O que foram as medidas anti-especulação
Brizola Neto no Tijolaço
Como os jornais não se ocupam de explicar as coisas, vamos tentar entender porque a medida anunciada hoje pelo Governo vai – embora sem a força que poderia ter – ao centro do alvo da especulação financeira com o dólar, ao taxar (minimamente, é verdade, com 1%) o mercado de derivativos.
Bom, mas o que são, afinal, estes tais derivativos?
São os contratos futuros baseados em um ativo (daí o nome de derivativos). E o ativo, no caso, é o dólar.
A função original do mercado de futuros é, simplesmente, “proteger” uma operação realizada em moeda estrangeira.
Uma empresa, por exemplo, que tome um empréstimo em dólar, vai ao mercado futuro de dólar e “compra” – na verdade apenas deposita uma pequena garantia, em torno de 10% – dólares que lhe permitam, em parte, honrar o pagamento do débito, pagando um premio de juros por isso.
É uma espécie de “seguro” que se faz contra uma oscilação brusca da moeda.
Mas este mercado passou a ser o centro da especulação da moeda.
Como é que funciona?
Quem tem capta dinheiro no exterior, bancos ou empresas, compra, para cobrir essa dívida.
Os especuladores, porém, vendem o dólar que possuem. Como são grandes volumes, isso pressiona para baixo a cotação do dólar.
Os números do Banco Central apontam para uma posição “comprada” dos bancos na faixa de US$ 15 bilhões. Já os investidores não-residentes no Brasil tinham uma posição “vendida” superior a US$ 20 bilhões.
Como qualquer mercadoria, também o d[olar se desvaloriza quando tem mais gente querendo vender do que querendo comprar.
Taxar essa exposição ao dólar é correto e acertado. Mas será, como o aumento do IOF, paliativo.
O mercado já “precificava” – isto é, levava em consideração – esta medida. O movimento de alta hoje foi, basicamente, provocado por quem tinha posições muito vulneráveis. Em tese, os investidores estrangeiros deveriam cessar a especulação com dólar e ir para outras bandas.
Mas está difícil de achar outras bandas com o potencial de lucros do Brasil. Então, eles vão se adaptar, como se adaptaram ao IOF sobre aplicações de curto prazo.
Mas é compreensível que o Ministro Guido Mantega esteja indo, como se diz no Rio, “no sapatinho”.
Controle cambial, que é o nome do remédio que pode atenuar essa exposição do real – e isso é perigoso, como nos mostrou a crise de 2008, quando o dólar subiu quase 50% em apenas um mês – ainda é uma heresia no mundo das finanças.
Agora, é esperar o desfecho da intrincada situação dos EUA e da Europa , que pode deter ou reverter este fluxo de capitais “órfãos” de opções seguras e rentáveis como as que fazem aqui.
Mas aí não vamos ter tempo de ficar “telegrafando passe” como foi desta vez, apelando para que – como diz o economista Paulo Nogueira Batista – a “turma da bufunfa” aceite os apelos à racionalidade.
Porque boiada estourada não é racional.
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