “bons salários, mais opções de lazer e oportunidades de reciclagem”. Ele defende a contratação de médicos estrangeiros para ocupar vagas ociosas, principalmente no interior do país.



“Já trabalhei com muitos médicos estrangeiros que prestavam excelentes serviços à população da Amazônia. Se eles vierem dispostos realmente a trabalhar e a servir acho que podem ajudar a resolver muitos problemas por aqui”, disse o diretor-geral do hospital.

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