Prefeitura e municipários em greve travam ríspida negociação
Sul21Felipe Prestes
Os servidores do município de Porto Alegre iniciaram greve nesta segunda-feira (23) e, em grande número, pressionaram a prefeitura em frente ao Paço municipal durante todo o dia. A principal reivindicação é para que o reajuste salarial seja maior do que o oferecido pelo governo, que foi de 6,51%, equivalente à inflação (IPCA) dos últimos 12 meses. A outra pauta mais importante dos grevistas já foi aceita pela prefeitura hoje: que os funcionários que recebem vencimento básico menor do que o salário mínimo passem a receber o valor do mínimo como parte do salário e não por meio de abonos, como propunha a administração municipal.
Apesar de haver este acordo, integrantes da direção do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa) e o secretário de Coordenação Política e Governança Local, Cezar Busatto, tiveram uma conversa bastante ríspida na tarde desta segunda. Municipários e prefeitura acusam um ao outro de provocar a radicalização da negociação.
Na manhã desta terça-feira (24), as negociações irão continuar. E os municipários manterão a mobilização em frente ao Paço a partir das 9h. Às 14h, realizarão nova assembleia geral para tratar novamente dos rumos da greve. O Simpa calcula que 60% dos servidores pararam nesta segunda, e que 80% das escolas municipais não funcionaram. Na área da saúde, estão sendo atendidos apenas casos de emergência ou urgência, mas há também em muitas unidades de saúde municipais servidores federais que trabalham normalmente.
Servidores querem recuperar perdas salariais
Segundo o diretor-administrativo do Simpa, João Ezequiel, os municipários não aceitam o reajuste equivalente à inflação, porque desejam recuperar as perdas salariais referentes ao reajuste bimestral a que têm direito por lei e que não é cumprido desde o último ano do mandato do ex-prefeito João Verle (PT), em 2002, portanto, há quase uma década. Por isto, os servidores estão pedindo um reajuste de 11,49% além dos 6,51% já apresentados pela administração municipal. “A prefeitura deixa de pagar este reajuste mesmo sendo lei”, reclama o dirigente sindical.
O secretário Cezar Busatto afirma que a prefeitura já está atendendo duas reivindicações históricas dos servidores do município. Ele diz que aumentar o vencimento básico dos servidores que ganham menos até chegar ao salário mínimo é uma conquista dos servidores, e que atinge justamente os que mais precisam. Além disto, ressalta que a prefeitura deve implantar no segundo semestre plano de saúde para os servidores, em parceria com o IPE. “Esta é uma reivindicação que os municipários têm há 40 anos, uma grande conquista. Eles argumentam que já estava previsto em lei, mas a prefeitura está implantando, isto também terá impacto no erário do município. Há um conjunto de reivindicações que estamos atendendo que nos impedem de dar um reajuste salarial acima do IPCA”.
Radicalização
Algumas medidas tomadas pela prefeitura desagradaram muito os municipários e isto pode, segundo João Ezequiel, tornar ainda mais difíceis as negociações. O dirigente sindical afirma que a prefeitura anunciou o corte do ponto de quem aderisse a greve tão logo os municipários haviam anunciado que cruzariam os braços. Além disto, acusa o governo municipal de ameaçar os servidores concursados que ainda estão em estágio probatório, a fim de que não adiram à greve. “As medidas que a prefeitura tem tomado para tentar impedir a paralisação são antidemocráticas. Cada medida deste tipo irá radicalizar ainda mais a categoria”, diz.
O secretário Cezar Busatto reconhece que a administração municipal considera que aqueles funcionários que estão em estágio probatório podem perder pontos na avaliação que ocorre após o fim deste estágio. Além disto, diz que cortar o ponto é um direito da prefeitura. “Isto faz parte da luta política. Os servidores têm todo o direito de fazer greve, assim como a prefeitura precisa tomar medidas para garantir ao máximo que os serviços públicos sejam prestados”. Busatto também afirma que a greve foi uma radicalização desnecessária por parte dos servidores. “Estávamos em plena negociação quando a greve foi decidida. Não havia razão para irem para a greve”.
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