Moshiri passa dos limites
Tijolaço
Acabo de ler as declarações do Sr. Ali Moshiri à agência Reuters.
Ele acena com novos investimentos da Chevron no Brasil, mesmo estando esta empresa, no momento, impedida de perfurar no Brasil até a elucidação das causas do acidente no poço em que perfurava no campo de Frade, ao largo da costa do Rio de Janeiro.
Oferece US$ 3 bilhões de reais de investimentos nos próximos três anos, mas não oferece, neste momento, nem explicações sobre o que houve e nem sequer prosaicas desculpas pelo acontecido.
Continua arrogante e audacioso. E pior, indecoroso, porque acenar com investimentos, neste instante, soa como um “toma dez mil réis” vulgar.
Reclama que estava desde a véspera da proibição baixada pela ANP e a classifica como “precipitada”, mesmo tendo ocorrido 16 dias depois do início do vazamento e após a empresa ter sonegado e distorcido informações.
“Estou fisicamente no Brasil desde terça-feira, mas só recebi a notificação (de suspensão das perfurações) na quinta-feira. Neste período podíamos ter sentado e debatido as questões (técnicas)”, disse Moshiri.”, relata a Reuters.
O senhor Moshiri acha que está numa “ação entre amigos”, num convescote com as autoridades públicas, acha que o Brasil ia chamá-lo para tomar um chopinho e conversar sobre o acidente?
A empresa do sr. Moshiri demorou 11 dias para informar ao país onde perfura e ganha dinheiro que tinha havido um “kick”, ou seja uma forte elevação de pressão no poço que, por conta da válvula preventiva (blowout preventer) não levou de roldão as instalações do poço no leito marinho, mas fez fendas no solo abaixo da aparentemente primeira e única sapata de sustentação e selagem, permitindo a passagem de óleo para a água.
“Poderíamos ter sentado e discutido as questões técnicas?”
O senhor Moshiri pensa que este é um país de beócios? Se quer discutir as questões técnicas, há um monte delas sobre as quais a Chevron ainda não se pronunciou.
Querem uma lista?
O subordinado de Moshiri confessou, na Câmara, como todos podem ver no vídeo acima que, na inspeção da aderência da sapata e vedação nesta sapata “nós não encontramos o cimento onde nós esperávamos”. Mas sua empresa não esclarece se esta inspeção foi, como deveria ser , feita logo após a injeção de cimento ou se agora, depois do acidente. E, se feita na época correta, porque as falhas da cimentação não foram percebidos ou não foram corrigidas?
A Chevron não informa qual foi a pressão esperada e a alcançada de fato na coluna de perfuração no momento do kick, nem em que velocidade ela se elevou, o que é fundamental para que os engenheiros de petróleo possam calcular se a implantação de sapatas era adequada à possibilidade de “kicks”, que estão longe de serem incidentes raros.Não há qualquer dificuldade em fornecer estes dados, eles estão registrados eletronicamente no diário de perfuração.
Não informa também qual era a densidade e o volume da lama que utilizava como peso para contrapor à força ascencional do kick, nem as providências adotadas para adensá-la diante da elevação da pressão.
Não informa porque levou tanto tempo para associar o vazamento ao “kick” e muito menos porque, muito tempo depois de saber que eram as deficiências de seu poço as responsáveis pelo derrame, a empresa divulgava uma nota oficial, reproduzida pelo G1, dizendo que “não houve qualquer vazamento na cabeça do poço” e omitia que, sim, havia vazamento no poço, embora este não fosse naquele ponto?
Aliás, as falhas de comunicação da empresa não se deram por inexperiência. A gerente de comunicação da Chevron é a sra. Lia Blower, que ocupou o mesmo cargo na Petrobras, durante o Governo FHC. Conhece a indústria do petróleo e sabe como ela deve transparência à sociedade. Se não deu as informações necessárias e evitou, por onze dias, que qualquer pessoa da empresa falasse com a imprensa é porque foi mandada fazer assim.
Temos milhares de poços perfurados no leito ocêanico e nenhum deles vazou, e muito menos desta forma. Não é, portanto, um risco imprevisível, uma fatalidade. É um erro técnico, e grave. Resta saber o que o motivou.
Portanto, Mr. Moshiri, baixe seu tom ao falar num país que o recebe bem, e à sua empresa, como deve receber qualquer pessoa ou instituição estrangeira que se porte com responsabilidade. Aqui ninguém o mandou tirar o sapato por ser de origem árabe, porque somos civilizados e respeitosos com as pessoas e nos sentimos irmãos de todos os povos do mundo.
A Chevron tem, por enquanto, uma concessão pública, não um enclave de petróleo num paiseco sem soberania. Embora muitos dos amigos de sua empresa não concebam o Brasil senão como colônia, não o somos.
Aliás, o senhor devia preocupar-se com a repercussão destes fatos também lá fora, porque seus superiores, a esta altura, devem estar contabilizando os danos de imagem que a Chevron teve e ainda vai ter, pelo mundo afora, por conta de seu procedimento.
Os senhores podem ser a segunda maior petroleira do mundo, mas não são mais intocáveis.
