FHC NU E CRU:
“MEU TEMPO PASSOU”
“Sou eu mesmo a única oposição, mas eu estou me lixando para o que Lula faz.”
Conversa Afiada
Amigo navegante envia exemplar da revista piauí (com caixa baixa …), de agosto de 2010.
Traz uma reportagem sobre “O Andarilho”, na rubrica “o poder passado” e a apresentação:
“Em dez dias, 19 compromissos, duas palestras, sete aeroportos, seis aviões, dois continentes e dez mil quilômetros: a vida do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso longe do poder”, assinada por João Moreira Salles.
É a mais perfeita exposição da alma do andarilho: no exterior, diante de uma revista de banqueiros para banqueiros e por banqueiros.
À vontade.
Como ele se mostraria, num reality-show.
Por sugestão do amigo navegante, aqui vai uma breve seleção de pérolas do Príncipe:
“Segundo ele, o poder se mede pela quantidade de votos futuros e, por essa conta, seu cacife é nenhum. ‘Meu tempo passou. Queriam que eu concorresse ao Governo de São Paulo. Eu disse: aí eu ganho e no dia seguinte tem rebelião em presídio e prefeito querendo encontro. O Senado é igual. Aquela convivência é muito desinteressante. Chega.’ ”
“Vivo bem um qualquer lugar. Mas essa coisa de ser brasileiro é quase uma obrigação.”
“Que ninguém se engane: o Brasil é isso mesmo que está aí. A saúde melhorou, a educação também e aos poucos a infra-estrutura se acertará. Mas não haverá nenhum espetáculo de crescimento, nada que se compare à India e à China. Continuaremos nessa falta de entusiasmo, de desanimo.”
“Quais são as instituições que dao coesão a uma sociedade ? Família, religião, partidos, escola. No Brasil, tudo isso fracassou,.”
“Como eu ia dizendo, é bom ser brasileiro: ninguém dá bola.”
“Sou eu mesmo a única oposição, mas eu estou me lixando para o que Lula faz.”
“Já o Lula é o Macunaíma, o brasileiro sem caráter que se acomoda.”
“No meu Governo, universalizamos o acesso à escola, mas pra que ? O que se ensina ali é um desastre. A única coisa que organiza hoje o Brasil é o mercado e isso é dramático. O neoliberalismo venceu. Ao contrário do que pensam, contra a minha vontade.”
“Hoje só o mercado produz coesão. Mas o mercado é bom para produzir lucros, não valores”.
“O problema do Brasil não é nem o esfacelamento do Estado. É algo anterior: é a falta de cultura cívica. De respeito à lei. Sem isso, como fazer uma Nação ?”
“Sou um realista, sei até onde é possível ir. Há um momento em que a realidade se impõe. Sou um pragmático no sentido americano. Diante do Estado inepto e da prevalência da burguesia estatal, privatizar era o jeito.”
“A parada de 7 de setembro é uma palhaçada.”
“Parada militar no Brasil é pobre pra burro… A cada bandeira de regimento a gente tinha que levantar, era um senta-levanta infindável … Em setembro venta muito em Brasília, então o cabelo fica ao contrário”.
Numa sonolenta conferência sobre ‘‘grandes cidades’’, “passa a rechear sua fala com ‘‘coesão mecânica’’ e ‘‘coesão orgânica’’ de Durkheim (mais tarde no taxi, : ‘É o bê-a-bá da sociologia. Olhei em volta e vi que não tinha nenhum sociólogo e mandei ver’’).”
A America Latina não está se voltando à esquerda:
“Não é esquerda, é populismo … o populismo é autoritário, e regressivo”.
“Eu disse para os homens de imaginação, para o Nizan Guanaes: olha, a imaginação do povo é igual à estrutura do mito do Lévi-Strauss: ou seja, é binária: existem o bem e o mal. Eu fui eleito Presidente da Republica, porque fiz o bem, no caso, o real. Chega uma hora em que a força dele acaba. O que vamos oferecer no lugar ? Ninguém soube me dar essa resposta. Eu também não soube encontrá-la.”
“O Brasil não tem guerras, não tem inimigos. É uma beleza ser chanceler”.
“Dentre os amigos e colaboradores, é imensa a admiração intelectual por Pérsio Srida e Andre Lara Resende. Lamenta que tenham se retirado da vida publica e deixado de produzir: ‘Não deviam ter parado tão cedo. É que existe essa mania de ganhar dinheiro. Ganharam e agora não sabem o que fazer. Eu digo: Andre, você não pode ficar assim, volta a trabalhar. Ele fica lá com o aviaozinho dele, pra cima e pra baixo. É uma loucura”.
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