terça-feira, 31 de maio de 2011

pra curtir e curtir e curtir... e não digam que não falo de flores

Rio de Janeiro - Imagens Aéreas

baitasar

se você ainda acha que é tudo bobagem... coisa de ativista maluku

Emissão de CO2 bate recorde: estamos a dois graus de “mudanças climáticas potencialmente perigosas”



O relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), divulgado ontem (30), apontou que a emissão de gases causadores do efeito estufa bateu o recorde em 2010, constituindo-se na maior liberação de carbono na atmosfera já registrada. O resultado, na avaliação da AIE, diminui as esperanças de manter o aquecimento global em níveis seguros. Na prática, isso significa que todos os alertas, advertências e comunicados dos últimos anos têm sido solenemente ignorados por governantes e empresários que não aceitam diminuir as emissões desses gases.

Em 2010, as emissões de dióxido de carbono (CO2), o principal gás causador do efeito estufa, cresceram 5% em relação ao recorde anterior, registrado em 2008. No total, 30,6 bilhões de toneladas de CO2 foram lançadas na atmosfera, resultado principalmente da queima de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás que, juntos, representam cerca de 80% das fontes de energia do planeta. Em 2009, essas emissões registraram uma queda de 1,9% em função da crise financeira global e da redução da atividade econômica. Os países desenvolvidos foram responsáveis por 40% das emissões totais em 2010, mas responderam por apenas 25% do crescimento. O relatório da AIE indica que cerca de 60% das emissões de CO2 feitas em 2010 foram de países emergentes, como China, Índia e Brasil. Os detalhes sobre os números de cada país serão divulgados em novembro pela agência.

O novo recorde, para os cientistas da AIE, significa, entre outras coisas, que o objetivo de prevenir um aumento da temperatura de mais de dois graus Celsius – meta apontada como o limite para mudanças climáticas potencialmente perigosas – deve se tornar apenas uma utopia. O economista-chefe da agência, Fatih Birol, disse ao jornal The Guardian: “Estou muito preocupado, Está se tornando extremamente desafiador permanecer abaixo de dois graus. A perspectiva está ficando mais sombria”. O limite de 2°C no aumento da temperatura média da Terra foi uma meta estabelecida na última Conferência do Clima das Nações Unidas, realizada em dezembro, em Cancún, no México. Menos de seis meses depois, a meta parece ter ido para o espaço:

“Este aumento significativo das emissões de CO2 e as emissões futuras já garantidas em razão de investimentos em infraestrutura representam um sério revés para as esperanças de limitar o aumento global da temperatura a um máximo de 2°C”, lamentou Fatih Birol.

A secretária-executiva para o clima da ONU, Christiana Figueres, considerou o resultado uma “dura advertência” aos governos para uma rápida progressão quanto aos acordos climáticos neste ano. Ela cobrou avanços nas negociações sobre o clima, que ocorrerão na próxima semana, em Bonn, na Alemanha, em preparação para a COP-17 (Conferência das Partes), que será realizada em Durban, na África do Sul, entre novembro e dezembro deste ano. “Está claro que os governos precisam direcionar o mundo para o caminho certo e afastar as perigosas mudanças climáticas. Eu não vou ouvir que isso é impossível. Os governos precisam tornar isto possível para que a sociedade, as empresas e a ciência executem este trabalho”, disse Figueres.

quando a ética é hermética ou pura estética

Quem vazou o prontuário de Dilma?




Prontuário médico de Dilma foi vazado no Hospital Sírio-Libanês?

por Conceição Lemes, no Viomundo

Na última quinta-feira, 26 de abril, recebi um e-mail de Gerson Carneiro, leitor do Viomundo, com o assunto Aves de mau agouro. Perguntava se eu tinha alguma notícia sobre o estado de saúde da presidenta Dilma Rousseff.

Nascido em Irecê, sertão da Bahia, criado em Senhor do Bonfim e morando em Salvador desde a adolescência, Gerson é muito brincalhão. Seu perfil no twitter diz tudo: No meu velório não quero ouvir nenhum choro; quero ouvir muitas piadas. Se você é chorão(ona) e/ou não sabe contar piadas, favor não ir.

Mas ele estava preocupadíssimo. Dois amigos disseram-lhe que Dilma estava gravemente enferma. Os detalhes me fizeram relembrar a sordidez das mentiras espalhadas durante as eleições de 2010.

“Não acho que seja verdade”, respondi-lhe. “São os urubus de plantão, mas vou checar.”

Liguei para o deputado federal paulista Paulo Teixeira, líder da bancada do PT na Câmara dos Deputados, que, por coincidência, havia estado com a presidenta no dia anterior.

“A Dilma teve pneumonia nos dois pulmões, mas já sarou. Inicialmente achou que era apenas gripe, não deu muita atenção. Só que a situação complicou”, conta a esta repórter o que ouviu da presidenta. “Se tivesse alguma doença grave, a Dilma seria a primeira a falar. Lembra-se da transparência no trato do linfoma, em 2009?”



No sábado, porém, “ao visitar” o Tijolaço, a casa digital do deputado federal Brizola Neto (PDT-RJ), descobri uma das possíveis origens dos boatos que circularam pela internet na semana passada. Encarnando o próprio o urubu da semana, a revista Época chegou às bancas com a ficha médica completa da presidenta. No caminho da Dilma há sempre uma ficha! Assinam a reportagem: Cristiane Segatto, Isabel Clemente e Leandro Loyola. Atente bem à foto e à chamada de capa.

“A Época quer matar a Dilma”, denunciou Brizola Neto já no título do seu artigo do sábado. “Essa é a ‘ética’ dos nossos grandes meios de comunicação. Não precisam de fatos, basta construírem versões, erguendo grandes mentiras sobre minúsculas verdades. Esses é que pretendem ser os ‘ fiscais do poder’. Que imundície!”

Realmente, a foto da capa (Dilma com os olhos fechados como se estivesse morta, num caixão) combinada à chamada (seu estado ainda exige cuidados) induzem, de pronto, a se temer o pior: o câncer voltou. Fim de linha. Mas depois lendo, felizmente, não é nada disso.

O relatório médico, feito pela equipe do Sírio-Libanês que cuida de Dilma e tornado público pela Presidência em resposta à reportagem de Época, é enfático: “ótimo estado de saúde”.

A Época, porém, elenca uma porção de problemas, fazendo passar a ideia de que Dilma seria um poço de doenças. Só que do ponto de vista estritamente de saúde a reportagem não disse a que veio, é uma não-matéria. Um equívoco.

Explico. No passado, saúde era sinônimo de ausência de doença. Porém, com a crescente longevidade da população essa noção foi derrubada. Visões mais amplas a substituíram. A mais clássica é a da Organização Mundial de Saúde (OMS): saúde é o bem-estar físico, psíquico e social.

Logo, ter saúde não depende simplesmente da presença ou da inexistência de doenças. É normal ter algumas delas com o avançar da idade. Em geral, parte-se – atenção! – de uma a duas, na faixa dos 20 a 30 anos, para cinco ou seis, aos 80 ou 90.

Em outras palavras: pode-se estar na faixa dos 60 anos, como a presidenta, ter diversas doenças, mantê-las sob controle e ser saudável. Em compensação, um jovem – em tese, saudável – pode ser doente. É o caso daquele que atravessa dez faróis vermelhos seguidos; ele pode não estar bem mentalmente e, por isso, talvez morra ou mate alguém.

E a lista de 28 remédios, os mal-estares e os resultados de exames?

Qual a novidade? Nenhuma. Deu até vontade de rir, pois a Época se levou a sério. Esqueceu-se do básico: Dilma é ser humano, em carne e osso, como qualquer um de nós. Ponto. Tem dor de barriga, de cabeça, nas costas, tosse, espirra, chora, ri, sofre, fica triste, alegre. A Presidência da República não imuniza ninguém.

Aliás, para fazer a malfadada reportagem, Época não precisava recorrer a métodos não ortodoxos para saber que a glicemia subiu quando Dilma teve pneumonia e parou com o remédio para diabetes. Mesmo que não tivesse diabetes, a glicemia dela teria subido. Normalmente infecções aumentam as taxas de “açúcar” no sangue.

E as dores no estômago, náuseas e aftas? Quem já tomou antibióticos sabe que esses efeitos adversos podem ocorrer. E para aliviar as aftas, por exemplo, a gente usa o que tem à mão na hora, inclusive bicarbonato de sódio. Eu garanto: funciona.

“Mas e a tiroidite de Hashimoto?”, alguns talvez questionem. “A presidenta tem hipotiroidismo!.”

Ela e mais cerca de 3 milhões de brasileiros, e a tiroidite de Hashimoto é a causa principal. Trata-se de uma doença auto-imune que acomete mais o sexo feminino — principalmente após os 40 anos: o sistema imunológico não reconhece a tiroide como parte do corpo e a ataca, inflamando-a ou destruindo-a progressivamente. O tratamento consiste em tomar diariamente comprimidos de levotiroxina.

Então por que publicar tal matéria se Dilma sempre foi tão transparente em relação aos seus diagnósticos e tratamentos e nunca impediu os seus médicos de passar informação à mídia sobre a sua saúde? Será que esperavam encontrar uma bomba e como acharam apenas traques, tocaram assim mesmo? Por que levaram adiante dando ares fúnebres, para males comuns na população e que podem ser perfeitamente controlados hoje em dia, mantendo a pessoa saudável?

Considerando que do ponto de vista de saúde a matéria não beneficia o leitor, só tenho estas explicações. Má fé. Mau jornalismo. O objetivo é claramente político. Fragilizar a presidenta. Jogá-la na corda. Machucá-la.

Esse é um lado dessa sujeira, que só pode se materializar porque houve o vazamento do prontuário da paciente Dilma Rousseff, via Hospital Sírio-Libanês. Um sem a cumplicidade do outro não teria sido possível a reportagem. Não sei como nem quem passou as informações. Se foi por  São Paulo, onde fica a sede da Época e do hospital. Ou se via Brasília, onde a revista tem sucursal e o Sírio-Libanês, uma unidade.  Em quase 30 anos como repórter na área de saúde, nunca tinha visto um vazamento de prontuário tão rico em detalhes. Não foi uma mera dica, passada em  conversa ligeira de corredor ou de telefone. Mas a ficha completa com todos os exames feitos, dias, horários,  resultados, remédios envolvidos.

No domingo, pela manhã, liguei para a assessoria de imprensa do Sírio-Libanês e perguntei o que o hospital tinha a dizer sobre o vazamento do prontuário da ilustre paciente. Resposta repetida várias vezes:
O hospital não vazou nada, o hospital não divulgou nada, as informações foram passadas à presidência da República. É a informação que estamos dando aos jornalistas que estão nos ligando.

Não convencida,  mesmo sendo domingo, liguei de novo à tarde. A resposta foi semelhante. Mandei ainda, às 16h, e-mail com cópia para três membros da equipe da assessoria de imprensa, questionando o vazamento do prontuário médico da presidenta. Até agora, quase 27 horas depois, não recebi a resposta.

O fato é que fora a via judicial, que não é o caso, legalmente só podem ter acesso à ficha médica completa de Dilma ela própria, seu representante legal, os seus médicos e equipe e o Sírio-Libanês, já que o prontuário fica sob a guarda do hospital.

Dilma, obviamente, não passaria as informações com tantos dados técnicos. Vale lembrar que, atendendo à solicitação de Época, ela enviou à revista um relatório sobre o seu estado de saúde feito pelos médicos do Sírio-Libanês. A revista utilizou a frase “ótimo estado de saúde” e ignorou o restante. Depois, em resposta à reportagem de Época, a Presidência tornou público o relatório encaminhado anteriormente à revista (está no mesmo post do Brizola Neto, logo abaixo do seu artigo).

Acredito que os médicos que assistem Dilma no Sírio-Libanês também não vazariam o prontuário. As equipes que cuidam da presidenta são coordenadas por Roberto Kalil Filho, Paulo Hoff, Yana Novis, David Uip, Raul Cutait, Carlos Carvalho, Milberto Scaff e Julio Cesar Marino.

Suponho que não fariam isso ainda os doutores Antonio Carlos Onofre de Lira e Paulo Ayrosa Galvão, respectivamente, diretor-técnico e diretor-clínico do Sírio Libanês.

Sobra o hospital enquanto instituição, afinal o prontuário médico fica sob sua guarda e não saiu voando para os braços da Época. Alguém o acessou e passou para Época. Informação é moeda de troca. O “serviço” pode ter sido feito até por um médico para cair nas graças do jornalista e, depois, no futuro, ser recompensado com espaço na publicação. Nesses anos cobrindo saúde já ouvi quase tudo. Desde médico relatando a colegas a doença x ou y de paciente famoso às supostas puladas de cerca do dito cujo.

“Na verdade, o sistema de proteção aos dados dos pacientes nos grandes hospitais e laboratórios ainda é muito frágil”, alerta o pediatra Marcelo Silber, médico credenciado do Sírio-Libanês e do Albert Einstein, em São Paulo. “Com a minha senha de médico, posso acessar a ficha completa de qualquer paciente, famoso ou não. Logo, alguém de má fé pode fazê-lo e passá-lo adiante, conforme o seu interesse. Por exemplo, imprensa, convênios, seguro-saúde.”

Está escrito no Código de Ética Médica, do Conselho Federal de Medicina:

É vedado ao médico revelar fato de que tenha conhecimento em virtude do exercício de sua profissão, salvo por justa causa, dever legal ou autorização expressa do paciente.

Ou seja,  alguém se prestou a fazer o serviço sujo no caso de Dilma. Se foi  médico ou outro membro da equipe do hospital –  enfermeira, nutricionista, psicólogo, secretária, técnico em informática ou seja lá quem for –, diria aos colegas de Época que esse profissional não é digno de confiança. Se foi um médico, abram olho. Médico bom não é só técnico competente; tem que ser eticamente humano.

A quebra de confidencialidade das informações de qualquer  paciente é algo muito grave. Diria criminoso. Dilma foi enganada. Traída. Teve as suas informações de saúde violadas. Espero que o Hospital Sírio-Libanês descubra como, quando, onde e quem acessou indevidamente o seu prontuário e passou adiante. Também se houve um mandante. Não por  ser a presidenta, mas porque todo paciente merece respeito e solidariedade. Na semana passada a vítima foi a Dilma, na próxima, pode ser você, o Azenha, eu.

O nosso compromisso de jornalistas é com a informação ética. O do médico é única e exclusivamente com o seu paciente, famoso ou anônimo. Hospital não é palco, doença não é espetáculo midiático nem paciente, escada. Esse show tem que parar.

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a globo do Peru?

Vargas Llosa retira coluna de jornal pró-Fujimori

Tijolaço 



O  Prêmio Nobel de Literatura de 2010, Mario Vargas Llosa, enviou uma carta ao diretor de El Comercio, determinando que sua coluna  ‘Piedra de Toque’  não  seja mais publicada no jornal peruano , por considerar que a publicação se converteu “em uma máquina de propaganda de Keiko Fujimori”, fazendo tudo para prejudicar a   candidatura de Ollanta Humala, e por “violar as mais elementares noções de objetividade y da ética jornalística”.

Ele diz que não pode permitir que sua coluna siga apareciendo  no que chama de “caricatura do que deve ser um órgão de expressão livre,  pluralista e democrático”.

A carta de Llosa está aí acima e basta clicar para ampliar.

Llosa não é um esquerdista, diga-se logo. Foi candidato à  presidência do Peru, em 1990, por partido de centro-direita, mas perdeu  a eleição para Alberto Fujimori, pai de Keiko, hoje preso por corrupção e cumplicidade em assassinatos.

Posto aí em cima um vídeo da Telesur, colocado agora há pouco no Youtube,  sobre a parcialidade que adotou a mídia peruana. O que não é novidade para nós, exceto pelo fato de que lá, intelectuais e jornalistas parecem reagir com mais vigor diante disso.

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Jornalista protesta no ar contra TV pró-Fujimori

concurso artístico

Reabertas as inscrições para o concurso artístico

Vereadora Sofia Cavedon 


As inscrições para o concurso artístico que irá constituir os troféus oficiais da Câmara Municipal de Porto Alegre foram reabertas nesta terça-feira (31/5) e irão até o dia 06 de junho (Segunda-feira).
As inscrições para o concurso, que é em nível nacional, devem ser realizadas pela Internet, através do site http://www.camarapoa.rs.gov.br/concursotrofeus/, onde também pode ser acessado o edital do certame. Àqueles interessados com eventuais dificuldades de acesso podem realizar a inscrição na sede da Câmara Municipal de Porto Alegre (Av. Loureiro da Silva, 255), na sala nº 395 (Licitação).
A presidente da Casa, vereadora Sofia Cavedon (PT), explica que a licitação, na modalidade concurso, está sendo realizada para que sejam selecionados os projetos de criação artística para o Troféu Câmara Municipal de Porto Alegre, Medalha Comenda Porto do Sol e Diploma Honra ao Mérito.
As obras selecionadas serão premiadas com R$ 5 mil para o Troféu Câmara Municipal de Porto Alegre, R$ 3.500,00 para a Medalha Comenda Porto do Sol e R$ 1.500,00 para o Diploma Honra ao Mérito.
Mais informações poderão ser obtidas através dos telefones (51) 3220-4314 e 3220-4383 ou no endereço eletrônico concursotrofeus@camarapoa.rs.gov.br.

quando os interesses são (outros e privados) no dinheiro do povo... vale desconversar?

Globo abafa crise da Fifa e inocenta Teixeira



Foi Triesman quem disse que Teixeira perguntou o que você tem aí para mim

Amigo navegante mineiro chama a atenção deste ansioso blog para a forma pela qual o G1, o Globoesporte.com e o Bom (?) Dia Brasil tratam do escândalo que enrola a Fifa e Ricardo Teixeira.

Na capa do G1 há suborno.

Na informação interna não há mais suborno.

O interessante, porém, é a informação que segue a reportagem do Bom (?) Dia Brasil o repórter informa que a própria Fifa considerou Ricardo Teixeira inocente de ajudar a Rússia a derrotar a Inglaterra na disputa pela Copa de 2018.

Como se sabe, um dirigente do futebol inglês disse ao Parlamento inglês que Ricardo Teixeira lhe perguntou o que você tem aí para mim.

A Fifa inocentou Teixeira.

E a Globo inocentou a Fifa e Teixeira.

É mais ou menos como se o Vaticano inocentasse o Bispo de pedofilia.

Em tempo: o jornal nacional do Ali Kamel não ousou perder tempo com o Ricardo Teixeira. Fez uma reportagem que absolve o presidente da Fifa e sequer mencionou o presidente da CBF. O que seria do Esporte da Globo sem o Ricardo Teixeira ? Ou será o contrário ?


Paulo Henrique Amorim

deuses poderosos e divinos?

Inglaterra quer adiar eleição
e abrir caixa preta da FIFA



Saiu na BBC, que, originalmente, divulgou a denuncia do jornalista Andrew Jennings.

A federação inglesa e a escocesa de futebol querem adiar indefinidamente a eleição para presidente da FIFA que deve se realizar nesta quarta-feira, na Suiça.

A Inglaterra decidiu se abster na eleição.

E quer que a FIFA nomeia uma instituição independente para fazer uma auditoria completa nas contas da FIFA (e de seus dirigentes, entre eles, é claro, Ricardo Teixeira).

A BBC também noticiou que a própria FIFA nomeou a comissão de “sindicância” que absolveu Ricardo Teixeira.

