Dentro do cenário espanhol: linguagem sombria
O uso do conceito armadilha e a falsificação da linguagem política formam parte de uma estratégia intencional para condicionar a percepção da realidade e dificultar o raciocínio crítico. Não é de hoje. A manipulação da linguagem para manobrar a política é uma constante ao longo da história. Os sistemas políticos totalitários e fascistas se apoiaram na degradação deliberada para criar dificuldades no raciocínio crítico. Na atualidade, há um novo ataque à linguagem por parte dos poderes econômicos e políticos neoliberais, que vem sendo minuciosamente preparado e posto em prática através dos meios de comunicação controlados por eles. O objetivo é subverter o significado real das palavras para poder modificar a realidade em sua volta e ganhar a complacência dos cidadãos, que percebem as políticas muito prejudiciais para igualdade e o bem comum.
A exemplo disto, na quarta-feira, 4 de julho, o presidente da Espanha, Mariano Rajoy, anunciou as medidas mais drásticas da história desta Península, encaminhando o país ao precipício da ruptura do pacto social que o Governo está obrigado a defender. O presidente espanhol reduziu o subsídio do valor do seguro-desemprego, limitou o acesso à ajuda mínima para reinserção social, gerou mais uma taxa para consultas de saúde pública, dentre outros itens que agudizarão a crise social. Rajoy disse na tribuna: “os espanhóis não podem escolher se fazemos ou não sacrifícios. Não temos esta liberdade”. Afirmação como esta, um governante só deveria pronunciar um minuto antes de apresentar a sua demissão. Se já não é capaz de ser responsável pelas políticas que implementa, um chefe de governo não deve continuar.
O presidente afirma que não tem liberdade para decidir. Isto é muito grave. Um líder se distingue porque é capaz de garantir plenamente as decisões que toma, sem buscar, subterfúgios. É a base da sua credibilidade. De todo modo, estes recortes somados à palavra austeridade, constituem-se num novo ataque a uma linguagem minuciosamente preparada e posta em prática pelos estrategistas e retóricos do neoliberalismo para acabar com o Bem Estar Social tão arduamente construído depois da Segunda Guerra Mundial.
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