Black Friday 2015 Fights, Brawls, Attacks, Theft, And Stampedes!
Uma humanidade solidária, amorosa... construída com todos incluídos num mundo menos elitista, preconceituoso, autoritário e desigual, por la vida... siempre!
sábado, 28 de novembro de 2015
terça-feira, 17 de novembro de 2015
o vixinhu tá ruim de liderança: Aecim X Cunha
Aécio Neves chafurda na lama da Vale
Por Altamiro Borges
O cambaleante Aécio Neves não tem senso de ridículo - nem diante dos bafômetros da polícia carioca e nem diante dos holofotes da mídia. Nesta segunda-feira (16), o grão-tucano utilizou o seu palanque eleitoral na Folha para falar sobre a tragédia de Mariana. Não citou uma única vez o nome da empresa Vale, privatizada criminosamente no reinado de FHC. Também não falou nada sobre a generosidade dos governos do PSDB de Minas Gerais com a poderosa corporação privada. No seu rancor doentio, ele preferiu atacar a presidenta Dilma - o que reforça a ideia, inclusive de alguns bicudos do ninho, de que o senador precisa urgentemente ser internado para curar da overdose... de rancor!
Para o playboy mineiro-carioca, que nunca foi muito chegado ao povo, Dilma errou ao não visitar de imediato as vítimas da tragédia. Frequentador assíduo das noitadas cariocas - inclusive com o uso de recursos públicos em suas viagens aéreas -, ele afirma que a presidenta esqueceu "o simbolismo do cargo que ocupa". Haja cinismo! Aliado dos ruralistas e das mineradoras, que tanto aportaram grana em sua campanha, ele garante que o crime em Mariana decorreu dos problemas ambientais e posa de candidato: "A questão ambiental, com toda a sua complexidade, precisa tornar-se protagonista na agenda pública. Agir no presente significa escolher o futuro". Pura bravata demagógica!
O ex-governador de Minas Gerais e atual presidente do PSDB nem cita o sagrado nome da Vale, que detém 50% da criminosa mineradora Samarco - a outra metade é da multinacional anglo-australiana BHP Billiton. A generosidade da empresa, que "investiu" R$ 22,65 milhões nas campanhas eleitorais do ano passado, talvez explique esta curiosa lacuna. Aécio Neves também evitar falar sobre a sinistra privatização da estatal, imposta por seu guru FHC. Em artigo postado no site Carta Maior, o jornalista Saul Leblon ajuda a refrescar a memória dos que já se esqueceram da tragédia da privataria:
*****
Referência de sucesso da privatização tucana, recordista em distribuir dividendos a seus acionistas, a Vale durante anos só deixou 1% do lucro obtido na mineração de Mariana/MG ao município. Em compensação, despejou agora 60 bilhões de litros de lama tóxica no seu entorno, uma lava que viaja pelo Rio Doce para compartilhar com o Espírito Santo a maior catástrofe ambiental da história brasileira. A devastação está apenas no começo. A convalescença pode demorar séculos. Esse é o tempo - advertem geólogos - para que a lama cuspida pela incúria gananciosa se transforme em solo fértil outra vez. A Vale não vai cuidar do interesse público nessa longa mutação.
(...)
Numa entrevista famosa em 2009, ao portal da revista Veja, FHC justificou a venda da Vale do Rio Doce - que tinha em Serra o defensor mais entusiasmado, entregou o ex-presidente - entre outras razões, ao fato de a segunda maior empresa de minério do mundo ter se reduzido - na sua douta avaliação - a um cabide empregos estatal, "que não pagava imposto, nem investia". Filho dileto do ciclo tucano das grandes alienações públicas, Roger Agnelli - presidente da Vale de 2001 a 2011 - foi durante anos reportado ao país como a personificação da eficiência privada reconhecida nessa transação. Com ele, graças a ele, e em decorrência da privatização-símbolo que ele encarnou, a Vale tornou-se uma campeã na distribuição de lucros a acionistas.
Vedete das Bolsas, com faturamento turbinado pela demanda chinesa por minério bruto, que o Brasil depois reimportava, na forma de trilhos, por exemplo, - a única laminação para esse fim foi desativada pelo governo FHC - a Vale tornou-se o paradigma de desempenho corporativo aos olhos dos mercados. Um banho de loja assegurado pelo colunismo econômico, ocultava a face de um negócio rudimentar, um raspa-tacho do patrimônio mineral alçado à condição de referência exemplar da narrativa privatista. Agora se vê o mar de lama acumulado por debaixo do veludo. A 'eficiência à la Agnelli' lambuzou o noticiário pró-mercadista durante uma década de fastígio. Da cobertura econômica à eleitoral, era o argumento vivo a exorcizar ameaças à hegemonia dos 'livres mercados' pelo lulopopulismo.
Projetos soberanos de desenvolvimento, como o da área de petróleo, eram fuzilados com a munição generosa da menina dos olhos do neoliberalismo: a Vale de balancetes nas nuvens. A política agressiva de distribuição de lucros aos acionistas - na verdade um rentismo ostensivo, apoiado na lixiviação de recursos existentes, sem agregar capacidade produtiva ao sistema econômico - punha na Petrobrás o cabresto do mau exemplo. Era a resiliência estatista nacionalisteira, evidenciada em planos de investimento encharcados de preocupação industrializante e 'onerosas' regras de conteúdo local.
A teia de acionistas da Vale, formada por carteiras gordas de endinheirados, bancos e fundos, com notável capilaridade midiática, nunca sonegou gratidão . Enquanto o mundo mastigava avidamente o minério de teor de ferro mais elevado do planeta, a Vale era incensada a cada balanço, seguido de robustas rodadas de distribuição de lucros e champanhe. No primeiro soluço da crise mundial, em 2008, a empresa administrada pela lógica pró-cíclica dos rentistas reagiu como tal e inverteu o bote: foi a primeira grande empresa a cortar 1.300 trabalhadores em dezembro daquele ano, exatamente quando o governo Lula tomava medidas contracíclicas na frente do crédito, do consumo e do investimento.
A Petrobrás não demitiu; reafirmou seus investimentos no pré-sal, da ordem de US$ 200 bilhões até 2014. Se a dirigisse um herói dos acionistas, teria rifado o pré-sal na mesma roleta da Vale: predação imediatista, fastígio dos acionistas e prejuízos para o país. Em seu último ano na empresa, Agnelli -apoiador confesso da candidatura derrotada de Serra contra Dilma, em 2010 - distribuiu US$ 4 bi aos acionistas. Saiu carregado nos ombros da república dos dividendos. Indiferente aos apelos de Lula, manteve-se até o fim fiel à lógica que o ungiu: recusou-se a investir US$ 1,5 bi numa laminadora de trilhos que agregasse valor a um naco das quase 300 milhões de toneladas de minério bruto exportadas anualmente pela empresa.
Com a derrota de Serra, o conselho da Vale destituiu o camafeu ostensivo da coalizão tucanorentista, em abril de 2011. Agora se sabe que o centurião de alardeada proficiência administrativa, além de recolher apenas 2% de royalties ao país, nunca conseguiu reunir recursos para instalar uma simples buzina, que poderia ter salvo vidas levadas pelo mar de lama que legou ao país, enquanto brindava os acionistas com bilhões. Estamos diante de um exemplo em ponto pequeno da desordem global, que à falta de melhor conceito, pode ser batizada de barbárie de mercado. É rudimentar conceito. Porém é mais encorajador do que dizer apenas e tristemente ‘somos todos idiotas’.
*****
O texto de Saul Leblon serve, com perfeição, para desmontar as bravatas de Aécio Neves na Folha. O tucano, com sua visão privatista e na sua cavalgada golpista, deve pensar que "somos todos idiotas". Na prática, o cambaleante chafurda na lama da Vale - a lucrativa e ambiciosa empresa privada que desrespeita a legislação, matou mais uma dezena de pessoas, contaminou rios e devastou a natureza.
*****
Leia também:
- Tragédia em Mariana não é um acidente
- A Vale e o drama invisível em Mariana
domingo, 15 de novembro de 2015
Será que com o exemplo do futebol o vixinhu entende? Entender o quê? Acho que nem desenhando...
TV promove "apartheid" no futebol
Há algum tempo vem se tornando recorrente o uso da expressão “espanholização” quando se fala do futebol brasileiro. Isso porque, a exemplo do país ibérico que tem dois clubes – Barcelona e Real Madrid – ganhando substancialmente mais do que os outros em termos de direitos de televisão e outras receitas, nas bandas de cá outra dupla também pode repetir a mesma receita.
Para as temporadas de 2016 a 2018, calcula-se que as duas equipes com maior torcida no Brasil, Flamengo e Corinthians, vão receber cada uma R$ 170 milhões por temporada. É muito mais do que os times que vêm a seguir, São Paulo (R$ 110 milhões), Vasco e Palmeiras (R$ 100 milhões) e Santos (R$ 80 milhões). No entanto, o problema não para aí. A diferença das doze principais equipes do país em relação às demais é também abissal, o que acaba punindo clubes que estão fora do eixo SP-RJ e, em segundo plano, de MG-RS. Mesmo com campanhas boas pontualmente, times de expressão regional que estão fora desse circuito não conseguem dar sequência e se firmar entre as equipes mais competitivas.
O que parece ser algo “natural”, na verdade é fruto de interesses individuais de dirigentes que contam muitas vezes com o apoio de torcedores, crentes de que seus times estão levando vantagem em um tipo de jogo que, no fim das contas, todos perdem. O livro Cotas de televisão do Campeonato Brasileiro: apartheid futebolístico e risco de espanholização, resultado dos estudos do jornalista e bacharel em Direito Emanuel Leite Jr. a respeito do tema, trata desse fosso que aumenta entre os clubes e aponta possíveis caminhos para alterar um cenário que compromete a isonomia e o próprio princípio básico de competição do esporte.
A obra de Leite Jr é resultado da elaboração de uma monografia para a conclusão do curso de bacharelado em Ciências Jurídicas na Universidade Católica de Pernambuco. Contudo, quando o trabalho foi concluído, o cenário dos contratos de direitos de televisão no futebol brasileiro era outro. Isso porque existia o Clube dos Treze, associação que reunia alguns dos principais clubes do país e que consolidava um grupo restrito onde alguns ganhavam muito e quem estava de fora ficava a ver navios. A essa altura já se consolidava o que o autor chama de “apartheid futebolístico”, que caminharia para o risco da “espanholização” nas negociações para o triênio 2012-2014. Na ocasião, houve a implosão do Clube dos Treze, graças à ação de alguns dirigentes que contaram com a ajuda da maior interessada na cisão àquela altura, a Rede Globo. Por meio de negociações individuais, a desigualdade se aprofundou ainda mais.
Mesmo a Espanha, hoje, já modifica o seu sistema de distribuição. Até 2015, Real Madrid e Barcelona acumulavam cerca de 50% dos recursos advindos da TV, com o Valencia, terceiro colocado no ranking, recebendo três vezes menos que o duo. Para as temporadas 2016/2017, o Real Decreto-ley 5/2015, de abril deste ano, estabelece que essa divisão muda. Em seu livro, Leite Jr explica que 50% dos direitos na primeira divisão serão distribuídos de forma igualitária para todos os clubes, sendo que 25% serão calculados conforme o desempenho nos últimos cinco campeonatos nacionais (destes, 35% pela temporada mais recente, 20% pela penúltima e 15% para cada uma das três anteriores). Os outros 25% serão divididos pela média de vendas de ingressos e pacotes anuais negociados pela televisão. O modelo remete ao da Premier League, o campeonato inglês, e também tem similaridades com a Bundesliga (campeonato alemão) e o Italiano.
Antes que algum torcedor mais exaltado possa falar em “comunismo” ou algo que o valha quando se discute reduzir a desigualdade entre clubes no Brasil, é bom lembrar que o intuito de se modificar o sistema de direitos de TV atende à lógica esportiva, preservando a competitividade e respeitando o mérito técnico. Ou seja, uma equipe que faz um bom campeonato merece ser premiada por isso. Hoje, quando um clube grande cai para a segunda divisão, como aconteceu com o Botafogo-RJ em 2014, por exemplo, ele mantém sua cota de TV, recebendo o mesmo que ganhava na divisão principal.
Direitos de TV, uma questão crucial
Mas se a questão dos direitos de transmissão de TV é tão importante para o futebol brasileiro – afinal, foram responsáveis por receitas de R$ 1,3 bilhão para os clubes em 2014 – por que ela é tão pouco discutida e recebe quase nenhuma atenção da mídia tradicional? “Isso acontece porque, na verdade, os maiores prejudicados estão fora do eixo Rio-SP. Infelizmente, ainda temos essa análise muito centralizada nos clubes dessa região, e como os maiores prejudicados estão fora dela, acabaram sendo negligenciados, sem poder competir em pé de igualdade. Seria o caso de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, por exemplo, começarem a reivindicar com maior ênfase essa questão”, sustenta Leite Jr..
E se a curto prazo ainda não houve uma “espanholização”, com dois clubes, Corinthians e Flamengo, dominando o cenário nacional e com equipes de menor porte chegando em algumas ocasiões entre os primeiros (embora nunca disputando o título brasileiro), o panorama pode ser outro a médio prazo. “Flamengo e Corinthians não são dirigidos da melhor forma possível, se fossem, estariam bem acima dos outros clubes. Como são os três primeiros anos desse modelo de negociações individuais, ainda é muito cedo, mas em seis anos já vai se criar um fosso. O risco existe, se forem bem geridos, vai haver esse aprofundamento”, acredita o jornalista.
O modelo atual também consegue acobertar más gestões. Além de assegurar a times grandes rebaixados que recebam a mesma cota na segunda divisão, pune aqueles que buscam ser mais eficientes, pois lidar com orçamentos muito menores que os de seus concorrentes sem malabarismos financeiros é algo virtualmente impossível. “O Goiás está com problemas porque estabeleceu um teto salarial para seus atletas e hoje está na zona do rebaixamento, a tendência é que caia. Optou por ser responsável financeiramente, mas tem muitos jogadores que não querem disputar a primeira divisão com o salário oferecido. Se ele tivesse uma cota de televisão maior, poderia ter também um teto maior, e conseguiria competir com outros clubes”, diz Leite Jr..
Atualmente, tramita na Câmara o projeto de Lei 755/15, de autoria de Betinho Gomes (PSDB-PE), que altera o modelo de distribuição de direitos de TV, propondo que 50% do total seja dividido igualmente entre todos os clubes, 25% conforme a classificação no campeonato do ano anterior, e 25% proporcionalmente à média do número de jogos transmitidos pela televisão. No próximo dia 18, Emanuel Leite Jr. vai à Comissão do Esporte da Câmara dos Deputados falar sobre a proposta, que ainda não teve parecer apresentado pelo deputado Marcelo Aro (PHS-MG), relator da matéria. Discutir um novo modelo é crucial até porque, sem a negociação conjunta, os clubes de uma forma geral podem estar perdendo a oportunidade de tornar mais lucrativas (para todos) as receitas vindas dessa área, ficando ainda mais atrás em relação a outros países.
Além de tornar as competições mais disputadas, as condições mais iguais de distribuição dos recursos da televisão não puniria os clubes com maior torcida, já que bastaria a administração de recursos oriundos de outras receitas relacionadas ao próprio relacionamento com seus fãs, como programas de sócios, vendas de produtos, licenciamentos etc para garantir um montante maior que o dos seus rivais. E, obviamente, boas campanhas também assegurariam uma fatia mais generosa dos direitos de transmissão por conta do mérito técnico. No entanto, dirigentes teriam que se esforçar e se qualificar mais para isso, e não apenas fazer acordos de bastidores com uma emissora que monopoliza as transmissões. Certamente, parte da resistência para a adoção de um novo modelo passa por aí, e não pelo “amor” ao clube. Muito menos ao futebol.
Serviço
“Cotas de televisão do Campeonato Brasileiro: apartheid futebolístico e risco de espanholização”
Emanuel Leite Jr.
Para adquirir o livro, entre em contato com o autor através do e-mail: emanuel.leite.junior@gmail.com.
Há algum tempo vem se tornando recorrente o uso da expressão “espanholização” quando se fala do futebol brasileiro. Isso porque, a exemplo do país ibérico que tem dois clubes – Barcelona e Real Madrid – ganhando substancialmente mais do que os outros em termos de direitos de televisão e outras receitas, nas bandas de cá outra dupla também pode repetir a mesma receita.
Para as temporadas de 2016 a 2018, calcula-se que as duas equipes com maior torcida no Brasil, Flamengo e Corinthians, vão receber cada uma R$ 170 milhões por temporada. É muito mais do que os times que vêm a seguir, São Paulo (R$ 110 milhões), Vasco e Palmeiras (R$ 100 milhões) e Santos (R$ 80 milhões). No entanto, o problema não para aí. A diferença das doze principais equipes do país em relação às demais é também abissal, o que acaba punindo clubes que estão fora do eixo SP-RJ e, em segundo plano, de MG-RS. Mesmo com campanhas boas pontualmente, times de expressão regional que estão fora desse circuito não conseguem dar sequência e se firmar entre as equipes mais competitivas.
O que parece ser algo “natural”, na verdade é fruto de interesses individuais de dirigentes que contam muitas vezes com o apoio de torcedores, crentes de que seus times estão levando vantagem em um tipo de jogo que, no fim das contas, todos perdem. O livro Cotas de televisão do Campeonato Brasileiro: apartheid futebolístico e risco de espanholização, resultado dos estudos do jornalista e bacharel em Direito Emanuel Leite Jr. a respeito do tema, trata desse fosso que aumenta entre os clubes e aponta possíveis caminhos para alterar um cenário que compromete a isonomia e o próprio princípio básico de competição do esporte.
A obra de Leite Jr é resultado da elaboração de uma monografia para a conclusão do curso de bacharelado em Ciências Jurídicas na Universidade Católica de Pernambuco. Contudo, quando o trabalho foi concluído, o cenário dos contratos de direitos de televisão no futebol brasileiro era outro. Isso porque existia o Clube dos Treze, associação que reunia alguns dos principais clubes do país e que consolidava um grupo restrito onde alguns ganhavam muito e quem estava de fora ficava a ver navios. A essa altura já se consolidava o que o autor chama de “apartheid futebolístico”, que caminharia para o risco da “espanholização” nas negociações para o triênio 2012-2014. Na ocasião, houve a implosão do Clube dos Treze, graças à ação de alguns dirigentes que contaram com a ajuda da maior interessada na cisão àquela altura, a Rede Globo. Por meio de negociações individuais, a desigualdade se aprofundou ainda mais.
Mesmo a Espanha, hoje, já modifica o seu sistema de distribuição. Até 2015, Real Madrid e Barcelona acumulavam cerca de 50% dos recursos advindos da TV, com o Valencia, terceiro colocado no ranking, recebendo três vezes menos que o duo. Para as temporadas 2016/2017, o Real Decreto-ley 5/2015, de abril deste ano, estabelece que essa divisão muda. Em seu livro, Leite Jr explica que 50% dos direitos na primeira divisão serão distribuídos de forma igualitária para todos os clubes, sendo que 25% serão calculados conforme o desempenho nos últimos cinco campeonatos nacionais (destes, 35% pela temporada mais recente, 20% pela penúltima e 15% para cada uma das três anteriores). Os outros 25% serão divididos pela média de vendas de ingressos e pacotes anuais negociados pela televisão. O modelo remete ao da Premier League, o campeonato inglês, e também tem similaridades com a Bundesliga (campeonato alemão) e o Italiano.
Antes que algum torcedor mais exaltado possa falar em “comunismo” ou algo que o valha quando se discute reduzir a desigualdade entre clubes no Brasil, é bom lembrar que o intuito de se modificar o sistema de direitos de TV atende à lógica esportiva, preservando a competitividade e respeitando o mérito técnico. Ou seja, uma equipe que faz um bom campeonato merece ser premiada por isso. Hoje, quando um clube grande cai para a segunda divisão, como aconteceu com o Botafogo-RJ em 2014, por exemplo, ele mantém sua cota de TV, recebendo o mesmo que ganhava na divisão principal.
Direitos de TV, uma questão crucial
Mas se a questão dos direitos de transmissão de TV é tão importante para o futebol brasileiro – afinal, foram responsáveis por receitas de R$ 1,3 bilhão para os clubes em 2014 – por que ela é tão pouco discutida e recebe quase nenhuma atenção da mídia tradicional? “Isso acontece porque, na verdade, os maiores prejudicados estão fora do eixo Rio-SP. Infelizmente, ainda temos essa análise muito centralizada nos clubes dessa região, e como os maiores prejudicados estão fora dela, acabaram sendo negligenciados, sem poder competir em pé de igualdade. Seria o caso de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, por exemplo, começarem a reivindicar com maior ênfase essa questão”, sustenta Leite Jr..
E se a curto prazo ainda não houve uma “espanholização”, com dois clubes, Corinthians e Flamengo, dominando o cenário nacional e com equipes de menor porte chegando em algumas ocasiões entre os primeiros (embora nunca disputando o título brasileiro), o panorama pode ser outro a médio prazo. “Flamengo e Corinthians não são dirigidos da melhor forma possível, se fossem, estariam bem acima dos outros clubes. Como são os três primeiros anos desse modelo de negociações individuais, ainda é muito cedo, mas em seis anos já vai se criar um fosso. O risco existe, se forem bem geridos, vai haver esse aprofundamento”, acredita o jornalista.
O modelo atual também consegue acobertar más gestões. Além de assegurar a times grandes rebaixados que recebam a mesma cota na segunda divisão, pune aqueles que buscam ser mais eficientes, pois lidar com orçamentos muito menores que os de seus concorrentes sem malabarismos financeiros é algo virtualmente impossível. “O Goiás está com problemas porque estabeleceu um teto salarial para seus atletas e hoje está na zona do rebaixamento, a tendência é que caia. Optou por ser responsável financeiramente, mas tem muitos jogadores que não querem disputar a primeira divisão com o salário oferecido. Se ele tivesse uma cota de televisão maior, poderia ter também um teto maior, e conseguiria competir com outros clubes”, diz Leite Jr..
Atualmente, tramita na Câmara o projeto de Lei 755/15, de autoria de Betinho Gomes (PSDB-PE), que altera o modelo de distribuição de direitos de TV, propondo que 50% do total seja dividido igualmente entre todos os clubes, 25% conforme a classificação no campeonato do ano anterior, e 25% proporcionalmente à média do número de jogos transmitidos pela televisão. No próximo dia 18, Emanuel Leite Jr. vai à Comissão do Esporte da Câmara dos Deputados falar sobre a proposta, que ainda não teve parecer apresentado pelo deputado Marcelo Aro (PHS-MG), relator da matéria. Discutir um novo modelo é crucial até porque, sem a negociação conjunta, os clubes de uma forma geral podem estar perdendo a oportunidade de tornar mais lucrativas (para todos) as receitas vindas dessa área, ficando ainda mais atrás em relação a outros países.
Além de tornar as competições mais disputadas, as condições mais iguais de distribuição dos recursos da televisão não puniria os clubes com maior torcida, já que bastaria a administração de recursos oriundos de outras receitas relacionadas ao próprio relacionamento com seus fãs, como programas de sócios, vendas de produtos, licenciamentos etc para garantir um montante maior que o dos seus rivais. E, obviamente, boas campanhas também assegurariam uma fatia mais generosa dos direitos de transmissão por conta do mérito técnico. No entanto, dirigentes teriam que se esforçar e se qualificar mais para isso, e não apenas fazer acordos de bastidores com uma emissora que monopoliza as transmissões. Certamente, parte da resistência para a adoção de um novo modelo passa por aí, e não pelo “amor” ao clube. Muito menos ao futebol.
Serviço
“Cotas de televisão do Campeonato Brasileiro: apartheid futebolístico e risco de espanholização”
Emanuel Leite Jr.
Para adquirir o livro, entre em contato com o autor através do e-mail: emanuel.leite.junior@gmail.com.
Por que a gente não...? Porque perde o emprego... nenhuma novidade pura realidade
“Chega de notícias ruins”: a sinceridade da última coluna de um apresentador da Globo.
Por Kiko Nogueira
Postado em 14 nov 2015
por : Kiko Nogueira
É certo que a Globo News está realizado o que se chama eufemisticamente de “reestruturação” — aka, demitindo. No mês passado, foi o apresentador Eduardo Grillo, que trabalhava no canal desde o início, em 1996.
Agora chegou a vez de Sidney Rezende, que integrava o estafe há 18 anos. “Ao dar a notícia de que o contrato não seria renovado, Ali Kamel, diretor de jornalismo e esporte, fez questão de enaltecer para Sidney Rezende a sua qualidade profissional e o excelente desempenho dele nos muitos anos que trabalhou para a TV Globo”, diz um comunicado oficial publicado no dia 13 (sexta).
Também é certo que a última coluna que Rezende escreveu em seu blog, datada de 12 de novembro, é intitulada “Chega de Notícias Ruins”. Poderia ser endereçada a praticamente todo o time de articulistas da Globo.
Ei-la:
Taí uma boa pergunta, cuja resposta Rezende sabe.
Postado em 14 nov 2015
por : Kiko Nogueira
É certo que a Globo News está realizado o que se chama eufemisticamente de “reestruturação” — aka, demitindo. No mês passado, foi o apresentador Eduardo Grillo, que trabalhava no canal desde o início, em 1996.
Agora chegou a vez de Sidney Rezende, que integrava o estafe há 18 anos. “Ao dar a notícia de que o contrato não seria renovado, Ali Kamel, diretor de jornalismo e esporte, fez questão de enaltecer para Sidney Rezende a sua qualidade profissional e o excelente desempenho dele nos muitos anos que trabalhou para a TV Globo”, diz um comunicado oficial publicado no dia 13 (sexta).
Também é certo que a última coluna que Rezende escreveu em seu blog, datada de 12 de novembro, é intitulada “Chega de Notícias Ruins”. Poderia ser endereçada a praticamente todo o time de articulistas da Globo.
Ei-la:
Em todos os lugares que compareço para realizar minhas palestras, eu sou questionado: “Por que vocês da imprensa só dão ‘notícia ruim’?”
O questionamento por si só, tantas vezes repetido, e em lugares tão diferentes no território nacional, já deveria ser motivo de profunda reflexão por nossa categoria. Não serve a resposta padrão de que “é o que temos para hoje”. Não é verdade. Há cinismo no jornalismo, também.
Embora achemos que isto só exista na profissão dos outros.
Os médicos se acham deuses. Nós temos certeza!
Há uma má vontade dos colegas que se especializaram em política e economia. A obsessão em ver no Governo o demônio, a materialização do mal, ou o porto da incompetência, está sufocando a sociedade e engessando o setor produtivo.
O “ministro” Delfim Netto, um dos mais bem humorados frasistas do Brasil, disse há poucas semanas que todos estamos tão focados em sermos “líquidos” que acabaremos “morrendo afogados”. Ele está certo.
Outro dia, Delfim estava com o braço na tipoia e eu perguntei: “o que houve?”. Ele respondeu: “está cada vez mais difícil defender o governo”.
Uma trupe de jornalistas parece tão certa de que o impedimento da presidente Dilma Rousseff é o único caminho possível para a redenção nacional que se esquece do nosso dever principal, que é noticiar o fato, perseguir a verdade, ser fiel ao ocorrido e refletir sobre o real e não sobre o que pode vir a ser o nosso desejo interior. Essa turma tem suas neuroses loucas e querem nos enlouquecer também.
O Governo acumula trapalhadas e elas precisam ser noticiadas na dimensão precisa. Da mesma forma que os acertos também devem ser publicados. E não são. Eles são escondidos. Para nós, jornalistas, não nos cabe juízo de valor do que seria o certo no cumprimento do dever.
Se pesquisarmos a quantidade de boçalidades escritas por jornalistas e “soluções” que quando adotadas deram errado daria para construir um monumento maior do que as pirâmides do Egito. Nós erramos. E não é pouco. Erramos muito.
Reconheço a importância dos comentaristas. Tudo bem que escrevam e digam o que pensam. Mas nem por isso devem cultivar a “má vontade” e o “ódio” como princípio do seu trabalho. Tem um grupo grande que, para ser aceito, simplesmente se inscreve na “igrejinha”, ganha carteirinha da banda de música e passa a rezar na mesma cartilha. Todos iguaizinhos.
Certa vez, um homem público disse sobre a imprensa: “será que não tem uma noticiazinha de nada que seja boa? Será que ninguém neste país fez nada de bom hoje?”. Se depender da imprensa brasileira, está muito difícil achar algo positivo. A má vontade reina na pátria.
É hora de mudar. O povo já percebeu que esta “nossa vibe” é só nossa e das forças que ganham dinheiro e querem mais poder no Brasil. Não temos compromisso com o governo anterior, com este e nem com o próximo. Temos responsabilidade diante da nação.
Nós devemos defender princípios permanentes e não transitórios.
Para não perder viagem: por que a gente não dá também notícias boas?
Taí uma boa pergunta, cuja resposta Rezende sabe.
A mídia oculta, disfarça e constrói a indiferença OU te joga no ódio que chama de amor. E modifica a realidade...
Tanto tempo já se passou e você não viu? Só... rapidamente?
A PERGUNTA CONTINUA: por que será que o BRASIL não viu essas CENAS ao VIVO ou com grande ênfase na grande mídia? É...
Posted by Os Professores do Brasil on Domingo, 19 de abril de 2015
ALCKMIN, Veja a chegada TRIUNFAL dos Professores Paulistas no Vale do Anhangabaú
A PERGUNTA CONTINUA: por que será que o BRASIL não viu essas CENAS ao VIVO ou com grande ênfase na grande mídia?É IMPORTANTÍSSIMO COMPARTILHAR (Perfil, Grupos e Páginas), CURTIR e COMENTAR.
Veja depois essa outra parte:
https://www.facebook.com/osprofessoresdobrasil/videos/1610459295861790/?type=1&theater
Posted by Os Professores do Brasil on Domingo, 19 de abril de 2015
sexta-feira, 13 de novembro de 2015
A falta de memória é culpa da imprensa
Publicação originária de 2006: Vale do Rio Doce: insânia ou negociata
23/02/2006 -
Carta Maior
Mauro Santayana
Privatização da Vale do Rio Doce: insânia ou negociata
Originalmente publicado em 23/02/2006
BRASÍLIA - Talvez devêssemos dar razão a Galileu, que desconfiava do muito saber. 'Molta saggézza' - disse o grande físico do Renascimento - 'molte volte vuol dire molta follia'. A inteligência pode enrolar-se em si mesma e se transformar em insânia. É assim que podemos entender que homens tão bem informados, conhecedores de História, excelentes calculistas, tenham causado tantos e irreparáveis danos ao povo brasileiro com a privatização dos bens nacionais. Ou acreditamos na aporia de Galileu, ou somos forçados a admitir que eles foram movidos por desprezíveis interesses pessoais, ou, pior ainda, com o ânimo da traição.
Quando o Sr. José Serra, então ministro de Planejamento do governo passado, bateu o martelo, confirmando a privatização da Cia. Vale do Rio Doce, a explicação foi surpreendente. Começavam com a Vale, a propósito, porque era o símbolo mais destacado da presença do Estado na economia nacional. Não faltaram advertências contra o ato, que revelava 'molta follia'. O ex-presidente José Sarney enviou carta ao então chefe de Governo, advertindo-o das conseqüências econômicas e políticas daquele passo. Disse mesmo Sarney que a privatização da Vale seria muito mais grave do que a também pretendida privatização da Petrobras.
A Vale do Rio Doce foi construída com imensos sacrifícios do povo, depois de vigorosa resistência, dos mineiros e do presidente Vargas, contra a Itabira Iron, de Percival Farquhar. Obtivemos os empréstimos do Eximbank para a exploração das minas do Cauê e para indenizar os acionistas ingleses da Itabira Iron, mediante os Acordos de Washington, de 1942, que nos exigiram, de contrapartida, a cessão das bases do Nordeste para as operações das forças norte-americanas e o envio de tropas brasileiras para a guerra na Europa. Ali perdemos vidas valiosas, entre elas as dos bravos pilotos do Esquadrão de Caça, dizimados em centenas de missões quase suicidas. Não investimos na Vale somente os recursos do Erário; investimos em sangue, investimos em coragem, investimos na dignidade do patriotismo.
A questão da Vale ainda não está definitivamente resolvida. A privatização da empresa foi logo contestada nos tribunais e - como tantos outros crimes de lesa-populi e lesa-patria, cometidos nos últimos anos - algum dia os responsáveis, se a morte não os salvar antes, terão que prestar contas à Justiça.
O edital de privatização da Vale, o primeiro do Plano Nacional de Desestatização - foi divulgado em janeiro de 1997. No dia 23 de fevereiro do mesmo ano, o geólogo Francisco F.A. da Costa, ex-superintendente de Pesquisas da Vale e ex-presidente da Docegeo (primeira grande empresa de exploração mineral do Brasi), publicou, no Diário do Pará, artigo que explica por que a empresa foi escolhida como a primeira do Plano Nacional de Desestatização. Disse ele:
"A lucratividade da Vale aumentará muito no futuro próximo, devido a dois fatores: liquidação da dívida de Carajás e abertura de grandes e lucrativas minas de ouro. Este aumento de lucratividade, resultado de décadas de administração competente sob regime estatal, será mentirosamente atribuído à privatização. Economistas bisonhos louvarão as virtudes da privatização e apresentarão a Vale como exemplo. A economia deixou de ser uma ciência séria e se transformou em uma numerologia enganadora, a serviço dos interesses dominantes".
Estava nisso a chave: a Vale era a empresa que iria dar excelentes resultados logo no ano seguinte, para justificar a cantiga de que "tão logo foi privatizada, a Vale passou a dar grandes lucros". Ela iria ter os mesmos (ou até melhores) resultados empresariais, se fosse mantida como empresa estatal. E teria dado muito mais benefícios diretos para o povo brasileiro, além dos lucros obtidos nas operações. A Vale mantinha grandes projetos sociais em todo o Brasil, aplicando neles parcelas de seus resultados. Esses projetos foram reduzidos sensivelmente pela empresa, que hoje atua nesse setor como qualquer outra empresa privada.
Antes que se realizasse o leilão das ações, de propriedade da União, o ato foi contestado por várias ações populares impetradas na Justiça. O governo conseguiu que todas fossem encaminhadas para um juiz de primeira instância, de Belém do Pará, que negava as liminares, em nome de vago "interesse público". Na época, com sua conhecida e irônica arrogância, o presidente da República disse, em entrevista à televisão, que, no Brasil, "quem move ação popular é maluco, histérico ou carnavalesco". Com isso, sua excelência desmerecia o principal instrumento constitucional da cidadania contra os usurpadores de seus direitos.
O leilão foi realizado no dia 6 de maio de 1997, sub-judice. No dia 2, o ministro Demócrito Reinaldo, tão gritante era o absurdo, não se conteve na conhecida discrição dos magistrados, disse à Folha de S. Paulo na oportunidade do julgamento do conflito de competência de que foi relator, junto ao STJ:
"Esse leilão poderá até ser feito e uma ação dessa ser julgada contrária ao leilão. É até perigoso com um mundo de ações dessas se fazer o leilão. Ninguém pode saber quais serão as conseqüências. Eu não vou julgar o mérito, vou dizer qual é o juiz competente para julgar. As ações vão ter a tramitação regular. Isto é, daqui a quatro, cinco anos". Já se passaram oito. Mas, conforme súmula 473 (ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial), não houve ainda o ato jurídico perfeito.
Os argumentos contra a privatização foram, e continuam sendo, singelos. O primeiro deles diz respeito ao edital de licitação, que omitia informações importantes quanto ao potencial econômico da empresa - fornecidas, evidentemente, a alguns privilegiados. Houve clara má-fé dos avaliadores, que subestimaram brutalmente o valor da empresa. Sendo viciado o edital, tornou-se viciado, em conseqüência, o leilão. E houve mais: empresas que haviam participado da avaliação, em que tudo indica negociata, tornaram-se depois associadas na composição acionária da empresa privatizada.
INDISPONIBILIDADE DOS LUCROS
O advogado Eloá dos Santos Cruz entrou com recente Providência Cautelar, junto à desembargadora Selene Maria de Almeida - no processo em que a 5ª. Turma do TRJ da 1ª Região determinou o reexame da alienação das ações da Vale, de propriedade do Tesouro - solicitando que sejam retidos, em depósito judicial, na Caixa Econômica Federal, todos dividendos relativos ao capital dos controladores da empresa, ressalvados os direitos dos demais acionistas, até o julgamento final do mérito que, tendo em vista o sistema judiciário brasileiro, poderá demorar ainda muitos anos. Mas o objetivo final de todas as ações populares em trâmite judicial é a nulidade plena da venda da empresa.
Os neoliberais sempre argumentam com os excepcionais lucros obtidos pela Vale - mas, conforme confirmam todos os que a conhecem bem, eles não são resultados destes últimos oito anos, e sim dos 55 anos precedentes, em que esteve sob controle da União. Como apontou a desembargadora-relatora, "dada a diversidade dos aspectos a serem enfrentados, é possível que uma equipe multidisciplinar se faça necessária para elaboração do laudo. É relevante, insisto, que os fatos controvertidos no que concerne a avaliação sejam investigados e os valores mensurados, de forma a permitir ao juízo 'a quo' e, depois, ao juízo colegiado a emissão de um pronunciamento sobre o mérito, no que tange ao preço da CVRD. O Brasil espera por isso. A Companhia Vale do Rio Doce investiu, nos 16 anos que antecederam a sua privatização, US$ 16 milhões em infra-estrutura, creches, escolas, hospitais, rodovias, distritos industriais e recuperação do patrimônio histórico.
Tudo isso deve acabar com a privatização, pois a nova empresa só cumprirá com os projetos já aprovados. Os brasileiros têm o direito de saber se a avaliação foi correta, e se não foi, a diferença deve ser paga pelos réus nesta ação popular. Num país em que milhares de crianças à noite dormem com fome, não pode o seu patrimônio ser alienado em negócios escandalosos e desastrados".
Outra violação da lei, nesse leilão, foi o da transferência de milhões de hectares à propriedade dos acionistas estrangeiros da empresa, mediante a venda no Exterior dos títulos da Vale, quando a legislação impede a alienação de mais de dois mil hectares a alienígenas (e que alienígenas!) sem a anuência das Forças Armadas e do Senado da República.
A GRANDE BOMBA
De acordo com a lei, a União, citada como ré nos processos correntes, poderá tornar-se co-autora. Tendo a privatização ocorrida no governo passado, o atual governo tem todo o direito de, na representação do interesse nacional, intervir no feito, a fim de recuperar os ativos mal alienados.
Nesse caso, o governo poderia somar-se aos cidadãos, processando as pessoas físicas e jurídicas responsáveis pela desastrosa privatização. Conforme a petição do advogado Eloá dos Santos Cruz (excluindo-se a União), são as seguintes pessoas e empresas que se mancomunaram na alienação do controle acionário da Vale do Rio Doce:
Fernando Henrique Cardoso; BNDES; Luis Carlos Mendonça de Barros; José Pio Borges; Thereza Cristina Nogueira de Aquino; Paulo Libergotti; Projeta, Consultoria Financeira S/C Ltda.; Merril Lynch, Pierce, Fenner & Smith Incorporated; NM Rothschild & Sons Limited; Bradesco S/A; KPMG Peat, Marwick Consultores; Banco Graphus S.A.; Engevix Engenharia SC Ltda.; Benjamin Steinbruch, Mário Teixeira; Cia. Siderúrgica Nacional; Cia. Vale do Rio Doce.
Enfim, não cabe o argumento do "fato consumado". Conforme o velho axioma, "que pereça o mundo, mas se faça justiça". E não há direito adquirido contra o patrimônio público.
*Mauro Santayana, jornalista, escreve semanalmente para a Carta Maior.
23/02/2006 -
Carta Maior
Mauro Santayana
Privatização da Vale do Rio Doce: insânia ou negociata
Originalmente publicado em 23/02/2006
BRASÍLIA - Talvez devêssemos dar razão a Galileu, que desconfiava do muito saber. 'Molta saggézza' - disse o grande físico do Renascimento - 'molte volte vuol dire molta follia'. A inteligência pode enrolar-se em si mesma e se transformar em insânia. É assim que podemos entender que homens tão bem informados, conhecedores de História, excelentes calculistas, tenham causado tantos e irreparáveis danos ao povo brasileiro com a privatização dos bens nacionais. Ou acreditamos na aporia de Galileu, ou somos forçados a admitir que eles foram movidos por desprezíveis interesses pessoais, ou, pior ainda, com o ânimo da traição.
Quando o Sr. José Serra, então ministro de Planejamento do governo passado, bateu o martelo, confirmando a privatização da Cia. Vale do Rio Doce, a explicação foi surpreendente. Começavam com a Vale, a propósito, porque era o símbolo mais destacado da presença do Estado na economia nacional. Não faltaram advertências contra o ato, que revelava 'molta follia'. O ex-presidente José Sarney enviou carta ao então chefe de Governo, advertindo-o das conseqüências econômicas e políticas daquele passo. Disse mesmo Sarney que a privatização da Vale seria muito mais grave do que a também pretendida privatização da Petrobras.
A Vale do Rio Doce foi construída com imensos sacrifícios do povo, depois de vigorosa resistência, dos mineiros e do presidente Vargas, contra a Itabira Iron, de Percival Farquhar. Obtivemos os empréstimos do Eximbank para a exploração das minas do Cauê e para indenizar os acionistas ingleses da Itabira Iron, mediante os Acordos de Washington, de 1942, que nos exigiram, de contrapartida, a cessão das bases do Nordeste para as operações das forças norte-americanas e o envio de tropas brasileiras para a guerra na Europa. Ali perdemos vidas valiosas, entre elas as dos bravos pilotos do Esquadrão de Caça, dizimados em centenas de missões quase suicidas. Não investimos na Vale somente os recursos do Erário; investimos em sangue, investimos em coragem, investimos na dignidade do patriotismo.
A questão da Vale ainda não está definitivamente resolvida. A privatização da empresa foi logo contestada nos tribunais e - como tantos outros crimes de lesa-populi e lesa-patria, cometidos nos últimos anos - algum dia os responsáveis, se a morte não os salvar antes, terão que prestar contas à Justiça.
O edital de privatização da Vale, o primeiro do Plano Nacional de Desestatização - foi divulgado em janeiro de 1997. No dia 23 de fevereiro do mesmo ano, o geólogo Francisco F.A. da Costa, ex-superintendente de Pesquisas da Vale e ex-presidente da Docegeo (primeira grande empresa de exploração mineral do Brasi), publicou, no Diário do Pará, artigo que explica por que a empresa foi escolhida como a primeira do Plano Nacional de Desestatização. Disse ele:
"A lucratividade da Vale aumentará muito no futuro próximo, devido a dois fatores: liquidação da dívida de Carajás e abertura de grandes e lucrativas minas de ouro. Este aumento de lucratividade, resultado de décadas de administração competente sob regime estatal, será mentirosamente atribuído à privatização. Economistas bisonhos louvarão as virtudes da privatização e apresentarão a Vale como exemplo. A economia deixou de ser uma ciência séria e se transformou em uma numerologia enganadora, a serviço dos interesses dominantes".
Estava nisso a chave: a Vale era a empresa que iria dar excelentes resultados logo no ano seguinte, para justificar a cantiga de que "tão logo foi privatizada, a Vale passou a dar grandes lucros". Ela iria ter os mesmos (ou até melhores) resultados empresariais, se fosse mantida como empresa estatal. E teria dado muito mais benefícios diretos para o povo brasileiro, além dos lucros obtidos nas operações. A Vale mantinha grandes projetos sociais em todo o Brasil, aplicando neles parcelas de seus resultados. Esses projetos foram reduzidos sensivelmente pela empresa, que hoje atua nesse setor como qualquer outra empresa privada.
Antes que se realizasse o leilão das ações, de propriedade da União, o ato foi contestado por várias ações populares impetradas na Justiça. O governo conseguiu que todas fossem encaminhadas para um juiz de primeira instância, de Belém do Pará, que negava as liminares, em nome de vago "interesse público". Na época, com sua conhecida e irônica arrogância, o presidente da República disse, em entrevista à televisão, que, no Brasil, "quem move ação popular é maluco, histérico ou carnavalesco". Com isso, sua excelência desmerecia o principal instrumento constitucional da cidadania contra os usurpadores de seus direitos.
O leilão foi realizado no dia 6 de maio de 1997, sub-judice. No dia 2, o ministro Demócrito Reinaldo, tão gritante era o absurdo, não se conteve na conhecida discrição dos magistrados, disse à Folha de S. Paulo na oportunidade do julgamento do conflito de competência de que foi relator, junto ao STJ:
"Esse leilão poderá até ser feito e uma ação dessa ser julgada contrária ao leilão. É até perigoso com um mundo de ações dessas se fazer o leilão. Ninguém pode saber quais serão as conseqüências. Eu não vou julgar o mérito, vou dizer qual é o juiz competente para julgar. As ações vão ter a tramitação regular. Isto é, daqui a quatro, cinco anos". Já se passaram oito. Mas, conforme súmula 473 (ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial), não houve ainda o ato jurídico perfeito.
Os argumentos contra a privatização foram, e continuam sendo, singelos. O primeiro deles diz respeito ao edital de licitação, que omitia informações importantes quanto ao potencial econômico da empresa - fornecidas, evidentemente, a alguns privilegiados. Houve clara má-fé dos avaliadores, que subestimaram brutalmente o valor da empresa. Sendo viciado o edital, tornou-se viciado, em conseqüência, o leilão. E houve mais: empresas que haviam participado da avaliação, em que tudo indica negociata, tornaram-se depois associadas na composição acionária da empresa privatizada.
INDISPONIBILIDADE DOS LUCROS
O advogado Eloá dos Santos Cruz entrou com recente Providência Cautelar, junto à desembargadora Selene Maria de Almeida - no processo em que a 5ª. Turma do TRJ da 1ª Região determinou o reexame da alienação das ações da Vale, de propriedade do Tesouro - solicitando que sejam retidos, em depósito judicial, na Caixa Econômica Federal, todos dividendos relativos ao capital dos controladores da empresa, ressalvados os direitos dos demais acionistas, até o julgamento final do mérito que, tendo em vista o sistema judiciário brasileiro, poderá demorar ainda muitos anos. Mas o objetivo final de todas as ações populares em trâmite judicial é a nulidade plena da venda da empresa.
Os neoliberais sempre argumentam com os excepcionais lucros obtidos pela Vale - mas, conforme confirmam todos os que a conhecem bem, eles não são resultados destes últimos oito anos, e sim dos 55 anos precedentes, em que esteve sob controle da União. Como apontou a desembargadora-relatora, "dada a diversidade dos aspectos a serem enfrentados, é possível que uma equipe multidisciplinar se faça necessária para elaboração do laudo. É relevante, insisto, que os fatos controvertidos no que concerne a avaliação sejam investigados e os valores mensurados, de forma a permitir ao juízo 'a quo' e, depois, ao juízo colegiado a emissão de um pronunciamento sobre o mérito, no que tange ao preço da CVRD. O Brasil espera por isso. A Companhia Vale do Rio Doce investiu, nos 16 anos que antecederam a sua privatização, US$ 16 milhões em infra-estrutura, creches, escolas, hospitais, rodovias, distritos industriais e recuperação do patrimônio histórico.
Tudo isso deve acabar com a privatização, pois a nova empresa só cumprirá com os projetos já aprovados. Os brasileiros têm o direito de saber se a avaliação foi correta, e se não foi, a diferença deve ser paga pelos réus nesta ação popular. Num país em que milhares de crianças à noite dormem com fome, não pode o seu patrimônio ser alienado em negócios escandalosos e desastrados".
Outra violação da lei, nesse leilão, foi o da transferência de milhões de hectares à propriedade dos acionistas estrangeiros da empresa, mediante a venda no Exterior dos títulos da Vale, quando a legislação impede a alienação de mais de dois mil hectares a alienígenas (e que alienígenas!) sem a anuência das Forças Armadas e do Senado da República.
A GRANDE BOMBA
De acordo com a lei, a União, citada como ré nos processos correntes, poderá tornar-se co-autora. Tendo a privatização ocorrida no governo passado, o atual governo tem todo o direito de, na representação do interesse nacional, intervir no feito, a fim de recuperar os ativos mal alienados.
Nesse caso, o governo poderia somar-se aos cidadãos, processando as pessoas físicas e jurídicas responsáveis pela desastrosa privatização. Conforme a petição do advogado Eloá dos Santos Cruz (excluindo-se a União), são as seguintes pessoas e empresas que se mancomunaram na alienação do controle acionário da Vale do Rio Doce:
Fernando Henrique Cardoso; BNDES; Luis Carlos Mendonça de Barros; José Pio Borges; Thereza Cristina Nogueira de Aquino; Paulo Libergotti; Projeta, Consultoria Financeira S/C Ltda.; Merril Lynch, Pierce, Fenner & Smith Incorporated; NM Rothschild & Sons Limited; Bradesco S/A; KPMG Peat, Marwick Consultores; Banco Graphus S.A.; Engevix Engenharia SC Ltda.; Benjamin Steinbruch, Mário Teixeira; Cia. Siderúrgica Nacional; Cia. Vale do Rio Doce.
Enfim, não cabe o argumento do "fato consumado". Conforme o velho axioma, "que pereça o mundo, mas se faça justiça". E não há direito adquirido contra o patrimônio público.
*Mauro Santayana, jornalista, escreve semanalmente para a Carta Maior.
domingo, 8 de novembro de 2015
eu já falei vixinho, vosmecê credita nas mentira da grobobo porque quer... foi ensinado assim, como se ensina pitbull
O arrependimento “slow-motion” de Lauro Jardim. Ofensa hoje, desculpas em um mês
POR FERNANDO BRITO · 08/11/2015
A coluna de hoje de Lauro Jardim um ato de arrependimento com aquele inconfundível sabor de “tomei processo e vou perder”.
É o pedido de desculpas por ter dito, em sua estréia no jornal dos Marinho que o delator Fernando Baiano Soares disse ter pago despesas do filho de Lula, Fábio.
Jardim sabia faz tempo que isso era uma mentira, mas só o corrigiu agora, passados 28 dias.
Se foi aconselhado a agir assim pelos advogados é algo que não elite a falta de espontaneidade que, de fato, está contida num pedido de desculpas sinceras.
Aliás, é evidente que os advogados da empresa entraram no circuito, porque orientaram a dar uma chamada de primeira página do tamanho prudente para que não fosse obrigado a fazer o desmentido com o mesmo escandaloso destaque que deu à mentira.
Os 28 dias do ciclo de arrependimento do jornal e do jornalista mostram-lhes a insinceridade.
São lágrimas de crocodilo, nada mais.
Aliás, para O Globo publicar a verdade, em relação a Lula, só obrigado ou na iminência de ser obrigado pela Justiça.
sábado, 7 de novembro de 2015
virgi vixinho, uma coisa é uma coisa ou não é?
O dinheiro da Odebrecht para FHC era limpo e o do Instituto Lula, sujo?
POR FERNANDO BRITO · 07/11/2015
A revelação de que, ao longo de 13 meses, o Instituto Fernando Henrique Cardoso recebeu quase R$ 1 milhão em “mesadas” da Construtora Odebrecht – aparentemente sem a contraprestação de serviços – é destas coisas de deixar a oposição com um elefante entalando a goela.
Como, agora, acusar Lula de lobista da empreiteira?
Sem contar a história da “palestra que não podia ser palestra” negociada pela Braskem com FHC através de e-mails. Como a Braskem, além de grande cliente da Petrobras é 49% pertencente à petroleira e, portanto, seu dinheiro também é metade Petrobras.
Será que algum procurador vai chamar Fernando Henrique para depor e justificar o recebimento desta bolada, como fizeram a Lula?
Será que alguém acredita que a doação nada tem a ver com “política”, mas que se deve a algumas aulas particulares dadas pelo ex-presidente tucano aos executivos, do tipo “Curso Rápido de Como Falir um País? Ou um “Guia Prático para Comprar Patrimônio Público na Bacia das Almas”?
O castigo à soberba e à hipocrisia do “Lorde” veio a cavalo.
Vai ter de sustentar que o que ele recebia era “cheiroso” e o pago ao Instituto Lula por palestras, com nota fiscal e declarado era “sujo”.
Aliás, será que FHC registrou os valores da mesma forma?
Fernando Henrique teve todas as oportunidades de ser claro. Mas em abril deste ano desconversou e saiu pela tangente ao responder a uma pergunta de empreiteiras ajudavam a bancar seu instituto:
“Pode ser que tenha recurso aqui, não sei. Muita gente deu recurso. Mas aqui o recurso é para fazer o que estamos fazendo. Não tem nenhuma relação com política, com partido, nada”, afirmou o ex-presidente, depois de ser questionado se o Instituto FHC recebeu doações das empreiteiras que estão sob investigação da Lava-Jato”, disse ele ao Valor Econômico.
Convenhamos que R$ 975 mil reais em um ano não é uma quantia “esquecível”.
A não ser que FHC esteja criando uma nova versão de sua famosa frase: “esqueçam o que recebi”…
segunda-feira, 2 de novembro de 2015
viva pra sociedade gaúcha... caídas no chão apanhavam com cacetetes e chutes
Feira feminista acaba com violência policial
Foto divulgada pela organização da Flifepoa
PATRICIA MARINI
Com uma violência inesperada, a polícia chegou e acabou com a 1a Feira do Livro Feminista de Porto Alegre, que começou dia 30 de outubro para terminar hoje.
Um casal da faixa dos 60 anos de idade desceu do prédio onde mora e começou a discutir com o grupo que estava na Praça João Paulo I, na rua Jerônimo de Ornellas, no bairro Santana, local do evento. O casal acabou apanhando também.
Depois de um dia de debates e oficinas, algumas mulheres continuavam por ali, numa roda de música. Já passava das 11 horas da noite. Segundo várias das presentes, não houve qualquer tentativa de diálogo.
Os relatos dão conta de que chegaram ao mesmo tempo três viaturas da Brigada Militar, das quais os policiais, todos homens, desembarcaram já apontando as armas e empurrando as integrantes do grupo. Questionados, responderam que um morador ligou reclamando de “uivos e tambor”.
Uma moradora do bairro comentou que, quando chamada, a Brigada normalmente demora a aparecer e a alegação dos brigadianos é que existe apenas uma viatura para a ronda preventiva de cinco bairros, do Moinhos de Vento a Santana.