Como se sabe, um dirigente da federação inglesa contou que Ricardo Teixeira chegou para ele e perguntou o que você tem aí para mim.

A Inglaterra perdeu para a Rússia o direito de sediar a Copa de 2014.

A “absolvição” de Teixeira foi amplamenmte noticiada pela Globo.

É como se a Globo dissesse: o Papa absolve o bispo de pedofilia.

A rede CNN de televisão também tratou longamente da trampa na FIFA.

Mostrou que a FIFA é uma insitutição que tem tudo para estimular trampas: um número pequeno de pessoas decide sobre um volume muito grande de dinheiro: US$ 3,6 bilhões, por ano, segundo a respeitada revista inglesa Economist.

A CNN trata de forma divertida a eleição do que chama de “Santo” Blatter, o suíço que governa a FIFA há 13 anos e quer mais quatro.

O “santo” foi escolhido por Havelange para sucedê-lo na sacra cadeira.

E deixou o genro, Teixeira, de coroinha, bem perto do altar.

A imprensa mundial caiu sobre a eleição da FIFA com apetite.

Aqui no Brasil, caberia instalar a CPI da CBF – II.

À Polícia Federal, dar uma passadinha na CBF.

E o Procurador Geral da República exigir uma auditoria completa nesta instituição que vai realizar (?) uma Copa no Mundo e há 22 anos se movimenta segundo as regras do Imperador Ricardo Teixeira.

O germen da corrupção na FIFA, segundo Andrew Jennings, foi a empresa de publicidde e marketing ISL.

Havelange deu à ISL a exclusividade para venda de direitos de exibição e exploração de publicidade na Copa do Mundo.

A ISL faliu.

Não sem antes subornar Hevalange e Teixeira, segundo Jennings, no livro “Jogo Sujo”, editado no Brasil pela Panda Books, e no documentário da BBC.

Aqui no Brasil, Teixeira cedeu à empresa Traffic de Jota Hawilla uma liberdade de ação identica à da ISL.

O mundo inteiro assiste ao exame do corpo de delito da FIFA e seus santos dirigentes, segundo a CNN.

E aqui ?

Nem com todas letras do alfabeto grego – Alfa, Beta, Gama e Delta – será possivel descrever os feitos de divindades tão poderosas quanto Havelange e Teixeira.

Viva o Brasil !


Paulo Henrique Amorim

O que assusta o valentão Collor?

PC Farias ronda o Senado.
De que História Collor tem medo ?


O Conversa Afiada publica artigo de Luiz Claudio Cunha, que, recentemente, ao receber o titulo de “notório saber” na Universidade de Brasília, exigiu o fim da anistia à Lei da Anistia:

O que assusta o valentão Collor?


O senador Fernando Collor é desbocado, imortal e fanfarrão. Em agosto de 2009 teve a coragem de assumir um papel nada higiênico sobre o veludo azul do Senado, confessando em discurso excretado nos anais que estava “obrando, obrando e obrando” na cabeça do colunista Roberto Pompeu de Toledo, da revista Veja. Um mês depois teve a audácia de transpor os umbrais da imortalidade arrebatando uma cadeira na Academia Alagoana de Letras − sem ter escrito até hoje um único livro − graças à camaradagem de 22 dos 30 intelectuais da terra. Os restantes oito imortais das Alagoas votaram corajosamente em branco. Em junho de 2010 invadiu destemido – pelo telefone − a sucursal da revista IstoÉ em Brasília para ameaçar o repórter Hugo Marques: “Se eu lhe (sic) encontrar, vai ser para enfiar a mão na sua cara, seu filho da … !”, arrotou o senador, com sua proverbial fineza.


Agora, Collor acaba de enfiar a mão na cara da presidente Dilma Rousseff, que ele diz apoiar. O Planalto sonhava com a aprovação pelo Senado em 3 de maio passado, Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, do projeto que libera o acesso a documentos sigilosos após 25 anos. Durante 16 anos, FHC e Lula se omitiram vergonhosamente do dever ético de fulminar o sigilo eterno que protege documentos que podem iluminar as trevas do passado. Com a hombridade que seus antecessores não tiveram, Dilma quer abrir os arquivos públicos que contam parte relevante da história brasileira.


Como presidente da Comissão de Relações Exteriores, Collor avocou o projeto e travou a discussão. Alegou “constrangimentos diplomáticos”, citando quatro episódios históricos como fundamento para este absurdo. O primeiro, claro, é a “Ditadura Militar (1964-1985), onde o senador se perfila agora com nostálgicos do golpe e com a impunidade a torturadores, o que anistia nenhuma deveria agasalhar.


O segundo é o “Estado Novo (1937-1945), período de arbítrio de Getúlio Vargas. O terceiro é a “”Questão do Acre”(1899-1903), conflito que começou com a invasão do território boliviano por seringalistas brasileiros e terminou com a anexação pacífica de um novo Estado ao Brasil, em troca de uma indenização à Bolívia e a construção da ferrovia Madeira-Mamoré, onde morreram 6 mil trabalhadores.  


O quarto episódio que assombra Collor é — acreditem — a Guerra do Paraguai (1864-1870), o maior conflito armado da América Latina, que produziu 370 mil mortos, dos quais 50 mil brasileiros. Tudo isso, que aconteceu há quase 150 anos, ainda é um “constrangimento diplomático”, segundo o sensível Collor.


Que constrangimento, cara-pálida? O Itamaraty, que apoia o projeto que abre os arquivos, não pode ser contrário a uma iniciativa do próprio Governo Dilma. Certamente, o ex-presidente Collor não deve estar conspirando em causa própria. É sempre útil lembrar que seu tesoureiro de campanha, PC Farias, foi acusado pelo irmão, Pedro Collor, de ser o ‘testa-de-ferro’ do então presidente em uma extensa rede de corrupção e tráfico de influência no setor público.


Se a lei de Dilma passar, eventuais documentos ultrassecretos do ‘Esquema PC’ estariam liberados a partir de 2017. Mas é a singular condição de único presidente demitido por justa causa do poder, no processo de impeachment de 1992, que lhe dá o merecido título de imortal. Para isso, Collor nem precisa escrever um livro.



Basta o que obrou em seu fugaz governo.


Luiz Cláudio Cunha é jornalista.
cunha.luizclaudio@gmail.com.br

na prática e na teoria o cara já foi?

Presidenta já demitiu Palocci. (Na prática)

Conversa Afiada


Que falta ele faz em Brasilia !

Saiu no Valor, primeira página:

“Dilma revê coordenação política”


“A crise que abalou o Governo nos últimos 15 dias forçou a presidenta a rever a estratégia da articulação política, duramente criticada pelos aliados, e retomar (sic) a iniciativa na administração. Hoje, a presidenta se reúne com governadores e prefeitos de estados e capitais que sediarão a Copa de 2014. Amanhã, terá reunião do conselho político com a presença dos presidentes dos partidos aliados”.

 


NAVALHA

Tony Palocci, assim, se reduz à condição de “vaso chinês” – até cair formalmente.

(Há outros exuberantes “vasos chineses” no gabinete da Presidenta.)

Como disse aquela amiga argentina do Conversa Afiada, a Presidenta vai ter que entrar em campo, se sujar na lama, dar e levar canelada, porque técnico não ganha jogo.

O Valor revela também que foi o próprio Nunca Dantes quem tomou a iniciativa de ir a Brasília salvar a “governabilidade”.

O que a Presidenta considerou, segundo o Valor, um “mau passo”.

O Conversa Afiada e o Ciro Gomes (que falta faz em Brasília, ele que é quem melhor compreende a alma do Padim Pade Cerra !) também.

Aos poucos a Presidenta se livra do estrago do Tony Palocci.

Agora que acabou a crise da hiper-inflação e a urubóloga, hoje, no Globo, se dedica, como Keynes, a reorganizar o FMI, é preciso criar a “crise” da governabilidade com o PMDB.

Que é uma crise que ficará sempre na gôndola, à disposição do PiG (*).

O PMDB só estará satisfeito quanto retomar Furnas e a Funasa.


Paulo Henrique Amorim


(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

tentando entender o nosso tempo histórico?

Violência na Amazônia: falta coragem de enfrentar o problema

Leonardo Sakamoto 
 
O governo federal anunciou ações para evitar novas tragédias na Amazônia, como os assassinato das lideranças rurais Maria e Zé Cláudio, no Pará, e Adelino Ramos, em Rondônia. Sem medo de estar enganado, e ainda sem o detalhamento exato das ações, tenho a certeza de que – mais um vez – isso não vai dar certo.

Para começar, para que formar uma comissão interministerial para analisar o assunto? Pelo amor de Deus! Qualquer sagüi bêbado da floresta sabe a razão de se morrer a bala na região de fronteira agrícola. A violência na Amazônia não é uma doença, mas sim um sintoma. Ou seja, a fiscalização é uma parte importante – mas ameniza, não resolve. É como pegar malária e ficar tratando as dores pelo corpo com aspirina. No caso, estar sofrendo de infecção generalizada e receber um tylenol para aguentar as pontas. Proteger os ameaçados é importantíssimo, mas não é o coração da história.

As mortes no campo são resultado de um modelo de desenvolvimento concentrador, excludente, que privilegia o grande produtor e a monocultura, em decorrência ao pequeno e o médio. Que explora mão-de-obra de uma forma não-contratual, chegando ao limite da escravidão contemporânea, a fim de facilitar a concorrência em cadeias produtivas cada vez mais globalizadas. Que fomenta a grilagem de terras e a especulação fundiária, até porque tem muita gente graúda e de sangue azul que se beneficia com as terras esquentadas e prontas para o uso. Que muito antes da época dos verde-oliva já considerava a região como um “imenso deserto verde” a ser conquistado – como se o pessoal que lá morasse e de lá dependesse fossem meros fantasmas. Que está pouco se importando com o respeito às leis ambientais, porque o país tem que crescer rápido, passando por cima do que for. Tudo com a nossa anuência, uma vez que consumimos os produtos de lá alegres e felizes.

Ou seja, como o governo planeja mudar radicalmente tudo isso se não consegue nem orientar sua bancada a votar contra as mudanças no Código Florestal? Ou não consegue influenciar na aprovação da proposta de emenda constitucional 438/2001, que prevê o confisco de terras flagradas com escravos e que está parada há sete anos na Câmara por ação da bancada ruralista?

A verdade é que a violência na Amazônia não é uma questão do bem contra o mal para ficar sendo tratada como conto de fadas. É uma questão econômica. Tem gente que ganha muito dinheiro e, se a roda começar a girar para o outro lado, vai perder dindim. Para quebrar esse sistema, é necessário reinventar muitas práticas e sacudir o modelo. O governo federal não irá fazer isso de forma profunda nem que vaca tussa, pois é em cima dos representantes políticos das pessoas que ganham diretamente com isso que este e todos os governos que vieram antes estão assentados. Não estou pedindo aqui uma revolução socialista (alô, comentaristas deste blog, como diria Nelson Rodrigues: Cresçam!) Estou falando de regras do jogo e do respeito a elas – o que é bem capitalista, diga-se de passagem.

E a História vai se repetindo como tragédia. Na década de 80 e 90, fazendeiros resolveram acabar com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Maria, no Sul do Pará, um dos mais atuantes na região, e assassinaram uma série de lideranças. De acordo com frei Henri des Roziers, então advogado da Comissão Pastoral da Terra em Xinguara (PA), foi assassinado o primeiro presidente em 1985. “Depois, foi a vez de um dos líderes em 90 e seus dois filhos, que eram do sindicato. Foi assassinado, em 90, um diretor. E, em 91, mataram seu sucessor dele, além de outros que foram baleados. Passei da região do Bico-do-Papagaio para aqui a fim de ajudar na apuração desses crimes.” Os casos foram a julgamentos, houve condenações, mas os pistoleiros fugiram. Henri, foi, ele mesmo, um dos marcados para morrer no Pará e viveu sob escolta policial 24 horas por dia.

O Massacre de Eldorado dos Carajás, no Sul do Pará, que matou 19 sem-terra e deixou mais de 60 feridos após uma ação violenta da Polícia Militar para desbloquear a rodovia PA-150, completou 15 anos no dia 17 de abril. A rodovia estava ocupada por uma marcha do MST que se dirigia à Marabá para exigir a desapropriação de uma fazenda, área improdutiva que hoje abriga o assentamento 17 de Abril. Os responsáveis políticos pelo massacre, o governador Almir Gabriel e o secretário de Segurança Pública, Paulo Câmara, não foram nem indiciados. Quantos aos executores, há um longo caminho até que a Justiça seja feita.

Em fevereiro de 2005, a missionária Dorothy Stang foi assassinada com seis tiros – um deles na nuca – aos 73 anos. Ela foi alvejada numa estrada vicinal de Anapu (PA). Ligada à Comissão Pastoral da Terra, Dorothy fazia parte da Congregação de Notre Dame de Namur, da Igreja Católica. Naturalizada brasileira, atuava no país desde 1966 e defendia os Programas de Desenvolvimento Sustentável como modelo de reforma agrária na Amazônia. Dois dos fazendeiros acusados de serem o mandante chegaram a ser julgados e condenados, mas um está recorrendo em liberdade.

Você já deve ter ouvido falar de Chico Mendes, Dorothy Stang, os 19 de Eldorado dos Carajás e agora de Zé Cláudio e Maria. Mas e de Pedro Alcântara de Souza, um dos líderes da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar no Pará ,que foi assassinado com cinco tiros na cabeça em Redenção, Sul do Estado (67 mil pessoas, 162 mil cabeças de gado, quase 30% de adultos analfabetos, cerca de 40% de pobres) no ano passado? Ex-vereador, ele era um dos marcados para morrer devido à sua militância pelo direito das populações do campo e foi morto quando andava de bicicleta com a esposa por dois homens em uma motocicleta. A polícia, na época, afirmou que ele pode ter sido executado a mando de fazendeiros da região insatisfeitos.

Praticamente toda a semana, um trabalhador rural, indígena, ribeirinho, quilombola, camponês é morto na Amazônia. Alguns são mais conhecidos e ganham mídia nacional e internacional, mas a esmagadora maioria passa como anônimos e são velados apenas por seus companheiros. Além da importância de Maria e Zé Cláudio como lideranças, a morte deles ocorreu no dia da votação do novo Código Florestal na Câmara dos Deputados, o que contribuiu em dar visibilidade ao crime. E aqueles que morrem em dias de jogos da Copa do Mundo em que não há ninguém prestando atenção?

Na prática, com louváveis exceções como a de juízes com coragem de condenar escravagistas ou de procuradores que não têm dado trégua a quem mata e desmata, a Justiça tem servido para proteger o direito de alguns mais ricos em detrimento dos que nada têm. Mudanças positivas têm acontecido, mas muito pouco diante do notório fracasso até o presente momento. A se confirmar o crime de mando de mais essas mortes na Amazônia, será mais um tento marcado pela barbárie na disputa com a civilização na região.

Há um ano, a CPT entregou ao Ministro da Justiça a relação de 1.546 trabalhadores assassinados em 1.162 ocorrências de conflitos no campo nos últimos 25 anos, de 1985 a 2009. Destas, apenas 88 foram a julgamento, tendo sido condenados somente 69 executores e 20 mandantes. Dos mandantes condenados, dois estavam no xilindró, por coincidência os dois que encomendaram a morte de Dorothy Stang: os fazendeiros Vitalmiro Bastos de Moura e Reginaldo Pereira Galvão. Este último, contudo, recebeu da Justiça o direito de recorrer em liberdade.

Não foi o general De Gaulle que disse a famosa frase, mas ela é perfeita: o Brasil não é um país sério. Recebo semanalmente notícias do interior dizendo que alguém foi assassinado por defender um modelo de produção diferente. Se você não respira fundo e tenta reiniciar a CPU no final de cada dia, corre o risco de entrar em uma espiral de banalização de violência. O horror de ontem passa a ser nada diante da bizarrice de hoje, retroalimentado pela impunidade. Afinal, há mais chances de eu ser atingido na rua por um meteoro em chamas do que o Brasil garantir que os seus violadores de direitos humanos sejam sistematicamente responsabilizados e punidos.

Vamos, faça uma experiência: pegue os jornais da época de todos esses assassinatos. Pode ser apenas os dos mais famosos. Verá que é só trocar o nome dos mortos, do município (às vezes, nem isso) e onde foi a emboscada para serem a mesma matéria. As mesmas desculpas do governo, os mesmos planos de ação parecidos, as mesmas reclamações da Comissão Pastoral da Terra, as mesmas comissões sendo criadas para debater e encontrar soluções. Jornalistas preguiçosos que não tem criatividade para escrever um texto diferente? Desta vez, não. O que me leva a crer que a banda podre do agronegócio nacional (e internacional), além de governos federal e estaduais, bem poderiam serem processados por plágio.

entendendo o nosso tempo histórico

PHA no encontro de blogueiros do CE

Blog do Miro



os donos dos canais de tv e rádio... entendendo o nosso tempo histórico

Mapa de outorgas: saiba quem são os diretores e sócios de canais de rádio e tv no Brasil



O Ministério das Comunicações disponibilizou em sua página os dados completos referentes à outorga de canais de rádio e televisão no Brasil, incluindo os nomes dos donos e a composição acionária de cada empresa. A lista traz uma relação das empresas por Estado e também a relação de sócios e diretores por entidade. O Ministério também está construindo um sistema que informará o andamento não apenas das renovações de outorgas, mas de todos os atos de pós-outorga. Os dados mostram a extensão do domínio da RBS no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.

No dia 5 de outubro de 2009, o procurador da República em Canoas, Pedro Antonio Roso, solicitou ao presidente do Grupo RBS, Nelson Pacheco Sirotsky, o número de veículos de TV e rádio que a empresa possui no Rio Grande do Sul, bem como de suas afiliadas, emissoras e repetidoras. O pedido fazia parte de um procedimento administrativo instaurado pelo Ministério Público Federal para “apurar ocorrência de possível prática de monopólio e irregularidades nas concessões de rádio e televisão por parte do Grupo RBS no Rio Grande do Sul”. No dia 25 de novembro de 2009, o MP Federal realizou uma audiência pública na Câmara de Vereadores de Canoas, quando foi divulgada a resposta da RBS ao requerimento.

O documento assinado pela advogada Fernanda Gutheil, afirmou que a RBS Participações S.A. detém apenas duas concessões de serviços de radiodifusão de som e imagem (TV) – Canal 12, em Porto Alegre; e Canal 8, em Caxias do Sul. Além disso, informa que a RBS Rádios Participações S.A. tem três permissões indiretas, duas FM e uma Ondas Médias (OM).

Já o site institucional da RBS informa que a empresa possui 18 emissoras de TV aberta (12 no Rio Grande do Sul e 6 em Santa Catarina), além de 2 emissoras de “tv comunitária” e uma emissora segmentada focada no agronegócio (21 no total, portanto, nos dois Estados). A RBS apresenta-se como “a maior rede regional de TV do país com 18 emissoras distribuídas no RS e em SC, com 85% da programação da Rede Globo e 15% voltada ao público local”. Além disso, possui ainda:

25 emissoras de rádio, 8 jornais diários, 4 portais na internet, uma editora, uma gráfica, uma gravadora, uma empresa de logística, uma empresa de marketing e relacionamento com o público jovem, participação em uma empresa de móbile marketing e uma Fundação de Responsabilidade Social.

