Manuela divide peso da derrota com PT: “Crônica de uma morte anunciada”
Igor Natusch no SUL 21
A derrota em primeiro turno para José Fortunati (PDT) feriu Manuela D’Ávila (PCdoB) e seus correligionários – mas a candidata comunista deixou claro, em entrevista coletiva concedida neste domingo (7), após a confirmação do resultado, que não está disposta a carregar sozinha o peso deste revés. Ainda que sem adotar uma postura confrontadora, Manuela reforçou algo que havia dito quando do fracasso da aliança com o PT: a fragmentação do campo de esquerda era e havia sido “um erro crasso” na capital gaúcha.
“(A eleição foi) a crônica de uma morte anunciada”, acentuou a comunista, frisando que a derrota da oposição precisa motivar “muitas reflexões” entre os antigos aliados da Frente Popular. “É preciso aprender com a história. Em 2008, fomos divididos como oposição e fomos derrotados. Em 2010, unidos, vencemos em primeiro turno. Juntos, defendemos um projeto de país. Elegemos Lula duas vezes, elegemos Dilma, e nessas vitórias sempre estivemos unidos”, acrescentou.
Além de criticar a separação entre os antigos aliados, Manuela aproveitou para cutucar, ainda que de forma velada, a dificuldade de renovação que estaria sendo vivenciada pelo PT no Rio Grande do Sul. “Temos que ser mais ousados, transformadores. Não podemos ficar presos às mesmas lideranças. Precisamos ter mais força, e isso só pode ser construído a partir de mais vitórias”.
Manuela preferiu não entrar em uma análise mais específica da vitória de José Fortunati, dizendo repetidas vezes que o núcleo de sua campanha faria a análise “com calma”, a partir desta semana. Mas fez eco, ainda que de forma polida, à avaliação que se podia ouvir nos corredores do comitê: o poderio econômico da campanha de José Fortunati teria sido decisivo na reta final. “Minha estrutura é muito humilde, comparada com a de meus adversários. Ainda mais se lembramos que a campanha eleitoral brasileira é a segunda mais cara do mundo”, disse.
“Vamos ficar firmes”, disse Jussara Cony
Foi perceptível o esforço das lideranças de campanha em reverter o sentimento inicial da militância, transformando a derrota nas urnas em um momento de união. Antes da chegada dos primeiros líderes políticos, o clima era quase de desolação – acentuado pela pesquisa boca-de-urna, que confirmava a vitória em primeiro turno de Fortunati. “Para nós, é só uma pesquisa. Vamos aguardar”, disse um dos assessores, tentando sorrir, em meio aos poucos militantes presentes naquele momento, alguns segurando-se para não chorar.
“A rua é nossa, com ou sem dinheiro a gente tá na rua”, disse um militante molhado de chuva, tentando encorajar os apoiadores de Manuela que chegavam aos poucos. Outro, que chorava copiosamente, era consolado por uma colega. “Tu trabalhou tudo que pôde, não fica assim”, dizia, ela também com os olhos cheios de lágrimas.
A primeira personalidade a chegar foi Jussara Cony (PCdoB), eleita como vereadora. E seu discurso enérgico foi simbólico com relação ao que viria a seguir. “Vamos ficar firmes, esperar a nossa Manu”, disse, em meio a aplausos. “Temos que aplaudir é ela (Manuela). Não é fácil enfrentar a máquina. Todo mundo tem que ficar de cabeça erguida, na firmeza revolucionária”, insistiu, quase aos gritos, tentando energizar a militância. Só permitiu-se alguma fragilidade mais tarde, quando Manuela já era a estrela principal, aproveitando a mudança de foco para enxugar as lágrimas de forma discreta.
O esforço, repetido por outras personalidades presentes, surtiu razoável efeito. Quando Manuela chegou ao comitê, por volta das 19h, foi recebida por um grupo de apoiadores que, embora tomados de tristeza, aplaudiram e cantaram o jingle da campanha. Manuela D’Ávila chegou aparentando estar conformada com a derrota – sorria de modo discreto, mas abraçou militantes e agradeceu repetidamente os aplausos no caminho até a sala onde ocorreria a entrevista coletiva.
Fortunati é “homem que lutou por esse cargo”, diz Manuela
Manuela D’Ávila começou sua manifestação agradecendo ao vice, Nelcir Tessaro (PSD), a apoiadores de primeira hora como Beto Albuquerque (PSB) e à militância. Como de praxe, cumprimentou José Fortunati pela vitória, garantindo ter ligado ao prefeito eleito, e agradeceu à “generosidade” do povo gaúcho. “É muito louco e bonito representar a esperança da população, não só os meus sonhos, mas o sonho dos outros também”.
“O povo escolheu quem julgou ser o melhor candidato e tem todo o meu respeito à sua decisão. Não sou da turma que acha que acertam só quando me brindam com meio milhão de votos”, disse a comunista. “Desejo ao prefeito muito mais do que felicidade. É um homem que lutou por esse cargo, que construiu uma trajetória nesse sentido. Ele e Sebastião Melo podem contar com minha atuação no Congresso, como sempre contaram”, acrescentou.
A candidata aproveitou para ressaltar as vitórias do partido na cidade, comemorando a eleição dos vereadores Jussara Cony e João Derly. “Fico muito feliz que elegemos um homem jovem (João Derly) e uma veterana mulher (Cony). Meio a meio, como defendemos que a sociedade seja”. E descartou eventuais planos políticos para o futuro próximo. “Essa é a primeira eleição que encerro sem plano para depois. Encerrei uma etapa”, admitiu. “Não vou avaliar a eleição em 140 caracteres. Eleição não é receita de bolo. Vou esperar a eleição esfriar e analisar tudo com a calma que o momento exige. Minha única certeza é de que regresso a Brasília (como deputada federal) com o mesmo fôlego e disposição de lutar”.
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