“Qualquer diagnóstico psiquiátrico à distância é perigoso”
por Conceição Lemes
Paranoico, mania de perseguição, desequilibrado, neurótico…
São alguns dos “diagnósticos” que alguns “especialistas”, especialmente psicanalistas, têm feito sobre o comportamento de Dunga, desde que o treinador da seleção brasileira de futebol acabou com anos e anos de privilégios da TV Globo na cobertura desses eventos e passou a tratar isonomicamente toda a mídia. Ponto para o Dunga. Zero, para o oportunismo e o simplismo grosseiro de tais “especialistas”.
“Para nós, a Copa do Mundo é um evento de curtição, interação social, e a nossa expectativa é de que o técnico participe desta festa”, analisa a médica psiquiatra Laura Helena Andrade, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo e professora colaboradora da Faculdade de Medicina da USP. “Só que o Dunga está numa’ guerra’, sob forte pressão. Junto com o seu ‘exército’, está pensando em tática. Se abrir o jogo ou se der muita trela para a imprensa, está abrindo a guarda para o inimigo. Além disso, ficar paparicando este ou aquele veículo tira o foco do trabalho do treinador, que é o de comandar a equipe, e dos próprios jogadores. Dispersa. Atrapalha.”
“Numa situação de ‘guerra’, ninguém fica tranqüilo”, avança a doutora Laura. “É inadequado. Se bobear, o inimigo vem e te ‘corta’ a garganta. O que Dunga está fazendo é ficar alerta, defendendo a equipe e a estratégia dele.”
O Dunga realmente não é simpático. E daí? Ele é um técnico, não é um apresentador de TV nem um garoto-propaganda. O papel dele não é fazer o social, mas ganhar o jogo dentro do campo.
“Além disso, qualquer diagnóstico psiquiátrico à distância é perigoso, pois depende do contexto”, prossegue a doutora Laura. “A irritação do Dunga à crítica desvairada da mídia por ele não estar fazendo o jogo dela não é inadequada. Inadequados são o desrepeito à vontade do treinador e a exigência de privilégios por parte da imprensa. A irritação dele é absolutamente compreensível, é a reação normal de qualquer humano. É sinal de saúde mental.”
“Consequentemente, parte da mídia e certos profissionais de saúde estão interferindo, sim, na saúde psíquica tanto do Dunga como de toda a equipe, pois tudo o que se passa aqui fora, chega lá dentro para eles”, adverte a doutora Laura. “Lamentavelmente jogam contra a seleção brasileira, fazendo o papel do inimigo.”
O clínico geral Arnaldo Lichtenstein, do Hospital das Clínicas de São Paulo e professor colaborador do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP.
“Se o Dunga fosse paciente desses profissionais, eles estariam infringindo o Código de Ética Médica, que veda a divulgação de qualquer diagnóstico”, afirma Lichtenstein. “Como o técnico não é paciente deles, estão cometendo injúria e difamação.”
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