Tijolaço
Acabo de ler as declarações do Sr. Ali Moshiri à agência Reuters.
Ele acena com novos investimentos da Chevron no Brasil, mesmo estando esta empresa, no momento, impedida de perfurar no Brasil até a elucidação das causas do acidente no poço em que perfurava no campo de Frade, ao largo da costa do Rio de Janeiro.
Oferece US$ 3 bilhões de reais de investimentos nos próximos três anos, mas não oferece, neste momento, nem explicações sobre o que houve e nem sequer prosaicas desculpas pelo acontecido.
Continua arrogante e audacioso. E pior, indecoroso, porque acenar com investimentos, neste instante, soa como um “toma dez mil réis” vulgar.
Reclama que estava desde a véspera da proibição baixada pela ANP e a classifica como “precipitada”, mesmo tendo ocorrido 16 dias depois do início do vazamento e após a empresa ter sonegado e distorcido informações.
“Estou fisicamente no Brasil desde terça-feira, mas só recebi a notificação (de suspensão das perfurações) na quinta-feira. Neste período podíamos ter sentado e debatido as questões (técnicas)”, disse Moshiri.”, relata a Reuters.
O senhor Moshiri acha que está numa “ação entre amigos”, num convescote com as autoridades públicas, acha que o Brasil ia chamá-lo para tomar um chopinho e conversar sobre o acidente?
A empresa do sr. Moshiri demorou 11 dias para informar ao país onde perfura e ganha dinheiro que tinha havido um “kick”, ou seja uma forte elevação de pressão no poço que, por conta da válvula preventiva (blowout preventer) não levou de roldão as instalações do poço no leito marinho, mas fez fendas no solo abaixo da aparentemente primeira e única sapata de sustentação e selagem, permitindo a passagem de óleo para a água.
“Poderíamos ter sentado e discutido as questões técnicas?”
O senhor Moshiri pensa que este é um país de beócios? Se quer discutir as questões técnicas, há um monte delas sobre as quais a Chevron ainda não se pronunciou.
Querem uma lista?
O subordinado de Moshiri confessou, na Câmara, como todos podem ver no vídeo acima que, na inspeção da aderência da sapata e vedação nesta sapata “nós não encontramos o cimento onde nós esperávamos”. Mas sua empresa não esclarece se esta inspeção foi, como deveria ser , feita logo após a injeção de cimento ou se agora, depois do acidente. E, se feita na época correta, porque as falhas da cimentação não foram percebidos ou não foram corrigidas?
A Chevron não informa qual foi a pressão esperada e a alcançada de fato na coluna de perfuração no momento do kick, nem em que velocidade ela se elevou, o que é fundamental para que os engenheiros de petróleo possam calcular se a implantação de sapatas era adequada à possibilidade de “kicks”, que estão longe de serem incidentes raros.Não há qualquer dificuldade em fornecer estes dados, eles estão registrados eletronicamente no diário de perfuração.
Não informa também qual era a densidade e o volume da lama que utilizava como peso para contrapor à força ascencional do kick, nem as providências adotadas para adensá-la diante da elevação da pressão.
Não informa porque levou tanto tempo para associar o vazamento ao “kick” e muito menos porque, muito tempo depois de saber que eram as deficiências de seu poço as responsáveis pelo derrame, a empresa divulgava uma nota oficial, reproduzida pelo G1, dizendo que “não houve qualquer vazamento na cabeça do poço” e omitia que, sim, havia vazamento no poço, embora este não fosse naquele ponto?
Aliás, as falhas de comunicação da empresa não se deram por inexperiência. A gerente de comunicação da Chevron é a sra. Lia Blower, que ocupou o mesmo cargo na Petrobras, durante o Governo FHC. Conhece a indústria do petróleo e sabe como ela deve transparência à sociedade. Se não deu as informações necessárias e evitou, por onze dias, que qualquer pessoa da empresa falasse com a imprensa é porque foi mandada fazer assim.
Temos milhares de poços perfurados no leito ocêanico e nenhum deles vazou, e muito menos desta forma. Não é, portanto, um risco imprevisível, uma fatalidade. É um erro técnico, e grave. Resta saber o que o motivou.
Portanto, Mr. Moshiri, baixe seu tom ao falar num país que o recebe bem, e à sua empresa, como deve receber qualquer pessoa ou instituição estrangeira que se porte com responsabilidade. Aqui ninguém o mandou tirar o sapato por ser de origem árabe, porque somos civilizados e respeitosos com as pessoas e nos sentimos irmãos de todos os povos do mundo.
A Chevron tem, por enquanto, uma concessão pública, não um enclave de petróleo num paiseco sem soberania. Embora muitos dos amigos de sua empresa não concebam o Brasil senão como colônia, não o somos.
Aliás, o senhor devia preocupar-se com a repercussão destes fatos também lá fora, porque seus superiores, a esta altura, devem estar contabilizando os danos de imagem que a Chevron teve e ainda vai ter, pelo mundo afora, por conta de seu procedimento.
Os senhores podem ser a segunda maior petroleira do mundo, mas não são mais intocáveis.
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