Um computador por aluno: o exemplo do Uruguai
Somos andando
Chamou a atenção, durante o debate sobre educação e inclusão digital, hoje de manhã, as respostas aos meus tweets sobre o programa uruguaio de um computador por aluno do governo Pepe Mujica, exposto por Miguel Brechner. Mais de uma pessoa me disse que no Brasil os computadores nunca mais apareceriam.
Me dei conta do tamanho do nosso desafio cultural. O governo uruguaio não empresta os computadores; ele fornece a máquina para que o aluno utilize no seu aprendizado, na escola e em casa.
No fim do período escolar, ele ganha o computador.
Ou seja, a ideia é muito maior do que simplesmente o empréstimo de um computador. A ideia é o computador e a internet se incorporar ao nosso cotidiano, até ser uma coisa natural, como se sempre tivesse sido assim. É perfeitamente possível criar essa cultura no Brasil.
O povo brasileiro não é burro nem sacana. Não é diferente do resto do mundo. À medida que o uso de computadores for se disseminando, ele será como um caderno, algo óbvio. E o aluno e sua família saberão que aquele computador é importante, para o ensino e para o lazer. Exceções sempre há. No Brasil, no Uruguai ou no Japão.
No Uruguai, a família participa do processo de aprendizagem do aluno, porque o computador vai pra casa. Ou seja, a máquina é muito mais do que uma mera ferramenta de auxílio no ensino, é uma forma de inserção social pela informação. Ocorre uma inclusão digital multiplicada, não individual.
No nosso vizinho, aconteceu, segundo Miguel Brechner, exatamente o que eu comentava. O programa “Um computador por aluno” foi incorporado, e agora ninguém mais imagina o país sem ele. O que em 2006 era um privilégio – computadores e banda larga –, hoje é um direito. “O que antes era política de governo, hoje é política de Estado”, disse.
Toda criança, da primeira série até o fim do secundário, tem o seu computador. E, no final do aprendizado, ela fica com ele. Só tem que devolver se abandonar a escola. Já foram distribuídos 450 mil laptops até 2010. Em 2011, as escolas técnicas secundárias foram integradas, e mais 100 mil computadores chegaram aos alunos. Para suprir os novos ingressos, serão precisos 50 mil por ano.
De tudo isso, fica a reflexão sobre a importância da digitalização da sociedade e a forma de fazê-la.
Fica evidente que levar banda larga é fundamental, mas não é suficiente. Que um plano de banda larga que realmente mexa nas estruturas sociais e fomente a consolidação de uma sociedade mais justa através do acesso igual à informação e aos meios de produção de conteúdo deve vir acompanhado de um plano pedagógico. Fornecer os meios não é suficiente, é preciso capacitar as comunidades para o uso efetivo.
No caso uruguaio, o computador é um aliado na educação que inverte a lógica do ensino. O professor não é mais dono do conteúdo. A criança e a família buscam a informação em meios diversos e constroem sua própria verdade.
O computador não é milagre, ressalve-se. Mas, acompanhado de um bom investimento em educação, pode fazer uma grande diferença. O fato é que fica cada vez mais difícil imaginar uma forma eficiente de ensino sem ele e sem acesso à internet.