sábado, 26 de novembro de 2011

pequenas histórias da república do Real


Cerra e o Plano Real:
da omissão ao boicote


Conversa Afiada




CENA I

No apartamento em Brasília de Fernando Henrique Cardoso.

Presentes, economistas do Plano Real, entre eles, Andre Lara Rezende.

(Outros nomes são omitidos, para evitar identificar a fonte deste post.)

E políticos como Tasso tenho jatinho porque posso, Ciro Gomes, Padim Pade Cerra e Mario Covas, que sobre todos ali tinha ascendencia política e, em alguns casos, moral.

Covas, por exemplo, impediu Fernando Henrique de ser chanceler de Collor – convite que aceitou com incontido entusiasmo, a ponto de já escolher o secretário geral do Itamaraty.

Tudo pronto para lançar o Plano Real.

Depois de se debater com diferentes ministros da Fazenda, o Presidente Itamar Franco tinha aprovado o Plano.

Andre Lara Rezende, embora fosse um dos principais arquitetos do Plano, ao lado de Persio Arida – era o plano “Larida” – parecia ali o mais pessimista.

Não vai dar certo.

Vai provocar a maior hiper-inflação da História.

A bancada dos economistas começou a ter dúvidas.

O Itamar não vai segurar o tranco.

Sem as reformas, o Plano vai dar com os burros n’água.

E o Itamar e o Congresso não vão ter peito para fazer o que o Plano exige.

Tasso, Ciro e Covas reagiram.

Não havia alternativa.

O povo não aguentava mais a inflação.

O movimento teria de ser o inverso.

Primeiro, fazer o Plano e ganhar autoridade política para, depois, fazer as reformas.

FHC, o maior beneficiário do sucesso do Plano, dava apoio discreto.

Aí, Covas resolveu correr a mesa.

Um por um tem que votar.

E um por um votou.

A mesa correu e quando chegou à ponta, Cerra ficou calado.

Nem sim nem não.

Calado ficou e FHC, de fininho, disse “pessoal, nessa mesa tem um vinhozinho chileno bem decente, uns sanduiches, refrigerantes”.

E ia dar por encerrada a reunião, quando o Covas berrou:

Alto lá, eu quero saber o que o Cerra acha.

É porque, se o Plano fracassar, ele vai dizer que foi contra desde o início e torpedear minha candidatura ao governo de São Paulo.

Todo mundo aqui tem que dizer o que pensa, disse Covas, uma fera !

Cerra falou baixinho: eu concordo.

CENA II

Fernando Henrique nos Estados Unidos, em frenéticas reuniões com os bancos para vender o Plano.

Os banqueiros queriam mais: uma reforma tributária.

A começar por Bill Rhodes, do Citibank, e presidente do comitê dos bancos credores.

Sem reforma tributária, nem pensar!

E, desde o Brasil, FHC anunciava uma reforma profunda, para dar consistência ao Orçamento.

Foi por falta de austeridade fiscal que o Cruzado tinha ido para o brejo – com esses mesmos ecomomistas do Real.

FHC se preparava, de manhã cedo, para ir a mais uma reunião com credores, quando sabe que nos jornais brasileiros do dia havia uma declaração do Cerra: como líder do Governo na Câmara, considerava a reforma tributária morta ao nascer.

FHC ligou para o Brasil aos gritos – o que raramente faz:

Ele quer boicotar o Plano (…!). Ele é assim: ou é ele quem faz ou ele boicota.(… !)

Cerra recebeu logo cedo de manhã uma visitinha.

Ou se desmentia ou seria destituído da liderança do Partido.

Ele se desdisse.

CENA III

FHC na presidência, pipocam no PiG (*) notas de autoria anônima com a expressao “populismo cambial”.

Designava a paridade do Real com dólar, um dos pontos centrais do Plano.

“Populismo cambial” passou a ser muito usado por colonistas (**) que chamam o Cerra assim, com intimidade: Serra.


Paulo Henrique Amorim


(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(**) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG (*) que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.

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