Lembro como se fosse ontem: 17 de março de 2008. Já passava das 22h quando nossos olhos se cruzaram pela primeira vez. Foi amor à primeira vista, pode acreditar. Eu vinha de uma série de relações breves, não conseguia me deixar levar por ninguém, e quando você apareceu... nossa, era o programa de humor, na televisão aberta, que estava esperando por toda minha vida (mentira, vivi um lance muito forte com a TV Pirata, mas sabe como são essas coisas do coração, né?).
Um humor corrosivo e de cara limpa, sem o apoio de bordões, de olho na pompa ridícula de políticos e celebridades, além de um pé no jornalismo no quadro sobre os desperdícios e desmandos do poder público. Ah, CQC, como eu te amei! Tanto sua bancada de três cabeças-línguas quanto seus comediantes-repórteres, cada um a seu jeito.
Foi um ano lindo, lua de mel e amendoim todas às segundas, e era gostoso a gente se encontrar, a risada rolava fácil, assunto não faltava. Então encontrei, exatamente nessa época, sua cabeça mais brilhante e fiquei encantado. Na entrevista que deu origem à matéria “Entende o mundo quem ri melhor”, Tas me disse coisas como: “Nós não podemos fazer o que estamos criticando, ou seja, denúncias vazias, explorar fatos de uma maneira exagerada, fazer perguntas que não são pertinentes. (...) Não queremos virar os justiceiros ou a patrulha da moral e dos bons costumes”. Eu, cego de paixão, acreditei.
O primeiro ano se passou, a segunda temporada entrou no ar e segui fiel. Algumas coisinhas começaram a me incomodar, mas achei que era implicância, imaturidade minha. Qual o problema de cada matéria vir precedida por um comercial interminável e engraçadinho com os próprios integrantes do programa? Que mal há em cortar a resposta do entrevistado deixando na edição final apenas a pergunta-polêmica do repórter? De qualquer forma, comecei a perder um episódio ou outro. Vejo depois na internet, dizia para os meus botões, sem querer aceitar que a gente estava se distanciando.
Aí, na terceira temporada em 2010, a coisa desandou de vez. Não adiantou colocar uma mulher entre os repórteres, quadros novos também não resolveram. A gente deixou de falar a mesma língua, simples assim, só que de vez em quando contemporizava: afirmando que o problema era comigo, não com você. Bobagem, o problema era com você sim.
Desacreditar políticos com piadas é a coisa mais fácil do mundo e garante repercussão entre cidadãos preguiçosos que acham que esse pessoal de Brasília é tudo igual. Bancar o machão com um assistente de subsecretário de cidade interior é sopinha no mel. Quero ver fazer piadas com empresas que patrocinam o programa (isso acontece com muita frequência nos Estados Unidos), quero ver um Proteste Já com o setor privado.
Para onde foi aquela acidez de tempos passados que puxava o tapete das celebridades, globais ou não? Quando todos ficaram famosos demais a ponto de tudo virar uma suruba de rasgações de seda?
Na época da eleição, então, a coisa piorou ainda mais. Marcelo Tas, o saudoso e espirituoso Ernesto Varela, foi mostrando facetas autoritárias, preconceituosas e parciais, tanto na TV quanto no twitter (‘para os meus amigos, babações de ovo ou o silêncio cúmplice; para os inimigos, a piadinha rasteira e a polêmica fogo de palha’). Só sei que meu coração se quebrou em mil pedacinhos e que minha mulher não quis recolhê-los porque disse que já tinha me avisado inúmeras vezes.
Um humor corrosivo e de cara limpa, sem o apoio de bordões, de olho na pompa ridícula de políticos e celebridades, além de um pé no jornalismo no quadro sobre os desperdícios e desmandos do poder público. Ah, CQC, como eu te amei! Tanto sua bancada de três cabeças-línguas quanto seus comediantes-repórteres, cada um a seu jeito.
Foi um ano lindo, lua de mel e amendoim todas às segundas, e era gostoso a gente se encontrar, a risada rolava fácil, assunto não faltava. Então encontrei, exatamente nessa época, sua cabeça mais brilhante e fiquei encantado. Na entrevista que deu origem à matéria “Entende o mundo quem ri melhor”, Tas me disse coisas como: “Nós não podemos fazer o que estamos criticando, ou seja, denúncias vazias, explorar fatos de uma maneira exagerada, fazer perguntas que não são pertinentes. (...) Não queremos virar os justiceiros ou a patrulha da moral e dos bons costumes”. Eu, cego de paixão, acreditei.
O primeiro ano se passou, a segunda temporada entrou no ar e segui fiel. Algumas coisinhas começaram a me incomodar, mas achei que era implicância, imaturidade minha. Qual o problema de cada matéria vir precedida por um comercial interminável e engraçadinho com os próprios integrantes do programa? Que mal há em cortar a resposta do entrevistado deixando na edição final apenas a pergunta-polêmica do repórter? De qualquer forma, comecei a perder um episódio ou outro. Vejo depois na internet, dizia para os meus botões, sem querer aceitar que a gente estava se distanciando.
Aí, na terceira temporada em 2010, a coisa desandou de vez. Não adiantou colocar uma mulher entre os repórteres, quadros novos também não resolveram. A gente deixou de falar a mesma língua, simples assim, só que de vez em quando contemporizava: afirmando que o problema era comigo, não com você. Bobagem, o problema era com você sim.
Desacreditar políticos com piadas é a coisa mais fácil do mundo e garante repercussão entre cidadãos preguiçosos que acham que esse pessoal de Brasília é tudo igual. Bancar o machão com um assistente de subsecretário de cidade interior é sopinha no mel. Quero ver fazer piadas com empresas que patrocinam o programa (isso acontece com muita frequência nos Estados Unidos), quero ver um Proteste Já com o setor privado.
Para onde foi aquela acidez de tempos passados que puxava o tapete das celebridades, globais ou não? Quando todos ficaram famosos demais a ponto de tudo virar uma suruba de rasgações de seda?
Na época da eleição, então, a coisa piorou ainda mais. Marcelo Tas, o saudoso e espirituoso Ernesto Varela, foi mostrando facetas autoritárias, preconceituosas e parciais, tanto na TV quanto no twitter (‘para os meus amigos, babações de ovo ou o silêncio cúmplice; para os inimigos, a piadinha rasteira e a polêmica fogo de palha’). Só sei que meu coração se quebrou em mil pedacinhos e que minha mulher não quis recolhê-los porque disse que já tinha me avisado inúmeras vezes.
Segunda agora, anteontem, resolvi dar uma olhada no que estava acontecendo. Fazia um bom tempo que não assistia a um programa inteiro. Às vezes fugia de propósito, mas noutras esquecia completa e sinceramente. Sabia que as coisas por aí não andavam bem – audiência caindo, brigas internas, expulsão de um dos integrantes –, mas procurei assistir com amor no coração, respeitando a nossa história, saca? Não adiantou. Tudo estava diferente, sem graça, arrastado e moralmente flácido. Pensei que ficaria triste, tantos talentos se queimando desperdiçados, mas não senti nada. Nadinha. Um pouquinho de felicidade talvez, afinal agora poderia partir para outra de coração leve. E que o último a sair por aí apague a luz.
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