Depois de esvaziar a praça, os policiais ali permaneceram por algum tempo, “festejando” o feito às gargalhadas.
Antecedeu o fato a presença de um homem que passou pela Feira com uma atitude claramente provocativa, usando uma camiseta com os dizeres “Sou machista sim”. A organização do evento diz conhecer a identidade dele, que trabalharia como segurança no shopping Praia de Belas.
A reportagem tentou contato por telefone com o comando de policiamento da capital e com o tenente de plantão do setor responsável pelo despacho de viaturas, mas os quatro números de telefone informados, pela internet e pelo 190, dão sinal de ocupado.
A primeira reação das feministas foi relatar o episódio e lançar um pedido de solidariedade na página do evento na internet. Leia a íntegra:
URGENTE! Pedido de solidariedade – Agressão policial durante a FLIFEA
Desde o início da FLIFEA sofremos perseguições e agressões machistas e fascistas, com ameaças, provocações e presenças hostis, que foram constatadas e enfrentadas em cada momento. Mas o que aconteceu nesta noite de domingo (01/11/15) merece uma denúncia específica para apontar a violência estatal que expressa a misoginia institucional que violenta mulheres sistematicamente.
Na noite de domingo estava acontecendo um ensaio artístico, com a presença de em torno de 20 mulheres, e uma viatura chegou com dois policiais que vieram supostamente devido ao barulho. Eles filmaram e intimidaram as mulheres presentes que estavam falando com eles, o que gerou reações de proteção entre as mulheres, como se organizar para ir embora e filmar a situação. Em seguida chegaram outras viaturas com mais policiais que foram extremamente agressivos e marcadamente racista desde o início e tentaram deter uma de nós de maneira violenta, o que desencadeou uma série de agressões físicas por parte da polícia das quais nove mulheres ficaram feridas, sendo que quatro gravemente e precisaram de atendimento médico.
Muitas agressões aconteceram de maneira simultânea, havendo inclusive policiais que sacaram armas de fogo – um deles sacou uma arma e ameaçou várias de nós dizendo “eu vou queimar você”. Entre as ameaçadas nessa situação, uma das mulheres inclusive avisou que estava grávida, o que não foi relevante para os policiais. Dois moradores que estavam na praça no momento do ocorrido também foram agredido com cacetetes pela polícia. As mulheres que estavam com celulares foram alvo específico de agressões, e dois celulares foram roubados pelos policiais. Algumas das mulheres que tentavam fugir eram perseguidas e derrubadas e não conseguiam sair das agressões dos policiais, caídas no chão apanhavam com cacetetes e chutes, enquanto outras voltavam pra colocar seus corpos como escudos para tentar protegê-las e tirá-las dali. Essa cena se repetiu sucessivamente, e em meio a espancamentos com cacetetes as mulheres conseguiram chegar até as proximidades do Hospital de Clínicas, quando os policiais finalmente dispersaram.
PATRICIA MARINI
Com uma violência inesperada, a polícia chegou e acabou com a 1a Feira do Livro Feminista de Porto Alegre, que começou dia 30 de outubro para terminar hoje.
Um casal da faixa dos 60 anos de idade desceu do prédio onde mora e começou a discutir com o grupo que estava na Praça João Paulo I, na rua Jerônimo de Ornellas, no bairro Santana, local do evento. O casal acabou apanhando também.
Depois de um dia de debates e oficinas, algumas mulheres continuavam por ali, numa roda de música. Já passava das 11 horas da noite. Segundo várias das presentes, não houve qualquer tentativa de diálogo.
Os relatos dão conta de que chegaram ao mesmo tempo três viaturas da Brigada Militar, das quais os policiais, todos homens, desembarcaram já apontando as armas e empurrando as integrantes do grupo. Questionados, responderam que um morador ligou reclamando de “uivos e tambor”.
Uma moradora do bairro comentou que, quando chamada, a Brigada normalmente demora a aparecer e a alegação dos brigadianos é que existe apenas uma viatura para a ronda preventiva de cinco bairros, do Moinhos de Vento a Santana.
Depois de esvaziar a praça, os policiais ali permaneceram por algum tempo, “festejando” o feito às gargalhadas.
Antecedeu o fato a presença de um homem que passou pela Feira com uma atitude claramente provocativa, usando uma camiseta com os dizeres “Sou machista sim”. A organização do evento diz conhecer a identidade dele, que trabalharia como segurança no shopping Praia de Belas.
A reportagem tentou contato por telefone com o comando de policiamento da capital e com o tenente de plantão do setor responsável pelo despacho de viaturas, mas os quatro números de telefone informados, pela internet e pelo 190, dão sinal de ocupado.
A primeira reação das feministas foi relatar o episódio e lançar um pedido de solidariedade na página do evento na internet. Leia a íntegra:
URGENTE! Pedido de solidariedade – Agressão policial durante a FLIFEA
Desde o início da FLIFEA sofremos perseguições e agressões machistas e fascistas, com ameaças, provocações e presenças hostis, que foram constatadas e enfrentadas em cada momento. Mas o que aconteceu nesta noite de domingo (01/11/15) merece uma denúncia específica para apontar a violência estatal que expressa a misoginia institucional que violenta mulheres sistematicamente.
Na noite de domingo estava acontecendo um ensaio artístico, com a presença de em torno de 20 mulheres, e uma viatura chegou com dois policiais que vieram supostamente devido ao barulho. Eles filmaram e intimidaram as mulheres presentes que estavam falando com eles, o que gerou reações de proteção entre as mulheres, como se organizar para ir embora e filmar a situação. Em seguida chegaram outras viaturas com mais policiais que foram extremamente agressivos e marcadamente racista desde o início e tentaram deter uma de nós de maneira violenta, o que desencadeou uma série de agressões físicas por parte da polícia das quais nove mulheres ficaram feridas, sendo que quatro gravemente e precisaram de atendimento médico.
Muitas agressões aconteceram de maneira simultânea, havendo inclusive policiais que sacaram armas de fogo – um deles sacou uma arma e ameaçou várias de nós dizendo “eu vou queimar você”. Entre as ameaçadas nessa situação, uma das mulheres inclusive avisou que estava grávida, o que não foi relevante para os policiais. Dois moradores que estavam na praça no momento do ocorrido também foram agredido com cacetetes pela polícia. As mulheres que estavam com celulares foram alvo específico de agressões, e dois celulares foram roubados pelos policiais. Algumas das mulheres que tentavam fugir eram perseguidas e derrubadas e não conseguiam sair das agressões dos policiais, caídas no chão apanhavam com cacetetes e chutes, enquanto outras voltavam pra colocar seus corpos como escudos para tentar protegê-las e tirá-las dali. Essa cena se repetiu sucessivamente, e em meio a espancamentos com cacetetes as mulheres conseguiram chegar até as proximidades do Hospital de Clínicas, quando os policiais finalmente dispersaram.
Em nenhum momento companheiras ficaram para trás, conseguimos nos reunir em segurança para escrever este relato e para chamar a solidariedade de todas as pessoas que possam nos apoiar neste momento. A feira está programada para continuar suas atividades na segunda feira (02/11/15), no mesmo local onde ocorreram essas agressões. Considerando que mulheres chegarão desavisadas do ocorrido, temos que nos fazer presentes e precisaremos de todo o apoio possível. Começaremos o dia com uma roda de conversa sobre essa situação. Precisamos da presença da maior quantidade de pessoas possível para garantir a continuidade da feira nesse último dia. É assim que a gente revida, não nos calando e resistindo juntas não apenas na disputa pela rua e o espaço público mas também contra um sistema que não admite a auto-organização de mulheres e que se sente ameaçado pela nossa existência insubmissa. Foi escancarado o acréscimo de ódio que a misoginia teve nesse episódio e sentimos que isso precisa ser enfrentado pela nossa sobrevivência, por todas nós que vivemos na guerra desse mundo contra as mulheres.
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