Por que falar tanto de Jango?
Postado por Juremir em 14 de novembro de 2013
Por que tanto Jango?
Um jornalista não foge dos fatos. Um historiador vai ao encontro do acontecimentos. Um sociólogo precisa entender o contexto da produção dos fatos e dos acontecimentos. Um escritor como eu precisa juntar tudo isso em busca de um sentido mais profundo. Os restos mortais de Jango foram exumados ontem. Nenhum assunto é tão importante neste momento para o entendimento do Brasil de ontem e indicação do Brasil de amanhã. Dediquei grande parte dos últimos 13 anos da minha vida ao estudo das vidas de Getúlio Vargas, Leonel Brizola e João Goulart. Foi uma maneira, obviamente, de estudar o papel do Rio Grande do Sul na política brasileira do século XX.
Hoje, a partir das 17 horas, começo a dar um fecho a parte deste ciclo histórico com um bate-papo, no Santander Cultural. Às 19 horas, no Pavilhão de Autógrafos, sessão de dedicatórias de meu livro “Jango, a vida e a morte no exílio” (L&PM). Será o momento de falar a partir das informações ainda frescas e das emoções de um acontecimento histórico: a exumação dos restos mortais do único presidente brasileiro a ter morrido no exterior.
Por que tanto Jango? Por que falo tanto dele? Por que me sinto magnetizado, desde à época em que era estudante de História, pelo seu poderoso discurso de 13 de março de 1964, na Central do Brasil: “Não receio ser chamado de subversivo pelo fato de proclamar, e tenho proclamado e continuarei proclamando em todos os recantos da Pátria – a necessidade da revisão da Constituição, que não atende mais aos anseios do povo e aos anseios do desenvolvimento desta Nação. Essa Constituição é antiquada, porque legaliza uma estrutura socioeconômica já superada, injusta e desumana; o povo quer que se amplie a democracia e que se ponha fim aos privilégios de uma minoria; que a propriedade da terra seja acessível a todos; que a todos seja facultado participar da vida política através do voto, podendo votar e ser votado; que se impeça a intervenção do poder econômico nos pleitos eleitorais e seja assegurada a representação de todas as correntes políticas, sem quaisquer discriminações religiosas ou ideológicas”. E ainda: “É apenas de lamentar que parcelas ainda ponderáveis que tiveram acesso à instrução superior continuem insensíveis, de olhos e ouvidos fechados, à realidade nacional”.
Pode até parecer, em partes, um apelo à reforma política e social em 2013. E mais: “Vamos continuar lutando pela construção de novas usinas, pela abertura de novas estradas, pela implantação de mais fábricas, por novas escolas, por mais hospitais para o nosso povo sofredor; mas sabemos que nada disso terá sentido se o homem não for assegurado o direito sagrado ao trabalho e uma justa participação nos frutos deste desenvolvimento”. Era demais. A elite não podia suportar tanta verdade sendo derramada diretamente nos ouvidos da massa. Jango caiu. Era um homem como tantos outros com hesitações, convicções e estratégias. Isso o tornar mais fascinante.
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