Na audiência pública realizada em Canoas questionou-se: se a RBS afirma ter apenas duas concessões de TV no Rio Grande do Sul, a quem pertencem as outras 10 emissoras de TV aberta que são mencionadas no site institucional da empresa? Emissoras como a RBS TV Passo Fundo, RBS TV Santa Maria, RBS TV Santa Rosa, entre outras. Formalmente, essas emissoras estão abrigadas sob outro CNPJ e a RBS usa esse argumento para afirmar que não está infringindo a lei que estabelece no máximo duas emissoras por titular.

Argumento, aliás, repetido por outras empresas em outros Estados do Brasil. O Decreto-lei 236/67, em seu artigo 12, cabe lembrar, limita em duas concessões no máximo por proprietário dentro do mesmo Estado.

“A radiodifusão – emissora de rádio e TV – deve estar em nome de pessoa física, não de pessoa jurídica, e cada pessoa só pode ter duas por estado. Daí, o que eles fazem é colocar em nome de pessoas da família”, observou o procurador Celso Três, autor de uma ação contra a RBS em Santa Catarina por prática de monopólio. A página do Ministério das Comunicações identifica a relação completa de sócios e diretores de cada uma dessas empresas.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

quer tentar entender o tempo histórico em que vivemos?

Manuel Castells: "Comunicação, poder e democracia"

30 de Maio de 2011, por Marcelo D'Elia Branco
O sociólogo catalão Manuel Castells, para mim a maior referência teórica contemporânea, fala para os acampados de Barcelona.

Ele que participou ativamente do maio de 68, e de forma lúcida e vibrante, continuou atualizando suas elaborações teóricas sobre a sociedade em rede mais do que comprovadas agora com as recentes manifestações que tomam conta das ruas em todo planeta. Não deixem de ver os vídeos postados abaixo e consultar todo arsenal teórico deste grande amigo. Material indispensável para compreendermos o período histórico que estamos vivendo.

Parte I


Parte II


Parte III


Parte IV



Abaixo foto de Manuel Castells em Porto Alegre durante o Fórum Social Mundial de 2003


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    um estilo ateu de viver

    Educar sem infantilizar: filhos sem Deus 

    O Pensador da Aldeia


    por Paulo Jonas de Lima Piva

    Se a religião já infatiliza os adultos com sua mitologia estapafúrdia, imagine só as crianças! Estas, que já surgem no mundo como frutos de uma atitude irrefletida, mecânica e arbitrária dos seus pais, sem poderem escolher como e em que condições gostariam de vir à existência, são obrigados a engolir no seu processo de formação e educação todos os preconceitos, crendices, idiossincrasias, dogmas, neuroses e demais patologias dos seus geradores, os quais, para piorar, se acham oniscientes ao moldá-los conforme seus valores e tabus. E tudo isso sem nenhuma chance de defesa e de reação para as crianças. Covardia total. Se a família é cristã, a intoxicação da consciência e da sensibilidade da pobre criança já começa com os tradicionais "papai-do-céu", "anjinho-da-guarda", "menino Jesus" e com as imperdoáveis tachações de "pecado" a tudo o que se refere à sexualidade. 

    Filhos sem deus: ensinando à criança um estilo ateu de viver, do filósofo argentino Alejandro Rozitchner e da psicóloga Ximena Ianantuoni (Martins Fontes, 2008), é um livro que propõe um tipo de formação e educação mais arejada às crianças, voltado para o desenvolvimento da capacidade de crítica, análise e autonomia da criança, tendo em vista estimular o sentimento e a consciência de liberdade, de autonomia e de tolerância desses seres humanos em construção. Crianças mais livres, mais questionadoras, independentes, felizes, ou seja, de bem com seus desejos, como seu corpo, com a vida e, sobretudo, com a morte. Em suma, uma base mais racional e sadia para um futuro adulto mais razoável e menos doente, eis a intenção essencial do livro.

    os avanços possíveis em 7 dias de greve

    Proposta avança e municipários encerram greve

     

    Vereadora Sofia Cavedon 

     

    foto mauro schaefer
    Após uma semana de mobilização, os servidores públicos da Prefeitura de Porto Alegre decidiram por maioria aceitar o índice de 8,16% de reajuste e encerram a greve. A proposta para a data-base, reformulada pelo governo após a retomada da negociação salarial na sexta-feira (27), foi avaliada em assembleia geral da categoria realizada hoje (30), no Centro de Eventos do Parque Harmonia. 

    Principais conquistas:

    - Reajuste de 7,01% (sendo 6,51% referente à reposição da inflação pelo IPCA) a partir de maio de 2011 e 1,15% em janeiro (sendo este percentual calculado sobre a folha de pagamento do mês de abril/11);
    - Equiparação ao salário mínimo nacional para as classes dos cargos cujos vencimentos básicos estejam inferiores a este: padrão salarial 2 (referências A, B, C, e D) e padrão salarial 3 (referências A e B), e aqueles tornados em extinção que se encontram em situação similar. A equiparação será retroativa a janeiro e março de 2011, resultando em 16,65% de reajuste;
    - Aumento do vale-alimentação para R$ 13,00 e no vale alimentação extra para R$ 22,10;
    foto mauro schaefer
    - Pagamento de progressões funcionais:
    a) antecipação das progressões já concedidas e que estão sendo pagas (biênios 2002-2004 e 2004-2006), parcelas dos valores retroativos, passando de 20 e 24 para 3 parcelas, a serem pagas em junho, setembro e dezembro de 2011;
    b) pagamento do passivo do biênio 2006-2008 em 4 parcelas (março, junho, setembro e dezembro/2012);
    - Revisão estrutural dos Planos de Carreiras dos servidores municipais por meio de Grupo de Trabalho paritário com o SIMPA, já instalado e em atividade.
    - Após o encerramento do movimento grevista, é acordado que os dias de paralisação em decorrência da greve deverão ser compensados num prazo máximo de 90 dias. Os servidores da SMED poderão fazer a compensação dos dias parados até o final do ano letivo.

    FonteSite do Simpa.

    sugadores de sangue e a modernidade

    Vampiros: uma saga de terror e prazer

     

    Por Paulo Muzell

    O mito do ser sugador de sangue – o vampiro – é milenar. Está lá na mitologia grega, povoou o imaginário e o folclore dos povos africanos e europeus, sendo, porém, particularmente cultivado pelos eslavos, que de pai para filho, repetiam estórias sobre esse ser das trevas, maligno e sedutor. Ele é um arquétipo humano, uma representação de nós mesmos: vivemos numa sociedade onde alguns poucos vivem à custa do trabalho de muitos outros, isso faz parte da própria essência de nossa sociedade capitalista.

    Na literatura, todavia, o mito vampiro existe há apenas dois séculos. A primeira obra foi publicada em 1819, escrita por John Polidori, um médico, discípulo do famoso Lord Biron. O romance de Polidori teve alguma repercussão imediata, mas aos poucos foi esquecido. Somente décadas depois, já no final do século XIX é que o mito vampiro e os livros de terror nele inspirado começam a assustar, excitar e divertir o grande público.

    Tudo começa em 1897, ano do lançamento do clássico “Drácula”, de Bram Stoker. O personagem-título surgiu inspirado no conde Vlad Tepes, o empalador, figura histórica do remoto século XV na Transilvânia, atual Romênia. A estória inicia com a mudança do conde Vlad-Drácula para a Inglaterra. Os aparecimentos do conde – acompanhados da visão de um enorme morcego –, são sucedidos por rastros de horror e morte.
    Drácula ressurge do túmulo em busca do renascimento à custa do sangue humano. Ressurreição e sacrifício com sangue, são temas recorrentes, presentes na origem das religiões.

    Em “Totem e Tabu”, Freud observa que o pai é chacinado pelos filhos, numa necessária resposta ao poder tirânico que exercia sobre os homens e mulheres do clã. Este poder será socializado pelos filhos após o banquete canibalesco. Mas o sentimento de culpa fará ressurgir o pai na figura do totem. O pai morto torna-se, assim, ainda mais poderoso do que em vida. O mito do vampiro parte daí, agregando um novo elemento, a pitada que populariza e traz sucesso à fórmula: o apelo erótico. Eros e Tânatos, dois impulsos vitais opostos, na verdade se encontram muito próximos, às vezes fundidos: são dois aspectos de uma única realidade.

    Um ser sinistro e pálido – não suporta o sol e a luz –, emerge das trevas dotado de enorme energia e com o poder de subjugar. Forte e másculo, oculto sob o manto da noite, assim que o sol se esconde ressurge em busca da imortalidade. O vampiro – detalhe fundamental – é um homem alto e belo. No cinema os intérpretes pioneiros foram “escolhidos a dedo”: Bela Lugosi, no início dos anos trinta e mais tarde, no final anos cinqüenta, Cristopher Lee.

    Seu alvo são as mulheres da sociedade inglesa da segunda metade do século XIX, oprimidas pelos rígidos padrões da moral sexual vitoriana. Casadas, viúvas, noivas e virgens solteiras, nada escapa a implacável sanha do conde. Usando o poder de transformar-se num enorme morcego, adentra castelos e lares, penetra silencioso na intimidade da alcova de sua “vítima”. Temos então o momento crucial, um “frisson” magnetiza as platéias: o morcego volta à forma humana e crava suas poderosas e percucientes presas nos lindos e delicados pescoços das donzelas, submetendo-as ao seu maligno poder, transformando-as em discípulas, “noivas do Drácula”. Ele cria, assim, um verdadeiro harém macabro, versão renovada do mantido pelo pai na horda primitiva. As “princesas do Drácula” cuja intimidade foi violada, como vítimas, permanecem puras, isentas de qualquer sentimento de culpa. A fórmula é engenhosa, adequada aos padrões extremamente conservadores da sociedade da época. Um homem macabro, mas atraente, másculo e sedutor. Ele tem a capacidade de penetrar na intimidade das alcovas e de submeter mulheres indefesas. Elas são “sugadas”, entregando-se incondicionalmente a ele.

    Surge assim um personagem que se imortalizou, o conde Drácula. Ele marca o início de uma verdadeira “dinastia vampiresca”; a ele se seguiram muitos outros; alguns até fizeram igual sucesso, todos, porém de menor nomeada. Com pequenas e inevitáveis adaptações, o mito se trtansformou num fenômeno de massa há mais de um século. Continua sendo um rico filão, explorado pela literatura, cinema, teatro e televisão há cinco gerações.

    O livro de Stoker foi muito bem recebido pela crítica, sendo considerado por alguns superior a famosa e consagrada obra de Mary Shelley, “Frankenstein”. Sir Arthur Conan enviou-lhe efusivos cumprimentos em nome de Sherlock Holmes e do dr. Watson. Mas a obra só rompeu os círculos mais restritos, atingindo públicos mais amplos com a ajuda do cinema e do teatro, duas décadas depois. “Nosferatu” foi primeiro filme que adaptou o livro de Stoker, em 1922. Como o estúdio alemão não adquiriu os direitos dos herdeiros do autor, os nomes dos personagens foram trocados. Alguns anos depois, em 1927, Hamilton Deane adapta o romance ao teatro, produzindo uma peça que alcançou longo e expressivo sucesso na Broadway.

    Em 1931 começa a ascensão do estúdio Universal, que passa a explorar com grande sucesso o inesgotável filão dos filmes de terror. Neste mesmo ano é lançado um dos primeiros filmes sonoros da produtora: Drácula, personificado de maneira magistral pelo ator húngaro Bela Lugosi. Foram “anos de ouro” da Universal e, também, de Bela Lugosi. De obscuro ator em pequenos teatros transforma-se em poucos anos em artista de projeção internacional. Assim como o conde sobrepujara em popularidade seu criador, Bram Stoker, passa a ser uma obsessão de Lugosi. A força do personagem penetra as entranhas do ator a ponto dele pedir aos seus herdeiros que fosse sepultado vestido a rigor com o figurino de Drácula. No seu enterro, ocorrido em 1957, segundo a lenda, dois famosos atores colegas seus teriam travado um curioso diálogo. Peter Lorre, muito impressionado com a visão do morto, teria cochichado a Vincent Price: “será que não deveríamos, por precaução, cravar-lhe uma estaca no coração?”

    A fase de Drácula e dos filmes de horror da Universal se esgota em meados dos anos quarenta e sendo retomado como grande vigor e competência pela produtora inglesa Hammer no final dos anos cinquenta, estendendo-se até o início dos anos setenta. Em 1958 é produzido o clássico “O vampiro da noite”, primeiro filme colorido da Hammer e que inicia um ciclo de sete filmes vampirescos muito bem recebidos pelo público. Uma nova dupla de atores ingleses surge, e rapidamente torna-se lendária na filmografia dos filmes de terror: Cristopher Lee – como o conde Drácula – e Peter Cushing como seu implacável caçador, Van Helsing. A Hammer encerra a série em 1974 com o filme “The legend of the seven gold vampires”.

    A série Drácula será retomada em 1992 numa superprodução de Francis Ford Coppola, com Gary Oldman no papel de Drácula e um forte elenco que contou com Anthony Hopkins, Winona Ryder e Keanu Reeves. Produção bem cuidada, com excelente música e figurino, grandes interpretações é no geral fiel à obra de Stoker, introduzindo como novidade a ênfase do relacionamento amoroso entre a personagem feminina Mina e o Drácula. O filme foi grande sucesso de bilheteria, faturando mais de 200 milhões de dólares.

    É a partir de meados dos anos setenta que o gênero horror-vampiros dá uma significativa guinada. A responsável foi a escritora norte-americana Anne Rice, ao publicar em 1976 seu romance “Entrevista com o vampiro”, obra inicial da sua série “crônicas vampirescas”. Nove anos depois, em 1985, Anne Rice consolida seu prestígio como escritora lançando sua segunda obra: “O vampiro Lestat”. Alguns anos depois, em 1994, “Entrevista com o vampiro” seria adaptado para as telas por Neil Jordan, com excelentes resultados.

    Anne Rice apresenta seus personagens-vampiros como indivíduos quase humanos, dotados de paixões, sentimentos, defeitos e qualidades. Eles vivem o drama do cotidiano da existência, buscam um sentido para suas vidas. A sua existência secular vidas pesa-lhes como um fardo, faz com que encarem a morte como possibilidade, válvula de escape, uma necessária saída. Três são seus personagens-vampiros mais conhecidos: Lestat, Armand e Louis. É esse último, Louis, quem introduz a grande novidade: relutante em tirar a vida de seres humanos, alimenta-se com sangue animal. Está dado o primeiro passo rumo à humanização do herói-monstro. Assim como o ritual do sacrifício oferecido ao totem nas sociedades primitivas vai se modificando, com a troca da oferenda, – a virgem é substituída pelo animal sagrado -, o vampiro passa a evitar o sacrifício de sugar o sangue de seus “semelhantes”. Outra novidade é o início do confronto vampiros versus lobos-lobisomens, esses últimos também seres da noite dotados de grande poder de transformação e de destruição. Como veremos esta linha será explorada e aprofundada mais adiante na recente saga “Crespúsculo”, de Stephenie Meyer.

    Há seis anos atrás, em 2005, Stephenie Meyer, uma desconhecida escritora norte-americana de apenas vinte e oito anos lançou seu romance Crepúsculo. O rápido e extraordinário sucesso da obra apressaram os lançamentos seguintes, sendo editados em seguida “Lua Nova” e “Eclipse”, estando previsto para 2011 o lançamento do quarto livro: “Amanhecer”, que completará a saga. Os três primeiros romances já originaram filmes que atraíram, também, milhões e milhões de expectadores. A autora vendeu mais de cem milhões de exemplares e suas obras permaneceram por 235 semanas – quase cinco anos – na listas dos livros mais vendidos nos Estados Unidos e na Europa

    Stephenie Meyer aprofunda mais ainda as mudanças introduzidas por Anne Rice: o herói-galã do primeiro romance, Edward Cullen, evita alimentar-se de sangue – mesmo de animais -, passa a ser um vegetariano! Os vampiros já não são mais seres exclusivamente noturnos, vivem em plena luz do dia! O terror é substituído pela aventura, os vampiros disputam a hegemonia do território com os lobos e são dotados de excepcional força e poderes: até voam! É óbvio que essas mudanças transformaram esses vampiros do século XXI em heróis ao gosto das platéias infanto-juvenis. O mito vampiro é totalmente descaracterizado sofreu um processo de juvenilização.

    O fato provocou forte reação do principal especialista em vampiros e filmes de terror brasileiro, José Mojica Marins, o Zé do Caixão. Ele, que há mais de sessenta anos produz filmes do gênero afirma que o verdadeiro filme de horror não aceita ou comporta tais modernidades, que uma obra só terá consistência se permanecer fiel às suas raízes, as lendas do folclore que a inspirou. Numa entrevista concedida em recente aparição pública, resumiu seu desagrado e desprezo pelos filmes da saga Crepúsculo numa sintética frase: “são umas fitinhas de boiolas!”

    Qualquer que seja o governo ele acaba sendo submetido à lógica do sistema político

    Dilma, refém do PMDB, diz Marcos Nobre

    Viomundo

    ‘Dilma perdeu seu grande projeto político’

    do Valor Econômico, reproduzido no site do IHU

    Depois de uma aparente lua-de-mel, que marcou os cem dias iniciais de seu governo, a presidente Dilma Rousseff enfrenta o revés da primeira grave crise política, com as denúncias envolvendo a súbita evolução patrimonial do ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, e, na sequência, a derrota na votação do Código Florestal. Uma derrota imposta não pela oposição, hoje minguada, mas por um aliado da própria coalizão, o PMDB. Um fracasso que representa, na opinião do professor de filosofia da Unicamp e pesquisador do Cebrap, Marcos Nobre, o fim do grande projeto político de Dilma: governar com relativa autonomia, com indicações ao segundo escalão que vinham seguindo critérios mais técnicos, sem se dobrar ao “pemedebismo”, termo preferido de Nobre para denominar a cultura política brasileira. Para Nobre, os recentes acontecimentos, que incluem a “absurda” entrada do ex-presidente Lula em cena, mostram que Dilma perdeu a queda-de-braço e vai ter que ceder. Terá uma tarefa “muito difícil” para se reeleger e deve exercer o mesmo papel de seus antecessores: ser apenas a síndica do condomínio pemedebista. Com um agravante, avisa: o de que o sistema político se esgotou e tende a levar o país à paralisia.
    A entrevista é de Cristian Klein e publicada pelo jornal Valor, 30-05-2011.
    Eis a entrevista.

    O que aconteceu com o governo Dilma?

    A Dilma teve de renegociar os acordos feitos pelo Lula. O Lula ampliou a base do governo a tal ponto que não existe mais oposição. Quando acontece isso, a oposição vai para dentro do governo. Na verdade, o jogo entre governo e oposição é entre PT e PMDB e, digamos, seus satélites. Nesse processo de ampliação da base, Dilma resolveu aproveitar o que chamo de excesso de adesão para tentar fazer uma seleção dos quadros do segundo escalão. Quis aproveitar a situação a favor dela. Estava usando todo seu capital eleitoral para fazer essa negociação dura com o PMDB e com os outros partidos, para que aqueles que fossem acolhidos no segundo escalão fossem mais técnicos, com mais qualidade gerencial, e política também, no sentido de tentar encontrar currículos que fossem mais “ficha limpa”. E o caso Palocci termina essa tentativa da Dilma. Nesse momento, a Dilma vai entregar o que o PMDB pedir. É a parte triste da história.

    A Dilma errou ao conduzir a negociação política e ao escalar Palocci para a Casa Civil?

    Não sei se errou porque o caso é muito estranho e não temos esclarecimento. Se Palocci não der explicações razoáveis, ela errou com certeza porque não aplicou os critérios que ela mesma disse que iria aplicar, no primeiro escalão.
    Parlamentares reclamam muito de não serem atendidos pela presidente. Consta que a cada dez indicações de nomes levados por Palocci, Dilma aceitaria, por exemplo, apenas dois ou três.
    Isso tem lá sua parte de verdade e tem também a parte de que o Palocci está tentando tirar a responsabilidade dele mesmo.

    Como a presidente pôde perder a votação do Código Florestal tendo uma base tão grande? Faltou habilidade ou seria inevitável?

    Inevitável nada é. E habilidade realmente não é uma característica dos líderes escolhidos pela Dilma.

    Que líderes?

    O [Cândido] Vaccarezza [líder do governo na Câmara]. É de uma inabilidade flagrante.
    Ele subiu à tribuna dizendo que tinha acabado de conversar com a Dilma, que teria lhe dito considerar uma “vergonha” o Código que a Câmara iria aprovar. Isso causou muitas reações.
    Além da ameaça que aparentemente existiu de que a Dilma demitiria os ministros do PMDB. Então, o que se tem é um processo de chantagem mútua. O PMDB chantageia porque quer as nomeações, e a Dilma chantageia de volta dizendo: “Então eu demito”. Aí, é uma queda-de-braço. Só que, com o caso Palocci, enfraqueceu o lado da Dilma. O enfraquecimento dela foi tal que o Lula ocupou o espaço dela. E isso realmente é um dos grandes absurdos do momento político brasileiro. Ele obriga a Dilma a sair a público para falar a favor do seu ministro, mesmo que em termos muito genéricos. Isso só ajuda a aumentar o estado de confusão da situação política brasileira. Não ajuda em nada a intervenção do Lula.

    Há um duplo comando?

    Não… Porque em política existe uma regra que é: há uma pessoa que tem a caneta. Isso faz muita diferença. Mas aumenta a confusão. O que aconteceu no Código Florestal? O PMDB disse: “Olha, se continuarem neste ritmo as exigências que estão sendo feitas para as nomeações de segundo escalão, vamos votar contra o governo”. E escolheram um projeto, o Código Florestal, que não é vital para o funcionamento da máquina governamental. Escolheram quando perceberam que Dilma endureceu porque tomou essa votação como se fosse, no parlamentarismo, um voto de desconfiança. Ela levou a votação nesses termos, coisa que não deveria ter feito. Resolveu tirar a limpo e quando, no meio, acontece o caso Palocci, ela não tinha mais força para enfrentar essa base.

    Havia saída?

    Qualquer que seja o governo ele acaba sendo submetido à lógica do sistema político, que funciona de maneira autônoma. Algo do tipo: “Se você não mexer comigo, eu não mexo com você”. Isso significa que funciona na base da chantagem mútua e na base do veto mútuo. Um exemplo: o caso dos líderes parlamentares religiosos que fizeram um acordo de que não chamariam o Palocci à Câmara se fosse retirado de pauta o material contra homofobia do Ministério da Educação. É um acordo quase mafioso do sistema político, de autoproteção.

    Isso corresponde a um processo de cartelização, que caracterizaria atualmente os sistemas partidários pelo mundo?

    Não, é uma coisa muito brasileira e, acho, um pouco incomparável. O PMDB criou, lá na década de 80, uma cultura política duradoura para o Brasil, que diz assim: “Se você entrar para o partido – qualquer um pode entrar -, se você se organizar como grupo de pressão, tem o seu interesse garantido e pode ter certeza de que será consultado a respeito de qualquer assunto que diz respeito a esse interesse”. Portanto, tem direito de veto. Com isso, você não tem debate público real, porque as questões não vão para o debate, são vetadas antes, como nesse caso que dei do [deputado federal do PR do Rio, Anthony] Garotinho versus Palocci.

    A imagem de uma presidente refém de grupos de pressão não é contraditória com a ideia predominante de que o governo tem a primazia e sua posição quase sempre prevalece, porque pode oferecer cargos, verbas etc?

    É, mas eu acho que essa ideia de um governo todo-poderoso é completamente ilusória. Basta ver o que o Lula, do alto de seus 80% de popularidade, conseguiu passar no Congresso. O que ele conseguiu passar de realmente decisivo? Nada. O desafio anual do governo é passar a LDO [Lei de Diretrizes Orçamentárias] e depois passar a lei orçamentária.

    Qual é a solução para se escapar desse pemedebismo?

    É preciso ter governos mais enxutos e mais coesos, que coloquem uma linha e digam: a partir daqui eu não aceito.

    Mesmo que seja um governo minoritário?

    Mesmo. Mas aí é preciso ter um apoo popular significativo para você conseguir se manter. Algum movimento vai ter que ser feito. E necessariamente é diminuir a adesão ao governo. Num certo sentido, Dilma estava fazendo isso, ou tentando fazer, ao colocar critérios rígidos para escolher o segundo escalão. Com o caso Palocci ela perde esse grande projeto político que era dela e vai simplesmente continuar sendo uma síndica do pemedebismo.

    É factível que o Brasil venha a ter um governo minoritário ao estilo dos escandinavos com essa cultura política de barganha?

    É, mas aí você está me dizendo que o pemedebismo é inevitável. Pode ser. A maioria das pessoas do PT, por exemplo, com quem eu converso, dizem que esta é a estrutura, que se você quiser fazer política pela esquerda, precisa ocupar essa cultura política pela esquerda. O que eu posso dizer contra um argumento realista? Nada. Por que o realismo sempre está certo. Agora, o que muda o mundo não é o realismo. Pode-se dizer: “Isso é ser realista, é ser pragmático”. Mas, bom, nós vamos para o buraco, vamos construir uma democracia horrorosa, que é o que estamos fazendo. É um sistema que funciona na base da chantagem.

    Esse modelo de pragmatismo, de maior diluição ideológica, não vem se tornando uma tendência mundial, como o caso clássico do Partido Trabalhista britânico?

    Com toda razão. Esse movimento para o centro você pode observar em vários países, não vou dizer em todos. Mas no Brasil, a tendência tem uma certa especificidade. Porque não existe na Espanha, na Alemanha, na Escandinávia, essa tradição pemedebista. Ou seja, ser político é estar no poder, seja qual for o governo.

    Não seria esta a origem do problema: o alto custo de ser oposição no Brasil? As reformas não deveriam começar por aí?

    Sem dúvida. É um problema de cultura política, sim, e é um problema de estrutura também. Você tem uma concentração de recursos na União que é absurda. A União pode manter Estados e municípios a pão e água. Isto não é possível. Esse grau de concentração foi produzido em grande medida pelo Plano Real que retomou o poder para a União, um poder que era disseminado pelos Estados. Os Estados faziam política econômica! Esse processo de concentração e fortalecimento da União foi importante para se estabelecer alguma espécie de estabilidade, mas tem agora um efeito perverso. Porque o sistema político pemedebista, que era a fragmentação entre os Estados, se readaptou a esse modelo centralizado. O que acontece num sistema pemedebizado? Significa que a Dilma, a partir de agora, é refém desse sistema e que ela vai operar nos limites que este sistema colocar para ela. Qual é o problema disso? É que leva à paralisia.

    Por que ela é refém e o Lula não foi?

    O Lula foi, claro que foi, ele montou este sistema. E ele montou de tal maneira que ele aparecia como alguém que mandava muito e não mandava coisa alguma.

    O Lula não mandava?

    Muito pouco. Por onde o governo Lula passou neste sistema de vetos? Pense nas políticas pelas quais o Lula é conhecido: Bolsa-Família, Luz para Todos, os PACs, que estão empacados. Foi por onde o sistema não vetava. Quem é contra o aumento do salário mínimo? Quem é contra dar Bolsa-Família? Com isso ele produziu um crescimento econômico que permitiu um realinhamento da economia. Fez uma política “keynesiana”. Agora, essa ideia de que Lula mandava muito não procede. Ele é muito importante? Sim, fez o Brasil voltar à ideia de que o país pode ter futuro, de país que cresce. Mas do ponto de vista do sistema político não mudou nada.

    Por que o PMDB não consegue ser o síndico?

    Quantos votos teve Ulisses Guimarães em 1989, na eleição presidencial, 4,89%? O PMDB aprendeu a lição. Não pode ser síndico de seu condomínio. Porque se o síndico for outro e der errado, a culpa é do síndico. Não é dele. Então essa é a lógica do PMDB: põe a culpa no síndico. Não é a lógica do PMDB só. É de todos os partidos do sistema político brasileiro.
    O PT é um PMDB?
    Não, o PT é um partido diferente. Por isso ele é síndico. O Fernando Henrique estabeleceu dois polos, que são dois síndicos. Na eleição do condomínio você pode escolher entre eles: o do PT ou o do PSDB.

    Que são duas alternativas ao pemedebismo…

    Alternativas a tomar conta do condomínio pemedebista. O PSB é assim, o PSD do Kassab é assim. Você acha que Aécio é líder da oposição? Aécio não lidera oposição nenhuma. Ele está esperando que o governo Dilma dê errado para afirmar que isso é um fracasso, depois de dizer que Lula e Dilma eram ótimos. Ou seja, é um mero oportunismo eleitoral. Agora qual é o limite que tem um Estado para fazer o governo Dilma fracassar? Peguemos a Copa. Em que Estados está havendo maior problema? São Paulo, Minas… Só que tem limite. Porque os Estados e municípios dependem de repasses federais.

    Não seria um tiro no próprio pé do PSDB, ao arriscar seu governo nesses Estados?

    Sim, mas se a Copa não der certo, a culpa é do governo federal, não do estadual. É da Dilma.

