Depoimento de violência #FimdaViolenciaContraMulher
O blog do mauro reproduz um depoimento de violência.
Aparentemente, olhos naturalizados com as ações irrascíveis de força estúpida e bruta na televisão, não veem violência.
Constrangimento moral e humilhação não é violência?
Somos andando
Recebi esse depoimento do pessoal que está mais ativo na campanha pelo Fim da Violência Contra a Mulher. É o relato de uma mulher que sofreu violência do ex-namorado. O nome dela, evidentemente, é fictício.
Com vergonha, admito meu preconceito. Quando li, achei um depoimento meio fraco. Não tinha violência física, não era dos casos mais graves. Aí saí da observação simples de um caso estranho a mim e me coloquei no lugar de Lua. Senti o inferno que virou sua vida. Imaginei seu cotidiano, a fuga diária de um maluco que passava o dia, todos os dias, tentando humilhá-la. As mudanças na vida impostas por um fator externo que ela não controlava, a desestruturação. Com que direito ele interferia dessa forma na sua felicidade?
Nome: Lua
Porto Alegre, RS
Funcionária Pública
51 anos
curso superior incompleto
casada
1 filha
O agressor foi um ex namorado de 3 anos. Nunca dependi dele emocionalmente. Morávamos cada um em sua casa.
Relato da violência
Após eu ter terminado o namoro passou a me constranger publicamente, seguir e me perseguir em todos os locais onde eu estava. Ele chava que eu não teria coragem de denunciá-lo e que teria medo dele. Num só dia me mandou mais de 30 torpedos e fez mais de 50 ligações para o meu celular. Foi quando fiz a primeira denúncia. Todas as mensagems eram de xingamentos – puta, vagabunda, fracassada, e por aí eram todos. Acabei trocando de celular por causa disso.
Aí ele começou a ligar pra minha casa, insistentemente. Meu telefone passava o tempo todo fora do gancho. Até que uma noite foi até minha casa e tentou entrar. Não abri a porta e chamei a polícia. Ele acabou indo embora, mas publicou meu telefone num site pornô e vários tarados ficaram ligando pra minha casa. Na época minha filha tinha 12 anos.
Troquei também o telefone de casa e fiz nova denúncia 15 dias depois, quando ele contra-atacou também pela internet me ameaçando.
Situação do processo
Na época não tinha Maria da Penha, mas consegui denunciá-lo na Delegacia da Mulher e na cidade de Viamão, onde ele trabalhava na época na Prefeitura. Ele acabou sendo demitido e eu o denunciei por calúnia e difamação, perturbação do sossego e ameaças de violência.
Houve uma audiência (constrangedora) em que ele foi condenado a ficar longe de mim e não se aproximar.
Mas, não satisfeito com tudo isso, ele se matriculou na mesma faculdade que eu, na mesma turma. Quando eu soube, desisti da minha faculdade.
Opinião da vítima sobre o atendimento recebido
Tive o melhor atendimento das amigas que faziam uma rede de solidariedade e me avisavam quando ele aparecia.
A delegacia me fazia sentir que eu era uma idiota, pois sempre me perguntavam: “mas ele te bateu?”, “te ameaçou de morte?”. O juiz disse que ele se afastasse “20m” – foi ridículo.
Meu desejo nunca foi de vingança, mas que ele parasse.
Isso fez com que eu passasse a desconfiar de todos os caras que apareciam. Só voltei a ter um relacionamento estável dois anos depois. E hoje vivo uma vida plena de respeito mútuo, valorização e amor, pois encontrei uma pessoa que jamais faria qualquer violência contra mim.
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