terça-feira, 8 de novembro de 2011

“Muito pouco se fala sobre os corruptores..."

Mídia tradicional não quer debate sobre corrupção, diz colunista

SUL 21




“Muito pouco se fala sobre os corruptores, aqueles que pagam as campanhas políticas e depois cobram o troco”, diz Maria Inês Nassif | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Samir Oliveira

Única jornalista dentre os palestrantes do Seminário Internacional de Enfrentamento à Corrupção, a editora e colunista do site Carta Maior, Maria Inês Nassif, disse na segunda-feira (7) que a mídia tradicional não está interessada em promover um debate profundo sobre a corrupção no país. Ela observa que as notícias sobre o tema enfocam apenas escândalos e fogem de questões centrais, como a influência do poder econômico sobre a política. O evento ocorre no auditório do Ministério Público do RS.

“Muito pouco se fala sobre os corruptores, aqueles que pagam as campanhas políticas e depois cobram o troco”, criticou a jornalista.

Para Maria Inês, essa é a principal discussão que deve ser pautada pelos veículos de comunicação. Ela considera que é difícil provocar esse debate, inclusive entre os próprios jornalistas. “Sempre vem alguém e diz que quem tem essa posição é favorável à corrupção.”

A colunista política considera que a forma como são financiadas as campanhas coloca os governos nas mãos do setor privado e, consequentemente, da mídia. “Com o sistema que existe hoje, é possível desqualificar todo um governo e derrubar um ministro por semana, se essas forem as intenções.”

A jornalista explica que é favorável à divulgação de esquemas de corrupção, mas avalia que a imprensa tradicional não tem feito isso de forma correta, atuando como “um partido de oposição” que busca apenas desqualificar. “A sensacionalização provoca uma onda de pânico e o público já não consegue mais distinguir a parte do todo. É uma desqualificação da política que não serve à democracia.”

Maria Inês considera que pouco irá mudar no país se o debate sobre o financiamento das campanhas não for seriamente tratado. “Vão ficar derrubando governos a vida toda? Precisamos desprivatizar as eleições, isso sim. O poder econômico hoje tem direito a voto”, concluiu.



Eduardo Carrion: “Existe sim uma cultura de pequenos delitos. Mas há uma enorme diferença entre isso e a corrupção praticada por gangues organizadas que assolam o Estado” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Para Eduardo Carrion, presidencialismo de coalizão é eufemismo para corrupção

Palestrantes no Seminário Internacional de Enfrentamento à Corrupção, o especialista em Direito Constitucional, Eduardo Carrion, disse que o sistema presidencial brasileiro, na forma como está estruturado, é o principal responsável pela corrupção no país. O advogado critica o chamado presidencialismo de coalizão – onde quem ganha as eleições precisa conquistar maioria no Congresso Nacional para conseguir governar.

“É um eufemismo para presidencialismo de corrupção. É o caminho mais rápido e fácil: em vez de se ampliar o diálogo com a sociedade, se constroem maiorias artificiais nos parlamentos”, acusou.

Carrion condena a comparação entre a corrupção governamental e a corrupção praticada por cidadãos no dia-a-dia. Ele observa que ambas são condenáveis, mas que uma não pode justificar a existência da outra.

“Existe sim uma cultura de pequenos delitos. Mas há uma enorme diferença entre isso e a corrupção praticada por gangues organizadas que assolam o Estado”, disparou, em referência a grupos políticos e partidários que dominam ministérios ou repartições públicas.

Corrupção só aparece na mídia porque órgãos de controle estão atuantes, defende Spinelli

O titular da secretaria nacional de Prevenção à Corrupção e Informações Estratégicas – vinculada à Controladoria-Geral da União -, Mário Vinícius Spinelli, que também palestrou na segunda-feira no Seminário Internacional de Enfrentamento à Corrupção, disse que os escândalos de corrupção só são divulgados pela mídia porque os órgãos de controle estão atuantes e porque há transparência nas informações do governo federal.



De acordo com Spinelli, escândalos de corrupção só são divulgados pela mídia porque os órgãos de controle estão atuantes | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Ele citou o exemplo dos abusos flagrados nas operações de cartões corporativos, no início de 2008, para ressaltar que a transparência provoca as denúncias da mídia e a atuação do governo. “A divulgação só ocorreu porque as informações sobre os gastos eram públicas. O objetivo é justamente esse: que abusos sejam detectados através da transparência”, defendeu.

Porém, ele ressaltou que a condução do caso pela mídia levou a um debate equivocado na época. “Houve uma tentativa de demonizar o cartão corporativo, como se ele fosse o problema, enquanto, na verdade, era a solução. Se não fosse o controle feito pelo governo dos gastos efetuados no cartão, os abusos não seriam facilmente detectados.”



Para gerente da W3C no Brasil, o Estado não têm condições de combater sozinho a corrupção | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Não basta apenas o Estado combater a corrupção, orienta Diniz

Gerente da W3C no Brasil, ONG que prega a utilização da internet como forma de tornar os governos mais abertos, Vagner Diniz foi um dos painelistas do Seminário Internacional de Enfrentamento à Corrupção e defendeu a transparência como forma de combate às irregularidades praticadas por agentes públicos.

Ele considera que o Estado não tem condições de combater sozinho a corrupção. E aponta que a internet pode ser a ferramenta ideal para propiciar a ampliação do controle social sobre os governos. “Não basta o governo fazer o combate à corrupção. O Estado democrático moderno pressupõe uma sociedade civil fortemente organizada e as novas tecnologias têm um potencial enorme para propiciar a participação das pessoas.”

Jorge Hage encerra seminário

O ministro-chefe da Controladoria-Geral da União, Jorge Hage Sobrinho, é o último palestrante do Seminário Internacional de Enfrentamento à Corrupção, que se encerra nesta terça (8). O evento, que iniciou ontem, ocorre no auditório do Ministério Público (Avenida Aureliano de Figueiredo Pinto, 80).

Após a palestra do ministro, que será às 9h30min, o governador Tarso Genro fará o encerramento oficial do evento, previsto para o meio-dia.

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