Dilma não será vítima de preconceito como Lula
Eduardo Guimarães
Da leitura dos primeiros editoriais pós segundo turno dos três jornalões que fazem a cabeça da direita brasileira – Folha de São Paulo, O Globo e O Estado de São Paulo – é possível fazer uma suposição digerível por conta de sua verossimilhança intrínseca e até pela ditadura dos fatos: Dilma Rousseff não sofrerá o preconceito de classe que Lula sofreu desde sempre.
Filha de europeus, educada em escola da elite branca, ela mesma de aparência nórdica, Dilma vem recebendo ao menos o benefício da dúvida que a Lula jamais foi concedido, tendo prevalecido contra ele, nesses setores da sociedade, sempre a suposição de que não seria capaz de enfrentar os desafios que lhe seriam apresentados.
Além das questões subjetivas, os três editoriais revelam maior “conforto” com uma presidente com diploma de curso superior e que articula os verbos, os singulares e os plurais dentro da norma culta. Os vícios de linguagem de Lula jamais lhe foram perdoados, tendo estado, por incrível que possa parecer, na base da desqualificação reiterada de suas idéias.
O sotaque que varia entre o paulistês e o carioquês, com pronunciação das sílabas em suas completudes, torna a linguagem de Dilma mais palatável aos ouvidos sensíveis da elite branca do “Sul Maravilha”.
Não mais a voz rouca das ruas que a voz rouca de Lula imita tão bem; não mais o seqüestro de alguns esses das frases no plural; não mais as metáforas futebolísticas que tanto irritaram os barões das imprensas paulista e carioca; não mais a espontaneidade e o linguajar “desbocado”; não mais o gosto popularesco justamente no centro do poder, até então ocupado pelo pedantismo intelectualóide.
O editorial da Folha publicado ontem e os do Globo e do Estadão publicados hoje aludem, em bloco, a “sinais” positivos que Dilma estaria dando ainda que seja exatamente a mesma mulher que antes de se eleger esses veículos acusaram de tudo e mais um pouco.
É dispensável reproduzir os editoriais porque a súbita condescendência deles com a próxima presidente não decorre das causas que alegam e, sim, do fato de que Dilma, antes inaceitável, converteu-se, agora, em Dilma a inevitável, quem, como bônus, não esfregará diariamente na cara da elite que um filho do povo também pôde chegar lá.
Tanto melhor, se assim for. O pior não é o quanto a direita midiática atrapalhou o país durante os últimos oito anos e sim tudo ter decorrido de pura pirraça, pois nunca os extratos superiores da sociedade ganharam tanto quanto vêm ganhando durante o governo Lula. Que arrumem quantas desculpas quiserem para agir de forma menos insana.
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