segunda-feira, 2 de maio de 2011

pena que é só o dólar que tem os dias contados

O dólar tem seus dias contados

via política
.
Por Samuel Jaberg, de Swissinfo.ch

Adaptação de Fernando Hirschy

A moeda americana se transformou na maior bolha especulativa da História e está condenada a uma forte queda. Os ataques contra o euro são apenas uma cortina de fumaça para esconder a falência da economia americana, defende a jornalista suíça Myret Zaki em seu último livro, O Fim do Dólar.


“A queda do dólar se prepara. É inevitável. O principal risco no mundo atualmente é uma crise da dívida pública americana. A maior economia mundial não passa de uma grande ilusão. Para produzir 14 trilhões de renda nacional (PIB), os Estados Unidos geraram uma dívida de mais de 50 trilhões que custa 4 trilhões de juros por ano.” O tom está dado. Ao longo das 223 páginas de seu novo livro, Myret Zaki, editora-adjunta da revista Bilan, Zaki faz uma acusação impiedosa contra o dólar e a economia americana, que considera “tecnicamente falida”. A jornalista se tornou, nos últimos anos, uma das mais famosas escritoras de economia da Suíça. Em seus últimos livros, ela abordou também a situação desastrosa do banco suíço UBS nos Estados Unidos e a guerra comercial no mercado da evasão fiscal. Na entrevista a seguir, Myret Zaki defende a tese de que o ataque contra o euro serve para desviar a atenção sobre a gravidade do caso americano.

P – A senhora diz que o crash da dívida americana e o fim do dólar como lastro internacional será o grande acontecimento do século XXI. Não seria um catastrofismo meio exagerado?
Myrette Zaki: Eu entendo que isso possa parecer alarmista, já que os sinais de uma crise tão violenta ainda não são tangíveis. No entanto, estou me baseando em critérios altamente racionais e factuais. Há cada vez mais autores americanos estimando que a deriva da política monetária dos Estados Unidos conduzirá inevitavelmente a tal cenário. É simplesmente impossível que aconteça o contrário.

P – No entanto, esta constatação não é, de forma alguma, compartilhada pela maioria dos economistas. Por que?
R – É verdade. Existe uma espécie de conspiração do silêncio, pois há muitos interesses em jogo ligados ao dólar. A gigantesca indústria de asset management (investimento) e dos hedge funds (fundos especulativos) está baseada no dólar. Há também interesses políticos óbvios. Se o dólar não mantiver seu estatuto de moeda lastro, as agências de risco trebaixariam rapidamente a nota máxima da dívida americana. A partir daí começaria um ciclo vicioso que revelaria a realidade da economia americana. Estão tentando manter as aparências a todo custo, mesmo se o verniz não corresponde mais à realidade.

P – Não é a primeira vez que se anuncia o fim do dólar. O que mudou em 2011?
R – O fim do dólar é realmente anunciado desde os anos 70. Mas nunca tivemos tantos fatores reunidos para se prever o pior como agora. O montante da dívida dos EUA atingiu um recorde absoluto, o dólar nunca esteve tão baixo em relação ao franco suíço e as emissões de novas dívidas americanas são compradas principalmente pelo próprio banco central dos EUA.
Há também críticas sem precedentes de outros bancos centrais, que criam uma frente hostil à política monetária americana. O Japão, que é credor dos Estados Unidos em um trilhão de dólares, poderia reivindicar uma parte desta liquidez para sua reconstrução. E o regime dos petrodólares não é mais garantido pela Arábia Saudita.

P – Mais do que o fim do dólar, a senhora anuncia a queda da superpotência econômica dos EUA. Mas os Estados Unidos não são grandes demais para falir?
R – Todo mundo tem interesse que os Estados Unidos continuem se mantendo e a mentira deve continuar por um tempo. Mas, não indefinidamente. Ninguém poderá salvar os americanos em última instância. São eles quem terão que arcar com o custo da falência. Um período muito longo de austeridade se anuncia. Ele já começou. Quarenta e cinco milhões de americanos perderam suas casas, 20% da população saiu do circuito econômico e não consome mais, sem contar que um terço dos estados dos EUA estão praticamente falidos. Ninguém mais investe capital no país. Tudo depende exclusivamente da dívida.

P – A senhora diz que o enfraquecimento da zona euro representa nada menos do que uma questão de segurança nacional para os Estados Unidos. Será que não estamos entrando numa espécie de paranóia antiamericana?
R – Todos nós amamos os Estados Unidos e preferimos ver o mundo cor de rosa. No entanto, após o fim da Guerra Fria e da criação do euro em 1999, uma guerra econômica foi declarada. A oferta de uma dívida pública sólida em uma moeda forte iria provavelmente diminuir a demanda pela dívida dos EUA. Mas os Estados Unidos não podem deixar de se endividar. Essa dívida lhes permitiu financiar as guerras no Iraque e no Afeganistão e garantir a sua hegemonia. Eles têm uma necessidade vital dela.
Em 2008, o euro era uma moeda levada muito a sério pela OPEP, os fundos soberanos e os bancos centrais. Ela estava prestes a destronar o dólar. E isso os EUA queriam impedir a todo custo. O mundo precisa de um lugar seguro para depositar seus excedentes, e a Europa está sendo totalmente impedida de aparecer como sendo esse lugar. É precisamente por isso que os fundos especulativos têm atacado a dívida soberana de alguns países europeus.

P – O que vai acontecer depois da queda anunciada do dólar?
R – A Europa é hoje a maior potência econômica e tem uma moeda de referência sólida. Ao contrário dos Estados Unidos, é um bloco em expansão. Na Ásia, o yuan passará a ser a moeda de referência. A China é a melhor aliada na Europa. Ela tem interesse em apoiar um euro forte para diversificar seus investimentos. Por outro lado, ela precisa de um aliado como a Europa na OMC e no G20 para evitar de ter que reavaliar sua moeda em breve. Hoje, a Europa e a China atuam como duas forças gravitacionais que atraem em suas órbitas os antigos aliados dos Estados Unidos: o Japão e a Inglaterra.

P – E o que vai acontecer com o franco suíço?
R – Seu papel de valor refúgio ainda vai crescer. No caso de uma crise da dívida soberana dos EUA, haverá uma grande procura pelo franco suíço. O franco suíço tem quase o mesmo status que o ouro e não está pronto a cair face ao dólar. Em uma revisão do sistema monetário, a Suíça terá que escolher um lado. Porque eu não estou convencida de que o franco suíço possa continuar existindo sozinho. O seu papel como valor refúgio é muito prejudicial para a economia suíça.

Fonte: ViaPolítica/Swissinfo.ch

Myret Zaki é editora-adjunta da revista Bilan.

http://www.swissinfo.ch/por/index.html

URL: http://www.swissinfo.ch/por/reportagens/...

Nenhum comentário: