terça-feira, 12 de junho de 2012

a memória que muitos querem borrar da história brasileira


Eu, sozinho, matei mais de cem militantes da esquerda durante a ditadura






A revelação acima é do ex-delegado do Dops, Claudio Antonio Guerra, no livro “Memórias de uma guerra suja” (Editora Topbooks, 2012). A leitura das revelações do delegado Guerra impressionam pela crueza (sempre na primeira pessoa) como são contadas as façanhas da chamada “tigrada” (agentes da repressão, sejam os recrutados no meio militar, sejam os das polícias civis dos estados e da PF).

Mais revelações do delegado e matador Claudio Guerra, no livro e em parte desta entrevista de 52 minutos, veiculada pela estação pública TV Brasil, e conduzida (de forma vacilante) pelo jornalista Alberto Dines:

- Governos dos Estados Unidos solicitavam ações clandestinas da repressão brasileira. Exemplo: o delegado Guerra participou de uma ação terrorista em Angola. Uma bomba colocada por um comando brasileiro, do qual Guerra participou, matou inúmeros dirigentes angolanos do MPLA que participavam de uma reunião no recinto de uma rádio em Luanda.

- A participação e o financimento da repressão feita por grandes empresários brasileiros, industriais, banqueiros, comerciantes, fazendeiros.

- A instituição de um aparato estatal de repressão montado a partir do AI-5, em 1968. Como se protegiam os que praticavam os crimes políticos bárbaros. O aparelhamento do Estado para a institucionalização de um aparato de sombras e terror, acima da lei, sem controle do próprio Estado, e, sobretudo, com a "garantia da mais absoluta impunidade". "Isso que nos motivava" - confessa Guerra, no livro.

- As motivações da bomba no Riocentro, em maio de 1981. Por que deu errado o atentado terrorista organizado pela “tigrada”. A luta interna entre os militares: os que queriam a "abertura, lenta, gradual e segura" e os setores recalcitrantes da linha dura (como o general Geisel dizia, os “bolsões sinceros, porém radicais”).

- A simulação de um atentado a bomba organizado pelo dono das Organizações Globo, Roberto Marinho, à sua própria residência no Cosme Velho, Rio de Janeiro.

- A tentativa de assassinato de Leonel Brizola.

- O assassinato do delegado Sérgio Paranhos Fleury, por decisão dos seus próprios companheiros, motivado pela sua relativa autonomia, consumo excessivo de álcool e cocaína, e por ter se exposto demais na sua ação criminosa no comando do DOI-Codi e na Operação Bandeirantes. 

- Os jornalistas e artistas (ainda vivos) que serviram a linha dura e as ações criminosas da “tigrada”.

- O assassinato do ex-dono da revista Manchete, Alexandre Von Baumgarten.

- O uso de uma usina de açúcar e álcool para incinerar corpos de militantes vítimas de torturas bárbaras, mutilações de corpos, esquartejamento e sumiço de pessoas. Ele relata que viu o corpo da irmã do jornalista Bernardo Kucinski - autor do livro “K” - e do seu marido antes de ser jogado na fornalha da usina que fica em Campos, estado do Rio.

Já se vê que o ex-delegado Claudio Guerra tem muita história para contar à Comissão da Verdade. Aliás, tanto no livro, quanto nesta entrevista, ele afirma que está disposto a declinar o nome de seus antigos companheiros da “irmandade” (como eles se chamavam entre si, durante a repressão civil-militar de 64/85).

Será que alguém ainda tem coragem de dizer que o ex-delegado Claudio Antonio Guerra é um revanchista, por estar revelando a memória que muitos querem borrar da história brasileira?

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