MV Bill mostra por que é ídolo nas favelas cariocas
Pedro Alexandre Sanches
É hora da saída da escola na favela carioca. MV Bill está sentado numa mureta à sombra de uma árvore na esquina da Associação de Moradores da Cidade de Deus. Crianças uniformizadas deixam o turno matutino do Ciep João Batista dos Santos e vão aglomerar-se ao redor do rapper, todas com cadernos abertos nas mãos. Pedem autógrafos ao ídolo, que veste camiseta regata, bermudas e sandálias Havaianas e afirma repetidas vezes: “Aqui é o meu escritório”. Uma senhora se aproxima: “Você vai se candidatar a senador?” Ele responde que não, ela retruca: “Não vai mesmo, não, porque não vale a pena. Fica com a gente. Política partidária não, só comunitária”.
Bill dá autógrafos às dúzias, para crianças e adultos, como cantor de rap que lançou em abril seu quarto disco (o independente Causa e Efeito), como líder comunitário e como embaixador informal da Central Única das Favelas (Cufa), hoje espalhada por todos os estados do País. As três condições lhe rendem tratamento de pop star por parte da população local. Uma década se passou desde que ele surgiu como cofundador da Cufa e cantor carrancudo de rap, por vezes confundido com um bandido. Bill passou por grandes transformações, tão radicais quanto as vividas pela favela em que ele nasceu há 36 anos e onde vive até hoje.
Um grupo de adolescentes grafiteiros colore uma praça da favela de verde e amarelo para a Copa do Mundo, e Bill conta com gosto que quem há poucos dias andou por ali filmando um documentário foi Skip Gates, o professor negro norte-americano preso por engano nos Estados Unidos, em julho de 2009, ao tentar arrombar a própria casa (e mais tarde recebido por Barack Obama, como gesto de desculpas pelo abuso policial sofrido). Uma semana após a visita de CartaCapital, Lula iria à Cidade de Deus para inaugurar uma unidade de pronto atendimento.
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