Uma humanidade solidária, amorosa... construída com todos incluídos num mundo menos elitista, preconceituoso, autoritário e desigual, por la vida... siempre!
Eu acreditei piamente que as pessoas batiam panelas e se vestiam de verde-amarelo, enchendo parques e avenidas, contra a corrupção. Acreditei ingenuamente que estavam acima de partidos e ideologias em luta pela justiça, pela transparência e pela punição aos saqueadores da nação.
Eu acreditei francamente que seriam coerentes e fariam o mesmo cada vez que uma situação equivalente se apresentasse. As decepções não tardaram.
Apareceram denúncias pesadas contra o presidente Michel Temer. Nenhuma panela bateu. Surgiu a mais impressionante série de provas gravada contra um senador, Aécio Neves. Silêncio absoluto. Nenhuma camiseta da CBF nas ruas. Tudo vazio.
Dilma Rousseff foi derrubada pelos eleitores de Aécio Neves. Por que panelas não bateram e não batem agora que a máscara do tucano caiu? Por que panelas não ecoam agora que Michel Temer será julgado, e salvo, pela segunda na Câmara dos Deputados sob graves acusações de corrupção? Vale lembrar que Dilma não foi derrubada sob acusação direta de qualquer ato de corrupção, mas pelas pedaladas fiscais. O que é mais grave: pagar compromissos governamentais com adiantamentos de bancos públicos sempre reembolsados ou receber propina de empresários? Os senadores que salvaram Aécio são os mesmos que afundaram Dilma em nome da moral. Por que as panelas não batem agora? Onde andam os jovens líderes de movimentos ditos apartidários em defesa de um Brasil limpo, novo, livre do cancro de políticos ladrões?
Eu acreditei realmente que a classe média brasileira não se deixaria novamente manipular, como acontecera em 1964, e que trataria todos da mesma maneira, com o mesmo rigor e a mesma convicção. O que tem feito Temer para merecer leniência? Tentou liberar uma reserva na Amazônia para a exploração total de minérios. Resolveu proteger o trabalho escravo. Não cobra uma dívida de 29 bilhões de ITR de ruralistas. Aprovou uma reforma trabalhista que precariza a vida da plebe. Vai insistir numa reforma da Previdência que levará muitos a morrer sem se aposentar. Corta verbas da pesquisa e da educação. Temer é o presidente dos sonhos do mercado. Que interessa a corrupção?
O STF prendeu Delcídio Amaral e afastou Eduardo Cunha sem consultar o parlamento. Primeiro deixou Cunha derrubar Dilma. Era útil. Quando chegou no queridinho Aécio, devolveu a decisão para o Senado, que tratou de salvar o parceiro tornando-se definitivamente a instituição mais desmoralizada do país e talvez do mundo. O STF provou que nossa justiça tem lado, classe e ideologia. Quando interessa, respeita a Constituição. Quando convém, atropela a Carta Magna sem o menor constrangimento em nome de algum entendimento alternativo. O caso Aécio é o maior escândalo da história da justiça e do parlamento brasileiros. O caso Temer vem a seguir. Sem contar o impeachment de Dilma, uma armação que levou ao poder um grupo crivado de comprometimentos judiciais. Vários do ministério inicial já estão na cadeia. A farra continua.
O poeta Pasolini acreditava que antes de lutar por um mundo melhor, devemos lutar para evitar que piore. Apesar do salário congelado há quatro anos, a atual greve dos professores eclodiu devido ao parcelamento, cujo último mês iniciou com a mísera parcela de 350 reais. Ainda assim, há professores que seguem trabalhando. Como Italo Calvino escreveu que toda leitura de um clássico é na verdade uma releitura, lanço mão da Literatura buscando retratar o mundo por analogia. A atitude de alguns professores que não entraram em greve ou que deixaram de fazê-la tão somente receberam os salários me faz lembrar um conto de Tchékhov.
O conto faz uma crítica à resignação covarde. Durante um acerto de contas, a governanta Iúlia Vassílievna escuta passivamente seu chefe construir uma narrativa mentirosa na qual ela ganharia muito menos do que foi combinado. “Então, a senhora ficou dois meses”. “Dois meses e cinco dias”. “Dois meses, tenho anotado aqui”. O chefe descontaria dias em que sua filha adoeceu, uma xícara que ela supostamente havia quebrado, e até um sapato que uma costureira roubou de sua filha sob o argumento de que ela era responsável. Enfim, o chefe pagaria onze rublos quando ela deveria receber oitenta.
