Sob vaias, Assembleia aprova reajuste do magistério em longa sessão
Felipe Prestes no SUL 21
Com as galerias lotadas, hostilizando os deputados da base aliada e aplaudindo as intervenções dos deputados do PP, PSDB, PPS, PMDB e de outros partidos da oposição, a Assembleia Legislativa aprovou o projeto de lei que define um reajuste total de 23,5%, parcelado em três vezes, para o magistério estadual (9,84% em maio desde ano, 6,08% em novembro deste ano e 6% em fevereiro de 2013). A oposição se retirou do plenário e, por isto, a votação acabou sendo unânime, 29 a zero.
Mas antes disto, o bloco oposicionista tentou obstruir a votação, com os deputados se revezando incessantemente no uso da tribuna. Com isto, a sessão plenária teve início por volta das 15h30 e o reajuste, que era a primeira matéria a ser votada, só foi apreciado às 20h50.
Antes da sessão, a diretoria do CPERS solicitou aos deputados que a votação fosse adiada por uma semana, para que o sindicato e o Governo retomassem negociações. Os oposicionistas pediam na tribuna que a base governista retirasse o quórum da sessão, atendendo ao pedido do sindicato. Ou então que aprovassem, além do reajuste, uma emenda, protocolada pelo deputado Frederico Antunes (PP), que imporia ao Governo o prazo de 60 dias para enviar ao Parlamento um cronograma para o pagamento do piso nacional.
Com a palavra, os oposicionistas não pouparam o governador Tarso Genro, por ter prometido durante a campanha pagar o piso até o final do mandato, ter assinado a lei enquanto ministro da Justiça e estar contestando um trecho da própria lei, na parte que define o indexador de reajuste do piso pelo crescimento do valor investido em educação no Fundeb. Deputados da oposição também ressaltavam que o descumprimento do piso pode se tornar um passivo enorme de ações judiciais que se tornarão precatórios.
Pressão sobre a base governista
O CPERS lotou as galerias do plenário e também o Auditório Dante Barone, onde os profissionais da educação que não puderam entrar nas galerias assistiam pela televisão. Os professores pediam a retirada do projeto e o pagamento do piso nacional. Os deputados da base aliada eram alvejados com gritos como “traíra” e o governador Tarso Genro era chamado de “pilantra”. Até o trecho mais conhecido da música “Vou Festejar”, eternizada na voz de Beth Carvalho, foi entoado em uníssono no plenário: “Você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão!”
Os professores mostravam cartões vermelhos e vaiavam os parlamentares governistas. Os poucos parlamentares da base que se arriscavam a ir à tribuna mal podiam ser ouvidos, tamanha a reação das galerias. O líder de Governo, Valdeci de Oliveira (PT), foi um dos que se arriscou. “É um momento histórico. Nosso projeto busca valorizar de forma inequívoca o magistério”, disse, afirmando que a oposição promovia um “festival de demagogias”, porque os governos anteriores não deram reajustes próximos ao que estava sendo votado. Foi interrompido inúmeras vezes sob gritos “traidor!” e vaias. Quando o presidente da Assembleia, Alexandre Postal (PMDB), pediu respeito das galerias à fala de Valdeci, os profissionais da educação se viraram de costas, num manifesto silencioso.
À imprensa, o líder de Governo disse não estar “constrangido” com a pressão do sindicato. “Vaia faz parte. Prefiro ser vaiado por pagar 23,5% de reajuste do que acabar com o magistério como faziam os governos anteriores”. Valdeci também ressaltou que a promessa de campanha da atual administração era pagar o piso até o final do mandato e que até aqui vem dando reajustes à altura desta promessa. “Estaria constrangido em defender este reajuste se fosse o nosso último ano de governo. Em um ano e dois meses de governo, fizemos mais que os anteriores”.
A oposição também se utilizou de vários recursos para incitar as galerias contra os parlamentares do Governo. Um deles foi ressaltar que alguns dos deputados da base são pré-candidatos nas eleições municipais deste ano. O deputado Giovani Feltes (PMDB) citou nominalmente os pré-candidatos Adão Villaverde (PT), em Porto Alegre, Alceu Barbosa Velho (PDT) e Marisa Formolo (PT), em Caxias do Sul. A estratégia surtiu efeito: Marisa Formolo, que é professora, passou a ser o alvo das galerias, sob os gritos de “traíra!”.
“As urnas falam”, exortou Frederico Antunes, ao defender a aprovação de sua emenda para apresentação de cronograma para o piso em 60 dias. Ele lembrou que se o Piratini não aprovar o pagamento do piso nacional até o meio do ano, não poderá fazer mais antes das eleições municipais, porque o período eleitoral proíbe a apresentação de reajustes salariais.
Outra estratégia da oposição era ressaltar que uma das principais bandeiras do PDT é a educação, tentando assim motivar alguns dos deputados da sigla a retirar o quórum da sessão. O principal alvo era a deputado Juliana Brizola, por ser neta do fundador do partido. “Leonel Brizola retiraria o quórum”, disse Paulo Odone (PPS). “Fico imaginando Juliana Brizola, neta de Leonel Brizola, tendo que engolir essas manifestações do CPERS”, afirmou Giovani Feltes.
Base governista afinada com o reajuste
Apesar da pressão exercida pelos profissionais da educação e pela oposição, não houve maiores sobressaltos entre a base de Governo. A oposição pediu inúmeras vezes verificação de quórum, chance para os rebeldes se fazerem de desentendidos, mas sempre os deputados governistas estavam prontamente em seus lugares confirmando presença – a exceção de sempre foi o deputado Marcelo Moraes (PTB), que já votou contra o Governo em diversas ocasiões.
Mesmo com os semblantes fechados durante a votação, deputados da situação, como Gilmar Sossella (PDT), entendem que o reajuste oferecido já foi fruto de um esforço financeiro grande do Estado, muito maior que o de administrações anteriores e que, de fato, o reajuste do piso nacional pelo atual indexador, que neste ano foi de 22%, torna inviável seu cumprimento. O pedetista também pontua que o plano de carreira torna muito difícil alcançar o piso. Apesar disto, o líder de Governo, Valdeci de Oliveira, garantiu que o plano de carreira não será mexido.
Outro parlamentar que demonstra a sintonia da base com o reajuste aprovado é Luis Fernando Schimdt (PT). Ele foi um dos únicos a ir à tribuna, onde enfrentou as galerias. Mesmo sendo muito vaiado, após falar ainda se aproximou de professores e discutiu com eles. “Falei a eles que é hipocrisia dizer que o Governo não quer pagar o piso nacional”, contou. Ele amenizou as vaias, afirmando que não representam a opinião da maioria do magistério. “As pessoas que estão aqui têm legitimidade, mas o centro do CPERS hoje não representa a base do magistério. Mais de 95% dos professores querem este aumento, apesar de também esperarem pelo piso”.
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