quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Sobre os dois documentos requeridos para votar

Por Miguel do Rosário, do blog Óleo do Diabo

Essa exigência de dois documentos para votar, aprovada a toque de caixa pelo Tribunal Superior Eleitoral, vem sendo tratada com uma pachorra que me espanta. Será que eu é que estou exagerando? Eu fico pensando naquelas pessoas que vivem em áreas isoladas da floresta amazônica, ou do sertão, que só vão à cidade raras vezes por ano. O cara viaja três dias de canoa para chegar na sua zona eleitoral, e aí quando vai votar… não pode porque não trouxe os dois documentos. Eu tô irritado porque acho que isso vai beneficiar o Arthur Virgílio, cuja força eleitoral deve ser concentrar provavelmente na classe média alienada de Manaus, e que, portanto, não está nem aí para esse tipo de problema com os eleitores mais pobres.

Bem, talvez todo mundo tenha seu documento em dia, ninguém vai ser prejudicado e eu é que estou paranóico. Quem botou minhoca na minha cabeça foi o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, que disse há poucos dias, para o Merval Pereira, que a exigência pode afetar o eleitorado de Dilma Rousseff. Achei um tanto cínico da parte dele falar nesses termos, porque, se ele acha mesmo isso, deveria ao menos fingir que está indignado, visto que é um fator que prejudica o segmento mais sofrido da população. E que vota no Serra também.

Além do mais, não prejudica só os pobres não. Não tô vendo ninguém se ligar nessa parada. Quando chegar o dia da votação, teremos um montão de gente – de todas as classes – sem poder votar e aí… como diria o oráculo, vai dar merda. O pleito fica distorcido, fica uma situação desconfortável para todo mundo. Seja quem for que ganhe, mesmo que for a Dilma, o perdedor usará isso para desmerecer a vitória, se é que não surge, “espontaneamente”, algum movimento no twitter querendo invalidar as eleições. Daí a Dilma vira uma espécie de Ahmadinejad, eleita pelo sufrágio universal e livre mas eternamente manchada com a pecha de fraude eleitoral.

Se é para ter dois documentos na hora de votar, o TSE precisa fazer uma pesquisa para saber o grau de informação das pessoas para esta nova exigência.

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