População não está dando bola à urubologia econômica da mídia
Foi divulgado índice do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que mensura o otimismo das famílias brasileiras com o presente e o futuro da economia. Os números divulgados não podem passar batidos pelo que revelam até de surpreendente, ainda que nem tanto: o brasileiro está dando mais uma banana para o PIG.
A divulgação “seca” da notícia de que em junho subiu o otimismo das famílias com a economia (de 67 pontos para 68,5) está sendo a tônica na mídia. Todavia, faltam análises sobre como é possível que os brasileiros estejam otimistas em relação à economia em um momento em que a essa mesma mídia despeja sua urubologia sobre eles dia e noite.
A presidente Dilma Rousseff até que tentou explicar, recentemente, que não se mede a administração de um país apenas pelo PIB, mas foi em vão. A mídia caiu em cima dela, acusando-a de dizer isso só porque o PIB deverá ser “fraco” neste ano – estima-se que o Brasil crescerá cerca de 2% em 2012.
A mídia ainda não aprendeu a respeitar a inteligência e a capacidade administrativa da presidente da República. Em certos momentos, aliás, Dilma dá um banho de estratégia em Lula, que, ao estilo de que gosta este blogueiro, metia a boca no PIG quando este praticava a sua urubologia em 2008.
O “poste” que a mídia criou em 2010 – e no qual ainda acredita – sabia, por óbvio, do estudo do Ipea que mostra, aliás, que as famílias brasileiras estão sabendo analisar muito bem o contexto conjuntural da economia e as perspectivas do país. E – repito – que estão dando mais crédito ao governo do que à urubologia midiática.
O seguinte trecho de matéria da Agência Brasil sobre o estudo em questão corrobora o que está sendo dito acima:
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A pesquisa [ do Ipea] mostra, entretanto, que as famílias estão um pouco menos otimistas quanto à situação econômica para os próximos 12 meses. O índice passou de 66,8% em maio para 65% em junho. (…) Contudo, para os próximos cinco anos, as famílias aumentaram o grau de otimismo: o índice ficou em 63% no mês passado, contra 62% em maio.
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Sim, as famílias estão entendendo que o país passa por um momento de transição após um freio de arrumação em um crescimento desordenado da economia que estava gerando aumentos de preços que poderiam solapar o ganho de renda proporcionado pela forte atividade econômica de 2010, quando o PIB subiu quase 8%.
O resultado do crescimento desordenado desencadeado após a estagnação em 2008/2009, então gerada pelo primeiro arreganho da crise, fez a boa e velha lei da oferta e da procura colocar nos píncaros do absurdo os aluguéis, o preço dos imóveis, os alimentos e tudo mais.
O recrudescimento no Brasil neste ano de uma crise internacional que nos países ricos se mantém desde 2008 vem sendo apontado pela mídia como um problema particular do país e não como o que é: mera conseqüência de uma situação na economia mundial que, soube-se há pouco, deprimiu, fortemente, o crescimento até da China, que deve crescer “só” 7%.
Para a China, explica-se, o patamar de 7% é baixíssimo, acostumada que esteve, durante décadas, a crescer acima de dois dígitos.
A urubóloga mor da República, a jornalista econômica global Miriam Leitão, porém, vem atribuindo o crescimento modesto que o Brasil deve experimentar em 2012 a problemas internos. Ela e o resto do PIG vêm dizendo que estaria “esgotado” o modelo de crescimento da economia baseado no consumo das famílias.
Colocam o endividamento das famílias e a inadimplência (que, de fato, subiu um pouco) como sinais sérios de que o país está na rota errada. O país não está na rota errada. Medidas foram tomadas para mitigar o endividamento e a inadimplência: os juros estão caindo para os novos negócios, ainda que estejam tentando mantê-los altos.
O crescimento do endividamento e da inadimplência se deve não à atividade econômica mais lenta, mas aos juros altos. As medidas do governo para combater os juros, para estimular a indústria, para melhorar a taxa de câmbio para os exportadores, tudo isso deve reativar a indústria e alavancar o nível de investimento no médio prazo, daí a visão das famílias de que os próximos 12 meses serão difíceis, mas que os próximos cinco anos serão melhores.
O brasileiro está aprendendo que não é preciso adotar medidas recessivas e penosas para a população, que os neoliberais demo-tucano-midiáticos chamam de medidas de “austeridade” para enfrentar crises – no tempo em que o PSDB e a mídia governavam o Brasil, adotavam-se fórmulas recessivas e diminuição de gastos públicos. Todos se lembram do resultado disso.
As políticas públicas de contrapeso à baixa atividade econômica estão gerando recordes na criação de empregos, apesar de a economia estar crescendo devagar. E cresce devagar até porque o PIB cresceu muito.
Há uma chuva de análises críticas relativas ao “baixo” crescimento do Brasil no ano passado. O país cresceu 2,7% sobre 2010, chegando o PIB a impressionantes 2,4 trilhões de dólares. Para que se possa mensurar com serenidade e de forma realista o salto que a economia brasileira experimentou na última década, portanto, há que fazer algumas comparações.
Em 2002, o PIB do Brasil somava R$ 1,4 trilhões. No primeiro semestre daquele ano, a cotação média do dólar foi de R$ 2,44. Com o início do processo eleitoral, a cotação disparou até alcançar R$ 3,81 no segundo semestre. Se considerarmos uma taxa média de R$ 3,12 por dólar, portanto, o PIB brasileiro, há dez anos, foi de US$ 448 bilhões.
Enquanto o PIB brasileiro triplicou (em reais) em nove anos (2002-2011), o dos Estados Unidos passou de US$ 11, 2 trilhões em 2002 para US$ 13,3 trilhões em 2011. O PIB nacional, que em 2002 equivalia a 4% do PIB americano, hoje equivale a 18%.
Nada disso é relevado pela mídia. Diz o absurdo de que estaria “esgotado” o modelo de crescimento da economia baseado no consumo das famílias. Isso em um país em que ainda metade da população nem tem acesso ao crédito.
Na última segunda-feira, aliás, participei de programa da revista Fórum veiculado via streaming no qual fui um dos entrevistadores do ex-presidente do Ipea e candidato do PT a prefeito de Campinas, Marcio Pochmann. O economista deu um dado que poucos conhecem: há apenas 170 bancos no país enquanto que, nos EUA, esse número pode chegar a 4 mil (!).
Esse fenômeno decorre de que, ainda, resta uma parcela imensa, descomunal dos brasileiros que consome só o básico e que nem mesmo tem conta em banco – crédito, então, nem pensar.
Ainda assim, o crédito cresceu muito. A renda do trabalhador, idem. Dessa forma, o consumo não poderia deixar de crescer. Crescendo o consumo, obviamente que cresce o endividamento e, claro, a inadimplência acaba sofrendo algum aumento. Contudo, ainda é baixíssima em um país em que a principal fonte de inadimplência são, justamente, os juros altos.
As medidas do governo Dilma para baixar os juros certamente surtirão efeitos no endividamento e na inadimplência, mas isso demora um pouco. Dívidas antigas serão repactuadas e as novas terão custo financeiro menor…
Sim, a queda nos juros não está ocorrendo tão rapidamente, mas está ocorrendo. Dizem que não, mas está e todos verão isso. É nisso, ao menos, que acreditam as famílias brasileiras, o povão, segundo o Ipea. E essa é uma má, uma péssima, uma tenebrosa notícia para a direita demo-tucano-midiática, pois mostra que sua urubologia não cola mais.
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