    A governabilidade da presidente está ameaçada, a crise tende a se aprofundar, com perda de iniciativa de agenda?

    A iniciativa de agenda desaparece. Como no governo Lula. Qual foi a iniciativa de agenda dele? Enfrentamento da crise mundial. Foi muito importante, mas foi uma crise mundial! Mas a Dilma pode levar perfeitamente os quatro anos até o final – sendo síndica do pemedebismo.

    Ela vai ser a síndica ou ficará à sombra do antecessor?

    Acho que a Dilma não vai deixar isso acontecer. Ela deixou claro quando Lula resolveu ocupar o espaço dela. Você acha que o Lula precisa dizer à presidente o que ela tem que fazer? Não tem o menor cabimento. Pode existir um conflito entre os dois? Pode.

    Tende a acontecer?

    Não tenho a menor ideia. Há aquela lei da política: de criatura e criador. Mas neste caso há um elemento fundamental que é o PT. Quem vai segurar para que isso ocorra ou não é o PT.

    E a reeleição?

    Se a inflação não for colocada sob controle, se as obras de infraestrutura não forem realizadas para a Copa, e se não tiver uma taxa mínima de crescimento, está ameaçada a reeleição dela, claramente. A tarefa dela é muito difícil. Tem a maior base política da história do Brasil, e a menor margem de manobra. Essa é a situação dela.

    E qual a chance de a oposição capitalizar esse momento?

    Se Dilma fracassar durante o mandato. Mas capitalizar o Palocci é difícil porque o PSDB está pedindo desculpas por criticá-lo. Não tem oposição!
    Há suspeitas de que a divulgação das denúncias teria sido fogo amigo e partido do próprio PT.
    Tem, com certeza. Porque, por paradoxal que pareça, o Palocci é o representante do Lula no governo Dilma. E não tem ninguém com quem o PT tenha tido mais divergência do que com o próprio Lula. Claro, essas divergências ficaram todas debaixo do tapete e estavam esmagadas por 80% de popularidade. Mas houve divergências sérias. O PT sentia que não tinha mais a liderança do governo Lula. O Palocci é a continuidade dessa lógica. Num certo sentido, tem fogo amigo sim. Mas tem fogo amigo para todo lado. O PSDB está em guerra. O PT está em guerra. O líder do partido está em guerra aberta com o líder do governo na Câmara. O PMDB está unido, mas apenas momentaneamente, como estratégia.

    O PMDB também não sofre uma influência do PT, ao se tornar cada vez mais coeso e disciplinado, como já havia chamado a atenção na votação do mínimo?

    Não, acho que quem dá lições sempre é o PMDB. O PMDB diz para onde o sistema está indo.

    Já que o Lula, com toda a sua popularidade, e a Dilma, agora, no seu estilo linha-dura, não conseguiram dobrar o pemedebismo, quem seria capaz?

    Mas é a sociedade que tem que exigir. Você só ouve argumento realista. Mas eu digo que, se continuar assim, trava. Tende à paralisia e daí o que vai acontecer é uma crise muito maior. O governo Lula teve um efeito extraordinário de inclusão. Mas essas pessoas ainda não falaram! A gente ainda não viu o que vai ser o efeito dessas pessoas que têm acesso a internet, jornal, revista, informação política. Tem efeitos dessas mudanças da estratificação social que a gente não conhece.

    Qual é a causa desse sistema pemedebista?

    É uma cultura política, que vem de muito longe, que se explica pela nossa história ditatorial recente, é importante dizer isso. Os avanços feitos nos últimos 17 anos ocorreram apesar desse sistema político.

    O pemedebismo é favorecido pelo sistema eleitoral proporcional, que torna o sistema fragmentado? Qual seria o seu modelo preferido, um sistema com apenas dois ou três partidos?

    O número não importa. Quem é que faz uma reforma política – que na verdade é uma reforma eleitoral? O próprio sistema político. O problema não é da regra enquanto tal. Os protestos na Espanha e os da Primavera Árabe têm suas razões completamente diferentes. Mas o que o sistema político está achando é que enquanto o país estiver crescendo ninguém vai reclamar. E isso é uma loucura, as pessoas vão reclamar.

    Quais os principais problemas que precisam ser atacados?

    Primeiro, destravar o debate público. No Brasil, se uma questão é colocada imediatamente o problema é: a favor ou contra o governo? E não pode se resumir a isso.

    A existência de uma oposição mais forte não levaria justamente ao não debate e à estratégia de ser “do contra”, como ocorria com o PT – por sinal papel típico de quem está na oposição?

    Não aconteceu isso com o PT, não. Não foi assim. Quer dizer, em alguns casos, como no primeiro mandato do Fernando Henrique, pode ter sido. Mas o PT aprendeu a ser oposição, durante o governo Fernando Henrique. Pegue o caso Telebrás. Ia ter a privatização da Telebrás e o que o PT fez? Apresentou um projeto alternativo de privatização.

    Celebremos o continente africano!

    Amorim: o Brasil tem solução
    para todo problema da África


    Enquanto isso ...

    O Conversa Afiada tem o prazer de reproduzir o artigo desta semana na Carta Capital do grande chanceler Celso Amorim:

    A África tem sede de Brasil


    Celso Amorim



    Escrevo este artigo no dia dedicado à celebração do continente africano. E faço isso com muita alegria, por constatar, pela leitura do discurso pronunciado pelo ministro Antonio Patriota na cerimônia com que o Itamaraty marcou a efeméride, que os conceitos e princípios que se desenvolveram durante o governo do presidente Lula continuam a presidir a política africana de Dilma Rousseff. Patriota deu, ele próprio, os dados que ilustram o vertiginoso crescimento das nossas relações com o continente africano durante os últimos oito anos.



    A África sempre esteve no imaginário da política externa brasileira, embora nem sempre de forma coerente ou consequente. Durante a ditadura, o Brasil foi lento em dar apoio aos movimentos de libertação das antigas colônias portuguesas. Graças à visão de dois homens, Ovídio Melo e Italo Zappa, nos redimimos em parte desse pecado ao agirmos de forma pioneira e corajosa reconhecendo o governo do MPLA em Angola.



    Na primeira viagem que fiz à Africa durante o governo Lula, visitei sete países, seguindo a orientação do presidente, mas instigado também por uma cobrança de minha mulher, que, ao me ouvir relatar iniciativas quanto à Venezuela, Mercosul etc., me interpelou: “E pela África vocês não estão fazendo nada?” Isso foi em abril de 2003, quando decidíamos nossas prioridades e refazíamos nossas agendas, dominadas então por temas impostos de fora, como a Alca.



    Desde aquela primeira visita, observei a realidade que inspirou o título deste artigo: “A África tem sede de Brasil”.  De Moçambique a Namíbia, de Gana a São Tomé e Príncipe, cada um a seu modo e de acordo com suas características e dimensões, veem no Brasil um modelo a ser seguido. Lula revelou-se o mais africano dos presidentes. Pediu perdão pelos crimes da escravidão, visitou mais de duas dezenas de países e abriu caminho para ações de cooperação e negócios. Essa determinação em não deixar que a África escapasse do radar das nossas prioridades provocou muitas críticas da nossa mídia ocidentocêntrica (o leitor perdoará o barbarismo), que só arrefeceram quando o presidente chinês visitou sete ou oito países em mais ou menos 12 dias. Aí os nossos “especialistas” passaram a dizer que a nossa ação era insuficiente…



    Uma agência de notícias publicou, a propósito, em fevereiro um excelente artigo comparativo entre as ações do Brasil e da China  na África. Em suma, o Brasil ganha na empatia e no jeitinho (no bom sentido), mas perde de longe nos recursos investidos. E para quem nunca se deu ao trabalho de olhar, além do interesse comercial (a África seria hoje, tomada como país individual, o nosso quarto parceiro comercial, à frente do Japão e da Alemanha), o continente africano é um vizinho muito próximo com o qual temos interesses estratégicos. A distância do Recife ou de Natal a Dacar é menor que a dessas cidades a Porto Velho ou Rio Branco. Nossa zona marítima exclusiva praticamente toca aquela de Cabo Verde. Isso sem falar no enorme benefício que uma maior relação com o Brasil traria para a África, contribuindo para afastar a sombra do colonialismo renascente, agora movido não só por capitais, mas por tanques e helicópteros de combate.



    Tive recentemente o privilégio de passar quatro semanas na Kennedy School of Government, em Harvard. Como já comentei em outro artigo, pude observar aí a preocupação (quase obsessão) com temas relacionados com a segurança, até certo ponto compreensível em um país envolvido em duas guerras (ou três, se incluirmos a Líbia, como devemos fazer) e perplexo diante das mudanças que têm ocorrido fora do script inicialmente traçado para a implantação da democracia de fora para dentro e por força das armas.



    Houve também oportunidades para conversas sobre temas mais amenos, mas igualmente importantes, com professores provenientes dos mais diversos recantos do planeta. Uma delas foi com o queniano Calestou Juma, que ocupou cargos internacionais na área ambiental e que publicou há pouco um livro sobre agricultura africana. Juma completou seus estudos de doutorado no Brasil, em Piracicaba, atraído pela noção de que o nosso país é um modelo a ser seguido. Não sou técnico em temas agrícolas, mas pude relatar a Juma algumas de nossas iniciativas nesse campo, como o escritório da Embrapa, em Gana, e a experiência pioneira de uma fazenda-modelo de algodão no Mali, que visa a beneficiar alguns dos países mais pobres do mundo. Foi de Juma (a leitura de cujo CV na Wikipédia recomendo aos interessados em aprimorar nossa cooperação com os vizinhos de além-mar) que ouvi a melhor formulação do que o Brasil significa para as esperanças de desenvolvimento da África: “Para cada problema africano existe uma solução brasileira”. Se a nossa agência de cooperação estivesse em busca de um slogan, não haveria melhor. Pagando direito autoral, é claro.