Esse Tijolaço é bom
Alertado pela Kátia – a galera do Tijolaco não fecha o olho nem quando este pedreiro aqui vai dormir um pouco – leio que as Organizações Globo fez uma notificação (não deu para saber se é judicial ou extra-judicial) ao UOL por, na visão da Vênus Platinada, usar indevidamente imagens da Copa. À noite, o UOL confirmou a pressão e alegou que usa as imagens com a duração autorizada pela Lei Pelé, que é de 3% do tempo de duração do evento esportivo. A Globo argumenta que, ao manter imagens por mais de 48 horas depois dos acontecimentos, o uso não seria “jornalístico” e, portanto, não estaria coberto pela Lei Pelé.
A mim não importa que o próprio UOL , empresa da Folha, trate do assunto discretamente, ponto de só publicar uma nota na página 25 de seu caderno de esportes. Creio que à sociedade pouco importa, também, que as duas empresas, aliás sócias em alguns empreendimentos, resolvam o assunto com os argumentos que lhes são mais importantes, os expendidos em moeda sonante.
Vejam qual é a ideia de liberdade da Globo.
E pode fazer uma ideia de como o articulista da Folha que ontem acusou a esquerda de praticar um “subdunguismo eleitoral” por ficar do lado de quem chamou de “figura tosca e autoritária” não teve a lucidez de ver que “tosco e autoritário” é o poder que a Globo quer exercer sobre a informação em geral e sobre o espetáculo Copa do Mundo, em particular.
E não teve porque, no fundo, é este o exemplo, o modelo, o paradigma de empresa de comunicação que tem, aquela que se resume nas palavras de Roberto Marinho no proibido – outra proibição inócua – famoso documentário “Além do Cidadão Kane”: “Sim, eu uso o poder”.
Meus caros amigos, perdoem a tautologia: o que está publicado, é público.
Claro que isso não autoriza ninguém a publicar sem pagar direitos um livro de outra pessoa, nem uma emissora transmitir, com minutos de atraso, um videotape de uma partida que ainda está em curso. Isso é o óbvio. Ninguém é contra os direitos autorais quando isso implica ferir a criação artística ou intelectual de alguém. Deixar no ar um golaço ou o pênalti que o juiz não deu não tem nada a ver com isso.
Mas a Globo não quer o óbvio, quer tudo. Pelo seu “raciocínio”, aquela tabelinha entre Pelé e Tostão na Copa de 70, você só vai ver na Globo, ou em quem pagar à Globo pelo direito de mostrá-la.
Só que a tecnologia deu “o drible da vaca” nos donos da informação. O “subdunguismo” midiático já ficou estatelado no chão pela internet. Quem quiser “entrar rachando” para ser o único dono da bola – ou dos fatos – vai acabar com o traseiro no gramado, porque o Youtube, o Vimeo, os outros inúmeros portais de áudio e vídeo estão aí e ninguém mais acaba com eles.
A Globo não joga bola, a Globo não organizou a Copa – aliás, a Fifa também não – e ambas ganharam muito, muito dinheiro com suas milionárias cotas de patrocínio. E ganharam por uma única razão: nós queremos ver.
Sim, é isso mesmo: a origem de todos estes lucros fabulosos somos nós, cidadãos comuns, e o nosso interesse em ver os jogos. Este é o valor sagrado: o nosso direito à informação. Este é o bem que tem que ser tutelado, acima de todos. Nós temos o direito a vermos, quando quisermos, todos os lances, do futebol, da política, da vida, que aconteceram de maneira pública.
Claro que isso não atinge a intimidade das pessoas – que aliás, a própria Globo transforma em espetáculo, com o seu “Big Brother”. Mas o que é público, perdoem por repetir, público é.
E agora, queira ou não a Globo, é e será cada vez mais público.
A internet – eles não perceberam, senão tarde demais – veio para acabar com o poder imperial dos empresários de comunicação e com o monopólio da “verdade” daqueles a quem é concedido o “privilégio” de ocupá-los.
Ou eles se adaptam a um tempo em que não falam mais sozinhos, ou serão inevitavelmente devorados pela liberdade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário