sábado, 12 de novembro de 2011

Estudante inglês: "... E você é deixado para trás”.


Estudantes vão às ruas em defesa da educação no Reino Unido

Por Cris Rodrigues, publicado originalmente na Carta Maior
Londres – Pouco antes do meio-dia, centenas de estudantes já estavam reunidos na frente da Universidade de Londres, no centro da capital inglesa, terminando cartazes e ensaiando palavras de ordem que seriam repetidas muitas vezes ao longo da tarde de quarta-feira, 9 de novembro. Não muito tempo depois, já não se enxergava onde começava e terminava a marcha contra os cortes do governo e a privatização da educação.
Um dos principais alvos de crítica era o “Papel Branco” para a educação superior proposto pelo governo em junho. Esse é nome pelo qual são chamados os documentos produzidos pelo governo que fornecem os detalhes de políticas a serem implementadas no futuro. O que está em questão tende a privatizar ainda mais o ensino superior no Reino Unido, segundo os participantes da marcha, na medida em que aumenta o valor a ser pago para cursar uma universidade para mais de 9 mil libras (25,2 mil reais) por ano, entre outras medidas que seguem a mesma linha. “Ele vai restringir a ampla participação de pessoas de comunidades de mais baixas condições sócio-econômicas nas universidades”, argumentou um manifestante de South Hampton, 25 anos, já graduado, que se identificou como Steve Martin.
O jovem carregava um cartaz com dizeres relacionando o Papel Branco do governo ao papel higiênico. Humor no papelão, mas palavras muito sérias para explicar o que acontece no país. E, para ele, vai muito além de um problema pontual que atinge o ensino superior: “Eu acho que nós estamos a ponto de perder o nosso estado de bem estar nesse país. E se continuar assim nós vamos ver uma situação parecida com a dos americanos agora. Você perde seu emprego, perde sua casa, não tem nada te sustentando. E você é deixado para trás”.
Não é de hoje que os estudantes vêm protestando contra as medidas que o governo conservador de David Cameron adota em relação à educação, mas agora os protestos tomam uma dimensão especial na medida em que entram na lista de manifestações por maior democracia e igualdade que vêm se espalhando pelo mundo. Esta semana os estudantes agregavam ao discurso as críticas ao sistema financeiro que são sustentadas nas ocupações que começaram em Wall Street, nos Estados Unidos, e que em Londres já levam quase um mês em frente à Catedral de St. Paul’s, no coração do mercado financeiro britânico. Os movimentos não estão diretamente articulados, mas se apoiam e se misturam, com circulação de pessoal entre eles, “uma relação mais natural do que oficial”, pontuou outro manifestante, recém-formado em Política.
Oriundo de Coventry, uma antiga cidade industrial que ele alega estar sendo prejudicada pelas medidas do governo, defende que as grandes corporações deveriam pagar pela educação e completa: “(Estou aqui lutando por) uma sociedade justa onde as vidas não são determinadas pelas forças do mercado, em que a gente não tenha que pagar para ter acesso a coisas que deveriam ser básicas. Educação pode ser pública e universal”.

Nenhum comentário: