Amaury: Propina foi para enriquecimento pessoal
“Os amigos são mais perigosos que os adversários”
por Luiz Carlos Azenha no Viomundo
Durante a campanha de 2010, quando a revista Veja publicou denúncia de que o PT estava às voltas com uma segunda dose de “aloprados”, que trabalhavam na pré-campanha da ministra Dilma Rousseff em uma mansão de Brasília, ouvi de um colega que o vazamento tinha sido coisa… de petistas, em disputa interna. Cheguei a publicar uma notinha, dando conta de que era PT contra PT, o que levou a diversos protestos de internautas.
O livro A Privataria Tucana, de Amaury Ribeiro Jr., avança no esclarecimento do fogo amigo disparado dentro do PSDB e do PT durante a última disputa presidencial. Na política, “os amigos são mais perigosos que os adversários”, constatou o autor.
“Aloprados” foi o nome dado pelo então presidente Lula aos petistas que foram pegos com dinheiro vivo em um hotel próximo ao aeroporto de São Paulo, que supostamente seria usado para comprar um dossiê contra o então candidato ao governo de São Paulo, José Serra, em 2006. Há teorias não confirmadas de que os aloprados petistas foram vítimas de uma cilada. Uma armação, uma ação de contraespionagem, muito comum em campanhas eleitorais. Oferecido o dossiê, com a exigência de pagamento em dinheiro vivo, era só armar a arapuca…
Amaury diz que contraespionagem é a especialidade de gente ligada ao ex-governador José Serra, com ações que visam neutralizar informações potencialmente explosivas.
Ele suspeita, por exemplo, que o Dossiê Cayman, que veio à tona em 1998, durante a campanha em que Fernando Henrique Cardoso se reelegeu presidente, foi resultado de uma ação do gênero. O dossiê, falso, atribuia contas bancárias a tucanos graúdos no paraíso fiscal das ilhas Cayman. Quem diria que os negócios estavam do outro lado do Caribe, nas ilhas Virgens Britânicas! O Dossiê Cayman, ao colocar os adversários numa pista falsa, teria esvaziado qualquer denúncia baseada em dados verdadeiros.
No caso Cayman, os tucanos acabaram como vítimas. No caso dos aloprados, em 2006, também. As fotos do dinheiro apreendido com os aloprados petistas, devidamente vazadas pelo delegado Bruno aos jornalistas (ver aqui), justamente na antevéspera do primeiro turno (quanta coincidência!) foram parar na capa dos jornais e nas manchetes dos telejornais.
As fotos, diz-se, ajudaram a levar a eleição entre Lula e Geraldo Alckmin para o segundo turno.
Além de posar na capa da Folha como acessórios de Lula, o suspeito homem do capuz, as fotos também estrelaram a propaganda eleitoral do tucano Alckmin na campanha do segundo turno.
Sobre 2010, Amaury Ribeiro Jr. nega que tenha pedido a violação, pago pela violação ou violado o sigilo fiscal de Eduardo Jorge, Verônica Serra ou de quem quer que seja.
Ele suspeita que tenha sido arrastado para o meio da campanha por ter informações potencialmente desastrosas para José Serra, as que aparecem no livro.
Os quatro últimos capítulos são dedicados a tratar dos bastidores da campanha, inclusive das acusações que levaram Amaury a ser indiciado pela Polícia Federal.
Amaury trata deste e de outros assuntos nos trechos finais da entrevista. Ele começa explicando porque foi abandonado o nome Privatas do Caribe, que se pretendia dar ao livro:
E José Serra, beneficiou-se diretamente das propinas da privatização? (Aqui Amaury cita Verônica Serra; o marido dela, Alexandre e Gregório Marin Preciado, o empresário casado com uma prima do ex-governador de São Paulo, que “desfaliu” depois de receber empréstimos do Banco do Brasil garantidos por um terreno que estava em nome dele e de Serra):
Leia também:
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Doutor Escuta: Um dos capítulos do livro de Amaury Ribeiro Jr.
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A bomba que vai estourar no colo de Teixeira
Assista aqui a série de reportagens sobre Ricardo Teixeira mencionada no livro
O Brasil Privatizado, de Aloysio Biondi
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