Apesar do rubor, dos olhos cheios d'água, Iúlia jamais reagiu. Após receber o mísero pagamento, a governanta murmura um "merci". Neste momento, o chefe se levanta indignado e pergunta a razão do agradecimento e se ela não havia percebido que ele a estava roubando. Iúlia disse que agradecia pelo dinheiro, pois houve locais em que trabalhou e nem sequer recebeu. (Recordo o governador afirmando que o servidor deveria agradecer a Deus pela estabilidade.) Então, o chefe se desculpa e diz que lhe pagará os oitenta rublos, mas pergunta se alguém pode ser tão pateta. Se é possível não protestar. Nesse mundo é possível ser tão palerma? Iúlia dá um sorriso amarelo que o patrão lê como um "Sim, é possível". O sorriso de Iúlia e a resignação de alguns professores provam que sim. Em suma, a dignidade não é um valor indispensável a todos."
*Prof. Marcos Vinicius de Oliveira Teixeira
rede estadual de educação / rs
professor de literatura
O Nação volta a 20 de setembro de 1835 quando começou, no Rio Grande do Sul, o confronto armado mais importante da história do Estado. Comemorada até hoje, a Guerra dos Farrapos, também conhecida por Revolução Farroupilha, colocou de um lado os grandes e poderosos estancieiros gaúchos e do outro o império. Mas, a guerra que adquiriu até um caráter separatista, teve um capítulo que ainda hoje é polêmico e, porque não dizer, ignorado: A batalha de Porongos.
Em novembro de 1844 a guerra estava perto do fim, mas uma questão permanecia sem solução: o que fazer com aqueles negros que por dez anos lutaram ao lado dos farroupilhas? O império não aceitava a libertação destes negros.
É neste contexto que acontece o massacre dos negros em Porongos. No acampamento da curva do arroio Porongos, atual município de Pinheiro Machado, o coronel Teixeira Nunes e seu corpo de Lanceiros Negros descansavam. Sob as ordens do líder farroupilha David Canabarro, todo o cartuchame foi retirado dos soldados. E assim sem armas de fogo para se defender,estes negros foram atacados pelas tropas do império comandadas por Francisco Pedro de Abreu, o Moringue. Muitos foram mortos e os sobreviventes foram novamente escravizados e enviados para o Rio de Janeiro.
Entrevista com Juremir Machado da Silva
O passado não pode ser mudado, mas a história que se conta sobre este passado vai ganhando ao longo do tempo novas revelações. Graças ao trabalho de historiadores como Moacyr Flores, Juremir Machado da Silva, Euzébio Assumpção e tantos outros, as verdades sonegadas pela história oficial são trazidas à tona.
O programa Nação sobre o Massacre de Porongos, exibido pela TVE e TV Brasil em outubro deste ano, dá voz a estes historiadores. Nesta página você vai poder ver na íntegra as entrevistas com Euzébio Assumpção e Juremir Machado da Silva. Todo este material foi divido em 6 vídeos e em cada um destacamos alguns trechos que podem ser úteis para a localização dos temas abordados. E logo abaixo você encontra um breve resumo sobre os principais personagens citados pelos historiadores.
1. O Massacre de Porongos no contexto da Guerra dos Farrapos
“Os farroupilhas se dividiram. Uma parte aceitou entregá-los, como de fato acabaram fazendo. Outra parte resistia um pouco,(…) inclusive pelo medo de uma rebelião. Por que era uma traição ter prometido liberdade e depois devolvê-los a seus proprietários.”
2. A traição aos lanceiros e aos infantes negros
“A gente precisa dizer isso: há uma traição aos lanceiros, mas há uma traição aos infantes [que também eram negros] que é menos citada. Os próprios defensores dos farroupilhas de hoje preferem falar só dos lanceiros. Por que? Porque os lanceiros ao menos tinham as suas lanças. Então, isto diminuiria o potencial da traição, pelo menos eles estavam armados. A traição que eles querem esconder é em relação aos infantes[negros], que estes ficaram desarmados e aí foram exterminados.”
3. As denúncias sobre a traição em Porongos
“O próprio Bento Gonçalves diz o seguinte: os caminhos que levavam a Porongos eram tão visíveis que só não veria a aproximação de uma tropa adversária quem não quisesse.” “E aí surge um sujeito chamado Caldeira, que foi um lanceiro negro. E ele vai dizer: eu conheço isso, eu fui lanceiro. Os sinais da traição são evidentes.”
4. O comandante farroupilha Davi Canabarro e a traição em Porongos
“O Canabarro tinha fama de traidor” [Juremir cita as traições de Canabarro]
“Por que ele teria traído em Porongos? Porque o mais fácil era se livrar de todos aqueles negros. A morte daqueles negros resolvia o problema com o império. Resolvia o problema com os chefes insatisfeitos que hesitavam em aceitar a entrega dos negros[ao império]. E resolvia também o problema de uma possível insatisfação e a revolta destes negros, caso fossem entregues e permanecessem no Rio Grande do Sul.”
5. O destino dos negros que sobreviveram ao Massacre de Porongos
“O império os alugava para as famílias abastadas [do Rio de Janeiro].(…)Especialmente para a atividade mais infamante da época, que era o transporte diário, em barris, dos excrementos das pessoas. Era terrível.(…) E como os excrementos têm um tipo de substância que afeta a pele, isso ia esbranquiçando a pele daqueles negros.(…) Daí o termo “tigrada”. É um termo de origem absolutamente racista.” “Então, essa revolução (…) que muitos hoje dizem que era abolicionista, ela se financiou vendendo negros no Uruguai. Depois ela usou negros imperiais como mão de obra militar. Depois ela os traiu em Porongos.”
Sobre Juremir Machado da Silva
Formado em História e Jornalismo, obteve o Diploma de Estudos Aprofundados e o Doutorado em Sociologia na Universidade Paris V, Sorbonne, onde também fez pós-doutorado. Atualmente é professor titular da PUCRS onde coordenou, de 2003 a 2014, o Programa de Pós-Graduação em Comunicação. É tradutor, romancista e cronista. Atua como colunista do Correio do Povo desde o ano 2000 e apresenta diariamente, ao lado de Taline Oppitz, o programa Esfera Pública, na Rádio Guaíba. Até o final de 2013, publicou 30 livros individuais, entre eles: História regional da infâmia – o destino dos negros farrapos e outras iniquidades brasileiras” (L&PM, 2010).
Entrevista com Euzébio Assumpção
“Porongos é a maior traição na história do Rio Grande do Sul. É a maior vergonha dos farrapos (…) o que existe é uma sonegação histórica. Aonde líderes, principalmente de CTGs, eles tentam burlar, eles tentam esconder estes fatos. Por que como explicar que Davi Canabarro, sendo um ícone do tradicionalismo gaúcho, possa ter feito esta vil traição?” “… aqui é o único lugar onde a perda de uma guerra é comemorada. E este fato serve como um símbolo político de um passado gaúcho que nunca existiu. Isso aí é uma mitologia que foi criada em nome dos farrapos. Os farrapos eles não “existiam”, digamos assim, até o final do século XIX. Depois com o movimento do PRR de Júlio de Castilhos eles vão ser reinventados (…) E hoje em dia nas escolas infelizmente se festeja algo que não se conhece.”
Sobre Jorge Euzébio Assumpção
Formado em História pela PUCRS (1985), pós-graduado pela FAPA e mestre em História pela PUCRS (1995). Atualmente é professor e pesquisador na Unisinos, além de professor titular da SEC-RS. Seu principal foco de pesquisa é a Escravidão e temas relacionados como: resistência, África, charqueada, negro e Rio Grande do Sul. Escreveu o livro Pelotas: “Escravidão e Charqueadas: 1780-1888” (FCM Editora, 2013). E foi organizador dos livros: “O negro no Rio Grande do Sul” (Ministério da Cultura, 2005) e “Nós, os afro-gaúchos” (Ed. Universidade/UFRGS, 1996) entre outros.
Conheça os personagens citados pelos historiadores
Guerra dos Farrapos: a Guerra dos Farrapos, ou Revolução Farroupilha (1835-1845), foi o maior dos conflitos internos enfrentados pelo governo imperial. Durante dez anos, uma parcela da elite pecuarista rio-grandense, motivada por fatores políticos e econômicos, sustentou uma revolta contra o poder imperial, chegando a proclamar a República Rio-Grandense em 1836.
Lanceiros e infantes negros: eram trabalhadores escravizados que foram capturados nas fazendas de inimigos.Para lutarem ao lado dos farrapos, este negros receberam da República Riograndense a promessa de liberdade.
Teixeira Nunes (1802 - 1844): conhecido, durante a Revolução Farroupilha, como o Gavião. O coronel Teixeira Nunes comandou o Corpo de Lanceiros Negros.
Porongos: localidade de Pinheiro Machado(RS), onde ocorreu na madrugada de 14 de novembro de 1844 o massacre dos lanceiros negros que lutaram ao lado do General Bento Gonçalves da Silva, sob o comando de David Canabarro, ficando conhecido tal episódio da história como “O Massacre do Cerro dos Porongos”. Em 2007 o Sítio de Porongos foi declarado em Patrimônio Histórico e Cultural do Rio Grande do Sul.
Canabarro (1796 – 1867): David Canabarro foi um dos líderes dos farroupilhas. Como chefe dos revoltosos, aceitou a anistia oferecida pelo governo em 18 de dezembro de 1845, através do Duque de Caxias.
Caxias (1803 – 1880): Luís Alves de Lima e Silva, Duque de Caxias. Militar, político e monarquista brasileiro. Comandou as forças do império brasileiro na supressão de revoltas como a Balaiada, as Revoltas Liberais e a Revolução Farroupilha. Além de liderar as forças brasileiras na Guerra do Paraguai.
Moringue (1811- 1891): Coronel Francisco Pedro de Abreu ,ou ainda “Chico Pedro” foi o comandante da tropa do império que atacou Porongos em 14 de novembro de 1844.
Bento Gonçalves (1788 - 1847): foi o maior líder da Revolução Farroupilha. Entre 1837 a 1843 foi Presidente da República Rio-Grandense , proclamada pelos farroupilhas.
Antônio de Sousa Netto (1803 – 1866): foi um importante líder farroupilha. Em 11 de setembro de 1836, após a Batalha do Seival, proclamou a República Rio-Grandense, no Campo dos Menezes. Lutou em diversas batalhas pelos republicanos, tendo comandado o cerco a Porto Alegre, durante vários meses, e a retomada de Rio Pardo, que estava nas mãos dos imperiais.
Júlio de Castilhos (1860- 1903): jornalista e político gaúcho. Foi presidente do Rio Grande do Sul por duas vezes de 15 de julho a novembro de 1891 e de 1893 a 1898. e principal autor da Constituição Estadual de 1891. Disseminou o ideário positivista no Brasil.
PRR: Partido Republicano Rio-grandense (PRR) foi um partido político de motivação republicana do estado do Rio Grande do Sul fundado em 23 de fevereiro de 1882, cujo grande líder intelectual era Júlio de Castilhos.
Domingos José de Almeida (1797-1859): No final da década de 1850, o político, charqueador e ex-líder farroupilha denunciou publicamente o conteúdo da correspondência que teria sido enviada pelo então barão de Caxias a Francisco Pedro de Abreu(Moringue). A Carta de Porongos conteria evidências de um acordo prévio entre Caxias (comandante do Exército imperial no conflito) e o líder farroupilha David Canabarro. O objetivo seria favorecer a vitória imperial no combate do Cerro de Porongos. Em determinado trecho, Caxias informaria a Francisco Pedro o local, o dia e o horário para o ataque, garantindo-lhe que a infantaria farroupilha estaria desarmada pelos seus líderes.
Coleção Varela: Já no século XIX, dois grandes historiadores da Revolução Farroupilha, Alfredo Varela e Ferreira Rodrigues trocam farpas publicamente nos jornais da época. Varela afirmando que o líder farroupilha David Canabarro traiu os negros em Porongos e Ferreira Viana negando. E antes deles, Domingos José de Almeida, outro líder farroupilha, denunciou correr risco de vida, mesmo assim, continuou a investigar o que teria havido naquela noite trágica de 14 de novembro de 1844 no acampamento dos negros em Porongos. Os documentos reunidos por ele foram para a guarda de Varela que continuou sua pesquisa. Todo este material de grande valor histórico faz parte hoje da “Coleção Varela” do Arquivo Histórico do RS.
Alfredo Varela (1864 – 1943): foi um dos mais importantes historiadores gaúchos e também um dos Fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Alfredo Varela, herdou a documentação recolhida por Domingos José de Almeida sobre a Revolução Farroupilha. Por iniciativa própria, transformou esse patrimônio privado em patrimônio público.Autor de uma vasta bibliografia,entre suas obras,estão os seis volumes da “História da Grande Revolução”, de 1933
Alfredo Ferreira Rodrigues (1865-1942): historiador e poeta .Suas pesquisas históricas se concentravam no Rio Grande do Sul, principalmente nos vultos e acontecimentos da Revolução Farroupilha. Entre suas obras estão “A Pacificação do Rio Grande”, “Daví Canabarro e a surprêsa dos Porongos”.
