Vídeo mostra agressão de policial militar a estudante da USP. PMs são afastados
Felipe Prestes no SUL 21
Atualizada às 18h42
Um vídeo postado no YouTube nesta segunda-feira (9) mostra a agressão de um policial militar de São Paulo a um estudante negro da USP. Descontrolado, o policial chegou a puxar a arma e apontar contra o rapaz, mas rapidamente desistiu do ato. Segundo o DCE da USP, a confusão ocorreu na manhã desta segunda, quando a Polícia Militar e a Guarda Universitária tentaram retirar pessoas que ocupam o Centro de Vivências da USP. Em entrevista coletiva, a Polícia Militar anunciou o afastamento dos dois policias que aparecem nas imagens.
No vídeo, o sargento André Ferreira argumenta com um grupo de estudantes quando o rapaz no fundo do vídeo faz sinal de negativo com o polegar. O policial pergunta se ele é estudante e o rapaz responde que sim. O PM, então, pede sua carteirinha e o jovem diz que já deu sua palavra e não vai mostrar o documento. O policial então passa a agredi-lo, chegando a sacar a arma. A agressão dura cerca de trinta segundos, de fortíssimos empurrões, puxões. O estudante em nenhum momento tenta reagir e, por fim, mostra que seus documentos, provando que é aluno da USP. Nicolas Menezes Barreto estuda Ciências da Natureza, na Escola de Artes, Ciências e Humanidades, no campus da USP Leste, na Zona Leste da capital paulista. Mesmo já tendo demonstrado a intenção de mostrar o documento ele continua sendo agredido por um tempo.
Em outro vídeo, após a agressão, o policial tapa sua identificação na farda, se recusa a dizer seu nome para os jovens, e diz que não fez nada. Ele aparece visivelmente alterado. E o jovem agredido mostra para a câmera sua carteirinha onde se vê que é estudante da USP.
Um detalhe: o jovem era o único negro entre os presentes no Centro de Vivências. “Foi uma agressão ao único estudante negro que estava no local. Não foi por acaso que o policial perguntou se ele estudava na USP”, afirma Thiago Aguiar, integrante da gestão do DCE e estudante de Ciências Sociais.
Aguiar explica que o local é alvo de um conflito desde 2006. O Centro de Vivências abrigava as sedes do DCE, da Associação dos Pós-Graduandos e um espaço para o convívio estudantil. Naquele ano, a reitoria entrou em um acordo para fazer uma reforma no local e depois devolver o espaço aos estudantes. Em 2009, a reforma ainda não havia saído do papel, o local tinha ficado simplesmente parado, e a reitoria começou a sinalizar que gostaria de ter outras atividades no espaço, não cumprindo o acordo. Assim, os estudantes decidiram retomar a área. “O DCE decidiu recuperar o espaço e, sem sucesso, tentou negociar com a reitoria nos últimos dois anos. Neste período, a reitoria nunca sinalizou com uma solução”, conta Thiago.
“Agora, a reitoria decidiu lacrar esta parte da vivência. Vem numa escalada de medidas autoritárias. Soa como provocação depois da greve estudantil e da expulsão de seis estudantes”, completa o estudante de Ciências Sociais. Thiago conta que no último dia 6, a Guarda Universitária já havia tentado tomar o espaço à força. Na ocasião, uma estudante denunciou ser agredida.
Segundo Thiago Aguiar, a presença da PM no campus tem deixado a reitoria mais “à vontade” para tomar medidas autoritárias. Para o estudante, episódios como o desta segunda demonstram os reais objetivos da presença policial no campus. “Se dizia que a PM serviria para a segurança, uma das justificativas era a morte de uma estudante. Agora vai ficando claro para que serve a PM no campus. Está claro que não é para a segurança. Serve para intimidar opiniões contrárias, em uma universidade, que era para ser espaço da livre opinião, da crítica”, afirma.
Thiago opina que a presença da PM, apoiada por um clamor midiático, foi a solução fácil para a reitoria não cumprir com suas responsabilidades. “A Universidade não reforma o sistema de iluminação, não poda árvores, não amplia a guarda universitária, não contrata guardas mulheres para casos em que isto é necessário”, exemplifica. Thiago explica que a atual gestão do DCE é feita por um comitê formado pelos centros acadêmicos. Este comitê ainda deve se reunir para ver que medidas tomar diante dos casos de violência. “Precisamos reunir as entidades e tomar uma decisão coletiva. Uma das preocupações é pressionar para que o espaço continue sendo um espaço estudantil”, diz.
Por meio de sua assessoria, a USP diz que o vídeo foi postado nesta segunda, mas não tem como saber quando o fato ocorreu realmente, e que ficou sabendo do episódio pela imprensa. Por isto, a Universidade diz que não teve como apurar se a ação policial ocorreu por pedido dela, uma vez que há ronda policial nas suas dependências e a ação pode ter sido por iniciativa policial. A USP aponta que realmente está retomando a posse da área para continuar a reforma e acusa os jovens que estão no local de não serem alunos.
Por volta das 18h desta segunda, a Polícia Militar anunciou, em entrevista coletiva, o afastamento dos dois policiais militares que participaram da ação na USP. O coronel responsável pelo patrulhamento na USP, Wellington Venezian, afirmou que houve despreparo e descontrole emocional do sargento André Ferreira. A PM vai abrir uma sindicância sobre o caso, com duração de 60 dias.
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