A construção da mudança do Código Florestal em Zero Hora
Jornalismo B
É digna de estudo mais aprofundado a forma pela qual o jornal Zero Hora escolhe quais editorias ficarão responsáveis por cada pauta. A mistura entre economia e ambiente é seguidamente confusa: enquanto o caderno Nosso Mundo Sustentável, teoricamente responsável por pautas de meio ambiente, fala majoritariamente sobre assuntos empresariais – ligados ao “mundo sustentável” –, é no caderno Dinheiro que vão parar muitas pautas fundamentalmente relacionadas aos debates sobre meio ambiente e preservação.
A frequência com que escolhas assim se dão revela a abordagem habitual de Zero Hora e do Grupo RBS sobre ambientalismo: a produção e o lucro financeiro imediato das elites econômicas são sempre prioridades em relação à preservação, e esta só pode se dar caso gere ainda mais lucro a prazos curtos.
É nesse sentido que caminha a reportagem principal do caderno Dinheiro do último domingo, com direito a chamada na capa do jornal, que trata da proposta de reforma do Código Florestal, apresentada pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). “Polêmica do campo” é o título da capa do caderno, e “A nova lei da floresta” é o título da reportagem de Caio Cigana e Flávio Ilha, que ocupa as duas páginas centrais.
Toda a construção da matéria constrói um debate sob um visão diferente da que vem sendo apresentada quase diariamente na mídia alternativa, nos blogs e nas redes sociais, onde o assunto tem sido acompanhado com profundidade há anos. Não vou me ater a trechos específicos, mas a construção que se apresenta é facilmente identificável: a proposta de mudança é tão benéfica à sociedade e tão necessária que grandes e pequenos agricultores estão juntos em sua defesa, enquanto os impertinentes ecochatos não percebem o prejuízo que causam ao país.
Na verdade, o que se tem visto é que a posição dos pequenos agricultores é outra. Exemplos podem ser encontrados AQUI, AQUI e até AQUI, em matéria da própria Zero Hora, em 7 de abril.
Por outro lado, Zero Hora publicou matérias sobre a proposta de mudança do Código também no Nosso Mundo Sustentável, em 14 de março. Vejam, porém, a abordagem: na primeira matéria, poucas explicações sobre o que realmente significa a proposta, e clamor por “diálogo” e “consenso”. Na segunda, a “prova” de que os agricultores estão se esforçando: “Agricultores se adaptam”, diz o título.
Em seguida, no último texto, a “prova” de que os ambientalistas não colaboram: “Lenha na fogueira”.
É assim que Zero Hora vem tratando as discussões em torno do Código Florestal. Vale acompanhar a cobertura que muitos blogs têm feito, cobertura que desmonta imediatamente as teses levantadas pelo jornal. É cada vez mais na internet, filtrando pessoalmente o conteúdo acessado, que podem ser encontradas as melhores fontes sobre os assuntos mais importantes para a sociedade.
Postado por Alexandre Haubrich
Siga www.twitter.com/jornalismob e www.twitter.com/alexhaubrich
Jornalismo B
É digna de estudo mais aprofundado a forma pela qual o jornal Zero Hora escolhe quais editorias ficarão responsáveis por cada pauta. A mistura entre economia e ambiente é seguidamente confusa: enquanto o caderno Nosso Mundo Sustentável, teoricamente responsável por pautas de meio ambiente, fala majoritariamente sobre assuntos empresariais – ligados ao “mundo sustentável” –, é no caderno Dinheiro que vão parar muitas pautas fundamentalmente relacionadas aos debates sobre meio ambiente e preservação.
A frequência com que escolhas assim se dão revela a abordagem habitual de Zero Hora e do Grupo RBS sobre ambientalismo: a produção e o lucro financeiro imediato das elites econômicas são sempre prioridades em relação à preservação, e esta só pode se dar caso gere ainda mais lucro a prazos curtos.
É nesse sentido que caminha a reportagem principal do caderno Dinheiro do último domingo, com direito a chamada na capa do jornal, que trata da proposta de reforma do Código Florestal, apresentada pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). “Polêmica do campo” é o título da capa do caderno, e “A nova lei da floresta” é o título da reportagem de Caio Cigana e Flávio Ilha, que ocupa as duas páginas centrais.
Toda a construção da matéria constrói um debate sob um visão diferente da que vem sendo apresentada quase diariamente na mídia alternativa, nos blogs e nas redes sociais, onde o assunto tem sido acompanhado com profundidade há anos. Não vou me ater a trechos específicos, mas a construção que se apresenta é facilmente identificável: a proposta de mudança é tão benéfica à sociedade e tão necessária que grandes e pequenos agricultores estão juntos em sua defesa, enquanto os impertinentes ecochatos não percebem o prejuízo que causam ao país.
Na verdade, o que se tem visto é que a posição dos pequenos agricultores é outra. Exemplos podem ser encontrados AQUI, AQUI e até AQUI, em matéria da própria Zero Hora, em 7 de abril.
Por outro lado, Zero Hora publicou matérias sobre a proposta de mudança do Código também no Nosso Mundo Sustentável, em 14 de março. Vejam, porém, a abordagem: na primeira matéria, poucas explicações sobre o que realmente significa a proposta, e clamor por “diálogo” e “consenso”. Na segunda, a “prova” de que os agricultores estão se esforçando: “Agricultores se adaptam”, diz o título.
Em seguida, no último texto, a “prova” de que os ambientalistas não colaboram: “Lenha na fogueira”.
É assim que Zero Hora vem tratando as discussões em torno do Código Florestal. Vale acompanhar a cobertura que muitos blogs têm feito, cobertura que desmonta imediatamente as teses levantadas pelo jornal. É cada vez mais na internet, filtrando pessoalmente o conteúdo acessado, que podem ser encontradas as melhores fontes sobre os assuntos mais importantes para a sociedade.
Postado por Alexandre Haubrich
Siga www.twitter.com/jornalismob e www.twitter.com/alexhaubrich
Nenhum comentário:
Postar um comentário