Carta de Porongos
Correspondência que teria sido enviada pelo então barão de Caxias a Chico Pedro (Francisco Pedro de Abreu, o Moringue). A Carta de Porongos conteria evidências de um acordo prévio entre Caxias (comandante do Exército imperial no conflito) e o líder farroupilha David Canabarro. O objetivo seria favorecer a vitória imperial no combate do Cerro de Porongos. Em determinado trecho, Caxias informaria a Chico Pedro o local, o dia e o horário para o ataque, garantindo-lhe que a infantaria farroupilha estaria desarmada pelos seus líderes.
Ilustração de Thiago Krenning para o programa Nação da TVE-RS, feita a partir do texto original dos Anais do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, volume 7, Porto Alegre: AHRGS,1983, Coleção Alfredo Varela, documento CV3730 pp. 30-31.
O jornalista Paulo Moreira Leite, colunista do Brasil 247, dá entrevista aos Jornalistas Livres sobre a última reviravolta do caso triplex: a descoberta de documentos que provam que o apartamento pertence, na verdade, à Caixa Econômica Federal.
A defesa de Lula procurava há tempos essa documentação, e solicitou a Sergio Moro que determinasse a sua busca. Sergio Moro negou. O justiceiro da Globo não tinha interesse em encontrar documentos que provariam a inocência de Lula.
O zé do powerpoint também não se interessou em buscar esses documentos. Nem ele nem os delegados que faziam campanha pelo Aécio nas redes sociais.
A grande mídia também não demonstrou nenhum interesse em pôr seus jornalistas investigativos na caça aos documentos, e agora trata deles com visível constrangimento e mal estar, como se lamentasse que eles tenham aparecido.
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Dois últimos textos publicados no site dos advogados de Lula:
Defesa divulga contratos e aditamentos anexados às alegações finais que provam que 100% dos direitos econômico-financeiros do triplex e demais imóveis do Solaris foram cedidos à Caixa Econômica Federal. Os documentos estão registrados em Cartórios de Salvador.
“Eu pedi para o Cláudio Mello (executivo de Relações Institucionais da Odebrecht e promotor do jantar com Michel no Jaburu), que tinha relação com os caciques do PMDB, para avisar lá, faça chegar no ouvido de Temer que ela (Dilma Rousseff) está desconfiada de que algumas pessoas do PMDB – inclusive ela pode estar desconfiada dele – de que recebeu valores. Eu falei: Cláudio, eu não sei quem foi, agora faça chegar nos ouvidos dele só para ele ficar avisado”
Esta é a declaração – literal – de Marcelo Odebrecht sobre uma complicada história de propinas pagas ao PMDB (Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves, os achacadores) num contrato da Odebrecht com a Petrobras, vinculado à Diretoria Internacional da empresa.
Marcelo diz que José Sergio Gabrielli, em 2010, aprovou o contrato, mas abriu uma sindicãncia interna que, na gestão de Graça Foster, teve seus resultados enviados para o Ministério Público.
Marcelo diz que isso originou uma violenta briga entre ele e a presidente da empresa, que foi parar nos ouvidos de Dilma Rousseff, que o interpelou para saber quem estava roubando. E ele saiu pela tangente – e mandou dar o recado a Temer – dizendo que também havia gente do PT envolvida, informação que só depois obteve ou encomendou.
Basta o episódio para mostrar que não é em Dilma que uma investigação séria deve mirar. Marcelo Odebrecht, em suas próprias palavras, agiu como cúmplice do então vice-presidente, até porque só poderia mandar avisar alguém que supusesse ser o chefe dos achacadores.
Gabrielli e Graça fizeram a investigação e esta a remeteu para o Ministério Público.
Não foi “pedido de ajuda” para a campanha, foi achaque.
Que teve dinheiro para a política vindo da Odebrecht, claro, ninguém é besta de negar.
O que está evidente, pelas palavras de Odebrecht, é que Dilma – e seus diretores na Petrobras – tentaram apurar. E ele, com o aviso a Temer, tentou esconder.
