sexta-feira, 4 de novembro de 2011

esse é o PIG do cara pálida... e você embarca nessa barca de mentiras e cabra-cega?

Luciano Martins Costa: Escondendo a boa notícia

Viomundo

por Luciano Martins Costa, Observatório da Imprensa



Os jornais amanhecem nesta quarta-feira, 2 de novembro, dia dedicado a homenagear os mortos, com o relato de um verdadeiro velório. O sistema econômico global range sob o peso das crises sucessivas e o leitor é atirado de um lado para outro, entre a esperança e o pessimismo, como o navegante sob tempestade.

Deste lado do Atlântico, as águas ainda se agitam pouco, mas a imprensa destaca sinais de desconforto.

Quando o ex-presidente Lula da Silva declarou, há três anos, que a crise financeira de 2008 chegaria ao Brasil “como uma marolinha”, os jornais fizeram manchetes com o catastrofismo de seus opositores.

Os fatos lhe deram razão até aqui e o tsunami não chegou às nossas praias.

Mas, no mundo globalizado e interdependente, impossível prever quanto os tremores nos países desenvolvidos vão afetar as economias periféricas e emergentes.

Os jornais brasileiros trazem nesta quarta-feira alguns dados que mostram certos efeitos negativos da crise européia sobre a economia brasileira.

Mas é preciso cuidado na leitura.

A Folha de S.Paulo, por exemplo, inverte completamente os números para criar um viés negativo no cenário que também tem boas notícias.

Observe o leitor: o fato central é que a balança comercial brasileira obteve em outubro um superávit de US$ 2,35 bilhões, o maior desde 2007. Trata-se de um resultado 28,9% maior do que o saldo obtido no mesmo período do ano passado.

Além disso, foram os maiores valores já alcançados para o mês de outubro desde que esse acompanhamento começou a ser feito.

Pois bem: na Folha, essa notícia auspiciosa se transforma num pesadelo: os editores do jornal preferem destacar que, nesse quadro otimista, sempre há alguma coisa para assustar o leitor.

A Folha deixa escondida a informação do crescimento das exportações brasileiras e abre o seguinte título: “Com crise, vendas do Brasil para Europa perdem fôlego”.

Na verdade, os dados divulgados pelo governo indicam que as vendas de produtos brasileiros para Espanha, França e Itália cresceram em outubro menos do que a média dos primeiros nove meses do ano.

No entanto, comparadas ao mesmo mês do ano passado, as exportações brasileiras para a Europa cresceram mais de 13%, apesar da crise.

O pessimismo como opção

Na vida real, as exportações brasileiras em outubro deste ano bateram o recorde histórico referente a esse mês.

Com a substituição de alguns itens e o aumento das vendas de café, petróleo e minério de ferro, o Brasil praticamente anulou o efeito da crise em seu comércio com os países europeus.

Além disso, as vendas para os Estados Unidos aumentaram mais de 39% em outubro deste ano, índice superior à média de 31,8% registrada nos nove meses anteriores.

Apesar de a economia americana estar, como se diz, andando de lado.

E não foi apenas isso: o saldo da balança comercial brasileira no total foi positivo, com o maior superávit dos últimos quatro anos, e as importações também se mantiveram em alta, ou seja, o mercado interno continua aquecido.

No entanto, o viés da Folha é absolutamente pessimista.

No Estado de S.Paulo, os fatos parecem mais transparentes – “Superávit comercial bate recorde em outubro”, diz o título da reportagem.

Mas o texto está espremido entre a principal matéria da página de Economia e um anúncio, sem qualquer destaque, no meio de notícias sobre a crise na zona do euro e seus efeitos no Brasil.

No Estadão, além da abordagem correta, com o título refletindo o aspecto positivo da notícia, acrescenta-se que, apesar da crise que também afeta a economia americana, o Brasil reduziu o déficit com os Estados Unidos e as exportações para aquele país vêm crescendo em ritmo importante.

No Globo, a notícia do superávit da balança comercial está escondida em um parágrafo no pé de uma reportagem sobre a desaceleração na indústria brasileira.

Claro que há notícias ruins por todo lado. Afinal, o coração do sistema capitalista apresenta sintomas de taquicardia desde setembro de 2008 e não há sinais de remédio capaz de produzir alguma estabilidade.

A solução da véspera, com o suposto acordo para a dívida da Grécia, se transformou em pesadelo com a decisão do governo grego de submeter a proposta a um referendo.

Sendo a Grécia o berço da democracia ocidental, qual a surpresa?

Também era esperado que, em algum momento deste ano, a indústria brasileira reduzisse o ritmo. Os estoques para o Natal estão prontos, as compras de equipamentos foram aceleradas até o primeiro semestre e os investidores estão na expectativa de uma solução para o problema europeu.

Mas o que é mais do que sabido vira manchete nos principais jornais do país simplesmente porque é a pior notícia do dia.

Alguém aí pode explicar qual é o propósito da imprensa ao tentar derrubar o ânimo dos brasileiros?

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