Caso Venina, uma aposta da Globo na queda de Graça Forster
A entrevista da ex-gerente Venina Velosa, dizendo que alertou dirigentes da Petrobras, inclusive a presidente Graça Forster, sobre casos de corrupção na empresa foi dada originalmente ao jornal Valor Econômico, na quarta-feira, 17.
Qualquer leitor minimamente atento podia perceber que a matéria fugia ao padrão do Valor, que é o jornal dos empresários e dos meios financeiros, geralmente mais criterioso com as informações que publica.
A matéria continha declarações inconsistentes, misturava fatos ocorridos em datas diferentes, e reproduzia sem questionar afirmações contraditórias.
Era um prato feito para quem já concluiu que a corrupção na Petrobras é generalizada e envolve não só a direção da empresa como conta a conivência até da presidência da República.
Para quem quer informações para saber o que realmente aconteceu, era uma peça bastante falha, com muitas afirmações questionáveis e um personagem pouco convincente.
Estranhamente o repórter que ouviu Venina Velosa não tentou esclarecer esses pontos, nem dar um perfil mais nítido da ex-gerente. Tampouco tentou, como é praxe no Valor, ouvir o contraditório.
Mesmo assim, o “furo” do Valor (que é editado por uma empresa em que a Globo e a Folha de São Paulo são sócias) repercutiu em todos os jornalões que reproduziram a entrevista com grande destaque e sem qualquer reparo.
Mesmo o fato, revelado por alguns blogs, de que Venina era ligada a Paulo Roberto da Costa,o delator, e que fora afastada após investigação por uma comissão interna, foi desconsiderado.
Ninguém se interessou por esclarecer. Era matéria verdadeira, quente, bombástica. A bala de prata que seria capaz de derrubar Graça Forster.
Não só isso: no domingo, apresentada como uma “entrevista exclusiva”, Venina foi o principal destaque do Fantástico, ouvida pela Glória Maria.
Foram 27 minutos e 19 segundos em que a ex-gerente praticamente repetiu tudo o que tinha falado ao Valor, inclusive com os mesmos pontos obscuros e a mesma falta de consistência. De exclusivo, apenas um principio de choro, pouco convincente.
Mais: a partir daí, a entrevista “exclusiva” foi destaque em todos os telejornais da Globo e da Globo News, ganhando um espaço inusitado para os tempos de televisão: quase onze minutos no Bom Dia Brasil, nove minutos no jornal Hoje, além de seis edições de nove minutos na Globo News.
À noite a entrevista foi novamente destaque no Jornal Nacional, que reproduziu o resumo de seis minutos editado ardilosamente. Em seguida, e só ai, foi ouvida a presidente da Petrobrás, Graça Forster, que negou ter recebido qualquer alerta da ex-gerente.
E aí, o Jornal Nacional cometeu algo que nenhum manual de ética jornalistica comporta: deu a Venina conhecimento prévio da entrevista gravada com Graça Forter.
Desse modo, assim que a entrevista da presidente da Petrobrás foi ao ar, entrou a ex-gerente rebatendo suas declarações.
Dilma garantiu que vai manter Graça Forster, mas o desfecho desse episódio ainda é incerto.
O que se pode dizer com certeza é que este caso vai entrar para a história do jornalismo no capítulo das ” manipulações da Globo”, ao lado da edição capciosa do debate entre Lula e Fernando Collor, na eleição de 1989.
Com o agravante da cumplicidade de toda a mídia.
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