Brasil: 6ª Economia mundial, desenvolvimento e equidade
Editorial SUL 21
De acordo com dados divulgados recentemente e que repercutiram em todo o mundo, o Brasil ultrapassou a Grã-Bretanha e se tornou a 6ª maior economia do globo. Até 2015, segundo as projeções do FMI, ou ainda antes disso, a se confirmarem as projeções do ministro da Fazendo, Guido Mantega, o país superará a França, conquistando a 5ª posição.
Sucesso brasileiro, de um lado, que soube estabilizar sua economia, realizar políticas de inclusão social e ampliar seu mercado interno e externo. Fracasso dos países ricos, de outro lado, que adotaram políticas que levaram ao encolhimento de suas economias e a perdas de renda de suas populações.
Não se trata, evidentemente, de competição ou da necessidade de um país ultrapassar os demais. Trata-se de todos os países atingirem patamares de desenvolvimento que permitam a estabilidade e a integração de suas economias e o nivelamento das condições de vida de seus habitantes. Por este motivo, além das comemorações, há que se entender o que representa e sobre que bases se deu o crescimento da economia brasileira.
Em primeiro lugar, continua existindo uma distância enorme entre o Brasil e a Grã-Bretanha ou a França, assim como existe entre a China, a segunda economia do mundo hoje, e os EUA, que se mantêm como a primeira economia, ainda que em queda. O que vem ocorrendo é um aumento do Produto Interno Bruto (PIB) – que é o indicador de toda a riqueza que se produz em um país durante um período determinado – brasileiro, chinês e indiano e de outros países ditos emergentes, enquanto tem ocorrido uma diminuição do PIB dos países ricos.
Com isto, o PIB brasileiro ultrapassou o PIB da Grã-Bretanha e ultrapassará em poucos anos, ao que tudo indica, o da França, tal como o PIB da China se aproximou do PIB dos EUA. Muito diferentes, entretanto, ficam as posições ocupadas quando se consideram os PIBs per capita destes países, ou seja, o produto interno bruto dividido pela população do país analisado.
Como as populações do Brasil e da China são muito maiores do que as dos países que eles ultrapassaram ou estão prestes a ultrapassar, a distância entre os PIBs per capita brasileiro e chinês continuam sendo muito grandes comparativamente aos da Grã-Bretanha e da França ou dos EUA. Por este cálculo, e utilizando-se dados do FMI de 2010 sobre o PIB per capita, que são os mais atualizados no momento, o Brasil fica na 76ª posição, a China na 94ª e a Índia na 129ª enquanto a Grã-Bretanha fica na 21ª, a França na 23ª e os EUA na 7ª posição entre todas as nações do mundo. As seis primeiras colocações são ocupadas por nações com populações pequenas: Quatar, Luxemburgo, Singapura, Noruega, Brunei e Emirados Árabes Unidos.
Em segundo lugar e ainda mais importante, há que se considerar que as condições de consumo e a qualidade de vida dos habitantes dos países ricos e dos emergentes continuam sendo muito distintas, com larga vantagem para os primeiros. De acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2011, calculado pela ONU para 187 países, as posições são as seguintes: Brasil 84ª posição, com alto índice de desenvolvimento humano; China 101ª e Índia 134ª, com médio índice de desenvolvimento humano; EUA 4ª posição, França 20ª e Grã-Bretanha 28ª, todos com muito alto índice de desenvolvimento humano. Noruega, Austrália e Holanda, pela ordem, ocupam as três primeiras colocações, Nova Zelândia a quinta e o Canadá a sexta.
Alteram-se significativamente as posições dos países quando se agrega ao IDH o indicador da equidade (equilíbrio) social, ou seja, o grau de concentração/distribuição da riqueza no interior das nações. Por meio do Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado à Desigualdade (IDHD), calculado pela ONU pela primeira vez em 2011 e aplicado a 134 países, verifica-se que a China fica na 70ª posição, o Brasil na 73ª e a Índia na 93ª, enquanto os EUA ficam na 23ª, a Grã-Bretanha na 19ª e a França na 16º. Noruega, Austrália, Suécia, Holanda, Islândia e Irlanda, ocupam, respectivamente, as seis primeiras colocações.
Isto posto e considerando-se a situação específica do Brasil, há que se analisar sua capacidade de continuar crescendo e integrando o conjunto de sua população aos benefícios do desenvolvimento econômico. A crise econômica que assola o mundo hoje foi, sem dúvida, menos destrutiva para o país, que a enfrentou com competência e, ao que tudo indica, sairá dela muito maior do que entrou. Saberá o Brasil manter esta capacidade de crescer economicamente e, ao mesmo tempo, de distribuir as riquezas que gerar?
Segundo estudos do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), na última década a desigualdade no Brasil chegou ao menor nível já registrado por pesquisas no país, sendo que a renda da metade mais pobre da população aumentou em ritmo 5,5 vezes mais acelerado que a da minoria mais rica. A renda dos 50% mais pobres no Brasil cresceu 67,93% entre dezembro de 2000 e dezembro de 2010, enquanto a dos 10% mais ricos aumentou 10,03%. Ainda de acordo com estes estudos, foram o aumento da escolaridade e os programas sociais de redistribuição de renda os grandes responsáveis pela redução da desigualdade no país.
Será a continuidade e o aprofundamento destas políticas, portanto, que permitirá diminuir o fosso que separa ainda hoje os brasileiros no interior de seu próprio país e que mantém o Brasil em posição apenas mediana frente às nações mais ricas e socialmente mais equilibradas do mundo. Agregue-se a estes dados o fato de que o motor do crescimento hoje e por muitos anos é e será o conhecimento. A melhoria das condições de vida, com destaque para a educação, e a geração de ciência e tecnologia estão ligadas, de modo profundo e inextricável, ao crescimento econômico de todas as nações que lograram se desenvolver com equilíbrio.
Será a promoção da melhoria das condições de vida da população brasileira que possibilitará a criação de conhecimento e sua aplicação à produção em volume e qualidade suficientes para garantir a qualidade e a originalidade daquilo que se produzir no Brasil, sejam produtos agrícolas, industriais ou de serviços. Para que isto ocorra, será preciso gerar e manter um mercado interno robusto, com a eliminação da miséria e a promoção da ascensão social das camadas de menor poder aquisitivo, e, ao mesmo tempo, expandir o ensino de qualidade em todos os níveis, da pré-escola ao universitário e à pós-graduação, investindo maciçamente em pesquisa e inovação tecnológica. Se isto acontecer, nos tornaremos, em um futuro próximo, um país economicamente rico e também socialmente mais justo.
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