Arnaldo Marques: “Ah, que tempos dissimulados!” O Brazil tem nojo do Brasil e sua mais recente vítima é a Copa
junho 8th, 2014
by mariafro
Ontem escrevi um pequeno texto no meu Facebook sobre algo que anda me incomodando deveras.
Ontem escrevi um pequeno texto no meu Facebook sobre algo que anda me incomodando deveras.
Vivemos numa democracia, as pessoas podem se expressar e emitir suas opiniões, mas o que não aguento mais é um discurso reacionário feito por uma camada da população (o mote de agora é a Copa, mas já foi o Mais Médicos, há 12 anos é o Bolsa Família). O mote variável é sempre usado por uma parcela com acesso a bens públicos e privados tenta nos fazer crer que seu discurso de complexo de colonizado, reacionário e excludente é um discurso em defesa do povo brasileiro. Não é. E como argumentei no texto, me oponho terminantemente que façam uso do significado de 'povo brasileiro' para falar por mim e pelo povo brasileiro.
O texto de Arnaldo vem nessa linha e acho que com muita clareza e elegância nos revela essa hipocrisia.
Pererê, camará, tororó, olererê
Por Arnaldo Ferreira Marques, em seu Facebook
07/06/2014
Em junho de 2001, a imprensa brasileira e mundial dava destaque a um aspecto pouco noticiado até então.
No Peru, coração do antigo império dos incas, havia sido eleito o primeiro presidente indígena da história do país.
Ficava claro que o país se dividia radicalmente entre os brancos descendentes dos colonizadores europeus e os não brancos, basicamente indígenas.
Curiosamente entre os "brancos" estavam também os peruanos nipo-descendentes, que formam a segunda maior colônia fora do Japão (apesar de emigração forçada para os campos de concentração dos EUA na Segunda Guerra).
Enfim, quem dominou o Peru independente no início do século 19 foram os "brancos". Os outros ficaram de lado e eram desprezados de todas as formas, da cultura à política.
A situação peruana não era única na chamada hispano-américa naquele começo de século 21, como os noticiários iriam mostrar.
O mesmo ocorria na Venezuela, onde Hugo Chávez era "acusado"(?) de ser índio pela classe média Armani-Gucci, enojada, em marcha pelas ruas mais elegantes de Caracas. E ficou escancarado na Bolívia, com a eleição pós-revolução de Evo Morales, um indígena aymará.
Da "ilha" Brasil, olhávamos para o Oeste e pensávamos como eram atrasados e bárbaros esses nossos estranhos vizinhos.
Verdade que aqui os indígenas foram um "problema" resolvido pelos brancos no século 18.
Mas, o fato é que surgiram no Brasil novos "índios", fruto da mistura de indígenas resistentes, brancos desgarrados e principalmente negros arrancados da África para produzirem tudo.
"Índios" que, com o passar dos séculos, criaram um sotaque próprio, modos de falar, ritmos musicais, jeitos de festejar. Tudo fruto de um mix de coisas: a falta de educação formal, as raízes históricas, a miséria, a inteligência para superar os limites e as diversidades, a exclusão do poder.
O Brasil é, e reafirmo, o Brasil 'É' a mistura da ocidentalização dominante (que teve sucesso em impor a língua e a religião, por exemplo) com esses "índios" não ocidentais. Mistura que às vezes anda e dá liga, e às vezes desanda.
Quem mais contribui para o desandar são os "brancos" que só admitem a ocidentalização radical, pretensos lisboetas na Colônia que no século 19 se tornaram pretensos parisienses uns, londrinos outros, berlinenses os mais ousados. Nova-iorquinos quase todos no século 20. É o povo do Brazil.
Para o Brazil, os "índios" são vagabundos, bêbados, fracos para os vícios (sexo, drogas, ociosidade etc. etc.), que só querem festejar, batucar, jogar bola, trepar. São bregas, ignorantes. Culpados por sua pobreza e inferioridade social atávicas.
Ao Brazil, Miami. Ao Brasil, a Rota (ou o Bope)!
Cantava Elis que o Brazil não conhece o Brasil. E que o Brazil tá matando o Brasil.
Eu diria que o Brazil tem nojo do Brasil.
E a mais recente vítima do Brazil é a Copa.
Claramente uma parte do 'não vai ter Copa' é o coro do Brazil contra o Brasil.
Alguns textos por aí são explícitos ao afirmar isso.
O Brazil não quer educação e saúde públicas caras para o Brasil. Mas faz demagogia com isso para destilar o nojo contra essa negada suada que insiste em jogar futebol e, pior, torcer pelo futebol.
O Brazil da Fórmula-1, do MMA, do Grand Slam, cada vez mais torce para o futebol do Barça, do Chelsea, do Bayern.
O Curíntia, o Mengo & cia. vão ficando para o Brasil mesmo.
Quem sabe se o BNDES tivesse financiado estádios na Europa…
Ah, que tempos dissimulados. Que chato tudo isso.
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Contribuição cultural do baitasar
gereresararaururuoleole... blablabafafasururuolara
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