Dilma nos EUA: cachaça e soberania
Editorial do sítioVermelho:
Depois de 12 anos de contencioso comercial com os Estados Unidos, finalmente se pode dizer que “a cachaça é nossa”. Em contrapartida, o uísque bourbon, destilado do Tennessee e também apreciado aqui pelos que têm condições de comprar bebida importada, foi reconhecido pelo Brasil como produto exclusivamente norte-americano.
Também após longos anos de demandas por parte do Brasil, o governo dos Estados Unidos anunciou, durante a visita da presidente Dilma a esse país, a abertura de dois novos consulados – em Belo Horizonte e Porto Alegre – além de determinar a adoção de procedimentos mais ágeis para a concessão de vistos de entrada às centenas de milhares de turistas e negociantes brasileiros que se destinam ao país do Norte. A este respeito, não se pense ingenuamente que se trata de uma democratização das políticas migratórias estadunidenses. Aqui falaram mais alto os interesses financeiros dos Estados Unidos, onde os turistas brasileiros fazem gastos que animam os negócios por lá.
Por incrível que pareça, foram esses os resultados do intercâmbio entre Dilma e Obama que mereceram maior destaque e celebração na cobertura da mídia privada brasileira sobre a visita de Estado da presidente aos Estados Unidos nestas segunda e terça-feira (9 e 10).
Antes da visita, os entreguistas mais notórios do país tropical chegaram a criticar a diplomacia brasileira por não ter conseguido alçar a visita presidencial a um nível de importância tal que a nossa presidente fosse convidada a um jantar na Casa Branca, honraria que os presidentes dos Estados Unidos reservam aos visitantes mais importantes.
Contudo, são dois, principalmente, os aspectos a ressaltar da visita de Estado da presidente brasileira aos Estados Unidos.
Em primeiro lugar, o protesto que a presidente fez com palavras diplomáticas mas firmes contra o protecionismo cambial dos países imperialistas. Nisso, Dilma foi porta-voz não só dos interesses comerciais brasileiros, mas também do Brics. “Queremos reiterar que o Brasil repudia todas as formas de protecionismo, e portanto, inclusive essa que se configura como sendo uma espécie de protecionismo cambial. Nós acreditamos, portanto, que a fragilidade da economia mundial não pode converter-se em pretexto para que a gente reedite o que aconteceu no século passado, na década de 1930, com trágicas consequências”.
Ao condenar o protecionismo cambial dos países ricos, a presidente Dilma também marcou posição sobre a crise econômica internacional, condenando as receitas em voga adotadas pelos conservadores e neoliberais. “Eu tenho convicção de que a saída para a crise não está em políticas recessivas nem na supressão de conquistas sociais (…) Só políticas monetárias não contribuem para a retomada do crescimento”, disse.
Este é o busílis da questão, e não se venderemos algumas doses a mais da boa cachacinha brasileira aos norte-americanos. Num mundo altamente competitivo, em que os gigantes se digladiam e adotam protecionismo de todo tipo, uma nação que ambiciona desenvolver-se e promover a justiça social só poderá fazê-lo antes de tudo afirmando a sua soberania econômica como base da soberania política.
O outro aspecto da visita de Dilma aos Estados Unidos a merecer realce é que, fixando-se no pragmatismo dos interesses comerciais, a presidente mostrou a dimensão das relações bilaterais com os Estados Unidos. Trata-se de relações de igual para igual entre dois países que têm interesses próprios a defender.
A mídia entreguista, órfã da diplomacia de pés descalços, saudosista dos tempos do alinhamento automático orientado pela noção de que “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”, acalentou nos dias que antecederam o encontro entre a líder brasileira e o presidente Obama a expectativa de que este passaria um “pito”, em face das posições corretas da política externa brasileira sobre os principais conflitos internacionais da atualidade, destacadamente os dossiês Irã e Síria.
São e continuarão sendo diametralmente opostas as posições do Brasil e dos Estados Unidos nesse terreno. O nosso país defende o multilateralismo, o direito internacional, a democratização das relações internacionais, a solução pacífica dos conflitos. Já o imperialismo estadunidense defende as sanções, o intervencionismo, a desestabilização de governos soberanos, a violação da autodeterminação dos povos e nações, o militarismo e a guerra.
Não havendo denominador comum, nem espaço para os imperialistas formularem abertamente suas críticas, o diálogo se circunscreveu às questões comerciais e a outros itens da cooperação bilateral nos terrenos da educação, ciência e tecnologia. E quem tomou a iniciativa de abordar uma questão à margem das relações bilaterais foi a presidente brasileira, ao se referir ao consenso latino-americano e caribenho de que é uma injustiça a não participação de Cuba na Cúpula das Américas.
Yes, temos cachaça para dar e vender. E postura soberana para nos defender.
Depois de 12 anos de contencioso comercial com os Estados Unidos, finalmente se pode dizer que “a cachaça é nossa”. Em contrapartida, o uísque bourbon, destilado do Tennessee e também apreciado aqui pelos que têm condições de comprar bebida importada, foi reconhecido pelo Brasil como produto exclusivamente norte-americano.
Também após longos anos de demandas por parte do Brasil, o governo dos Estados Unidos anunciou, durante a visita da presidente Dilma a esse país, a abertura de dois novos consulados – em Belo Horizonte e Porto Alegre – além de determinar a adoção de procedimentos mais ágeis para a concessão de vistos de entrada às centenas de milhares de turistas e negociantes brasileiros que se destinam ao país do Norte. A este respeito, não se pense ingenuamente que se trata de uma democratização das políticas migratórias estadunidenses. Aqui falaram mais alto os interesses financeiros dos Estados Unidos, onde os turistas brasileiros fazem gastos que animam os negócios por lá.
Por incrível que pareça, foram esses os resultados do intercâmbio entre Dilma e Obama que mereceram maior destaque e celebração na cobertura da mídia privada brasileira sobre a visita de Estado da presidente aos Estados Unidos nestas segunda e terça-feira (9 e 10).
Antes da visita, os entreguistas mais notórios do país tropical chegaram a criticar a diplomacia brasileira por não ter conseguido alçar a visita presidencial a um nível de importância tal que a nossa presidente fosse convidada a um jantar na Casa Branca, honraria que os presidentes dos Estados Unidos reservam aos visitantes mais importantes.
Contudo, são dois, principalmente, os aspectos a ressaltar da visita de Estado da presidente brasileira aos Estados Unidos.
Em primeiro lugar, o protesto que a presidente fez com palavras diplomáticas mas firmes contra o protecionismo cambial dos países imperialistas. Nisso, Dilma foi porta-voz não só dos interesses comerciais brasileiros, mas também do Brics. “Queremos reiterar que o Brasil repudia todas as formas de protecionismo, e portanto, inclusive essa que se configura como sendo uma espécie de protecionismo cambial. Nós acreditamos, portanto, que a fragilidade da economia mundial não pode converter-se em pretexto para que a gente reedite o que aconteceu no século passado, na década de 1930, com trágicas consequências”.
Ao condenar o protecionismo cambial dos países ricos, a presidente Dilma também marcou posição sobre a crise econômica internacional, condenando as receitas em voga adotadas pelos conservadores e neoliberais. “Eu tenho convicção de que a saída para a crise não está em políticas recessivas nem na supressão de conquistas sociais (…) Só políticas monetárias não contribuem para a retomada do crescimento”, disse.
Este é o busílis da questão, e não se venderemos algumas doses a mais da boa cachacinha brasileira aos norte-americanos. Num mundo altamente competitivo, em que os gigantes se digladiam e adotam protecionismo de todo tipo, uma nação que ambiciona desenvolver-se e promover a justiça social só poderá fazê-lo antes de tudo afirmando a sua soberania econômica como base da soberania política.
O outro aspecto da visita de Dilma aos Estados Unidos a merecer realce é que, fixando-se no pragmatismo dos interesses comerciais, a presidente mostrou a dimensão das relações bilaterais com os Estados Unidos. Trata-se de relações de igual para igual entre dois países que têm interesses próprios a defender.
A mídia entreguista, órfã da diplomacia de pés descalços, saudosista dos tempos do alinhamento automático orientado pela noção de que “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”, acalentou nos dias que antecederam o encontro entre a líder brasileira e o presidente Obama a expectativa de que este passaria um “pito”, em face das posições corretas da política externa brasileira sobre os principais conflitos internacionais da atualidade, destacadamente os dossiês Irã e Síria.
São e continuarão sendo diametralmente opostas as posições do Brasil e dos Estados Unidos nesse terreno. O nosso país defende o multilateralismo, o direito internacional, a democratização das relações internacionais, a solução pacífica dos conflitos. Já o imperialismo estadunidense defende as sanções, o intervencionismo, a desestabilização de governos soberanos, a violação da autodeterminação dos povos e nações, o militarismo e a guerra.
Não havendo denominador comum, nem espaço para os imperialistas formularem abertamente suas críticas, o diálogo se circunscreveu às questões comerciais e a outros itens da cooperação bilateral nos terrenos da educação, ciência e tecnologia. E quem tomou a iniciativa de abordar uma questão à margem das relações bilaterais foi a presidente brasileira, ao se referir ao consenso latino-americano e caribenho de que é uma injustiça a não participação de Cuba na Cúpula das Américas.
Yes, temos cachaça para dar e vender. E postura soberana para nos defender.
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