terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Imagine que tudo que for publicado passe pelas mãos e olhos de um poder só... isso já existe

Ricardo Vilches: Golpe na pluralidade do Jornalismo

Viomundo

Pluralidade no Paraná. Não no jornalismo.
por Ricardo Vilches

A tarefa para este repórter iniciante era simples: sair de Londrina rumo à Jataizinho, no norte doParaná, e saber dos motoristas a opinião sobre a praça de pedágio recém instalada na região. O material – em TV chamado de VT – deveria ser gerado para Curitiba onde uma outra equipe ficaria encarregada de levar ao ar em rede estadual. Das indignadas respostas quanto ao preço abusivo, lembro de ver no  ar
apenas as ponderações. “(…) mas acho que vai ser uma boa. Já estão tapando os buracos”.

A Rede Paranaense de Televisão, afiliada à Rede Globo, fez uma campanha brutal em favor do Anel de Integração proposto pelo governador Jaime Lerner que não permitiu o contraponto. As seis emissoras do grupo contavam ainda com o alinhamento editorial da Gazeta do Povo, o maior jornal do Estado pertencente ao mesmo grupo, com sede em Curitiba.

Ao longo dos últimos anos, esse ‘monstro’ editorial cresceu. Chegou ao interior ao comprar o Jornal de Londrina. Em Maringá, criou o Jornal de Maringá. Ambos, reproduzem matérias feitas pela cabeça Gazeta do Povo.

Agora, na última sexta-feira, o golpe fatal naquele paranaense que um dia sonhou em pluralidade de informação: o grupo GRPCom (Grupo Paranaense de Comunicação) adquiriu o concorrente que restava na capital. De uma só vez, comprou o jornal Tribuna do Paraná (o segundo em tiragem na capital e região metropolitana), o Estado do Paraná e o portal Paraná On-Line. Tá tudo dominado.

Desde que foi criado, a Rede Paranaense se mantém nas mãos da família Cunha Pereira. O patriarca Francisco Cunha Pereira – já falecido e  idealizador do império — gostava de ler as notas dos colunistas mais influentes dos jornais antes de serem publicadas. Se não gostava, cortava mesmo. Nas TV’s, a tarefa cabia aos chefes de redação comparsas. A situação chegou a tal ponto que, em 2001, a TV Globo do
Rio de Janeiro precisou intervir nas afiliadas do Paraná tamanha a canalhice na cobertura de fatos relacionados aos desvios de dinheiro público na prefeitura de Londrina e no governo Lerner. A corrupção era noticiada no Jornal Nacional, mas não nos telejornais locais e estaduais. A Globo precisou enviar um repórter de São Paulo para fazer as matérias em Londrina.

Passado? Quem poderá dizer ao certo? Não os concorrentes, pois estes não existem mais. E pensar que a proposta de criação do Marco Regulatório (Lei de Mídia) está parada nas mãos do ex-secretário de
Planejamento de Londrina, o ministro Paulo Bernardo que conhece como ninguém a relação entre mídia e poder na política paranaense.

Ricardo Vilches, paranaense de Londrina, é repórter do Jornal da Record.

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