quarta-feira, 11 de maio de 2011

ontem consegui boas aventuras com as ideias do Boaventura

Debates Capitais 

- Boaventura defende revisão de modelos de educação

Blog da Sofia Cavedon

foto tonico alvares / cmpa
Com o tema “Conhecimento prudente para uma vida decente”, o doutor em sociologia do direito pela Universidade de Yale (EUA) e professor da Faculdade de Economia de Coimbra (Portugal), Boaventura de Sousa Santos palestrou na abertura do “Debates Capitais”, nesta terça-feira (10/5), no Plenário Otávio Rocha da Câmara Municipal. Ele abordou questões sobre novos paradigmas da área do ensino, observando dois sistemas de educação distintos em sua visão, que foram destacadas em livro de autoria dele e que leva o nome da temática abordada.

O evento, que tem por objetivo aprofundar os temas que desafiam o cotidiano da Capital, contou com a coordenação da presidente da Casa, vereadora Sofia Cavedon (PT) e do presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, deputado Adão Villaverde (PT). As duas casas legislativas são parceiras na realização do debate.

Conhecimentos

foto tonico alvares / cmpa
Boaventura de Sousa Santos avaliou, inicialmente, suas considerações sobre “conhecimento prudente”, que classifica como aquele que tem o saber de seus limites. Para ele, todos os conhecimentos são práticas sociais, do conhecimento e da vida. “Todas produzem conhecimentos de alguma forma. São práticas de atores sociais, e logo que avaliamos as práticas avaliamos os atores”, disse.

Já a “vida decente”, segundo o professor, é aquela que se pauta por dois direitos: uma sociedade que se pauta pela ideia de sermos iguais e outra de que vivemos em sociedade desigual, em que a inclusão não se faz apenas por igualdade, mas também por conhecimento prudente.

Para Boaventura, os sistemas de educação são criados na ideia de que o conhecimento cientifico são superiores. Ele defende o conhecimento contextualizado numa sociedade globalizada. “Há uma desqualificação do que não é científico, e isso é imprudente”, avalia.

Segundo Boaventura, as duas formas de educação “estão viradas de costas uma para a outra”. Ele observa que tanto os sistemas oficiais e as formas de educação popular fazem parte de uma dualidade em que as pessoas precisam conviver. “Não vamos poder superar esta divisão. Somos capazes de transformar isto? É isso que proponho”, sugere Boaventura.

foto tonico alvares / cmpa
Na abordagem, o professor ressalta que não há justiça social sem “justiça cognitiva”, e que precisa haver justiça entre os diferentes conhecimentos. “Não para dizer que são todos iguais, mas para reconhecer suas existências”, destaca. Ele entende que a grande maioria das pessoas não vive pelo conhecimento científico, e sim pelos conhecimentos na prática, que, muitas vezes, são transformados em crenças pelo saber da ciência. Ele exemplifica que a espiritualidade não é captada pelo científico, que também não está acessível a todos. “Não quer dizer que a ciência não é válida, mas ela desclassifica outros conhecimentos e os torna ignorante”, coloca Boaventura.

Por fim, Boaventura traz uma postura crítica aos modelos postos, e destaca que a escola deve ser objetiva, mas não pode ser neutra, e definir se quer estar ao lado dos opressores ou oprimidos. “Algo está mal e precisa ser revisto. Por isso os movimentos sociais trouxeram outras visões para a sociedade”, finalizou.

Opiniões

Após a palestra de Boaventura, participaram como debatedores do evento os professores José Clóvis de Azevedo, titular da Secretaria Estadual de Educação (SEC) e Isabel Letícia Medeiros, diretora da Associação dos Trabalhadores em Educação do Município de Porto Alegre (Atempa). Eles ressaltaram a importância de Boaventura e salientaram a importância dos trabalhos do professor nos 16 anos, em especial na democracia da gestão escolar. “Ele nos desafia a recuperar nossa capacidade de indignação, rebeldia e espanto”, disse Azevedo. “Na nossa democratização na rede escolar de Porto Alegre usei muito as ideias do professor Boaventura”, pondera Isabel Letícia.

Matéria publicada no Portal da Câmara Municipal de Porto Alegre.

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