Retirada da linha de tempo no facebook José Soares
O OVO DO TUCANO
Por Carlos D'Incao*
Há 4 anos iniciava-se no Brasil um golpe de Estado.
Exatamente no dia 13 de junho de 2013 gigantescos protestos brotaram "do nada" por todo o país. Sua pauta formal: se opor à política e aos políticos tradicionais; seu lema: "Sem Partido". Na verdade a pauta era uma oposição ao governo democraticamente eleito e seu lema era "Aécio Presidente!".
Ali nascia os grupos neofascistas como o MBL, os Radicais On-Line e o "Vem pra Rua!". Hoje não há mais segredos...
Todos recebiam e recebem dinheiro da corrupção tucana - como a Polícia Federal revelou em 2016 - e recebiam e recebem apoio (e logística) dos EUA - como Snowden e centenas de documentos do Wikileaks revelaram em 2015.
Naquele ano, por todo o Brasil, milhões foram para as ruas sem saber exatamente a razão disso. Uma histeria coletiva que teve como finalidade imediata o combate a uma Medida Provisória que regrava o papel do Ministério Público e do poder judiciário no Brasil e que deveria ter como "final feliz" a vitória de Aécio Neves como presidente em 2014.
Obtiveram êxito na primeira ação, quando Dilma retirou a Medida Provisória da pauta de um Congresso amedrontado e sob pressão da Globo e da Grande Imprensa. Mas não conseguiram eleger Aécio...
E os movimentos neofascistas, com um judiciário partidarizado à frente e toda uma Rede Globo de apoio, novamente instigaram o ódio no povo. Milhões foram às ruas contra Dilma e Lula.
Mas ainda lhes faltavam uma razão para o golpe...
E com o uso da microscopia, os sábios tucanos acharam uma "irregularidade" nas ação de Dilma. Ainda que fosse no seu governo passado... Era tudo o que tinham...
Ela havia atrasado repasses para os bancos pagarem os programas sociais e os recursos para a safra de 2014... E os bancos tiveram que adiantar esses valores do próprio caixa deles... Algo que todos os governantes do Brasil e do Mundo frequentemente fazem.
A isso os tucanos chamaram de "Pedaladas Fiscais".
"Pedaladas Fiscais"... Esse foi o termo mais usado pela grande imprensa no ano de 2015 até o Impeachment... Tiraram uma presidente democraticamente eleita e anularam 55 milhões de votos por essa razão...
Foi um golpe grotesco que fez o Brasil virar uma piada internacional, não apenas pela razão alegada, mas porque aqueles que assumiram o poder eram os maiores e mais conhecidos corruptos do país.
O povo que seguia alegremente o pato da Fiesp pensava que com a saída da Dilma a prosperidade e a honestidade iriam reinar...
Um ano depois do golpe o desemprego subiu de 12 para 20 milhões de brasileiros, 40 milhões vivem na informalidade, os golpistas congelaram os gastos da área social por 20 anos, aprovaram a Lei da Terceirização e - se tudo correr como desejam - acabarão de vez com a CLT e com a Previdência ainda nesse mês.
E a corrupção? Sem comentários...
Mas nem tudo foi ruim: o governo manteve (e ainda mantém) os juros altos, para a alegria dos rentistas... e fizeram um novo Refis para a Fiesp, anistiando os grandes empresários de até 90% de suas dívidas tributárias e mais: parcelou o resto de suas dívidas em até 180 vezes...
No fim, o pato não pagou o pato... Quem pagou foi o povo... Seguidor ou não do pato...
Em 2013 foi gerado o "ovo do tucano", versão brasileira do "ovo da serpente". O "ovo da serpente" gerou Hitler. O "ovo do tucano" gerou Bolsonaro...
Mas o "ovo do tucano" têm mais méritos... pois também gerou o maior caos político e a maior depressão econômica da História das Repúblicas Modernas; um nível de promiscuidade entre o público e o privado jamais visto e, por fim, uma queda livre nas esperanças de todo um povo... queda esta que parece não ter fim...
Caso haja o restabelecimento de uma mínima sanidade e estabilidade política nesse país ficarão algumas lições... Entre elas destacaria hoje duas:
1 - Nunca, nenhuma mudança positiva para o povo brasileiro jamais será apoiada pela Rede Globo;
2 - Enquanto existir o PSDB não haverá seguridade na soberania de nosso país. Os tucanos são mais que neoliberais, são neo-entreguistas..."
Brigada Militar montou operação de guerra no centro de Porto Alegre para despejar famílias da Ocupação Lanceiros Negros. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
Marco Weissheimer
Quando proferiu seu despacho determinando o despejo, em caráter de urgência, das cerca de 70 famílias que habitavam a Ocupação Lanceiros Negros há aproximadamente um ano e sete meses, a juíza Aline Santos Guaranha, da 7a. Vara da Fazenda Pública de Porto Alegre, manifestou uma preocupação especial. A magistrada recomendou o “o cumprimento da ordem aos feriados e finais de semana e fora do horário de expediente, se necessário, evitando o máximo possível o transtorno ao trânsito de veículos e funcionamento habitual da cidade”. Sintonizada com as preocupações da doutora Aline Guaranha, a Brigada Militar decidiu realizar a reintegração de posse na véspera da data do Corpus Christi, um feriado nacional para “celebrar a partilha do corpo de Cristo”.
No entanto, a preocupação em evitar transtornos no centro da cidade acabou esbarrando em decisões operacionais da própria Brigada Militar que transformou a área da operação de despejo em uma praça de guerra. Menos de uma hora antes da entrada em cena dos batalhões de choque da Brigada Militar, começava na Assembleia Legislativa uma audiência pública da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Casa para tratar da situação dos moradores da Ocupação Lanceiros Negros. Falando em nome da Ocupação, Priscila Voigt, que acabaria sendo presa mais tarde, relatou uma situação de tensão e angústia vivida pelas famílias. A pedido delas, o deputado Jeferson Fernandes (PT), presidente da Comissão, decidiu transferir a audiência pública para a frente da ocupação. Separado por apenas duas quadras, o trajeto entre o plenarinho da Assembleia e a Ocupação, localizada na esquina das ruas General Câmara e Andrade Neves, foi feito rapidamente pelo grupo que estava na AL e acabou surpreendendo os efetivos do choque da Brigada Militar, que mobilizaram um não tão pequeno exército para retirar os moradores do prédio da ocupação.
Spray de pimenta e bombas de gás foram utilizadas largamente na operação. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
A Brigada não esperou o deslocamento da audiência pública para o prédio da Lanceiros. Quando viu a movimentação, lançou uma primeira ofensiva coberta por bombas de gás contra a multidão que se concentrava em frente ao prédio da Ocupação. No início da noite, a antiga rua da Ladeira já havia se transformado em uma praça de guerra. Após aceitar a proposta de transferir a audiência pública para a frente da ocupação, o deputado Jeferson Fernandes formou, juntamente com integrantes do movimento, um bloco em frente à porta de entrada do prédio, que tentou iniciar um processo de negociação com os oficiais de Justiça que chegaram protegidos por dezenas de homens do choque da Brigada Militar, acompanhados por viaturas e por um helicóptero, para efetivar a ação de despejo.
Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia, Jeferson tentou argumentar com os oficiais de justiça que a ação de despejo seria realizada à noite, sem que as famílias tivessem uma garantia de local para onde ir após a ação policial. Inflexíveis, os oficiais de justiça argumentaram que decisão judicial não se discute e ameaçaram dar voz de prisão a quem se opusesse aos policiais. Um grupo de integrantes da ocupação e o deputado insistiram na via da negociação. A Brigada entrou em ação com sprays de pimenta, cassetetes, escudos e outras ferramentas. Após essa investida, o deputado Jeferson Fernandes, com o rosto muito machucado pelos jatos de spray de pimenta, foi levado detido por um corpulento integrante da Brigada Militar que, em vários momentos, conduziu o parlamentar aos pescoções, pela rua da Ladeira.
Pelo menos outras sete pessoas, foram levadas presas na operação. Algumas delas teriam sido mantidas encerradas dentro de viaturas do Choque antes de serem conduzidas a uma delegacia. Ao final da noite, a informação era que todas tinham sido conduzidas para o Palácio da Polícia. Além do presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia, o deputado Pedro Ruas (PSOL), o vereador Roberto Robaina (PSOL) e a vereadora Sofia Cavedon (PT) também foram para o local levar apoio aos moradores da ocupação e acompanhar a ação da polícia.
Lideranças da ocupação foram levadas presas pela Brigada Militar. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
Afastado à força o grupo que tentava proteger a entrada da ocupação, a Brigada Militar iniciou uma nova fase da operação que consistiu em colocar abaixo o portão de entrada do prédio com um cabo amarrado a um veículo da corporação. A ação da Brigada, que resultou na destruição do portão de entrada do prédio, foi acompanhada por integrantes da Procuradoria Geral do Estado, que estavam no local, supostamente, para zelar pela integridade do patrimônio público.
Apesar da presença de crianças na ocupação, a ação da Brigada não foi acompanhada por integrantes do Conselho Tutelar. Um integrante desse conselho apareceu no local somente após a consumação da ação afirmando que não pode comparecer antes porque só havia ele e mais um colega no plantão. Nada que impedisse os oficiais de Justiça e policias militares de executarem a ação “evitando o máximo possível o transtorno ao trânsito de veículos e funcionamento habitual da cidade”.
O deputado Jeferson Fernandes, com o rosto machucado pelos jatos de spray de pimenta, foi levado preso por um integrante da Brigada. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
Consumada a derrubada do portão de entrada do prédio, os primeiros moradores que desceram à rua relataram o uso de spray pimenta pelos policiais que teria atingido inclusive crianças, que tiveram crises de pânico e vômitos. Além disso, relataram ainda, vários brigadianos teriam feito chacota das famílias da ocupação, com manifestações provocadoras e desrespeitosas. “Não adianta nada, nós vamos seguir ocupando”, desabafou Natanieli Antunes, jovem integrante da ocupação. Foi difícil aos jornalistas, consultar a Brigada sobre essas afirmações, pois não havia oficiais encarregados de conversar com a imprensa, o que acabou ocorrendo em um clima de tensão e hostilidade. Repórteres fotográficos e cinegrafistas, em especial, tiveram dificuldades em registrar o que estava acontecendo, sendo abordados, em mais de uma ocasião, por policiais encapuzados em um tom que variava entre a advertência e a ameaça.
A Brigada não revelou quantos homens mobilizou na operação. A Polícia Civil também deu sua contribuição com alguns poucos efetivos fortemente armados que desfilaram armamento pesado ao acompanhar a saída das famílias. Uma fileira do pelotão de choque foi instalada na esquina da Riachuelo com a General Câmara. Outra, logo abaixo da esquina da Ladeira com a Andrade Neves, onde se concentraram manifestantes que foram levar seu apoio à ocupação. Um dos relatos mais frequentes de integrantes da ocupação que saíam do prédio era de provocações feita pelos policiais. No lado de fora do prédio, jornalistas testemunharam policiais rindo e fazendo brincadeiras com a situação enfrentada pelas famílias.
Porta de entrada do prédio foi destruída pela própria Brigada para retirar moradores. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
Por volta das 21h30, caminhões da Emater começaram a chegar ao local para transportar os bens das famílias despejadas. Junto com eles, chegou uma van com um grupo de jovens que não escondia o seu constrangimento por ter que trabalhar na remoção da mobília e das roupas das famílias. Das janelas de prédios vizinhos à ocupação, alguns moradores protestaram contra a ação da Brigada. “Covardia” foi uma das palavras mais utilizadas pelos vizinhos da Lanceiros.
O comandante da Brigada Militar, coronel Jefferson de Barros Jacques, disse que a tropa agiu “de forma proporcional à resistência encontrada”. O coronel não esclareceu se as manifestações de escárnio feitas por policiais, relatadas por integrantes da ocupação, e de truculência, testemunhadas por jornalistas, fizeram parte dessa “reação proporcional”. Segundo nota divulgada pelo governo do Estado, as famílias foram levadas ao Vida Centro Humanístico, no bairro Sarandi.
Por volta da meia noite, uma nova leva de bombas de gás foi lançada contra um pequeno grupo que ainda se manifestava nas imediações da rua da Praia. Na antiga porta de entrada da ocupação, destruída pela ação da Brigada, um soldado encapuzado acompanhava a retirada dos pertences dos moradores. No lado de fora do prédio, esses pertences se acumulavam pelas calçadas, aguardando a carona dos caminhões da Emater que, além da Brigada e de integrantes da PGE, representaram o governo do Estado na ação que tirou 70 famílias do prédio onde viviam há quase dois anos. Já no início da madrugada desta quinta-feira, Nana Sanches, da coordenação da ocupação, relatava a jornalistas o que havia acontecido dentro do prédio durante a ação da Brigada. “Essa não foi a primeira nem a última ocupação”, assinalou, lembrando que, enquanto não for resolvido o problema da falta de moradia, não resta outra opção para as famílias sem teto a não ser essa forma de luta.