Dama da Faxina foi
para a queda de braço
O Conversa Afiada reproduz trechos do excelente ensaio (o Oráculo de Delfos é fã dele) de Marcos Nobre, no Estadão, pág. J3.
Diz o subtítulo:
“… em lugar de contornar os vetos encastelados no sistema político, ela os confronta.”
…
O que Dilma está fazendo é administrar a sua maneira o principal elemento de continuidade entre seu governo e o de Lula, que se poderia chamar de “pacto do crescimento”. Lula montou um amplíssimo pacto fundado em três elementos fundamentais: crescimento econômico em torno de 4% ao ano, em média; inflação sob controle, ainda que em um patamar elevado para padrões internacionais; compensações sociais, com destaque para aumentos reais do salário mínimo. Além disso, Dilma tem de entregar as obras de infraestrutura necessárias à realização da Copa de 2014, bem como as demais obras do PAC.
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A lógica específica do governo Dilma está na maneira impositiva, antinegociação, pela qual realiza esse necessário ajuste para baixo do pacto do crescimento, transformando todo embate em uma queda de braço. Em um ambiente político em que não há de fato oposição e “todo mundo” quer aderir, Dilma usa o “excesso de adesão” para fazer com que os pactuadores aceitem posições mais modestas no grande acordo firmado por Lula.
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Dilma mobiliza e canaliza a seu favor a legítima ojeriza da sociedade à desfaçatez do sistema político. Como se ela própria não estivesse enfiada até o pescoço nesse mesmo sistema político que “combate de dentro”. Com isso projeta uma imagem de uma presidente que “não se mistura à baixaria”, que se mantém “a salvo da contaminação”.
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O que Dilma fez foi usar a tática da queda de braço para tentar esticar o cordão sanitário até o Ministério dos Transportes. Porque, ao contrário do governo anterior, esse ministério é agora parte vital do pacto pela qual a presidente foi eleita. Estão em sua órbita as obras de infraestrutura para a Copa e, de maneira mais ampla, as obras do próprio PAC.
…
Nos últimos 16 anos, o País realizou duas pequenas revoluções, uma econômica, outra social. Conseguiu fazer isso deixando intocado o peemedebismo de seu sistema político. Hoje, entretanto, qualquer novo avanço democrático depende de uma pequena revolução política. Como em toda democracia realmente viva, o que importa de fato é conseguir sair do pântano político em que estamos metidos puxando pelos próprios cabelos.
MARCOS NOBRE É PROFESSOR DE FILOSOFIA POLÍTICA DA UNICAMP E PESQUISADOR DO CEBRAP, ONDE COORDENA O NÚCLEO DIREITO E DEMOCRACIA. AUTOR DE CURSO LIVRE DE
TEORIA CRÍTICA (PAPIRUS EDITORA)
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Paulo Henrique Amorim
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