segunda-feira, 9 de maio de 2011

Digressão de Sísifo XCI


Pensador da Aldeia

por Paulo Jonas de Lima Piva

Digressões são chaves guardadas em caixa preta, monólogos solipsistas, fantasmas ansiosos perambulando em labirintos, criaturas subterrâneas se debatento, segredos a meio fio, no limiar da revelação, que precisam explodir com discrição; são sóis desamordaçados em códigos herméticos, em forma de perfumes e riffs para corroerem menos o estômago e a consciência, para permanecerem sempre segredos; são sublimações sem esperança diante do inacessível e do impossível; são subterfúgios quando a solidão fria e silenciosa entre livros desperta onipresente a náusea. Se digressiono é porque, pessimista, não creio que você queira ser minha. Se digressiono é porque, impotente e histriônico, não consigo, sem tropeçar e cair, dizer pessoalmente que te quero. Se pareço transformar você num paradigma, num universal abstrato, é porque, dogmático, não ouso pegar na sua mão com receio que ela voe assustada. Por isso, em palavras, toco o seu cabelo colocando-o atrás da orelha, desnudo você do seu vestido branco, beijo cada um dos seus dedos esmaltados de vermelho, sempre com as palavras, como um onanista às avessas. Se sua última poesia - aquela otimista e dogmática - aceitar ser a primeira de muitas outras, depois de tanto tempo de cavernas, águias e desertos, aborto e sepulto aqui todas as digressões e, sobretudo, todas as suspensões de juízo que ousarem nos desabonar...

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