quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Porto Alegre: o PT e a prévia com Raul e Vilaverde






Raul Pont, pré-candidato em Porto Alegre: “a democracia não fica velha e não se aposenta”


Ex-prefeito de Porto Alegre, atual presidente do partido no RS e deputado estadual, Raul Pont apresentou sua inscrição como pré-candidato para a prefeitura da capital gaúcha nas eleições de 2012. Pont disputará a indicação com o também deputado Adão Villaverde, no encontro municipal do partido, dia 3 de dezembro. Diante de comentário de que estaria na hora de se aposentar, Pont lembrou as mobilizações na Europa e nos EUA e disse que a democracia não fica velha.


O deputado estadual Raul Pont (PT) apresentou nesta quarta-feira (16), à direção do PT de Porto Alegre, sua inscrição como pré-candidato do partido à prefeitura da capital gaúcha. O ato de inscrição lotou o auditório da sede municipal do PT. O Encontro Municipal do PT, marcado para o dia 3 de dezembro, decidirá quem será o candidato do partido para as eleições municipais de 2012: Raul Pont ou o deputado estadual Adão Villaverde, atual presidente da Assembleia Legislativa gaúcha. Não haverá prévia. A escolha será feita pelo voto dos delegados ao encontro.


Apoiador da candidatura de Pont, o secretário estadual da Agricultura, Pecuária e Agronegócio, Luiz Fernando Mainardi, admitiu que teve dúvidas sobre se o partido deveria lançar candidatura própria em Porto Alegre ou apoiar uma candidatura de outro partido. “Fui convencido pela força dos argumentos de que é fundamental para o PT ter um candidato em Porto Alegre. Time que não joga perde a torcida”, disse Mainardi. “O atual governo traz as marcas do PMDB e precisamos retomar nosso projeto em Porto Alegre. O Raul reúne as melhores condições para isso. É quem mais conhece e melhor se identifica com o projeto que queremos retomar para Porto Alegre”.


Atual, presidente da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, Sofia Cavedon manifestou apoio à pré-candidatura de Pont lembrando que, até hoje, os militantes do PT de Porto Alegre nunca tiveram dúvidas se o partido deveria ou não ter candidatura própria à prefeitura. O PT, defendeu a vereadora, “tem que fazer alianças, mas tem que fazer isso com nitidez”. “O Raul, como presidente estadual do partido, conduziu a política de alianças que acabou elegendo Tarso Genro governador”, acrescentou, referindo-se às críticas de uma suposta inflexibilidade de Pont para alianças.


O ex-prefeito de Porto Alegre, João Verle, também participou do ato de inscrição e defendeu a necessidade de o PT voltar à prefeitura da Capital. “Vou repetir o que já disse nessa mesma sala há algum tempo: Porto Alegre está com saudade de uma administração popular”. Verle lembrou que Raul Pont ganhou no primeiro turno a eleição para a prefeitura em 1996 e manifestou confiança nas chances de vitória. “Quando a Rosário foi candidata (em 2008), ainda não estava muito claro para a população o desastre que é a atual administração. Agora está”.


O discurso mais incisivo do ato partiu do deputado federal Henrique Fontana, relator da Reforma Política na Câmara dos Deputados. Ele fez questão de destacar a primeira frase de sua fala: “Obrigado, companheiro Raul Pont, por tua história, coerência e exemplo de boa política que és, e por encarar mais este desafio que é recuperar a prefeitura de Porto Alegre”. Fontana destacou o caráter político da pré-candidatura de Pont. “O PT não apoia uma aliança com Fortunati porque ele governa com os partidos que fazem oposição aos governos de Tarso Genro e Dilma. O PDT é nosso aliado nesses governos, mas não é ele quem governa Porto Alegre e sim uma aliança de corte conservador”.


“Por outro lado”, prosseguiu, “é óbvio que a candidatura de Raul Pont não é contra o PC do B, que tem todo o direito de ter candidatura própria. O sentido político da nossa candidatura é reafirmar nosso projeto para governar Porto Alegre e temos todo o direito de fazer isso”.


