Votação é adiada, mas impasse entre governo e Cpers está longe do fim
Rachel Duarte no SUL 21
Na véspera da greve nacional dos professores, a categoria vive um novo capítulo da novela do piso do magistério no Rio Grande do Sul. O Estado é um dos 17 governos que não aplicam a Lei Nacional do Piso do Magistério (Lei n° 11.738/2008) e não consegue consenso com o sindicato dos professores para o reajuste salarial. Nesta terça-feira (13) o projeto apresentado pelo Executivo e não aprovado pelo Cpers/Sindicato chegou a ir para ordem de votação na Assembleia Legislativa do RS.
Apesar da decisão do governo em adiar a apreciação da proposta, a oposição não deu acordo para o adiamento e a base governista retirou o quórum, como forma de manter o compromisso com os professores. A pauta de votação, com os projetos referentes ao magistério foi automaticamente transferida para a próxima sessão, na terça-feira (20). Ao longo da semana, atos organizados pelos sindicatos da categoria devem ocorrer no estado e uma nova reunião entre o governo e o Cpers está prevista para a próxima sexta-feira (16).
O governo gaúcho sustenta que o adiamento na votação foi para atender à pressão feita pelo Cpers em frente ao Palácio Piratini. Porém, não recua da oferta de 23,5%, pagos em três parcelas, como única possibilidade financeira de aumentar o salário dos professores estaduais. “Não tem como mudar a nossa proposta. Foi mais um gesto do governo para resolver o impasse através do diálogo. Já avisamos a direção dos professores que não vamos retirar a urgência do projeto. Mas estamos abertos a continuar conversando”, justificou o chefe da Casa Civil, Carlos Pestana.
Pestana disse que não tem como mudar a proposta ofertada e que todas as pautas do Cpers foram atendidas até agora pelo executivo. “Começamos atendendo ao pedido de abono. Depois, fizemos um calendário com base no teto de R$ 1,260. Agora pediram para não votarmos o projeto e não votamos. Tudo isso faz parte de um diálogo”, argumenta. O chefe da Casa Civil acrescentou que o governo pretende aprovar o projeto na próxima semana, o que beneficiaria os professores, uma vez que os reajustes já seriam efetuados para os salários de maio. “Se não for aprovado este projeto, serão os professores os maiores prejudicados”, argumenta.
O governo só definiu pelo adiamantamento da votação depois de quatro horas de vigília dos professores em frente ao Palácio Piratini nesta segunda-feira (12). Mesmo assim, a categoria amanheceu neste terça-feira (13) na intenção de voltar a Praça da Matriz para reforçar contrariedade à proposta. Um grupo percorreu o interior da Assembleia e distribuiu uma carta com a posição do Cpers a todos os parlamentares. “Falamos com oposição e governo. Todos receberam o mesmo documento. Queremos que o parlamento seja um mediador da negociação e não aceite uma votação imposta por regime de urgência”, cobra a presidente do Cpers, Rejane de Oliveira.
Segundo Rejane, mesmo que o projeto tenha apenas sido adiado para próxima semana e caso não surja uma contraproposta na próxima sexta, os professores têm esperança na atuação dos parlamentares da casa. “Vamos esperar o próximo movimento do governo, mas vamos pressionar os parlamentares a não se submeter à urgência”, reforça. A proposta do governo usa como indexador do reajuste o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), ao contrário do que consta no texto da Lei Nacional, reivindicada pelo Cpers, que adota o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).
Oposição se movimenta para retirada da urgência do projeto
No jogo político dos parlamentares, a oposição resistiu ao pedido de adiamento da votação no acordo da reunião de líderes, forçando a base governista a retirar a urgência dos projetos do magistério. “O governo não quer que seja votado hoje. Então, o correto é pedir a retirada da urgência em sessão plenária”, salientou o deputado Frederico Antunes (PP).
O líder do governo Tarso na AL, deputado Valdeci Oliveira, criticou o parlamentar progressista que não deu acordo para o adiamento. “Os deputado dariam o acordo e o Frederico Antunes foi contrário”, disse ao final da reunião de líderes. Segundo ele, a base aliada, além de retirar o quórum para cumprir o compromisso de não votar a proposta esta semana, irá aguardar a audiência da próxima sexta para se movimentar. “Agora, estará na pauta da próxima terça-feira (20). Vamos aguardar retorno do governo para saber as novas orientações”, disse.
Dirigente da CNTE critica negociação entre Cpers e governo Tarso
Neste quarta e quinta-feira, os professores gaúchos estarão mobilizados em atividades vinculadas a programação nacional da categoria, que decretou greve de três dias. De 14 a 16 março, a paralisação envolverá todos os estados onde ainda não há cumprimento da Lei Nacional do Piso do Magistério. Além disso, eles também vão defender o maior investimento público em Educação, com a previsão de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) no Plano Nacional de Educação (PNE).
Nesta terça-feira, 13, a Confederação Nacional do Trabalhadores em Educação (CNTE) realizou um twittaço para cobrar o cumprimento da lei. No Twitter, os adeptos ao ato escreviam frases utilizando a hashtag #Opisoelei em todas as mensagens postadas no microblog.
A vice-presidente da CNTE, Marta Vanelli estará no interior do Rio Grande do Sul nesta quarta-feira (14) para debater com as categorias a conjuntura nacional de mobilização. “Nós fizemos um levantamento que apontou 17 estados não cumprindo o piso. Mas não nos surpreende. Foi só mais um motivo para nos mobilizarmos pela greve”, fala. Ela acusa os governos em utilizar desculpas, como o recente reajuste de 22% no valor do piso nacional dos professores feito pelo Ministério da Educação. “Isto não é uma intervenção do governo federal na autonomia dos estados. Está previsto na lei, no Artigo 5, que tem que haver valorização do piso e acima do INPC. Isto está sendo utilizado pelos governos para não cumprir a lei”, disse.
Marta Vanelli não poupou críticas para falar da realidade do RS. “O Rio Grande do Sul não é o Brasil. A lei foi considerada constitucional pelo STF. Por mais jurista que seja o governador, não dá pra dizer que é inconstitucional. Foi ele quem criou esta lei quando era ministro. Agora, que ele é governador, a lei passou a ter problema?”, cobra.
De acordo com a dirigente da CNTE, ela irá incentivar os professores gaúchos a refletir sobre a possibilidade de alterar o plano de carreira do magistério como uma alternativa para a valorização salarial. “O governo Tarso não tem coragem de debater o plano porque disse isso em campanha e quer colocar o Brasil refém da condição do RS. Agora, cabe aos trabalhadores da educação decidir também aceitar mudanças no plano de carreira”, pondera.
Segundo Marta, o Cpers/Sindicato não pode manter o debate com o governo de forma apaixonada. “Segundo a lei do piso, é previsto a atualização dos planos. O plano gaúcho tem 40 anos. Hoje a maioria dos professores tem pós-graduação ou graduação e precisam adequar as carreiras. De que adianta ter um excelente plano de carreira e um salário tão baixo?”, questiona.
Ela compara a realidade gaúcho com outros estados da região Sul, que mexeram no Plano de Carreira. “Em SC ficou pior, mas eles obtiveram um ganho salarial de 40%. Já no Paraná, hoje eles são o único estado a cumprir o piso sem mexer no plano, porque já havia sido feita uma atualização das carreiras há quatro anos. A diferença entre as carreiras ficou em 40% e teve o acordo dos trabalhadores”, disse.
“Esta dirigente é uma pelega. Todos sabem a nossa posição sobre o plano de carreira”, diz Cpers
Na avaliação da presidente do Cpers/Sindicato, Rejane Oliveira, as posições da dirigente da CNTE são uma forma de apoiar os governos, uma atitude que não é legítima de um sindicato independente como é o sindicato gaúcho. “Todos conhecem a nossa posição sobre o plano de carreira. Esta dirigente é uma pelega que quer ajudar o governo a não investir na valorização profissional. Todos na CNTE sabem que o piso não vale nada sem o plano de carreira. Mas tem dirigentes que não respeitam isso”, afirma.
E reitera a posição irredutível do Cpers neste tema. “O governo Tarso poderá terminar a gestão com a marca de um governador que respeitou sua palavra e os trabalhadores sem mexer no plano de carreira ou não. Ele que fará sua escolha”, defende.
De acordo com o chefe da Casa Civil, Carlos Pestana, a intenção do governo em refletir sobre a atualização do plano de carreira não significa que a questão esteja sendo encaminhada ou que seja uma possibilidade real. “Fizemos algumas simulações e vimos que não temos a possibilidade de mexer, porque, mesmo mexendo, a relação custo/aluno não atingiria os valores estabelecidos na lei. Então, alterar não irá resolver o problema. Isto reforça a opinião já manifestada pelo governador em não mexer no plano”, disse.
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