Horário eleitoral “gratuito”: erros e acertos, vitórias e derrotas
Benedito Tadeu César * no SUL 21
Inicia-se hoje (21), em todo o Brasil, o horário eleitoral gratuito de rádio e TV. Para a maioria do eleitorado, é agora que se inicia, de fato, a campanha eleitoral no país, pois a partir deste momento sua atenção começará a se voltar para as candidaturas de prefeito municipal, vice e vereadores. Até aqui, apenas os candidatos e os demais profissionais da política (militantes e dirigentes partidários, consultores e assessores, jornalistas, analistas, marketeiros e cientistas políticos) estiveram voltados para as atividades necessárias à campanha eleitoral.
Os cidadãos comuns (no caso, aqueles que não vivem da ou para a política) estavam, até aqui, voltados para as suas vidas privadas, cuidando de suas atividades rotineiras. Não havia começado o chamado “tempo da política”. Com o início do horário eleitoral, a política invade a vida cotidiana. Mesmo os que não gostam e/ou afirmam que não veem e/ou não ouvem a publicidade eleitoral de rádio e TV são atingidos por ela, seja porque as inserções curtas, de cerca de 30 segundos, são veiculadas nos intervalos comerciais dos programas de rádio e TV e entram, portanto, no meio das novelas, dos noticiários, do futebol e de outros programas, seja porque, mesmo não assistindo na TV e/ou ouvindo no rádio os grandes blocos de programação política, de 30 minutos pela manhã e pela noite, são atingidos pelos comentários dos que os assistem e/ou os ouvem.
A política entra, portanto, no cotidiano dos “cidadãos comuns” e isto é bom, pois é com a participação e com a fiscalização dos “cidadãos comuns” que a política e os políticos se voltam para os interesses da maioria. Sem participação e sem fiscalização, como em todas as demais atividades humanas, a tendência é a de que apenas os interesses daqueles que estão diretamente envolvidos na atividade específica sejam observados, buscados e defendidos. É por este motivo que a informação política e a participação do “cidadão comum” é indispensável.
O horário eleitoral gratuito cumpre o papel de levar informação a todos, possibilitando que os eleitores escolham mais conscientemente seus representantes. Não se espere, no entanto, que os programas eleitorais de rádio e TV produzam mudanças drásticas, por meio da informação ou da mobilização, que eles possam produzir grandes reviravoltas nos quadros de intenção de voto que já vinham se esboçando lentamente ao longo do período “não eleitoral”. Quem confiar nisto, correrá sérios risco de se enganar. Nem o horário eleitoral de rádio e TV esclarece tudo, nem faz ganhar as eleições, de forma independente das articulações e alianças de grupos de influência previamente estabelecidas.
Hoje, com o ingresso cada vez mais forte de profissionais de comunicação e marketing nas campanhas eleitorais e na produção dos programas de rádio e TV, a campanhas se igualizaram, ou seja, não há mais grandes diferenças e grandes desníveis de qualidade entre elas. Todas ficaram muito parecidas, no sentido de que todas estão, cada vez mais, embasadas em levantamentos científicos das opiniões e dos desejos dos eleitores. Não se fazem mais campanhas eleitorais baseando-se apenas na intuição dos candidatos e/ou dos seus assessores e dos dirigentes partidários.
As pesquisas de opinião e os grupos de discussão (focais) detectam os interesses e as necessidades dos eleitores e também seus desejos mais inconscientes. As técnicas de comunicação fazem o resto. Os eleitores são conquistados pelo coração e pela mente. Os programas eleitorais e as propostas neles veiculadas apelam para a emoção e para a razão dos eleitores, atingem a sua “alma”. A grande questão é que isto é conseguido por todas as campanhas. As fórmulas empregadas em todas as campanhas são as mesmas, sejam por candidatos e partidos políticos de esquerda, sejam por candidatos e partidos políticos de direita, pelos candidatos e partidos políticos de centro ou, ainda, por candidatos e partidos políticos que alegam não ter posição alguma!
Ainda que se invistam milhões de reais (ou de dólares) nas campanhas eleitorais de rádio e TV, que de gratuitas só tem a veiculação (já que sua produção é paga a peso de ouro pelos partidos e candidatos e já que as emissoras de rádio e TV descontam dos impostos devidos os valores dos minutos de veiculação dos programas), as campanhas no horário eleitoral não decidem mais eleições, como ocorria nos períodos iniciais da redemocratização brasileira, nem informam suficientemente aos eleitores.
Paradoxalmente, no entanto, o horário eleitoral é fundamental, tanto para os candidatos e partidos políticos quanto para os eleitores. Ele marca o início da disputa, atrai a atenção e incita a comparação e a escolha. A boa produção e veiculação dos programas de rádio e TV é insuficiente para um candidato ganhar uma eleição, mas a sua ausência é um forte fator para provocar a derrota de um candidato. Hoje, joga-se mais no erro da campanha adversária do que no acerto excepcional da campanha de um candidato. Por este motivo, cresce, cada vez mais, o espaço das assessorias estratégicas exercidas por cientistas políticos. Os erros de estratégia foram fundamentais, por exemplo, nas eleições de Germano Rigotto e de Yeda Crusius, no plano estadual, e de José Fogaça, no plano municipal de Porto Alegre, os quais foram eleitos, em grande parte, em virtude dos erros de condução das campanhas adversárias e pela boa exploração que suas campanhas fizeram de tais erros.
Que o eleitor fique atento aos erros e acertos de cada campanha eleitoral e, depois de muita reflexão e de muitas conversas com os amigos, os colegas de trabalho e os familiares, decida-se pelos(as) candidatos(as) a prefeito e vereador e pelos partidos políticos que, por trás das megaproduções de rádio e TV, apresentarem as melhores propostas e lhe parecerem mais confiáveis e mais capacitados para realizá-las.
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