O fim da várzea
Adão Paiani (*)
Quando a gente pensa que já viu tudo em termos de despreparo de agentes públicos aparece mais uma.
Neste quesito, o estoque de impropriedades parece ser inesgotável, em parte motivado pela proverbial inapetência em reclamar um tratamento no mínimo decente e respeitoso ao qual, como cidadãos e contribuintes, temos direito, de parte dos órgãos públicos e de seus prepostos.
Quando uma administração esquece que sua função primordial é servir à coletividade e não ficar se utilizando de expedientes para tungar os cidadãos, é hora de mandar essa turma para casa. Nada como uma volta à planície; uma caminhada pelas ruas, como cidadão comum; para um ex-governante entender os problemas e necessidades da sua cidade, Estado e país.
A atual administração de Porto Alegre tem algumas boas idéias e intenções, mas por diversos motivos os portoalegrenses parecem não acreditar muito nelas. Talvez uma das razões seja a falta de uma relação mais transparente com os cidadãos, que começa lá na ponta, em cada balcão, em cada departamento, na conduta de cada servidor.
Exemplo de boas intenções desconatruídas pelo despreparo de quem deveria colocá-las em prática – que não deve ser atribuído exclusivamente ao servidor que age mal, mas a quem não orienta seu trabalho – foi o episódio ocorrido ao fim da tarde de domingo (24), quando uma dupla de agentes da EPTC anotava placas de veículos estacionados regularmente – importante que se diga – em frente ao Santuário Nossa Senhora do Trabalho, na Avenida Benno Mentz, Zona Norte de Porto Alegre. Em pleno horário da missa dominical.
Os que estranharam a conduta, questionando os agentes, aboletados dentro de Fiat Uno da fiscalização de trânsito e estacionados irregularmente – sim, acreditem – na frente de parada de ônibus, no lado da rua oposto à igreja, ficaram mais surpresos pela resposta de um deles que, sem corar, disse estar cumprindo sua “cota de multas”.
Como se não bastasse, fazia questão de externar orientação religiosa diversa dos fiéis cujas placas dos veículos estranhamente anotava, pois, como já dito, estavam regularmente estacionados. Um comportamento bizarro, para dizer o mínimo. Se a moda pega, em breve teremos fiscais católicos multando em frente de centros espíritas, muçulmanos em frente a sinagogas e agnósticos multando todo mundo!
Convenhamos; colocar agentes de trânsito cavando multas na frente de uma igreja, na missa de domingo, além de ser o fim da várzea, demonstra insensibilidade e falta total de noção e bom senso. Se esse fato é exemplo do respeito com que são tratados os cidadãos pela atual administração de Porto Alegre e seus prepostos, fica ao Prefeito José Fortunati a sugestão de mandar averiguar e corrigir o abuso.
Ou, apesar de algumas boas iniciativas, 2012 pode reservar ao Burgomestre surpresas bem pouco agradáveis.
(*) Advogado
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