Henrique Fontana também respondeu algumas críticas dirigidas contra a candidatura do Raul, algumas delas “no limite do desrespeito”, segundo ele. “Teve um militante que disse que mesmo os grandes craques devem se aposentar”, lembrou Fontana, referindo-se ao comentário feito ao jornal Zero Hora pelo ex-tesoureiro nacional do PT, Paulo Ferreira. “Não é hora do Raul se aposentar, não, pela simples razão de que ele é o melhor candidato que podemos ter para voltar a governar Porto Alegre”. Alguém do seu lado gritou: “vão dizer que é hora do Lula se aposentar também?”.


Fontana rebateu também a crítica que imputa a Raul Pont uma baixa capacidade de articulação. “A melhor hora para analisar um quadro político é quando ele está no poder. E qual foi a característica do governo Raul Pont em Porto Alegre? Foi um governo democrático, de diálogo, que conversou com todos os setores da sociedade. Raul é um quadro completo, testado e capacitado para ganhar a eleição”. 


O deputado petista reconheceu a legitimidade da pré-candidatura de Adão Villaverde, manifestou respeito pelo companheiro de partido e disse não acreditar que a disputa provocará uma divisão no PT. “Já temos uma certa cancha nisso. Temos 20 dias para conversar com nossa base. Sinto que diante de um nome, com a densidade política de Raul, temos condições de conseguir uma vitória em Porto Alegre. O Villa também disputou com o Tarso a indicação para o governo do Estado. Fizemos a disputa e construímos uma maioria que nos levou a vitória. Vamos fazer isso de novo agora. A aposentadoria do Raul é dentro da Prefeitura”, concluiu.


Falando como presidente municipal do PT em Porto Alegre, o vereador Adeli Sell disse estar muito satisfeito em presidir o partido neste momento. “Quero ter o privilégio de presidir a volta do PT à prefeitura. Nosso compromisso é fazer uma campanha unificada que ganhe as ruas de Porto Alegre”, disse Adeli que abriu mão de sua pré-candidatura ao Executivo municipal.


Último a falar, Raul Pont fez uma fala emocionada. Ele cumprimentou a condução do processo pelo Diretório Municipal de Porto Alegre que ouviu todos os setores do partido. “Foi exemplar”. Em seguida, lembrou a plenária realizada recentemente no Hotel Ritter, que reuniu centenas de filiados de Porto Alegre e manifestou apoio, de todas as correntes do partido, à tese da candidatura própria. E resumiu o sentido político de sua candidatura:


“Não estou aqui fazendo uma disputa pessoal. Há um projeto político que queremos resgatar em Porto Alegre. Como é que está mesmo a relação da prefeitura com os conselhos municipais? Hoje, em vários setores, a relação da prefeitura com a comunidade é dominada pelos interesses imobiliários”, respondeu. “Sabemos que só a democracia participativa não é suficiente. Precisamos também de um projeto de desenvolvimento, de modernização tecnológica da cidade”, acrescentou, lembrando os projetos da Tecnópole e do Cientec, impulsionados por administrações petistas. “Isso é pensar a cidade para o futuro”, resumiu.


Raul Pont também fez referência ao comentário de que estaria na hora de se aposentar:


“Para nós, a democracia não fica velha, não se aposenta. Estamos vendo agora, na Europa e nos Estados Unidos, as pessoas pedindo democracia real, já. Elas não estão pedindo um novo aparelho tecnológico ou algo do tipo, estão pedindo democracia real. Porto Alegre tornou-se referência para o Fórum Social Mundial por causa disso e essa referência foi tão forte que hoje há redes de democracia participativa espalhadas por vários países. Isso é que é novo e moderno. O capitalismo é incapaz de sobreviver com democracia. Estamos vendo isso acontecer agora na Grécia, que foi impedida pelo mercado de realizar uma consulta junto à população. Somos internacionalistas, mas não podem os aceitar um sistema mundial dominado pelo capital financeiro. É por isso que não podemos ficar presos a mesquinharias e coisas pequenas”.


E concluiu:


“Já fomos vitoriosos na tese da candidatura própria. Agora, nossa tarefa é construir um consenso dentro do partido. Todos lembramos de processos doloridos pós-prévias, que às vezes custam muito caro. Não podemos sair divididos desse processo. Nossa força reside na base do nosso partido. Aí está o principal antídoto que temos contra a burocratização e o envelhecimento. Nós vamos viver um período movimentado. Ninguém vai morrer nem de tédio nem de ficar entrouxado na frente da televisão”.

Nenhum comentário: