Sobre Restrepo e outros bichos
Viomundopor Luiz Carlos Azenha
Por causa de compromissos pessoais e profissionais, muitas vezes simplesmente “perco” os debates. O assunto bomba na rede e eu, nada. Às vezes apenas anoto algum assunto sobre o qual preciso me informar e, meses depois, consultando as anotações, caio na real: “Nossa, preciso ver aquele filme!”; “Virgem, perdi os quatro pênaltis que o Brasil desperdiçou!”; “Deus do céu, como é que eu não soube antes da fofoca?”
Em resumo, não sou exatamente uma pessoa sintonizada com os tempos que correm.
Não deu para responder, na época, ao leitor que queria saber minha opinião a respeito de Restrepo, o documentário sobre a presença dos Estados Unidos em uma região particular do Afeganistão.
Finalmente vi o filme.
Nada que eu não tivesse visto antes, em outros formatos.
Americano jovem, do interior, vai ao estrangeiro matar desconhecidos. Americano tenta falar inglês com (substitua aqui a nacionalidade preferida) como se estivesse nos Estados Unidos. Americano mata inocente. Americano chora a morte de colega soldado.
Meu ponto é exatamente este: pouco importa se é filme ou documentário, se é uma denúncia contra a guerra sem sentido (e qual guerra faz sentido?). Todo filme de guerra produzido nos Estados Unidos gira em torno do umbigo dos soldados gringos. Deve ser assim no Japão, na China e na Rússia.
Sendo assim, prefiro perder meu tempo lendo textos de História sobre as guerras no Afeganistão, do império britânico ao império soviético.
Ah, e se falamos de filmes de guerra, eu ainda prefiro a ficção de Stanley Kubrick, em Full Metal Jacket, por exemplo.
Sargento Hartman, para os soldados em treinamento:
“Hoje é Natal. Teremos um show de mágica às 9 e meia. O capelão Charlie vai lhes falar sobre como o mundo livre vai conquistar o Comunismo com a ajuda de Deus e de alguns fuzileiros navais. Deus tem ereção com os fuzileiros porque matamos tudo o que vemos! Ele joga os Seus jogos e nós jogamos os nossos! Para mostrar apreço por tanto poder, mantemos o paraíso cheio de almas frescas! Deus estava aqui antes dos Fuzileiros Navais! Assim, vocês podem dar o coração a Jesus, mas o rabo pertence aos Fuzileiros! Entendem, senhoritas?”
Coronel para Joker:
“Filho, tudo o que peço aos meus fuzileiros é que eles obedeçam minhas ordens como obedeceriam à palavra de Deus. Estamos aqui para ajudar os vietnamitas, porque dentro de cada um deles há um americano tentando escapar”.
Joker, entrevistado:
“Eu queria ver o exótico Vietnã, a jóia da coroa do Sudeste asiático. Queria encontrar gente interessante e estimulante de uma cultura antiga… e matá-la”.
O dia em que a realidade copiar a ficção acima, me chamem para ver o filme. Um assunto a menos no meu caderninho.
PS do Viomundo: O dia em que fizerem um filme com mães e pais daquelas crianças bombardeadas, em qualquer parte do mundo, também quero ver.
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